Atos 13.1-3
Série expositiva no Livro de Atos • Sermon • Submitted • Presented
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· 9 viewsO autor demonstra o princípio norteador da obra missionária da igreja, a partir do estabelecimento da igreja local como base principal da missão testemunhal.
Notes
Transcript
"(…) E sereis minhas testemunhas (…) até aos confins da terra" (Atos 1.8).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
Como analisado à luz do capítulo 12, a expansão da obra testemunhal da igreja através de Pedro (que é destacado com sendo o protagonista da primeira parte do texto de Atos (caps. 1-12)) é vista a partir do prisma principiológico da resistência da igreja aos ataques e ameaças de autoridades e governantes que se opõem a difusão da mensagem de salvação, sendo estes vencidos pelo poder do Senhor Jesus que, pelo seu Espírito, faz da igreja vitoriosa (cf. v. 24), ainda que permitindo que a mesma enfrente dificuldades e sofrimentos durante o curso de sua ação missionária (cf. v. 2).
A partir desse ponto, Lucas transiciona o foco de sua narrativa para um segundo personagem, no caso, Saulo (ou Paulo, como passa a chamá-lo a partir do versículo 9) que, juntamente com Barnabé, empreende a primeira viagem missionária comissionada pelo Espírito Santo através de uma igreja local (i.e. Antioquia).
A seção que contempla os três primeiros versículos deste capítulo, destina-se a explicar a iniciativa dessa agência missionária a partir de uma percepção específica.
Lucas, inicialmente, afirmou na introdução do texto de Atos, que redigiu o primeiro texto (i.e. o evangelho) "relatando todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar"(cf. 1.1). Em seguida, salienta que a segunda narrativa (o texto de Atos) concentra-se em expor aquilo que fora ordenado pelo Senhor Jesus "por intermédio do Espírito Santo aos apóstolos que escolhera" (cf. 1.2). No capítulo 13, ao destacar a atividade ordenadora do Espírito no comissionamento de Barnabé e Saulo, o auto retoma esse princípio, reforçando a ideia de que toda a agência testemunhal da igreja, agora representada pela dupla (mais especificamente por Saulo, que será o protagonista da trama a partir desse ponto, como dito) opera a partir da designação divina.
O público-alvo de Lucas, ao tomar conhecimento do início do ministério de Paulo, deveria também notar essa realidade, a fim de que ficasse evidente que aquele princípio introduzido no início do livro não fora perdido de vista: que é Cristo em seu Espírito que está operando, por meio de seus discípulos/igreja, a divulgação do chamado do Pai à salvação; chamado que agora é enfática e organicamente direcionado aos confins do mundo.
Em vista dessas considerações, o texto de Atos 13.1-3 salienta como tese central os princípios norteadores da agência missionária da igreja.
Elucidação
Desde a introdução de Saulo na narrativa em 8.1, Lucas tem preparado seu relato a fim de abrir caminho para a exposição da ação testemunhal da igreja protagonizada por este indivíduo, e no final do capítulo 11 e 12, esse foco passa a ser mais incidente na narrativa, quando comenta a participação preponderante de Saulo em ambos os episódios em que o testemunho evangélico é publicando gerando frutos (cf. 11.24-30; 12.25).
O retorno da dupla missionária, mencionado em 12.25 à Antioquia, é continuado no capítulo 13 a partir do comentário de que "havia na igreja de Antioquia profetas e mestres", incluindo na lista que os apresenta, Barnabé e Saulo (v.1). Um corpo de liderança estabelecido é descrito na narrativa, apontando para a condição daquela igreja enquanto comunidade cristã organizada. A relevância do comentário de Lucas quanto a presença de profetas e mestres é seguida pela referência à atividade da igreja que estava "servindo ao Senhor e jejuando" (v.2).
Essa atividade regular ligada a estruturação de liderança da igreja, enfatiza a maturação da obra realizada naquela cidade e serve ao autor como recurso por meio do qual mostra outro tipo de transição em sua narrativa. Até este ponto, a igreja de Jerusalém havia ganhado destaque como base das ações testemunhais da igreja noutras regiões. Todavia, já por duas vezes a igreja de Antioquia foi destacada como sendo outra importante base da igreja para ações missionárias, sendo descrito numa delas o socorro aos próprios irmãos em Jerusalém (cf. 11.29-30.
Essa mudança reforça a proficuidade das missão da comunidade cristã, exibindo sua expansão, o que à luz do complemento da seção, enfatiza o ponto tencionado por Lucas.
A concentração da igreja na realização dos trabalhos ordinários salienta sua obediência e perseverança na piedade cristã, e tal relato pode ser também visto em paralelo com as descrições anteriores feitas da igreja de Jerusalém, que antecederam inclusive grandes ações do Espírito, na expansão do testemunho evangélico, como é o caso de 1.14; 2.1; 3.33; 5.12 etc; o que ocorre a partir da segunda parte do versículo 2. Adicionado a isso, o destaque dado a presença de profetas e mestres, parece tecer um quadro geral que apresenta a igreja de Antioquia como pronta para realmente desempenhar um papel relevante no cumprimento da missão testemunhal.
Todavia, o fator decisivo, como sempre salientado por Lucas, é a ordenação do Espírito, o que ocorre na sequência, também exibindo um terceiro quadro transicional no processo evangelístico conforme narrado no livro de Atos.
Anteriormente, o Espírito agia direcionando individualmente personagens específicos para o cumprimento da missão testemunhal, como é o caso de Estevão (cf. 7.2, 55); Felipe (cf. 8.5), e Pedro (cf. 10.1-48), além daqueles episódios nos quais os apóstolos discursaram à multidões (caps 2-5). Agora porém, como adiantado, o Espírito dirige-se à uma igreja (seja representada por seus líderes, ou diretamente a todos os membros presente na reunião de orações e jejum (cf. v.2)), publicando sua vontade soberana em termos da obra que deverá ser realizada:
Atos dos Apóstolos 13.2b
(…) Disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado.
