O perigo da apostasia (5)
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2 Pedro 2.4 a 10 Advertências contra Apostasia pessoal.
2 Pedro 2.4 a 10 Advertências contra Apostasia pessoal.
Pedro oferece três ilustrações do passado para mostrar que DEUS JULGA AQUELES QUE SE OPÕEM A ELE. O primeiro exemplo se refere aos anjos caídos (v. 4), o segundo é um retrato do dilúvio (v. 5) e o terceiro se refere ao juízo de Sodoma e Gomorra (v. 6). Eis a primeira ilustração:
4 Pois Deus não poupou anjos quando pecaram, mas, lançando-os no inferno, prendeu-os com correntes de escuridão, reservando-os para o juízo.
a. “Pois se Deus não poupou anjos”. Pedro lembra aos leitores que o exemplo que ele dá é baseado num ato histórico, que ele usa para provar o que está dizendo. Escreve: “se Deus não poupou anjos”. Essa oração é mais uma declaração de um fato do que uma condição, pois o castigo dos anjos já foi dado.
Pedro escolhe essa primeira ilustração do mundo angelical, onde os anjos estão perto de Deus, rodeando o seu trono. Mas muitos anjos pecaram contra Deus e não estão mais em sua presença. Quando foi que os anjos caíram em pecado? As Escrituras nos dão poucas informações. A Bíblia é a revelação de Deus sobre a criação, Queda e redenção do ser humano, mas não sobre os anjos. O mundo angelical é mencionado apenas de passagem nas Escrituras.
A Palavra de Deus nos ensina que muitos dos anjos se rebelaram contra Deus, porém não sabemos a natureza de seu pecado. Assim, não devemos especular e dizer que os anjos pecaram quando eles, os “filhos de Deus”, tomaram para si as “filhas dos homens” (Gn 6.2). Os anjos são seres espirituais sem corpo físico e são incapazes de procriar. Jesus, de fato, explica que, na ressurreição, as pessoas, como os anjos no céu, “não se [casarão] nem se [darão] em casamento” (Mt 22.30).
b. “Quando pecaram, mas enviou-os para o inferno”. Pedro só diz que os anjos pecaram, mas omite os detalhes de seu pecado. Esses detalhes não são importantes para sua discussão. Inferimos que os anjos que seguiram Satanás caíram em pecado antes de Satanás tentar Adão e Eva no Paraíso. Não temos nenhuma informação sobre a decisão de Deus de entregá-los “em masmorras escuras”, enquanto a outros foi permitido afligir a humanidade. Em sua primeira epístola, Pedro escreve sobre os “espíritos em prisão, que desobedeceram há muito tempo atrás” (3.19,20), e, no relato paralelo de Judas, o autor diz que esses anjos “não guardaram o seu estado original, mas abandonaram o seu próprio domicílio” (v. 6).
Pedro escreve que Deus enviou os anjos caídos para o inferno. Ele toma emprestada a palavra infernoda mitologia grega, que designava um lugar chamado Tártarus como habitação dos perversos. Pedro não usa esse termo para ensinar ou dar sua aprovação à mitologia grega, mas para falar na linguagem de seus leitores. Eles entendiam que o termo descrevia a parte do inferno onde os piores pecadores eram mantidos. “Assim como Paulo podia citar um verso apropriado do poeta pagão Aratus (At 17.28), assim também Pedro lança mão do uso dessa imagem homérica”. Dentro da comunidade cristã, o termo Tártarus não era desconhecido, como fica evidente pela literatura greco-judaica do século 1o̱.
c. “Colocando-os em masmorras escuras a fim de serem reservados para o julgamento”. Por causa de variações no texto grego, uma outra tradução traz as seguintes palavras: “os entregou aos grilhões das trevas” (NKJV).11 Ou seja, por causa da variação de uma letra na palavra grega em questão, uma tradução apresenta o termo abismos, e outra, grilhões.Os estudiosos não conseguem decidir sobre sua tradução baseando-se nos manuscritos, pois ambas as formas são igualmente apoiadas. Porém, tendo em vista o contexto que traz o termo inferno, a maioria dos tradutores prefere o termo abismos.Na literatura apócrifa, por outro lado, encontramos o seguinte texto: “Pois com um grilhão de trevas foram todos presos” (Sab. de Salomão 17.17, RSV). De fato, a escolha é difícil.
