A peversão do Evangelho ( Galatas 1. 6-10)
Notes
Transcript
Almeida Revista e Atualizada (Capítulo 1)
A inconstância dos gálatas
6 Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, 7 o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo. 8 Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. 9 Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema.
O evangelho que Paulo recebeu e pregou
10 Porventura, procuro eu, agora, o favor dos homens ou o de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo
PROLEGOMENOS (parte1)
Autor :
Autoria Gálatas é uma das quatro epístolas (Romanos, 1 e 2Coríntios, Gálatas) mais atestadas como sendo de autoria paulina. Mesmo os críticos tendem a reconhecer o apóstolo com sendo o autor. O primeiro a reconhecer tal inferência, até onde se sabe, foi Marcião (140 d. C). Ele era um antissemita, o que o conduziu a considerar o Antigo Testamento como não sendo inspirado por Deus. Em sua definição de um cânon bíblico com os livros que ele acreditava suportarem a ideia da inspiração divina, incluiu a Epístola aos Gálatas. No entendimento dele, por ser uma epístola que combate o judaísmo, Gálatas era inspirada. Apesar de suas intenções erradas, ao excluir o Antigo Testamento do cânon e incluir Gálatas supondo que tal epístola é antissemita, destaca-se que ele defendeu a autoria paulina de Gálatas. Assim, entre os estudiosos, mesmo aqueles com inclinações erradas como Marcião, há uma certa unanimidade a respeito do autor da epístola como sendo o apóstolo Paulo.3
DATA E DESTINATARIOS:
Em Gálatas 1.1, estão registrados os destinatários da epístola: “as igrejas da Galácia”. Assim, o primeiro destaque é que a carta foi escrita para um grupo de igrejas, diferente de outras epístolas paulinas que foram destinadas a apenas uma igreja ou, às vezes, a apenas um indivíduo.
Sobre os habitantes da região, é interessante que Paulo não diz que os evangelizou na segunda viagem, mas sim, que os confirmou (At 18.23). A evangelização foi durante a primeira passagem de Paulo como apóstolo pela região. Esta confirmação ou conforto é uma evidência que ele escreveu para as igrejas que plantou na sua primeira viagem missionária.
Provavelmente, Paulo escreveu esta carta entre os anos 50 e 53 d.C., no final ou durante a segunda viagem missionária, após o concílio de Jerusalém.
William Hendriksen “1. Gálatas foi escrita depois do Concílio de Jerusalém, pois descreve a relação de Paulo com os outros líderes daquela grandiosa reunião. A viagem a Jerusalém, mencionada em Gálatas 2.1, tem que ser identificada com aquela indicada em Atos 15.1–4. Como prova disso, ver Gálatas 2.1.”
Assim, Gálatas, provavelmente, é a mais antiga carta paulina do Novo Testamento.
Contexto histórico:
ATOS 15 ( O CONCILIO DE JERUSALEM) Nele, é registrado um conflito dentro da igreja. Um grupo seguindo Paulo e outro grupo seguindo alguns convertidos judeus, vindos do farisaísmo. A diferença entre Paulo e este grupo é que o apóstolo passou por uma mudança radical na sua vida, estes não. Eles defendiam a salvação acompanhada da circuncisão. Estes homens saíram de Jerusalém e foram atrás de Paulo até a Galácia, de certa forma “re-evangelizando” os lugares por onde Paulo passou, como que para corrigir os supostos erros de Paulo, acusando-o de não pregar o evangelho verdadeiro.
