Além das correntes

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Introdução

Hoje começaremos nossa nova série de mensagens sobre o livro de Gálatas, cujo tema será: “Livres - Descobrindo a liberdade em Cristo".
O pastor Tim Keller, comentando o livro de Gálatas, escreveu:
“O livro de Gálatas é dinamite pura. É uma explosão de alegria e liberdade que nos permite desfrutar de profundo significado, segurança e satisfação - a vida de bênçãos à qual Deus chama Seu povo. Por quê? Porque ele nos coloca face a face com o Evangelho.”
Ele acrescenta:
“O Evangelho - a mensagem de que somos piores do que jamais ousamos acreditar, mas mais amados e aceitos em Cristo do que jamais ousamos esperar - cria uma nova dinâmica radical para o crescimento pessoal, para a obediência e para o amor.”
No livro de Gálatas, somos confrontados com um dilema que transcende o tempo e a cultura: a luta entre o legalismo e a graça. Esse não é um problema novo; é a eterna batalha entre confiar em nossas próprias obras para a salvação e confiar unicamente na obra consumada de Cristo. Paulo escreve vigorosamente às igrejas da Galácia, preocupado com a rápida deserção delas do Evangelho da graça para um "outro evangelho" que, na realidade, não é evangelho nenhum. Estavam se desviando para o legalismo, pensando que poderiam obter favor diante de Deus por meio de suas próprias obras e rituais, especificamente a circuncisão, conforme ensinado pelos judaizantes. Mas, como essa mensagem se aplica a nós hoje, uma vez que vivemos em um contexto diferente do dos irmãos da Galácia no primeiro século? Será que o legalismo não é uma ameaça para nós, uma vez que não enfrentamos os desafios que eles enfrentavam, como a questão da circuncisão? O problema da nossa luta contra o nosso senso de justiça própria é um problema do coração e não algo externo. Por isso, nesta série, seremos desafiados a meditar sobre a verdadeira liberdade que só podemos encontrar em Cristo.
Gálatas 1.1–10 NAA
1 Paulo, apóstolo — não da parte de pessoas, nem por meio de homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou dos mortos —, 2 e todos os irmãos que estão comigo, às igrejas da Galácia. 3 Que a graça e a paz estejam com vocês, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo, 4 o qual entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos livrar deste mundo perverso, segundo a vontade de nosso Deus e Pai, 5 a quem seja a glória para todo o sempre. Amém! 6 Estou muito surpreso em ver que vocês estão passando tão depressa daquele que os chamou na graça de Cristo para outro evangelho, 7 o qual, na verdade, não é outro. Porém, há alguns que estão perturbando vocês e querem perverter o evangelho de Cristo. 8 Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu pregue a vocês um evangelho diferente daquele que temos pregado, que esse seja anátema. 9 Como já dissemos, e agora repito, se alguém está pregando a vocês um evangelho diferente daquele que já receberam, que esse seja anátema. 10 Por acaso eu procuro, agora, o favor das pessoas ou o favor de Deus? Ou procuro agradar pessoas? Se ainda estivesse procurando agradar pessoas, eu não seria servo de Cristo.
Ao longo de mais de trinta anos de ministério, Paulo realizou várias viagens missionárias, plantou igrejas e não as abandonou. Mesmo quando precisava seguir adiante, ele pastoreava a distância por meio de cartas. Ele se preocupava e amava aqueles irmãos, especialmente quando sabia que a saúde daquela igreja estava em risco. Nesse contexto, a carta aos Gálatas foi escrita, sendo, para muitos estudiosos, a primeira carta do apóstolo Paulo. Paulo já tinha estabelecido uma liderança local na igreja da Galácia, como em muitas outras que ele plantou, mas sempre que necessário, havia supervisão do apóstolo.
Qual era o problema com os Gálatas? Muitos falsos mestres estavam invadindo a igreja com seus falsos ensinos, a ponto de Paulo chamá-los de um “falso evangelho". Ao tomar conhecimento do problema dos Gálatas, ele escreve essa carta com o objetivo de desmascarar os falsos mestres. E como ele começa? Falando a verdade, defendendo o Evangelho. A melhor forma de refutar uma mentira é falando a verdade. Após afirmar o Evangelho, Paulo fala sobre os benefícios do Evangelho. Ele introduz a carta aos Gálatas com uma síntese de sua mensagem, indo direto ao assunto principal: a singularidade do Evangelho. Ou seja, o Evangelho é único e não pode ser confundido!