Os anjos perversos continuam no inferno aguardando o julgamento de Deus. Isso não significa que serão libertados no dia do julgamento. Certamente que não! As evidências estão sendo coletadas, de modo que Deus possa proferir o veredito naquele dia temível, em que eles “serão atormentados de dia e de noite pelos séculos dos séculos” (Ap 20.10).
Consequentemente, a conclusão desse versículo resulta num argumento que vai do maior para o menor. Se Deus não poupou os anjos que estavam em sua glória no céu e os lançou ao inferno, não irá ele punir os mestres que intentam fazer o povo desviar? Essa pergunta já traz sua própria resposta.
5 E ele não poupou o mundo antigo, mas preservou Noé, pregador da justiça, e mais sete pessoas, quando fez vir o dilúvio sobre o mundo de ímpios.
Dos três exemplos que Pedro dá para apoiar sua afirmação de que os falsos mestres enfrentarão juízo e destruição, o primeiro está relacionado aos anjos caídos. Enquanto o primeiro exemplo revela apenas a ira de Deus e o julgamento desses anjos, que acontecerá algum dia, a segunda ilustração revela tanto a ira quanto a proteção divina. Deus destrói o mundo perverso com o dilúvio, mas protege Noé e sua família.
Observe os seguintes pontos:
a. Mundo antigo.Em ambas as epístolas, Pedro usa o tema do dilúvio para retratar a desobediência dos perversos e a salvação dos justos. Em sua primeira epístola, ele escreve: “Aos espíritos em prisão, que desobedeceram há muito tempo atrás, quando Deus esperou pacientemente nos dias de Noé enquanto a arca estava sendo construída. Nela apenas algumas pessoas, oito ao todo, foram salvas através da água” (3.19,20). Ele se refere aos espíritos perversos que tiveram sucesso ao levar todo o mundo antigo à desobediência, exceto por Noé e os sete membros de sua família. Mais uma vez, ele cita o mundo antigo e o poder destruidor do dilúvio, quando diz em sua segunda epístola: “Também por essas águas o mundo daquele tempo foi inundado” (3.6).
Quem eram os perversos do mundo antigo? Em Gênesis, lemos que “era continuamente mau todo o desígnio do seu coração” (6.5), e a terra era corrupta e cheia de violência (vs. 11,12). Em muitos aspectos, vemos um paralelo com os tempos modernos, nos quais os repórteres apresentam, todos os dias, tristes relatos de crime e corrupção em nossa sociedade. Eles nos fazem lembrar que estamos vivendo em um mundo cada vez mais violento e chegam a fazer previsões de que a raça humana destruirá a si mesma algum dia. Jesus compara os dias antes da sua volta aos tempos em que Noé estava construindo a arca (ver Mt 24.37–39).
b. Dilúvio. As Escrituras nos fazem lembrar que o dilúvio foi o juízo de Deus sobre o mundo perverso no tempo de Noé. Deus destruiu a raça humana e os animais, exceto pelas oito pessoas e pelos casais de animais que ele protegeu na arca. Se o dilúvio foi universal ou local, não vem ao caso nesse momento. O importante é que Deus pronunciou juízo sobre o mundo perverso e o destruiu com as águas do dilúvio (Gn 6.5–8.19).
c. Noé. Pedro chama Noé de “pregador da justiça”. O autor da Epístola aos Hebreus confirma essa observação. Ele diz que, quando Noé construiu a arca para salvar sua família, “condenou o mundo e se tornou herdeiro da justiça que vem da fé” (Hb 11.7). A construção de uma embarcação em terra seca ofereceu muitas oportunidades de se pregar a justiça aos habitantes perversos do mundo. Durante 120 anos, Noé construiu a arca e exortou o povo a se arrepender. Todavia, ninguém aceitou seus ensinamentos, pois todos pereceram.
Além da ênfase na destruição do mundo, Pedro destaca a proteção de Noé e sua família. Daqueles que foram poupados do terrível dilúvio, Noé foi o 8o̱, como indica literalmente o texto grego. Os tradutores transmitem o sentido dessa frase ao dizer que Deus protegeu Noé e os outros sete. Esses outros sete eram a esposa de Noé, três filhos e suas respectivas esposas. Deus poupou suas vidas, porque eram retos aos seus olhos. Essas oito pessoas deram continuidade à raça humana.