Um dos usos da expressão “Ἀφορίσατε” (trad. gr. “separar”), conforme analisado no Novo Testamento, era exprimir que alguém fora selecionado e designado a uma finalidade específica (Léxico Lexham do Novo Testamento Grego, 2020). Assim, a formalização da ordenança à uma igreja ao invés de a um indivíduo, ratifica a tese supracitada de que a partir do capítulo 13 do livro de Atos, Lucas demonstrará que a igreja torna-se a base das operações das ações testemunhais do Espírito na publicação do evangelho de Cristo.
Em obediência ao comissionamento divino, Lucas registra que a igreja, “jejuando, e orando, e impondo sobre eles as mãos, os despediram”(v.3). O termo “ἐπιθέντες” (trad. gr. “colocar sobre, “por”) possui a mesma raiz verbal que a expressão “ἐπιθέσεως” que aparece em 1Tm4.14 fazendo referência a ordenação de Timóteo ao ministério pastoral. No caso do texto de Atos, não se trata de uma ordenação ao oficialato, mas a atitude denota a mesma reação da igreja em reconhecer que Barnabé e Saulo foram designados pelo Espírito Santo para uma obra específica, e o ambiente ordinário para tal, como indicado pelo Espírito, para execução de tal tarefa, era a igreja.
Transição
Com isso, o autor conduz seus leitores à percepção de que a obra testemunhal ganha novos contornos a partir daquele momento do desenvolvimento da igreja.
O Espírito conduzira as operações na cidade de Antioquia, fazendo frutificar o evangelho numa importante cidade do mundo daquela época, a fim de que a mesma servisse de base (e de paradigma) para a expansão da obra de publicação da mensagem salvadora da comunidade cristã aos gentios.
O(s) leitor(es) do texto deveria(m) entender que é a partir da igreja que a obra missionária é estabelecida. Antes de indivíduos ou personagens, o mais importante e eficaz núcleo operacional por meio do qual o evangelho avançará ao mundo, sempre será a igreja.
Compreendendo essa realidade, o texto de Atos 13.1-3, direciona a igreja de Cristo hoje, a sintetização da seguinte verdade, desdobrada nas seguintes orientações:
Aplicação
A mais importante base missionária para difusão do evangelho no mundo, sempre será a igreja.
A nova percepção que o autor divino/humano fornece aos leitores do texto de Atos, nos faz contemplar um caráter mais organizacional e estável no processo de cumprimento da missão testemunhal legada à igreja. Da pontualidade de indivíduos que eram encaminhados à circunstâncias e situações nas quais testificariam da salvação à outros, o Espírito transiciona sua ação para o envio de agentes responsáveis por essa mesma obra, a partir de uma igreja local.
Os leitores de Atos 13.1-3 deveriam olhara para as suas comunidades locais, e contemplá-las como peças prioritárias na publicação da glória de Deus em Cristo Jesus e seu chamado à salvação. De igual forma, nós somos exortados pelo Espírito a assim proceder.
Em nosso tempo, as discussões sobre metodologia e logística de obras missionárias tem se intensificado. Agências missionárias tem desempenhado um papel importantíssimo na difusão da mensagem evangélica ao redor do mundo, através de homens e mulheres que tem dedicado suas vidas para levar a mensagem da graça aos confins do mundo. APMT, Portas Abertas, Missões Nacionais, Pioneiros, Voz dos Mártires, JOCUM etc., essas são apenas algumas das mais conhecidas iniciativas missionárias que buscam levar o evangelho de Cristo ao redor do mundo ou no nosso país.
Entretanto, não desmerecendo o trabalho desempenhado por qualquer dessas agências — devemos orar para que elas desempenhem a missão da melhor maneira possível —, a mais importante de todas, sempre será uma igreja local que vive por modo dingo do evangelho, sendo fiel a Cristo como porta-voz de sua mensagem no contexto em que vive, por intermédio de seus membros.
Nossa igreja é a principal base por meio da qual Cristo difunde e publica sua glória e a convocação ao arrependimento e fé nele como único Senhor e Salvador, enviado pelo Pai, sob o poder do Espírito Santo.
Nada obstante, esse mesmo princípio desdobra-se em pelo menos outros dois pontos que também precisam ser levados em consideração:
Que a obra missionária ocorre a partir da iniciativa do Espírito agindo através da igreja (cf. v.2b: “Separai-me… para a obra que os tenho chamado ”). A igreja realiza a obra missionária sob a orientação e iniciativa divina, e não a partir de um impulso humano.
Que o mesmo Espírito comissiona e vocaciona homens para realizar de maneira oficial e formal (i.e. pela pregação) a divulgação da mensagem de salvação. Cada crente deve ser uma testemunha de Cristo à outros, mas há aqueles que são destacados para a pregação do evangelho sendo líderes (e.g. (cf. v.1 “profetas e mestres”) nessa obra.
Conclusão
Antioquia foi a base da primeira viagem missionária de Barnabé e Paulo, tal como o Espírito Santo determinou, e os frutos disso foram inúmeras igrejas e um número ainda maior de pecadores que foram trazidos à fé em Cristo Jesus ao longo de todo o percurso.
O mesmo Espírito continua usando igrejas locais hoje, para difundir a gloriosa chamada de Deus Pai em seu Filho, Jesus Cristo, à salvação, assim como tem sido, deve ser e sempre será o caso de nossa igreja.