A mesma mensagem está diante de nós. Ela parece antiga, mas continua atual. Por quê? Porque temos a mesma necessidade dos cristãos da Galácia. Não podemos nos desviar do verdadeiro caminho. Não podemos ser enganados por falsos mestres. Por isso, a mensagem de Gálatas é extremamente relevante. Afinal, o Evangelho é único e insubstituível! Paulo, o apóstolo, expressa surpresa e desapontamento por os gálatas se afastarem tão rapidamente do Evangelho da graça.
Primeiro: O evangelho se encontra revelado na bíblia (v.1-2).
Diferente de outras cartas, Paulo não começa com uma saudação tradicional, mas sim defendendo seu apostolado. As palavras de Paulo indicam que ele está indignado com a situação. Os falsos mestres tentavam diminuir o apostolado de Paulo, como se ele fosse um apóstolo de segunda classe. Quando faltam argumentos, a estratégia é desqualificar o outro, uma característica dos mentirosos. Paulo não defende seu apostolado por orgulho, mas porque sabia que, ao diminuir seu apostolado, sua mensagem também seria diminuída - esse era o objetivo dos falsos mestres. O Evangelho vem da tradição apostólica, revelada exclusivamente pela Bíblia, o que é importante, pois muitos tentam equiparar tradições à Bíblia. Não é a Bíblia que deriva da igreja, mas a igreja que deriva da Bíblia.
Segundo: O evangelho está centrado em Cristo Jesus (v.2-5).
A essência do Evangelho consiste na entrega voluntária de Cristo na cruz. Logo em seguida, Paulo fala do propósito do Evangelho: resgatar pecadores, dos quais eu e você fazemos parte.
Esta introdução nos traz uma lição importante em resposta à seguinte pergunta: Eu preciso ouvir o Evangelho sempre? Sim, o Evangelho não é apenas o início da vida cristã, mas a totalidade da vida cristã. É em resposta ao Evangelho que deve-se criar uma dinâmica radical entre crescimento pessoal, obediência e, acima de tudo, o amor a Deus e aos outros.
A partir do versículo 6 até o 10, Paulo enfatiza a singularidade do Evangelho, diferenciando-o dos “evangelhos modernos". O "evangelho moderno" ao qual Paulo se refere como “outro evangelho” estava baseado na discussão sobre tradições judaicas como acréscimos à obra da salvação. A mensagem do Evangelho enfatizada por Paulo é que, toda vez que você adiciona qualquer coisa à obra de Cristo, você perde o Evangelho. Por isso, Paulo usa uma expressão forte, afirmando que o Evangelho está sendo pervertido; no grego, essa expressão usada por Paulo transmite a ideia de inversão. Ou seja, o Evangelho não estava sendo adulterado em algum nível (não há taxa tolerável de adulteração), mas estava sendo colocado de cabeça para baixo! Quando você adultera o Evangelho, acrescentando qualquer coisa a ele, você o perde completamente, por isso Paulo chama isso de outro evangelho. Assim, Paulo amaldiçoa os falsos mestres que corrompem o Evangelho.
O foco principal de Gálatas 1:1-10 é a ideia de que não podemos ganhar o favor de Deus através do legalismo, pois o Evangelho é livre e libertador. Mas o que seria o legalismo? O legalismo envolve trabalhar com o próprio poder, seguindo regras próprias e tentando ganhar o favor de Deus através do próprio desempenho. Todos nascem com uma inclinação para pensar que podem chegar a Deus por conta própria e, mesmo após a salvação, muitos lutam com uma mentalidade de desempenho, acreditando que podem ganhar o favor de Deus através de suas ações.
Por isso hoje, antes de nos atermos ao que era, na prática, o legalismo dos Gálatas, podemos nos ater às palavras de Paulo sobre a singularidade do Evangelho, como ele destrói o legalismo enraizado em nós. A graça de Deus, revelada através de Jesus Cristo, nos liberta do pecado e da necessidade de seguir regras para ganhar o favor de Deus. O Evangelho nos mostra que a salvação é um presente gratuito de Deus, não baseado no desempenho humano, mas no que Cristo realizou.

