As objeções dos líderes religiosos
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Jo 6.41–59
As palavras de Jesus não foram bem aceitas pelos líderes religiosos. Verdades singulares, verdades que não eram comuns, incomodavam e desestabilizam os que não querem aceitá-las. Era difícil para os intérpretes das Escrituras dos judeus aceitarem um Messias que tinha passado as primeiras horas, ou os primeiros dias de sua vida numa estrebaria (conf. Lc 2.7); era difícil para esses líderes religiosos aceitarem um Messias que era um carpinteiro, filho de carpinteiro (Mt 13.55); era difícil para as autoridades religiosas e políticas aceitarem um Messias que infringia a tradição do sábado (conf. Mc 3.1–6). Enfim, diante dessas palavras proferidas na sinagoga de Cafarnaum, as suas objeções foram manifestadas. Ainda hoje se levantam e são apresentadas objeções por aqueles que persistentemente resistem às manifestações divinas de amor, bondade e misericórdia. Vamos especificá-las.
1. No verso 41, a objeção manifestou-se através da murmuração.
1. No verso 41, a objeção manifestou-se através da murmuração.
A primeira objeção dos judeus foi a murmuração. Assim como os seus antepassados fizeram no deserto e, por murmurarem (conf. Nm 14.28–30), tiveram como punição não entrarem na Terra Prometida, esses judeus dos dias de Jesus estavam procedendo de igual maneira, não crendo no poder divino e ficariam sem entrar no Reino de Deus.
2. No verso 42, a objeção manifestou-se através do julgamento.
2. No verso 42, a objeção manifestou-se através do julgamento.
A segunda objeção dos judeus foi julgar os fatos segundo os valores humanos e de acordo com as normas externas. Era difícil para os judeus incrédulos crerem no nascimento virginal de Jesus e na sua divindade. Eles conheciam José, o carpinteiro, e Maria, assim bem como os irmãos e as irmãs de Jesus (conf. Mc 6.3). Para eles, Jesus era um mero profeta, um profeta, mas um homem comum. Eles não podiam admitir a afirmação de Jesus: … desci do céu…
3. Nos versos 43–44, a objeção manifestou-se pela recusa de se chegar a Deus.
3. Nos versos 43–44, a objeção manifestou-se pela recusa de se chegar a Deus.
Embora continuassem a murmurar entre eles mesmos, a terceira objeção dos judeus foi resistir a aproximação de Deus. Jesus lhes respondeu: Não murmureis entre vós. Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia. A palavra que João emprega helkyo (em grego), para trazer ou aproximar-se (v. 44), é a tradução do hebraico de Jr 31.3. Esta palavra tem um componente distinto que implica em algum tipo de resistência, e é usada por João em 12.32; 18.10; 21.6 e 21.11, demonstrando que mesmo sendo atraídos por Deus, os homens resistem essa atração divina, confirmando a tensão existente entre a doutrina da predestinação e do livre arbítrio. Por sua incredulidade e por sua resistência os judeus não se aproximaram de Deus.
4. Nos versos 45–47, a objeção manifestou-se em ouvir e não aprender.
4. Nos versos 45–47, a objeção manifestou-se em ouvir e não aprender.
Estes versos mostram claramente que a quarta objeção dos judeus foi escutar, mas não aprender. Esse é um problema de muitos de nós: escutamos, mas não aprendemos. Jesus ensinou que ninguém tinha visto o Pai a não ser ele que tinha vindo do Pai, e era necessário crer nele, Jesus, para poder ter acesso ao Pai. E para isso, para aprender, para receber o ensino de Deus (v. 45), o que precisamos é ter fé. E quem crê em Jesus tem a vida eterna (v. 47).