Se Deus não poupou o mundo antigo nos dias de Noé, por que esperar que pouparia os falsos profetas do tempo de Pedro? Porém, assim como Deus protegeu o crente Noé e sua família, ele poupará os cristãos que permanecerem fiéis aos ensinamentos das Escrituras. Em outras palavras, a mensagem de Pedro tem a intenção de exortar e encorajar os leitores de sua epístola.
6 E, reduzindo a cinzas as cidades de Sodoma e Gomorra, condenou-as à ruína completa, tendo-as posto como exemplo do que viria a acontecer com os que vivessem impiamente;
O terceiro exemplo apresentado por Pedro é da destruição de Sodoma e Gomorra (Gn 19.24–29). Depois da devastação do dilúvio, ele se volta para a destruição de duas cidades pelo fogo. E, assim como oito pessoas foram salvas das águas, apenas três escaparam do sal e do enxofre que caíam sobre as cidades na planície do Jordão. Até mesmo a mulher de Ló transformou-se num pilar de sal (Gn 19.26). Somente Ló e duas filhas sobreviveram.
a. Lugares.Pedro menciona apenas as cidades de Sodoma e Gomorra como lugares representativos. As outras cidades eram Admá, Zeboim e Belá, também conhecida como Zoar (Gn 14.2). Quando Ló escolheu viver perto de Sodoma, “viu toda a campina do Jordão e que era bem regada, como o jardim do Senhor, como a terra do Egito” (Gn 13.10). Mesmo naqueles dias, Sodoma e Gomorra eram cidades importantes, conhecidas por sua perversidade e especialmente pela homossexualidade de seus habitantes (Gn 19.4,5). O pecado dessas pessoas era tão grave que Deus determinou-se a destruir toda a planície do Jordão. Por meio de causas naturais, ele devastou essa região permanentemente. É bem possível – sendo geologicamente pouco provável uma erupção vulcânica – que tenha ocorrido um terremoto, durante o qual foram expelidos gases, enxofre, betume e pedras de sal que trouxeram a destruição de Sodoma e Gomorra”. Deus destruiu todos os seres vivos na planície do Jordão com enxofre (Gn 19.24).
b. Exemplo. Os judeus conheciam bem a história de Sodoma e Gomorra. Por meio dos profetas, Deus os fez lembrar do pecado, condenação e destruição do povo destas cidades. Moisés faz referência à terrível ira do Senhor que causou a destruição total de Sodoma, Gomorra, Admá e Zeboim (Dt 29.23). Ele usa essa calamidade como um exemplo daquilo que Deus fará com os israelitas se desobedecerem ao Senhor. Os profetas Isaías, Jeremias, Ezequiel, Oséias e Amós também citam a destruição de Sodoma e Gomorra como exemplo da ira de Deus contra o pecado. Até mesmo Jesus compara o destino dessas duas cidades com o juízo que aguarda o descrente (Mt 10.15; 11.23,24; ver também Rm 9.29).
Em seu relato paralelo, Judas especifica o pecado dessas cidades condenadas. Escreve: “Como Sodoma e Gomorra e as cidades circunvizinhas que, havendo-se entregue à prostituição como aqueles, seguindo após outra carne, são postas para exemplo de fogo eterno, sofrendo punição” (v. 7).
O DISCÍPULO VERDADEIRO DEVE ESTAR ATENTO A ESSA REALIDADE E SER GRATO A DEUS PELA PERSEVERANÇA.
Mateus 24.,...
7 mas livrou o justo Ló, que ficava aflito com a conduta libertina daqueles insubordinados. 8 Porque esse homem justo, pelo que via e ouvia ao morar entre eles, atormentava a sua alma justa, dia após dia, por causa das obras iníquas que aqueles praticavam. 9 Assim, o Senhor sabe livrar da provação os piedosos
9 Se é assim, então o Senhor sabe como livrar os homens piedosos das provações e reservar os injustos para o dia do juízo enquanto continua com seu castigo.