Neste tempo, Paulo já compreendia que os cristãos não deveriam se submeter ao que chamou de “obras da lei” (este termo é muito importante em Gálatas, porém muito mal compreendido). Com a ênfase sobre este ensino, muitas pessoas se converteram pela pregação de Paulo, o que levou os judaizantes a acusarem o apóstolo de pregar um evangelho “fácil”.8 Os cristãos judeus, que adotaram uma postura judaizante e que seguiram Paulo, defendiam três aspectos da lei: a circuncisão, o guardar do calendário judaico e a dieta judaica
Assim, quando Paulo falava que os gentios não deveriam se submeter as obras da lei, provavelmente, ele tinha estes três aspectos da lei em mente, pois eles eram fundamentais para a identificação de um indivíduo como sendo judeu no mundo gentio. Por este motivo, um grupo de cristãos oriundos da seita dos fariseus começou a contradizer este ensino de Paulo, dizendo que os judeus deveriam se circuncidar conforme a prescrição de Moisés, ou então, não poderiam ser salvos (At 15.1).
Terminado o concilio a decisão foi favorável a Paulo, Assim, definiu-se um contexto de unidade da igreja primitiva, com o envio de uma declaração a todas as igrejas, inclusive às igrejas de Icônio, Listra e Derbe, sobre a decisão. Porém, muitos crentes da Galácia não estavam convencidos de que Paulo estava certo. Por consequência, não adotaram a decisão do concílio.
Entre os motivos da redação estão as acusações sofridas pelo apóstolo por parte dos membros das igrejas da região. Se destacam entre elas: o não reconhecimento do seu apostolado, ignorando seu encontro com Jesus no caminho de Damasco; que ele não havia sido enviado por Deus, mas sim, pelos homens de Antioquia. Essa acusação dizia que ele não era enviado de Jerusalém, como se seu envio fosse de “segunda mão”. Já, os judaizantes, provavelmente, o acusavam de querer o dinheiro dos gálatas devido a afirmarem que o evangelho pregado pelo apóstolo era “fácil”.
Conclusão da Introdução :
A Galácia foi o primeiro lugar que recebeu o Evangelho fora do ambiente judaico em Jerusalém, a partir da missão fixada em Antioquia (At 13). A igreja saiu do ambiente judaico para o ambiente gentio.
Então: uma grande dúvida surgiu? E esses gentios que estão sendo recebidos, batizados, como eles devem viver? Devem se submeter as regulamentações judaicas como acontecia com os prosélitos judeus? Ou estão livres dessas coisas? Qual é o papel da Lei agora, uma vez que a pregação diz que as pessoas são salvas pela fé, através da graça de Deus?
Um grupo de cristãos ainda fortemente apegado aos costumes judaicos entendeu que ao menos três coisas deviam continuar sendo observadas pelos gentios, e parecem ter exigido de isso de uma forma bem legalista. Nota-se uma coisa importante, o ponto não parece ser uma defesa da salvação pela lei. Ao que parece, esse grupo de cristãos entendia, ou ao menos dizia entender, que a salvação era pela graça em algum sentido, mas pensava que ao menos três coisas não deviam ser abandonadas, ou seja, eram essenciais, condição sine qua non para a salvação. Então, o assunto de Gálatas não é, como normalmente os evangélicos entendem, uma defesa da salvação pela graça versus salvação pela lei. Antes disso, é um ataque ao legalismo seletivo. Aqueles cristãos judeus não defendiam que toda a Lei devia ser guardada pelos cristãos gentios, mas apenas três coisas, justamente as três que identificavam um judeu no mundo gentio: circuncisão (que aparece várias vezes na carta), dias santos (Gl 4.10) e dieta judaica (Gl 2.12).
Portanto, inconsistentemente, eles não exigem que “toda a lei seja guardada” (Gl 5.3), mas insistem nessas três coisas. Paulo vê nisso uma inconsistência total, e insiste que a salvação é “somente pela fé”, independente das “obras da Lei” (Gl 2.16, 3:2,5,10). Essas “obras da Lei” eram, provavelmente, um termo técnico para descrever as três coisas que identificavam o judeu no mundo gentílico. Assim, qual o assunto central de Gálatas? Um grande alerta contra todas as formas de legalismo seletivo. Um alerta sobre todas as possíveis contribuições que o homem pode dar à cruz. Ao acrescentarem as recomendações extras, os gálatas estavam enfraquecendo o valor autossuficiente da crucificação de Cristo. A Lei não é inimiga da Graça, o legalismo total ou seletivo sim.
