Atos 11.1-18

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O autor divino/humano conduz a igreja à reação adequada frente a operação da salvação na vida de outros: louvor e exultação ao Deus Triuno.

Notes
Transcript
"(…) E sereis minhas testemunhas (…) até aos confins da terra" (Atos 1.8).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
Embora na presente seção Lucas pareça apenas sintetizar aquilo que foi narrado anteriormente por ocasião da conversão de Cornélio, o foco central do autor naquele momento foi expor o princípio confirmador da aceitação dos gentios à igreja de Cristo como irmãos; ao passo que nesse novo episódio, a tese central é a descrição da reação da comunidade dos discípulos (de maioria judia) em relação a isso.
A narrativa inicia-se exatamente com o questionamento exaltado vindo "[d]os que eram da circuncisão" (v.2) em relação a entrada de Pedro "em casa de homens incircuncisos" (v.3). Embora alguns comentaristas argumentem que a censura dos apóstolos e demais irmãos tenha se dado apenas em razão de Pedro ter comido com gentios, o contexto maior da narrativa de Lucas sugere que a contenda girava em torno de uma reclamação mais intensa com relação ao contato de um judeu com um gentio.
Embora desde o capítulo 8 Lucas já tenha testificado que o testemunho do evangelho havia se expandido para regiões para além da Judeia (e.g. Samaria (cf. 8.5-8); Cesareia (cf. 8.40); Lida (cf. 8.32-35); Jope (cf. 9.42)), o tema ainda era sensível e não havia ainda sido refletido completamente pela igreja, principalmente em torno das implicações dos aspectos de descontinuidade para com a Lei de Moisés que a recepção do evangelho pelos gentios poderia causar — o que na verdade apontava para a vinda de Cristo e sua execução da redenção como o crivo para algum grau de descontinuidade —.
Lucas, por meio da presente narrativa, transmite ao seu(s) leitor(es) evidências de que a igreja, tomando conhecimento de que Deus havia concedido "o mesmo dom que a nós (judeus) nos outorgou quando cremos no Senhor Jesus" (v.17), estava começando a entender que verdadeiramente "aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para vida" (v.18), e assim, glorificaram a Deus por tamanha graça, o que também deve encorajar a igreja a exultar quando testifica a salvação acontecendo na vida daqueles que antes, por sua condição natural (não étnica ou cultural, mas espiritual) estavam distantes e em oposição a Deus.
Em síntese, o texto de Atos 11.1-18 consiste na tese da reação de exultação da igreja com a salvação dos homens.
Elucidação
O destaque feito por Lucas quanto a reação inicial da igreja em Jerusalém ao ouvir o relato da recepção dos gentios à palavra de Deus (v. 1), e consequentemente, do contato de Pedro com eles, introduz a tensão a ser resolvida.
Ao ter chegado a Jerusalém, segundo a narrativa, “os que eram da circuncisão o arguiram” (v.2). A expressão usada por Lucas, traduzida no texto por “arguiram” (gr. “διεκρίνοντο”), denota que o questionamento dos irmãos na Judeia não foi motivado por uma dúvida, mas sim, por uma contrariedade aguda. Aqueles irmãos estavam, na verdade, censurando a Pedro, por ter “entra[do] em casa de homens incircuncisos e com[ido] com eles”(v.3).
A partir desse ponto, Pedro passa a relatar de maneira sintética, porém argumentativa, os fatos desde a visão que teve do lençol contendo animais que lhe foram oferecidos como refeição (vv.5-10), até sua partida e chegada à casa do centurião (vv.11-15). Lucas reproduz na íntegra a edição de Pedro quanto ao que ocorrera, tendo este acrescentado ao relato sua própria perspectiva e interpretação. Por exemplo, no versículo 14, Pedro conta que o anjo havia dito a Cornélio que o apóstolo lhe “dirá palavras mediante as quais serás salvo, tu e toda a tua casa”. A transmissão do evangelho e o respectivo efeito salvador, como prometido pelo emissário divino, apontam para o fato de que a visita de Pedro foi não uma escolha do apóstolo, mas um mandado do próprio Espírito (cf. 10.20 - 11.12).