Depois de dar exemplos de anjos caídos, dos contemporâneos de Noé e dos habitantes de Sodoma e Gomorra, Pedro está pronto para formular sua conclusão. Ele informa aos leitores como as verdades anteriormente afirmadas se aplicam a eles e aos seus vizinhos ímpios. Nessa conclusão, ele oferece uma palavra de encorajamento para os retos, mas para os iníquos revela o contínuo castigo de Deus.
a. Livrou. A segunda ilustração do dilúvio tem como paralelo a terceira ilustração das cidades. Os dois exemplos contrastam a destruição dos perversos com o livramento dos justos. No terceiro exemplo, Ló é o equivalente de Noé. Porém a diferença entre Noé e Ló é que Deus protegeu um e livrou o outro. Essa diferença não é apenas estilística. Pelo contrário, Pedro descreve precisamente as circunstâncias históricas da vida de Ló em Sodoma. Ló hesitou em deixar a cidade. Na verdade, anjos tiveram que tomar sua mão e as mãos de sua esposa e filhas e levá-los a um lugar seguro (Gn 19.16). Por meio de seus anjos, Deus literalmente livrou Ló e suas filhas. Porém, a esposa de Ló pereceu quando desobedientemente olhou para trás e viu Sodoma em chamas.
b. Justo.Observe que tanto Noé quanto Ló são descritos como homens justos, mesmo que a vida de Ló (relatada em Gênesis) não seja exemplar. Quando o povo de Sodoma cercou a casa de Ló e exigiu que ele lhes entregasse seus dois hóspedes, “traze-os fora, a nós, para que abusemos deles” (Gn 19.5), Ló ofereceu suas duas filhas virgens a esses homens lascivos. “Sua lógica parecia indicar que seria melhor eles satisfazerem seus desejos sexuais através de atos naturais do que através de excessos horrivelmente anti-naturais”. Não podemos desculpar o raciocínio de Ló e concluímos que ele era moralmente fraco. Além disso, o estupor embriagado de Ló trouxe o pecado do incesto para dentro de sua família e manchou permanentemente sua moralidade pessoal (Gn 19.30–38).
Abraão, porém, considerou Ló um homem justo, pois ele suplicou a Deus que não destruísse as cidades se houvesse dez outras pessoas justas vivendo ali (Gn 18.32). Jesus menciona Ló em seu discurso sobre o fim dos tempos (Lc 17.28), e, na literatura apócrifa, Ló é chamado de homem justo (Sab. de Salomão 10.6; 19.17). Observe que Pedro, enfaticamente, descreve Ló três vezes com o adjetivo justo:
“O homem justo” (v. 7);
“Aquele homem justo” (v. 8a);
“Sua alma justa” (v. 8b).
Devemos entender a justiça de Ló no contexto da misericórdia de Deus (Gn 19.16). Em sua misericórdia, Deus livrou Ló, e ele também sabe nos livrar das provações (v. 9). Pedro retrata Ló como um homem cuja alma justa foi torturada pelas práticas imorais dos sodomitas. Como crente, Ló era contra os pecados do povo em meio ao qual ele vivia dia após dia, pois “aquele homem justo, vivendo no meio deles dia após dia, foi atormentado em sua alma justa pelos feitos iníquos que viu e ouviu”. Ló e sua família não foram levados pela onda de imoralidade que veio sobre as cidades da planície. Assim como Noé e sua família em tempos passados, Ló e sua família suportaram o ataque feroz do pecado. Em resumo, a alma de Ló não foi entorpecida pelos atos iníquos que via diariamente.
c. Atormentava.Não devemos menosprezar essa palavra, que no grego encontra-se no tempo imperfeito para indicar ação contínua no passado. Nesse versículo, a palavra se refere ao estado de espírito de Ló; os atos iníquos de Sodoma afetavam sua alma.
Se partirmos do pressuposto de que Ló pregou para os cidadãos de sua cidade, mesmo não sendo conhecido como um “pregador da justiça” (v. 5), nós o colocamos ao lado de Noé. Porém, Ló não decidiu viver no fértil vale do Jordão motivado por propósitos evangelísticos, mas por causa de considerações econômicas (Gn 13.10,11). Assim, Ló perdeu todos os seus bens materiais e teve que fugir para salvar sua vida.
