Êxodo 15.1-21

Série expositiva no Livro do Êxodo  •  Sermon  •  Submitted   •  Presented
0 ratings
· 15 views

O autor divino/humano conclama o povo de Deus a louvar o Altíssimo por sua vitória e realização do plano redentivo que glorifica seu nome na salvação de sua igreja.

Notes
Transcript
"São estes os nomes..." (Êx 1.1).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
Após a descrição da batalha final de YHWH contra Faraó e seus exércitos, sobre os quais triunfou poderosamente, a próxima seção do texto do Êxodo é dedicada pelo autor à proclamação dessa vitória através de um cântico, que também direciona o povo à contemplação do grande ato redentor do SENHOR e ao louvor de seu nome por tal.
A observação da entrada do SENHOR na batalha como grande guerreiro (tese da seção de 14.15-31) deveria motivar os filhos de Israel à compreenderem que agora, preparando-se o povo para entrar na terra prometida, não havia o que temer, pois, o mesmo Deus que afogara no mar o rei do Egito e seus cavalos e carros de guerra, os conduziria por um caminho seguro, fazendo-os participar de suas vitórias ao longo das batalhas que seriam travadas.
A confiança no Deus que é "homem de guerra" (v.3), faz com que aqueles que por ele foram redimidos bradem de júbilo e louvor como demonstrativo não somente de gratidão, mas de que o SENHOR levara a cabo seu plano de ser enaltecido entre as nações, como o Deus Redentor de seu povo. Esse aspecto público da glorificação do SENHOR na vitória sobre seus inimigos é repetido em Apocalipse 15. Quando João recebe a visão dos redimidos que entoam "o cântico de Moisés e do Cordeiro", ele ouve o louvor da multidão que exalta a Deus a partir de uma interpretação do que ocorreu tipologicamente no episódio do Êxodo:
Apocalipse 15.3-4
e entoavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo:
Grandes e admiráveis são as tuas obras,
Senhor Deus, Todo-Poderoso!
Justos e verdadeiros são os teus caminhos,
ó Rei das nações!
Quem não temerá
e não glorificará o teu nome, ó Senhor?
Pois só tu és santo;
por isso, todas as nações virão
e adorarão diante de ti,
porque os teus atos de justiça se fizeram manifestos.
Embora na própria descrição mosaica tenha sido ressaltado o relato em si, isto é, ainda que num primeiro momento o cântico de Moisés em Êxodo 15 dedique-se a descrição do que ocorreu naquele contexto, à luz da história redentiva mais ampla, tal como registrada em Apocalipse, o cântico também aponta para a publicação final do nome do SENHOR sobre toda a terra, ao ser enaltecido pela redenção que executou em favor de seu povo, ao ter o Cristo (i.e. o Cordeiro) vencido os adversários da igreja por ocasião de sua encarnação, vida, morte e ressurreição.
A intenção do autor em Êxodo 15 é redigir o brado de vitória do povo de Deus que ecoa a grandeza da ação redentora do SENHOR sobre toda a terra. Em vista disso, o texto de Êxodo 15.1-21 centraliza como tema central o cântico de vitória do povo de Deus: YHWH, o guerreiro exaltado.
Elucidação
Como descrito introdutoriamente, o cântico de Moisés reflete a convocação do autor para com o povo de Israel, para que este contemple a poderosa ação libertadora/redentiva que o SENHOR executou.
Em 14.4,17-18, Deus havia enfatizado o foco central das ações vindouras: ele suscitaria o coração de Faraó contra os filhos de Israel uma última vez, fazendo com que seu nome, em complementação à tudo que havia sido realizado antes (i.e. as dez pragas), fosse publicado em toda a terra. A glória do SENHOR, sendo então difundida mediante a derrota do Faraó, não poderia deixar de ser experimentada pelo povo, através de uma exultação sincera e intensa.