Nesse ínterim, além de ter comparado o que acontecera em casa de Cornélio, com este e todos os gentios presentes, com o que ocorreu com os próprios discípulos no dia de Pentecostes (v. 15), a saber que “caiu o Espírito Santo sobre eles”, Pedro emite o seu parecer aos que o questionavam. Sua tese baseia-se na recordação das palavras de Cristo de que “João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo” (v.16). O argumento petrino emite a compreensão de que o batismo com o Espírito mencionado por Cristo, também haveria de ser ministrado sobre os gentios, entendo que ao ter dito que “vós sereis batizados”, o Senhor não tinha em mente apenas os judeus. Diante disso, a conclusão é óbvia:
Atos dos Apóstolos 11.17
(…) Se Deus lhes (aos gentios na casa de Cornélio) concedeu o mesmo dom que a nós nos outorgou quando cremos no Senhor Jesus, quem era eu para que pudesse resistir a Deus?
Se o Espírito o havia conduzido até Cornélio, e lá, evidenciou que “Deus não faz acepção de pessoas” (cf. 10.34), batizando-os, Pedro nada podia fazer senão perceber e exultar no fato de que a salvação fora direcionada não somente aos judeus, mas também aos gentios; reação tida pelos próprios irmãos judeus, que
Atos dos Apóstolos 11.18
(…) Ouvindo eles estas coisas, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: Logo, também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para vida.
Transição
A tônica de Lucas nas narrativas do capítulo 10 e 11.1-18 são complementares. Num primeiro momento, o autor demonstra à igreja a realização do testemunho do evangelho junto aos gentios, como declaração oficial (em sua narrativa) de que a salvação agora não estava mais ligada aos limites étnicos de Israel, mas superava isso, mediante a grandeza da obra redentora de Cristo. Ligado a isso, o autor direciona a igreja a reação a ser esperada daqueles que contemplam essa salvação ocorrendo na vida de outros.
O povo de Deus, ao ver a remissão de perdidos das mais variadas condições étnicas, sociais ou culturais, deve exultar alegremente por tal feito, pois a glória do SENHOR em seu Filho Jesus Cristo, contemplada por aqueles que antes estavam longe de sua graça, é a maior realização do Deus Triuno; um ato digno de todo o louvor.
Compreendendo isso, o texto de Atos 11.1-18 encerra a seguinte verdade a ser apreendida e pratica pela igreja hoje:
Aplicação
Cada crente deve reconhecer a extensão da obra redentora de Cristo, trazendo ao Pai, pecadores, a despeito de sua condição étnica, social ou cultural, exultando e glorificando a Deus por sua salvação.
Matthew Henry, ao expor esse princípio, clarifica:
O imperfeito estado da natureza humana aparece mais fortemente quando pessoas piedosas ficam descontentes ao ouvirem que a palavra de Deus foi recebida, a despeito de seus próprios sistemas (ou critérios) [de salvação]. (…) Aqueles que amam o Senhor glorificarão a ele, quando tiverem convicção de que ele concedeu o arrependimento para vida a outros pecadores como eles (Matthew Henry’s Concise Commentary on the Bible (Chapter 11).
Por ocasião da análise da seção anterior, compreendemos o princípio de que não há nenhuma alma tão perdida nesse mundo, que o Espírito Santo não possa trazer a Cristo, independente de qualquer condição humana (cultura, etnia etc). Agora, o que estamos sendo levados a compreender, é que quando isso acontecer, não podemos dar vazão (se for o caso) aquele ciúme ou resistência que invadiu o coração dos cristãos judeus, quando viram a graça alcançando gentios. Pelo contrário, a salvação é o maior ação ou portento realizado por Deus, e assim, ao vermos um pecador sendo trazido à luz de Cristo, nosso coração precisa encher-se de júbilo.
A grandeza da obra redentora precisa ser louvada por sua igreja. Homens e mulheres, de todos os povos, tribos, línguas, nações, condições sociais, qualquer tenha sido seu passado, por mais obscuro e negro que fora, nada isso representará qualquer obstáculo à vontade do Espírito, contra o qual ninguém pode resistir, e, tal como Pedro constatou, não seremos nós a nos colocarmos contra ele.
Conclusão
Glorificar a Deus pela salvação de um pecador, é uma das maiores demonstrações de que conhecemos o significado de graça, pois reflete o entendimento de que o mesmo dom que a nós foi outorgado, foi, é e até a volta de Cristo será, concedido a outros.
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