Talvez devamos traduzir o verbo vivendo, no versículo 8, como causa ou concessão, ou seja, podemos traduzir o versículo tanto como “porque habitava entre eles” ou “apesar de habitar entre eles, sua alma justa era atormentada dia após dia”. A expressão dia após dia mostra que Ló persistia em sua oposição aos atos pecaminosos daqueles ao seu redor. Por esse motivo, Pedro escreve que a alma justa de Ló era atormentada pelas obras iníquas. O que Ló via e ouvia vinha de pessoas que viviam sem a lei de Deus. Elas conheciam a lei de Deus e propositadamente viviam em desobediência ou eram completamente ignorantes sobre a lei divina. Seja qual for o caso, essas pessoas atormentavam diariamente a alma justa de Ló até que Deus, em sua misericórdia, o livrou.[1]
Em sua conclusão da seção sobre a ruína dos iníquos e a proteção dos crentes, Pedro fala como um pastor que encoraja os membros de seu rebanho. Primeiro, dirige-se aos crentes com uma mensagem de encorajamento e, depois, revela o futuro dos descrentes. Suas palavras também servem de advertência àqueles que estão se desviando da verdade da Palavra de Deus.
a. “Então o Senhor sabe como livrar os homens piedosos das provações”. A New International Version acrescentou uma breve declaração (“se esse é o caso”) que resume a essência dos versículos anteriores. Com o acréscimo dessa oração, a própria frase tem uma proposição e uma conclusão. Qual é a razão de se apresentarem essas três ilustrações? Em uma palavra: segurança. Pedro quer que seus leitores saibam que Deus está no controle de todas as situações. Nas palavras de Paulo: “Deus é fiel, e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças” (1Co 10.13). Os leitores estavam sob a influência perniciosa de falsos mestres que haviam se infiltrado na igreja cristã. Eles viam as evidências das doutrinas errôneas na conduta vergonhosa desses falsos mestres e, sem dúvida, perguntavam-se por que Deus permitia que o seu povo fosse assediado por essas pessoas.
João Calvino formula uma pergunta que os cristãos desanimados muitas vezes fazem: “Se o Senhor quer guardar em segurança aqueles que são seus, por que não juntá-los todos em algum canto da terra, onde podem incentivar-se mutuamente à santidade? Por que ele os faz misturarem-se com os iníquos, pelos quais podem ser corrompidos?”
Em seu papel de pastor, Pedro sabe que podem aparecer motivos para desânimo. O apóstolo diz que o Senhor sabe como salvar. Ele provavelmente escolhe o termo Senhor como variação da palavra Deus (com a qual ele começou a série de exemplos [v. 5]) ou como um nome que transmite a graça e a misericórdia do Senhor. A misericórdia de Deus está ligada ao verbo livrar (v. 7), no caso de Ló (Gn 19.16). O Senhor mostrou em muitas ocasiões como livra o homem justo das circunstâncias difíceis. Os exemplos de Noé e Ló são os casos em questão. Deus é capaz de proteger a família de Noé da humanidade perversa e Ló e suas filhas de uma sociedade ímpia, e sabe como livrar o crente das pessoas imorais e corruptas dos nossos tempos.
A linguagem que Pedro usa nesse ponto faz lembrar o último pedido da oração do Pai Nosso: “E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal” (Mt 6.13). Deus testou Noé quando lhe disse para construir a arca. E Deus permitiu que Ló se expusesse à tentação quando escolheu viver perto de Sodoma. Porém, assim como Deus livrou esses dois homens de um mundo perverso na Antigüidade, ele livrará seu povo justo das tribulações e tentações de hoje (comparar com 2Tm 4.18; Ap 3.10).
b. “E reservar os injustos para o dia do juízo”. Na segunda metade do versículo 9, Pedro revela o que está acontecendo com o povo que vive em pecado. Por terem deliberadamente violado a lei de Deus, ele os mantém sob sua custódia para o dia do julgamento. Jesus fala desse dia quando se refere, por exemplo, ao julgamento de Sodoma e Gomorra (Mt 10.15). E Pedro revela: “Os céus e a terra de agora estão reservados para o fogo, sendo guardados para o dia do julgamento e destruição dos homens perversos” (3.7).
O que acontecerá no dia do julgamento? Os perversos que se recusarem a deixar sua vida de pecado receberão o castigo eterno, serão lançados “para dentro do lago de fogo” (Ap 20.14).