A MENSAGEM parte 2
No capítulo anterior vimos como Paulo defendeu o seu apostolado (1.1) e o seu evangelho (1.4). Agora, ele continuará na mesma toada, fazendo uma vigorosa defesa do evangelho (1.6–12). Alguns pontos devem ser aqui destacados.
1-O abandono do evangelho (1.6,7)
As igrejas da Galácia estavam abandonando as fileiras do evangelho, dando as costas para Deus e voltando outra vez para a escravidão da lei. Vamos examinar aqui alguns pontos importantes relacionados a essa situação:
1- O espanto do apóstolo Paulo.
“Admirame (1.6a).
Paulo está perplexo com a atitude das igrejas da Galácia. Aqueles irmãos abraçaram o evangelho para logo depois abandoná-lo, trocando-o por uma mensagem diferente, outro evangelho, que de fato, não era evangelho. Paulo está admirado ao ver a rapidez que esses crentes estavam apostatando da fé.
Em vez de dar graças a Deus pela igreja no introito da sua carta, como de costume fazia nas outras epístolas, Paulo revela seu espanto pela inconstância e instabilidade dos gálatas. Na verdade, Gálatas é a única carta em que não há oração, nem louvor, nem ação de graças, nem elogios.
Exemplos de Cartas com Ações de Graças :
Romanos 1.8 “Primeiramente, dou graças a meu Deus, mediante Jesus Cristo, no tocante a todos vós, porque, em todo o mundo, é proclamada a vossa fé.”
1Coríntios 1.4–9 “Sempre dou graças a [meu] Deus a vosso respeito, a propósito da sua graça, que vos foi dada em Cristo Jesus; porque, em tudo, fostes enriquecidos nele, em toda a palavra e em todo o conhecimento; assim como o testemunho de Cristo tem sido confirmado em vós, de maneira que não vos falte nenhum dom, aguardando vós a revelação de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual também vos confirmará até ao fim, para serdes irrepreensíveis no Dia de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor.”
2-a apostasia dos crentes.
“… que estejais passando tão depressa…” (1.6).
As igrejas da Galácia estavam virando a casaca e abandonando, com grande rapidez, a fé evangélica, a ponto de trocar o verdadeiro evangelho por um evangelho falso. Estavam abandonando a graça para colocar-se, de novo, debaixo do jugo da lei. Isso era uma consumada apostasia.
O que diríamos nós acerca da apostasia galopante que atinge os redutos chamados evangélicos, em que o sincretismo religioso está substituindo o evangelho? Mais do que nunca, a mensagem de Gálatas é atual e oportuna.
Corintios X Galatas = Em Gálatas, porém, a própria essência do evangelho estava em jogo. Se este não fosse o caso, Paulo teria sido muito mais tolerante, como o prova Filipenses 1.15–18. Mas quando o assunto é importante – a glória de Deus e a salvação do homem –, a tolerância tem seus limites.
Voltando ao texto, é importante ressaltar que o verbo usado por Paulo está na voz ativa, e não na passiva; está no tempo presente, e não no passado. Assim, o sentido não é “que tenhais sido afastados tão depressa”, mas “que estejais passando tão depressa”. O uso do tempo presente indica claramente que os gálatas estavam em pleno processo de abandono. Estavam desviando-se de Deus e do seu evangelho.
A palavra grega metatithemi significa “transferir a fidelidade”. É usada em referência a soldados do exército que se rebelam ou desertam, e a pessoas que mudam de partido na política, na filosofia ou na religião. Os gálatas eram viracasacas religiosos e desertores espirituais. Estavam abandonando o evangelho da graça para abraçar o evangelho das obras.
3- o abandono ao Deus da Palavra e à Palavra de Deus.
“.... daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho” (1.6).