O Perigo do Legalismo

O legalismo é a tentativa de obter justiça diante de Deus por meio de nossos próprios esforços. É acreditar que podemos complementar a obra de Cristo com nossas próprias ações. O legalismo dilui a mensagem do Evangelho, que é baseada inteiramente na graça, transformando-a em um sistema de regras e regulamentos. Muitas virtudes podem se tornar fontes de orgulho espiritual, alimentando nossa necessidade por justiça própria. Por isso, o legalismo é um veneno que, embora possa ser difícil de combater, é letal. Por vezes, tratamos como excesso de zelo aquilo que a Bíblia amaldiçoa.

A Verdadeira Liberdade em Cristo

O Evangelho é libertador. Em Cristo, somos libertados não apenas da penalidade do pecado, mas também do seu poder. Não estamos mais sob a escravidão do pecado ou do sistema deste mundo; fomos resgatados para uma nova vida de liberdade em Jesus.
O legalismo promete um caminho para Deus, mas não leva a lugar algum; a única coisa que ele produz, ao longo do tempo, é cansaço e culpa. Enquanto isso, o Evangelho nos oferece liberdade e descanso na graça de Deus..

A Centralidade da Cruz

O cerne do Evangelho é a cruz de Cristo. Nossa salvação e nosso status diante de Deus baseiam-se inteiramente no que Jesus realizou na cruz, não em nossas próprias obras. Abandonar o Evangelho da graça e voltar ao legalismo é negar o poder e o propósito da cruz. Mantenha a cruz no centro de sua fé e prática diárias. Lembre-se de que toda a sua aceitação diante de Deus vem da obra de Cristo em seu favor, não de suas próprias realizações. Deixe que essa verdade molde sua identidade, suas decisões e seu culto.
Hoje em dia, podemos ver a centralidade da cruz sendo perdida por uma oferta enorme de “outros evangelhos". Existem igrejas do “evangelho da prosperidade”, que ensinam que Jesus é a chave para o sucesso material. Existem igrejas do “evangelho do coaching”, que ensinam que Jesus é a chave para o sucesso pessoal e profissional. Esses dois “evangelhos” hoje se misturam, o que gosto de chamar de teologia da prosperidade 2.0. Há o “evangelho do bem-estar”, onde Jesus é um caminho para se sentir bem, independente do que é pregado (quem disse que o Evangelho nos deixa confortáveis?). Existe o “evangelho da saúde”, onde Jesus é visto apenas como um curandeiro. Há o “evangelho da justiça social”, onde Jesus é visto como um caminho para acabar com as injustiças sociais deste mundo presente. Mas há também outras formas de perder a centralidade da cruz, às quais por vezes aderimos, como por exemplo, o “evangelho da família”, que apresenta Jesus como o caminho para a família perfeita (não estou diminuindo a importância da família, muito pelo contrário).
O legalismo pode se manifestar de várias formas na vida das pessoas do século XXI, podemos examinar exemplos práticos, ilustrando como o legalismo pode afetar as pessoas hoje em dia:
Aprovação Humana: A era digital faz com que muitos busquem validação nas redes sociais, mas nosso valor real vem de Deus, não de curtidas ou seguidores.
Julgamento dos Outros: Ao julgar os outros por seus estilos de vida ou preferências, esquecemos que a graça de Deus é para todos, independente de nossas ações externas.
Desempenho no Trabalho: Nosso valor pessoal e espiritual não deve ser definido pelo sucesso profissional. Somos valiosos aos olhos de Deus, independentemente das nossas conquistas.
Vida Espiritual e Disciplinas Cristãs: A relação com Deus não deve ser vista como uma lista de tarefas a serem marcadas. Nossas práticas espirituais devem surgir de um coração agradecido e não como meios para ganhar favor divino.
Cultura e Tradições: A adesão rígida a tradições pode levar ao legalismo, especialmente quando essas práticas são consideradas equivalentes aos mandamentos de Deus, levando à exclusão e ao julgamento.
Idolatria Familiar: A sociedade atual pode tornar a paternidade e a maternidade áreas de intensa pressão e expectativas, elevando-as a um status de superioridade espiritual. Da mesma forma, o casamento é uma bênção divina, mas torna-se problemático quando visto como o auge da maturidade cristã ou como requisito para a plenitude da vida. Essa visão distorcida transforma esses dons de Deus em ídolos, levando a um legalismo que mede nosso desempenho espiritual por esses papéis. A verdadeira paternidade, maternidade e vida conjugal sob a graça de Deus reconhecem que nosso valor e eficácia não vêm de atingir um ideal cultural, mas de nossa dependência de Deus e de Seu amor incondicional. Devemos evitar a idolatria familiar que coloca a família como um ícone de perfeição espiritual e reconhecer que todas as estações da vida, seja solteiro ou casado, são oportunidades para crescer na fé e servir ao Reino de Deus. Nosso verdadeiro contentamento e valor vêm do nosso relacionamento com Cristo, não do nosso status familiar.
Idolatria Política: Em um mundo polarizado, o perigo reside em transformar a afiliação política em um ídolo ou um acréscimo à nossa fé. Nossa principal identidade deve ser em Cristo, não em nossas posições políticas. A verdadeira fé transcende as divisões políticas e nos chama a colocar o Evangelho acima de tudo.

