Palavra de Rendição
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46 Então, Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito! E, dito isto, expirou.
Chegamos à última palavra que Jesus disse na cruz. Esta é conhecida como Palavra de rendição. Ao dizer tais palavras, Jesus estava citando o Salmo 31.5. Esse salmo era usado pelos judeus como uma oração noturna. É aquela oração que fazemos antes de dormir, onde afirmamos nossa confiança em Deus e que estamos seguros, ainda que não venhamos a acordar no dia seguinte.
O que torna tais palavras ainda mais peculiares, visto que Jesus acabara de dizer ao Pai palavras de um abandonado: “Deus meu, porque me abandonaste”. Mas agora, ele reafirma sua confiança no amor do Pai e em suas promessas, mesmo na hora da morte.
Há três lições que devemos observar nestas últimas palavras de Jesus.
Ele não morreu como mártir, mas entregou sua vida
Ele não morreu como mártir, mas entregou sua vida
A primeira é esta: Jesus não morreu como mártir, mas ele entregou a sua própria vida. Há quem veja a morte de Jesus como a morte de uma vítima, um oprimido pela sociedade, pelos opressores de seu tempo. Mas na verdade, foi Jesus quem entregou seu espírito. Sua morte foi um ato voluntário.
Ele é uma pessoa divino-humana. Ele é uma pessoa com duas naturezas: homem e Deus. Sua natureza divina não poderia morrer, pois como ele mesmo afirmou:
17 Por isso, o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a reassumir. 18 Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu Pai.
Cristo morreu não porque fosse obrigado, mas porque entregou sua vida de espontânea vontade. Isto ele fez tendo em vista o propósito de Deus, contemplando a nossa redenção. Isso torna a sua morte ainda mais sublime. Pois não contemplamos a morte de quem não tinha alternativa. Não, olhamos para a morte de um voluntário que se entregou em nosso lugar.
Ele morreu não em desespero, mas em triunfo
Ele morreu não em desespero, mas em triunfo
A segunda lição é esta: Cristo morreu não em desespero, mas em triunfo. Embora tenha sentido o abandono do Pai, ele esteve no controle até o fim. As forças das trevas não prevaleceram sobre ele. Em sua morte, ele venceu Satanás e suas hostes. Ao consumar sua obra, esmagou a serpente, triunfou sobre o diabo, conquistou os poderes das trevas.
Perceba que aqui Jesus novamente Deus de “Pai”. Ele sofrera a ira que nossos pecados merecem, e por isso em sua oração anterior ele dissera: “Deus meu”. Mas agora, em sua última oração, ele expressa novamente confiança no amor do Pai, chamando-o pelo seu nome paterno. Ele estava próximo à sua morte, a escuridão ainda dominava, mas ele ainda expressava a sua confiança e paz de que não seria abandonado para sempre, e o sentimento de que ainda desfrutava do cuidado amoroso do Pai.
Em sua morte, Jesus nos ensina como morrer
Em sua morte, Jesus nos ensina como morrer
Isto nos leva à lição final destas palavras: em sua morte, Jesus nos ensina a morrer. Não apenas ele se entregou em nosso lugar, ele venceu os poderes das trevas, como agora ele nos mostra a atitude que os filhos de Deus devem ter diante da morte.
Jesus experimentou o que todos nós eventualmente iremos experimentar: a morte segundo a carne. Mas quando ele morreu, nos mostrou como morrer dignamente. Ele conquistou para nós a vida eterna, garantiu que a morte não seria o fim para nós, ele matou a morte. E ele também nos mostra como é a tranquilidade daquele que tem segurança em Deus. Não morreremos com desespero, não teremos medo, mas firmeza, graças ao que Cristo conquistou.
Citando o bispo Ryle:
Assim como nosso Senhor, não devemos ter medo de enfrentar o “rei dos terrores”. Devemos considerá-lo um inimigo conquistado, cujo aguilhão foi anulado pela morte de Cristo. Devemos pensar na morte como um inimigo que pode afligir nosso corpo apenas por um breve momento e, depois, nada mais pode fazer. Devemos esperar com calma e paciência sua aproximação e crer que, ao se desfazer o corpo, nossa alma estará bem guardada.
Essa foi a atitude de Estevão em sua morte. Ele usou as palavras similares quando foi apedrejado pelo Sinédrio: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito” (At 7.59). Muitos outros cristãos morreram dignamente, como o reformador tcheco John Hus, que também repetiu as palavras de Jesus quando queimado na fogueira.
Essa é a maneira que todo crente deve morrer: confiando inteiramente em Deus por meio de Cristo, sabendo que a morte não é o fim. Seja essa a nossa esperança na vida, quando passarmos pelos males terríveis da aflição, da perseguição e das enfermidades, e também na hora da morte. Amém.