O cristianismo não é apenas a adoção de um credo, mas também a sustentação de um relacionamento. A apostasia não é apenas o abandono da doutrina ortodoxa, mas também a deserção do próprio Deus. Os crentes da Galácia estavam abandonando não apenas o evangelho pregado por Paulo, mas também o Deus anunciado pelo apóstolo. Quando uma pessoa se afasta do evangelho, ela não está apenas deixando para trás a doutrina ou a igreja, mas está distanciando-se do próprio Deus.
William Hendriksen corretamente defende que “os crentes gálatas não estavam se apartando meramente de uma posição teológica, mas estavam transferindo sua lealdade daquele que em sua graça e misericórdia os havia chamado.”
Warren Wiersbe tem razão ao argumentar que “os cristãos da Galácia não estavam apenas “mudando de religião” ou “mudando de igreja”; na verdade, estavam abandonando a própria graça de Deus! Pior ainda, estavam deixando o próprio Deus da graça! Os gálatas, com seu evangelho diferente, estavam saindo da graça para dentro da qual tinham sido chamados.”
John Stott apresenta essa ideia com diáfana clareza:
“Paulo diz que a deserção dos gálatas convertidos estava relacionada com a experiência e também com a teologia. Ele não os acusa de desertarem do evangelho da graça com vistas a outro evangelho, mas de desertarem daquele que os chamara na graça. Em outras palavras, teologia e experiência, fé cristã e vida cristã, andam juntas e não podem ser separadas. Afastar-se do evangelho da graça é afastar-se do Deus da graça.”
(acrscentava ao evangelho) Esse outro evangelho a que Paulo se refere é o evangelho das obras anunciado pelos judaizantes. A mensagem deles está sintetizada nos seguintes termos: “Se não vos circuncidardes segundo o costume de Moisés, não podeis ser salvos” (At 15.1). Eles não negavam a necessidade da fé em Jesus para a salvação, mas acrescentavam à fé as obras da lei. Para eles, era necessário que Moisés completasse o que Cristo havia feito, ou seja, era preciso acrescentar nossas obras à obra de Cristo, e assim concluir a obra inacabada de Cristo. Para o apóstolo Paulo, a ideia de acrescentar méritos humanos ao mérito de Cristo era repugnante. A obra de Cristo na cruz foi consumada, e o evangelho de Cristo oferece salvação unicamente pela graça mediante a fé (Ef 2.8,9). O evangelho é o único meio pelo qual os homens podem ser salvos da condenação, pois sem o evangelho nenhuma pessoa pode ser aceita diante de Deus.
Segundo David Stern, esse outro evangelho que os gálatas abraçaram era o legalismo. E o legalismo é o falso princípio de que Deus aceita as pessoas, considerando-as justas e dignas de estar em sua presença, com base em sua obediência a um conjunto de regras, e isso à parte de colocarem sua confiança em Deus, sujeitando-se aos cuidados dele, amando-o e aceitando o seu amor por elas.
Precisamos acautelar-nos acerca dos falsos profetas que ainda hoje distorcem o evangelho e perturbam a igreja com suas perniciosas heresias. Jesus nos alertou: “Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores” (Mt 7.15). O autor aos Hebreus ainda nos adverte: “Não vos deixeis envolver por doutrinas várias e estranhas…” (Hb 13.9).
4- outro evangelho não é o evangelho verdadeiro.
“… para outro evangelho, o qual não é outro…” (1.6,7).
Paulo usa aqui um trocadilho de palavras para desmascarar o outro evangelho anunciado pelos judaizantes. Há duas palavras na língua grega para “outro”: heteros (outro de outra substância, diferente) e allos (outro da mesma substância). Paulo declara ironicamente que eles se voltaram para outro (heteros) evangelho, o qual não é outro (allos). O que os falsos mestres pregavam é um evangelho heteros, “de tipo diferente”, e não um evangelho allos, “do mesmo tipo”. O verdadeiro evangelho é o evangelho da graça, da salvação pela fé em Cristo. O outro evangelho, denunciado por Paulo, é o evangelho das obras, que acrescenta ao sacrifício de Cristo os ritos da lei, por exemplo a circuncisão, como condição para a salvação (At 15.1). Paulo diz que esse outro evangelho é um evangelho diferente, de outra natureza, com outro conteúdo, e não pode ser aceito como evangelho. Esse outro evangelho não passa de um falso evangelho.