A narrativa enfatiza o sentimento comum do povo em relação ao ímpeto de louvor direcionado por Moisés: “Então (hb. “אָ֣ז” um conectivo “causal”, trad. “assim sendo”, “então”), entoou Moisés e os filhos de Israel este cântico ao SENHOR…”.
Três princípios centrais formam a estrutura sobre a qual Moisés constrói a argumentação do cântico: 1) a vitória do SENHOR como grande guerreiro (e.g. v.3 “O SENHOR é homem de guerra); 2) A salvação decorrente dessa ação portentosa (e.g. vv. 2 e 16), e 3) A difusão da glória de Deus em sua vitória diante das nações (e.g. v.14).
Todo o cântico gira em torno da repetição desses princípios, que agora fundem-se num convite a que o povo adore ao SENHOR. Essa iniciativa doxológica empreendida por Moisés, busca estabelecer o pavimento conceitual daquela adoração que será posteriormente exigida do povo, a partir das estipulações e leis cerimoniais do culto formal ao SENHOR, como será prestado quando o povo chegar de fronte ao monte Sinai.
Diante disso, é possível que a passagem já esteja preparando caminho para transitar da primeira parte do livro do Êxodo, que relata a redenção/ libertação de Israel, para a segunda, na qual a Lei é focada como demonstrativo da graça salvadora de YHWH manifesta e publicada através da renovação do pacto/aliança, que por sua vez culmina com a exposição dos aspectos cúlticos a serem observados por Israel.
Antes de adentrarem o ambiente de culto, formalizado pela Lei, os filhos de Israel deveriam expressar o entendimento de sua condição de redimidos, a partir da adoração que direcionariam ao SENHOR em razão de sua vitória gloriosa em seu favor. O povo de Deus, tendo sido distinguido daqueles contra quem YHWH havia estendido seu braço durante o episódio das dez pragas, havia agora passado a pés enxutos pelo meio do mar (v.19), assistindo a grande derrota imposta sobre Faraó, sendo este afogado, junto com seus exércitos nas águas do mar vermelho.
Deus havia cumprido o que prometera: todas as nações da terra agora sabiam que ninguém há como Deus entre os deuses (v.11), e que Israel era o povo de propriedade exclusiva dele. A redundância da compreensão dessa realidade numa efusiva expressão de louvor nada mais era do que a reação natural esperada daqueles que foram beneficiados com o cumprimento da promessa abraâmica, como o próprio Moisés menciona no versículo 2:
Êxodo 15.2
O Senhor é a minha força e o meu cântico; ele me foi por salvação; este é o meu Deus; portanto, eu o louvarei; ele é o Deus de meu pai; por isso, o exaltarei.
De acordo como a progressão das revelações do SENHOR e seu plano redentivo na história ao longo do registro canônico, A vitória divina no Êxodo, precisamente no momento da travessia dos filhos de Israel pelo meio do mar, serviu como referência tipológica da ação final de salvação executada por Deus através de Cristo.
O “cântico de Moisés e do Cordeiro” é uma expressão usada por João, que funde os dois horizontes históricos debaixo de um mesmo princípio: a glorificação do SENHOR sobre toda a terra na salvação de seu povo. O texto de Apocalipse 15, altera a expressão original do cântico mosaico, substituindo-a por uma interpretação daquele acontecimento e, sobretudo, daquelas palavras.
A grande ênfase do cântico de Apocalipse, é a vitória da igreja, que é retratada na visão como “os vencedores da besta, da sua imagem e do número do seu nome, que se achavam em pé no (ou, como sugere uma leitura literal do texto grego, ‘sobre’) mar de vidro” (cf. Ap 15.2), entoando louvor ao SENHOR pela derrota da besta, tendo isso sido divulgado em toda a terra, pois “quem não temerá e não glorificará teu nome, ó Senhor?” (cf. Ap 15.3).