5. Nos versos 48–51, a objeção manifestou-se na recusa de aceitar Jesus como pão da vida.
5. Nos versos 48–51, a objeção manifestou-se na recusa de aceitar Jesus como pão da vida.
Na quinta objeção dos judeus percebemos a recusa do verdadeiro alimento, do verdadeiro pão da vida. (v. 48), pois os pais que comeram o maná no deserto morreram (v. 49), porque o maná não era o verdadeiro pão da vida. Jesus estava lhes propondo o pão da vida, isto é, o pão vivificante. Conforme o verso 50 foram essas as suas palavras: Este é o pão que desce do céu, para que todo o que dele comer não pereça. Temos que estar atentos para essa oferta maravilhosa de Deus. Não podemos negligenciar tão grande salvação! Quem comer do verdadeiro pão da vida viverá eternamente! Jesus é o verdadeiro pão da vida. O seu sacrifício concede vida eterna ao que crê!
6. No verso 52, a objeção manifestou-se na incompreensão das palavras de Jesus.
6. No verso 52, a objeção manifestou-se na incompreensão das palavras de Jesus.
A sexta objeção dos judeus foi ficar discutindo entre eles mesmos. Estavam tão ocupados em suas próprias discussões que não se detiveram em pensar e refletir sobre as palavras de Jesus. Novamente, como já mencionamos, assim como Nicodemos (cap. 3), como a mulher samaritana (cap. 4), e como a multidão (cap. 6), os judeus não entenderam que Jesus lhes falava simbolicamente, enquanto eles lhe entendiam literalmente. Precisamos estar abertos e atentos para entendermos as palavras de Jesus. O Espírito Santo pode nos iluminar, nos fazer entender a profundidade das palavras do Salvador!
7. Nos versos 53–59, a objeção se manifestou na recusa de se alimentarem das palavras de Jesus para terem a vida eterna.
7. Nos versos 53–59, a objeção se manifestou na recusa de se alimentarem das palavras de Jesus para terem a vida eterna.
A sétima objeção dos judeus, que deve ser superada, é a rejeição que eles tiveram de se apropriar de Jesus como o verdadeiro sustento para a verdadeira vida. Comer deste pão, ou comer da minha carne, significa completa comunhão com Jesus. Significa que somente através da “ingestão” desse alimento fundamental teremos condições de viver eternamente. Foi morrendo que Jesus se tornou a nossa vida.
Ele morreu para que tivéssemos vida. Jesus se referia a sua morte expiatória na cruz. O pecador que está espiritualmente morto por causa dos seus pecados, só recebe vida crendo em Jesus, aceitando a vida que ele oferece. É de Jesus que você tem se alimentado?
Nesses versos aprendemos que há necessidade da união pessoal com Jesus para termos a bênção da vida eterna, mas aqui não há qualquer apologia em favor da Ceia Memorial como fator fundamental para receber a vida eterna. Não! Os grandes requisitos que nos foram apresentados durante os versos anteriores foram a fé, certamente associada à ação do Pai (conf. v. 35,39,40,44,45,47). Em resumo, o que temos nesses versos é a conclusão dos argumentos de Jesus demonstrando a necessidade do total envolvimento com ele. Essas palavras, esses ricos ensinamentos de Jesus, foram proferidas na sinagoga de Cafarnaum (conf. v. 59).
O cristão nominal, que só conhece a Cristo intelectual ou mentalmente, não está habilitado a ter a vida eterna e ser ressuscitado no dia final. Somente o cristão que come a carne e bebe o sangue do Filho de Deus, simbolizando a plena comunhão com ele, pode usufruir da vida que Jesus dá. Só esse cristão totalmente envolvido, espiritual e corporalmente, com Jesus, que dele se alimenta, por ele também viverá eternamente. Que possamos receber a advertência que subjaz no verso 58: que a nossa procura não seja pela comida que perece, pelos valores terrenos e passageiros. Que você procure a Jesus, o verdadeiro alimento que nutre a verdadeira vida! Só Jesus, o pão da vida, pode nos dar plena certeza da nossa salvação eterna!
Itamir Neves e John Vernon McGee, Comentário Bíblico de João, ed. Israel Mazzacorati, Segunda edição., Série Através da Bíblia (São Paulo, SP: Rádio Trans Mundial, 2012), 112–114.