Concordo com John Stott quando diz que “a mensagem dos falsos mestres não era um evangelho alternativo; era um evangelho pervertido.”
William Hendriksen ainda esclarece esse ponto ao destacar que os gálatas estavam volvendo para um evangelho diferente, quer dizer, a um evangelho que difere radicalmente do que haviam recebido de Paulo. O evangelho de Paulo consistia em: “…o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus” (2.16; Rm 3.24; Ef 2.8; Tt 3.4–7). Os gálatas estavam abandonando esse evangelho em favor de um diferente, que proclamava a fé mais as obras da lei como o caminho da salvação. Era um evangelho só de nome, mas não o era na realidade. Nessa mesma linha de pensamento
Warren Wiersbe diz que os judaizantes afirmavam pregar “o evangelho”, mas não é possível haver dois evangelhos, um com base nas obras e outro com base na graça. “Eles estão pregando outro evangelho”, escreve Paulo, “mas uma mensagem diferente – tão diferente do verdadeiro evangelho que, afinal, não é evangelho”.
2-A perversão do evangelho (1.7)
O apóstolo Paulo faz uma transição da apostasia dos crentes para a ação perniciosa dos falsos mestres. Esses paladinos do engano são identificados por duas ações: perturbavam a igreja e pervertiam o evangelho. Concordo com
John Stott quando diz que falsificar o evangelho resulta sempre na perturbação da igreja. Não se pode mexer no evangelho e deixar a igreja intacta, pois esta é criada pelo evangelho e vive por ele. Vamos detalhar um pouco mais esses dois pontos a seguir.
1- os falsos mestres perturbavam a igreja.
“… há alguns que vos perturbam…” (1.7).
Os judaizantes perturbavam a igreja ao induzir os novos crentes a deixarem o cristianismo puro e simples, pregado por Paulo, para voltar às fileiras do judaísmo. Eles alarmavam esses crentes neófitos ao agregarem as obras à fé, exigindo dos crentes gentios a circuncisão como requisito indispensável para a salvação.
O verbo grego tarasso significa “sacudir, agitar”. As congregações gálatas haviam sido lançadas pelos falsos mestres a um estado de confusão: confusão intelectual de um lado e facções de luta de outro (At 15.24).
2-os falsos mestres pervertiam o evangelho.
“… e querem perverter o evangelho de Cristo” (1.7).
O evangelho de Cristo é o evangelho da graça, que oferece salvação ao pecador, não com base nas suas obras, mas com base no sacrifício perfeito, completo e cabal de Cristo. A causa meritória da salvação é a obra que Cristo fez por nós, e não a obra que fazemos para ele; e a causa instrumental da salvação é a fé, e não os rituais da lei. Qualquer mensagem que negue e torça essa verdade axial é uma perversão da mensagem cristã.
A palavra grega metastrepsai significa “inverter”. Os falsos mestres não estavam apenas corrompendo o evangelho, mas realmente o estavam invertendo, virando-o de costas e de cabeça para baixo. Warren Wiersbe explica que esse termo é usado apenas três vezes no Novo Testamento (At 2.20; Gl 1.7; Tg 4.9). Significa “fazer uma reviravolta, passar a seguir em direção contrária, inverter”. Em outras palavras, os judaizantes haviam invertido e virado os ensinamentos em direção contrária, levando-os de volta à lei.