Os filhos de Israel ao terem atravessado o mar, estavam prefigurando aquilo que aconteceriam futuramente: Cristo, ao ter triunfado sobre os inimigos de Deus na cruz, glorificou o nome de Deus a partir da salvação que concedeu a sua igreja.
Transição
A expressão de vitória de Deus por ter “gloriosamente triunf[ado] [,] precipitando no mar o cavalo e seu cavaleiro” (v.21), é feita por sua igreja. A exortação do autor/divino humano consiste em fazer com que todos os eleitos de Deus, ao ingressarem na família da fé, bradem de júbilo, ao compreenderem como foram abençoados com a salvação, que faz parte do plano magnífico de Deus publicar a glória do seu nome, de maneira última, em Cristo Jesus, o vitorioso guerreiro divino, que venceu a morte, o pecado e o inferno.
Assim, o texto de Êxodo 15.1-21, centraliza a seguinte aplicação à igreja hoje:
Aplicação
A contemplação do cumprimento do plano do SENHOR de glorificação de seu nome na derrota de seus inimigos (e de sua igreja) em Cristo Jesus, deve levar-nos à uma expressão contínua de louvor ao Deus Triuno.
Gregory Beale, em um comentário da passagem de Apocalipse 15.1-4, salienta:
Assim como os israelitas louvaram a Deus junto ao mar, depois que ele os resgatou das mãos de Faraó, a igreja também o louva por derrotar a besta em seu benefício. Como o povo de Deus no passado, do mesmo modo também o povo de Deus na nova aliança o louva entoando o cântico de Moisés, servo de Deus. (…) Os santos louvam a vitória do Cordeiro como cumprimento tipológico daquilo para o que apontava a vitória do mar Vermelho (BEALE, 2017, p. 298).
O povo de Deus precisa compreender que o ajuntamento solene que realizamos, por exemplo, domingo após domingo, foi referenciado no passando, no ajuntamento do povo ao redor de Moisés, quando passaram pelo mar. Unidos, num só pensamento, contemplaram a glória de Deus por meio da vitória deste sobre Faraó.
Nossa expressão de louvor ao SENHOR deve ser enriquecida por essa grande verdade; algo que, corriqueiramente, deixamos passar despercebidos. O que orienta nosso culto ao SENHOR? Muitas vezes, a pura obrigação de agir de maneira coerente com aquilo que professamos ser: “Ora, se somos cristãos, o que devemos fazer é ir a igreja!”. Não obstante isso ser uma grande verdade, ela não é completa.
Nossa expressão de louvor a Deus deve seguir os princípios que Moisés explicitou em sua expressão de louvor a Deus juntamente com o povo. Louvamos a Deus: 1) por sua vitória; 2) Pela salvação decorrente desta; 3) E pela fruição de seu plano de glorificar-se sobre toda a terra.
Louvar a Deus deve ser uma atitude, antes de qualquer coisa, de sincero reconhecimento por aquilo que fez Deus, incluindo-nos como beneficiários de sua ação gloriosa. Vir ao culto (ou realizar qualquer outra atividade na qual glorificamos ao SENHOR) sem estar plenamente cônscio da grandiosidade da obra redentora, é no mínimo, um desperdício de esforço.
A nós, igreja do SENHOR, foi dada a honra de não somente recebermos os bens da vitória de Cristo sobre a morte, o pecado e inferno, como também a graça de compreendermos isso ao ponto de exultar no coração, de vibrar pela vitória do SENHOR. Isso é o que esperado daqueles a quem Cristo adquiriu, libertando-os dos faraós que os oprimiam.
Conclusão
O imperativo efusivo de Miriã, ecoa através dos séculos, e se repetirá até que todos os eleitos, à uma, o façam diante de Deus e do Cordeiro no dia final: “Cantai ao SENHOR, porque gloriosamente triunfou e precipitou no mar o cavalo e o seu cavaleiro” (cf. v.20).
Related Media
See more
Related Sermons
See more