Conclusão:

Em nossa jornada através do livro de Gálatas, somos lembrados do poder libertador do Evangelho de Cristo. Este não é um evangelho de cadeias, mas de liberdade - uma liberdade que não nos chama à complacência, mas à transformação. Como Paulo enfatiza, não devemos ceder ao jugo do legalismo, que nos arrasta de volta à escravidão do pecado e do autoengano.
Neste momento, convido cada um de vocês a refletir sobre a cruz de Cristo, o verdadeiro epicentro de nossa fé. Nela, encontramos não apenas o sacrifício supremo pelo nosso pecado, mas também o convite à verdadeira liberdade. A cruz nos desafia a abandonar as velhas formas de legalismo e autojustificação e, em vez disso, abraçar a graça que nos é oferecida gratuitamente, sem reservas e sem méritos de nossa parte.
Permitam que este entendimento do Evangelho renove suas mentes e corações. Viver sob a graça de Deus significa mais do que apenas libertar-se de regras e regulamentos; significa viver uma vida que reflita o amor, a misericórdia e a compaixão de Jesus Cristo. Isso é liberdade verdadeira: liberdade para amar, liberdade para servir, liberdade para ser transformado à imagem de Cristo.
Encerro esta mensagem com um apelo à ação: deixem que a liberdade do Evangelho permeie cada aspecto de suas vidas. Que ela inspire suas ações, motive suas palavras e guie seu caminho. E lembrem-se, quando as dúvidas surgirem ou a tentação do legalismo bater à sua porta, voltem-se para a cruz. Ali, encontramos a promessa de que, em Cristo, como disse Keller: “…somos piores do que jamais ousamos acreditar, mas mais amados e aceitos em Cristo do que jamais ousamos esperar … e isso sim cria uma nova dinâmica radical para o crescimento pessoal, para a obediência e para o amor”.
Que Deus nos abençoe com a coragem de viver essa liberdade, e que possamos ser faróis de Sua graça inabalável para um mundo que anseia por libertação.
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