3-A singularidade do evangelho (1.8,9)
Depois de falar da apostasia da igreja e da ação nociva dos falsos mestres, Paulo reafirma a singularidade do evangelho, evocando a maldição divina para todos aqueles que pervertem o evangelho e perturbam a igreja com falsas doutrinas. A razão de Paulo tratar desse assunto de forma tão enérgica é que estava em jogo tanto a glória de Cristo quanto a pureza da igreja. Na linguagem de William Hendriksen, a própria essência do evangelho corria perigo. Por isso, Paulo é tão veemente e intolerante com os falsos mestres, pois se tratava da glória de Deus e da salvação do homem. Destacamos aqui alguns pontos importantes.
1-o evangelho é maior do que os apóstolos.
“Mas, ainda que nós […] vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema” (1.8).
Paulo estava tão convencido de que não havia outro evangelho, que invocou a maldição de Deus sobre a própria vida, num caso hipotético de vir a pregar um evangelho que fosse além daquele que já havia anunciado aos gálatas. O evangelho é maior do que o apóstolo, e a mensagem maior do que o mensageiro. Não é a pessoa do mensageiro que dá valor à sua mensagem; antes, é a natureza da mensagem que dá valor ao mensageiro. Por isso, nem o próprio Paulo nem um anjo poderia alterar a mensagem. O evangelho não era de Paulo, mas de Cristo. Este fato o tornava imutável.
Donald Guthrie é oportuno quando alerta:
“Nos tempos modernos tem havido uma forte tendência no sentido de confundir as personalidades com o conteúdo do evangelho, mas a inclusão do próprio Paulo ou mesmo de um anjo na possibilidade de um anátema torna indisputavelmente clara a superioridade da mensagem sobre o mensageiro.”
F. F. Bruce está coberto de razão quando diz que"não é o mensageiro o que mais importa e sim a mensagem. O evangelho pregado por Paulo não era o verdadeiro evangelho porque Paulo era quem o pregava; era o verdadeiro evangelho porque foi o Cristo ressurreto quem o entregou a Paulo para ser pregado.”
Warren Wiersbe = “ quando diz que a prova do ministério de uma pessoa não é sua popularidade (Mt 24.11), nem os sinais e prodígios miraculosos que ela realiza (Mt 24.23,24), mas sim sua fidelidade à Palavra de Deus (Is 8.20; 1Tm 4.1–5; 1Jo 4.1–6).”
John Stott faz um solene e oportuno alerta:
“Ao ouvirmos as multifárias opiniões dos homens e mulheres da atualidade, sejam faladas, escritas, irradiadas ou televisionadas, devemos sujeitar cada uma delas a estes dois rigorosos testes: Tal opinião é coerente com a livre graça de Deus e com o claro ensinamento do Novo Testamento? Caso contrário, devemos rejeitá-la, por mais augusto que seja o mestre. Mas, se for aprovada nestes testes, então vamos abraçá-la e apegar-nos a ela. Não devemos comprometê-la como os judaizantes nem desertá-la como os gálatas, mas viver por ela e procurar torná-la conhecida dos outros.”
Paulo diz que tanto os falsos mensageiros como a falsa mensagem são anátema. A palavra grega anathema, traduzida por “anátema”, era usada para indicar banimento divino, a maldição de Deus sobre qualquer coisa ou pessoa entregue por Deus ou em nome de Deus à destruição e ruína. Paulo deseja, assim, que os falsos mestres sejam colocados sob banimento, maldição ou anátema de Deus. Ele expressa desejo de que o juízo de Deus recaia sobre eles.
Adolf Pohl é muito oportuno quando afirma “que o evangelho transfere o cristão da área da maldição para a área da bênção, mas, por meio da apostasia, o abençoado escolhe novamente seu lugar no âmbito da maldição.”
Somente o evangelho oferece salvação sem dinheiro e sem preço. Onde quer que a lei tenha uma maldição para aqueles que falham em cumpri-la, o evangelho tem uma maldição para aqueles que procuram mudá-lo.
2- o evangelho é maior do que os anjos.
“Mas, ainda que […] um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema” (1.8).
Depois de afirmar que o evangelho é maior do que os apóstolos, Paulo afirma que ele é maior do que os próprios anjos. Ainda que um anjo descesse do céu para anunciar outro evangelho, esse ser celestial deveria ser de pronto rejeitado e amaldiçoado.
João Calvino é enfático quando escreve:
“Com o fim de fulminar os falsos apóstolos ainda mais violentamente, Paulo invoca os próprios anjos. Também não diz simplesmente que não deveriam ser ouvidos caso anunciassem algo diferente, mas declara que devem ser tidos como seres execráveis.”
Jamais o céu enviaria um mensageiro com um segundo evangelho. Tudo entre o céu e a terra depende de que seja preservado o evangelho único. Do contrário, Deus não seria Deus, pois sua última palavra seria degradada a uma palavra penúltima.
3-o evangelho é maior do que os falsos mestres.
“Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema” (1.9).
Depois de lidar com dois casos hipotéticos no versículo 8, Paulo menciona uma possibilidade real no versículo 9. O apóstolo Paulo, como representante plenamente autorizado de Cristo, pronuncia a maldição sobre os judaizantes, que estavam cometendo o horrendo crime de chamar de falso o verdadeiro evangelho e tratando de colocar o falso, ruinoso e perigoso evangelho no lugar daquele que salva.
Qualquer indivíduo que se levantar para perturbar a igreja, perverter o evangelho e pregar outro que vá além do evangelho da graça deve ser rejeitado. Esse “alguém” tem uma abrangência universal. Todo e qualquer indivíduo, sem exceção, em qualquer lugar e, em qualquer tempo, que distorcer o evangelho está debaixo da maldição divina. Com respeito ao evangelho não podemos ficar aquém nem ir além; não podemos retirar nem acrescentar nada. O evangelho é completo em si mesmo. Qualquer subtração ou adição perverte-o.
4- o evangelho pregado e recebido traz bênção, mas o evangelho adulterado gera maldição (1.8,9).
O evangelho pregado por Paulo foi o mesmo recebido pelos crentes da Galácia. Esse evangelho deu-lhes liberdade e salvação. Agora, eles estavam rapidamente abandonando esse evangelho para abraçar uma mensagem diferente, cujo resultado era escravidão. Paulo fica estupefato com a insensatez dos crentes gálatas e invoca um anátema aos falsos mestres que mudaram a mensagem, perverteram o evangelho e perturbaram a igreja.
Donald Guthrie “diz que a única mudança do versículo 8 para o versículo 9 é a substituição de “que recebestes” por “que vos temos pregado”.” O enfoque muda, portanto, dos mensageiros para os ouvintes. Os dois juntos refletem o aspecto cooperativo da origem de cada nova comunidade de crentes. Paulo não só pregou pessoalmente o evangelho, mas este foi também plenamente reconhecido por aqueles que o receberam.
4-A motivação do evangelho (1.10)
Os mestres judaizantes começaram a atacar não apenas o apostolado de Paulo e sua mensagem, mas também suas motivações. Diziam que Paulo diminuía as exigências do evangelho para alcançar o favor dos homens. Afirmavam que o apóstolo desobrigava os crentes gentios da circuncisão para agradar aos homens. Acusaram Paulo de ajustar sua mensagem de forma que fosse atraente aos homens e lhes ganhasse o favor. O apóstolo Paulo, porém, não era um político, mas um embaixador. Seu propósito não era agradar aos homens, mas levar a eles a mensagem da salvação. Por isso, Paulo não se intimidou diante desse ataque. Sua resposta foi imediata. Vejamos aqui dois pontos importantes.
1- Paulo não negociou a verdade para procurar o favor dos homens.
“Porventura, procuro eu, agora, o favor dos homens ou o de Deus?…” (1.10a).
Os mestres do judaísmo estavam assacando contra Paulo as mais levianas acusações, não apenas pervertendo sua mensagem, mas duvidando de suas motivações. Paulo não fazia do seu ministério uma plataforma de relações públicas. Ele era um arauto, e não um bajulador. Jamais transigiu com a verdade para agradar a homens e jamais vendeu sua consciência para auferir alguma vantagem pessoal (2Co 2.17). Paulo era um apóstolo, e não um apóstata.
2- Paulo estava a serviço de Cristo, e não dos homens.
“… Ou procuro agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo” (1.10b).
Paulo tinha plena consciência de a quem estava servindo. Quem é servo de Cristo não busca holofotes. Quem é servo de Cristo não depende de elogios nem se desencoraja com as críticas. Quem é servo de Cristo não está atrás de sucesso nem de glórias humanas. Quem é servo de Cristo não muda a mensagem para atrair os ouvintes. O propósito do ministério de Paulo não era agradar aos homens, mas servir a Cristo.
5-CONCLUSÃO/APLICAÇÃO:
1- A primeira é direta para pregadores do evangelho, porque sabe aquela ideia de trabalho perigoso, isualubridade, os pregadores mereciam um adicional de insalubridade no salário, mas é a mais perigosa das tarefas, e das missões, pois de nehum outra coisa é dito se alguém boiar nessa história, se alguém fizer alguma coisa errada nessa profissão que seja maldito por toda a eternidade,não há esse risco para outras funções neste mundo, aparentemente esse é um risco primordial e prioritario para os pregadores da palavra de Deus portanto, pregadores, nós precisamos ter conciencia do risco, nós temos a obrigação de pregarmos o evangelho verdadeiro sem acrescimos, e por isso todo o cuidado é pouco, pois o risco aqui esta sobre a sua alma e sobre você, se pregar o evangelho diferente que seja maldito de forma irreversivel. então estude, cuidado. Seja diligitente no preparo, não se sai por ai pregando qualquer coisa de forma improvisada, porque uma espada esta sobre a sua cabeça quando você esta pregando a palavra de Deus.
2- Ouvintes, vocês que ouvem as pregações, que ouvem as mensagens pregadas, na internet, na televisão, quantas vezes não damos audiencia para falsos pregadores, “ isso ai eu não concordo mas o restante é bom” mas é exatamente isso que os judaizantes faziam “ah esse negocio ai de circucisão eu não concordo não mas no mais a pregação dele é muito boa, faz bem para a alma, me sinto bem” esses são os critérios ? escuto essa pregação porque me sinto bem ? veja podemos nos sentir bem fazendo um monte de coisa errada nessa vida e nem por isso elas são certas, entao o critério não pode ser esse o critério tem que ser fidelidade ao texto, fidelidade a bíblia, ao que esta escrito, todo o cristão , isso eu posso dizer com toda a certeza, todo o cristão verdadeira será alvo de alguma pregação falsa ao longo da sua vida, com a itenção satanica de desvia-lo da mensagem do evangelho para alguma coisa periferica, para alguma coisa que soa bíblica, soa mas não é, todos somos alvos disso pois essa é a principal estrategia satanica ele sabe que existe uma maldição aqui, sobre os pregadores que pregam um evangelho falso, ele sabe que os ouvintes quando ouvem essa pregação estão desertando do convocador que é DEUS, para outro evangelho falso, então ouvintes, cuidado com as falsas pregações elas não sao inofensivas , elas não são inofensivas, cuidado com o falso que parece verdadeiro, com os pequenos desvios, que vamos aceitando aceitando e no fim nos perdemos, e daqui a pouco estaremos no mesmo caminho dos gálatas.
E por isso essa carta é tão importante e serve aos propositos do Espirito santo de nos trazer de volta ao coração da mensagem do evangelho e de tirarmos aquelas coisas que os homens foram acrescentando e de mantermos a integridade da pregação
A pregação verdadeira é a que salva, capacita e nos da refrigerio e nos mantém e nos dá a vida que agrada a Deus. Nos torna perfeitamente habilitado para toda boa obra.