Assim como prisioneiros são mantidos sob custódia até o dia de comparecerem diante do tribunal, da mesma forma, Deus mantém os iníquos até o dia do julgamento. Porém, Pedro acrescenta a oração enquanto continua com seu castigo. Podemos interpretar essa oração com uma conotação presente ou futura. Eis uma tradução representativa que expressa claramente o tempo presente: “O Senhor, em verdade, sabe… como continuar a punir o perverso até o dia do julgamento” (NAB). E na seguinte versão o tempo futuro fica evidente: “O Senhor sabe como… reservar o injusto até o dia do julgamento para ser castigado” (KJV). Apesar de ambas as traduções serem usadas na atualidade, prefiro a primeira, pois o grego tem um particípio presente “ao qual não podemos atribuir com facilidade o tempo futuro”.20Além disso, na parábola do homem rico e de Lázaro, Jesus ensina que os perversos sofrem enquanto aguardam o dia do julgamento (Lc 16.19–31). Apesar de não termos nenhuma indicação de que, quando Pedro escreve a epístola, os falsos mestres haviam sofrido castigo divino, sabemos que, por sua conduta, estavam caminhando para a própria destruição.[2]
O QUE É QUE NOS CABE
Glorificar a Deus como gratidão pelo que Ele está fazendo por nós:
Ø Exercer a nossa fé como meio de receber a graça salvadora
Ø 2 Cor 13.5 Vivermos em auto exame
Ø Estarmos atentos a realidade espiritual que nos circunda
Apostasia pessoal descrita
Hb 6.4–8
Hebreus 6.4–8 (NAA) — 4 É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, provaram o dom celestial, se tornaram participantes do Espírito Santo, 5 provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro 6 e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à zombaria. 7 Porque a terra que absorve a chuva que frequentemente cai sobre ela e produz plantas úteis para aqueles que a cultivam recebe bênção da parte de Deus; 8 mas, se produz espinhos e ervas daninhas, é rejeitada e está perto da maldição; e o seu fim é ser queimada.
Veja também Mt 13.20–21; Mt 24.10–12; Gl 1.6; Gl 5.4; 2Ts 2.3; 2Tm 4.3–4; 1Tm 4.1; 1Jo 2.19; 1Jo 5.16
Mateus 13.20–21 (NAA) — 20 O que foi semeado em solo rochoso, esse é o que ouve a palavra e logo a recebe com alegria. 21 Mas ele não tem raiz em si mesmo, sendo de pouca duração. Quando chega a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza.
Mateus 24.10–12 (NAA) — 10 Nesse tempo, muitos hão de se escandalizar, trair e odiar uns aos outros. 11 Muitos falsos profetas se levantarão e enganarão a muitos. 12 E, por se multiplicar a maldade, o amor se esfriará de quase todos.
Gálatas 1.6 (NAA) — 6 Estou muito surpreso em ver que vocês estão passando tão depressa daquele que os chamou na graça de Cristo para outro evangelho,
Gálatas 5.4 (NAA) — 4 Vocês que procuram justificar-se pela lei estão separados de Cristo; vocês caíram da graça de Deus.
2Tessalonicenses 2.3 (NAA) — 3 Ninguém, de modo nenhum, os engane, porque isto não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem da iniquidade, o filho da perdição,
2Timóteo 4.3–4 (NAA) — 3 Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, se rodearão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos. 4 Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas.
1Timóteo 4.1 (NAA) — 1 Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios,
1João 2.19 (NAA) — 19 Eles saíram do nosso meio, mas não eram dos nossos. Porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco. Mas eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos.
1João 5.16 (NAA) — 16 Se alguém vê o seu irmão cometer pecado que não leva à morte, pedirá, e Deus dará vida a esse irmão. Isso aos que cometem pecados que não levam à morte. Há pecado que leva à morte, e por esse não digo que se deva pedir.
Advertências contra a apostasia pessoal
Hb 10.26–31
Hebreus 10.26–31 (NAA) — 26 Porque, se continuarmos a pecar de propósito, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados. 27 Pelo contrário, resta apenas uma terrível expectativa de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários. 28 Quem tiver rejeitado a lei de Moisés morre sem misericórdia, pelo depoimento de duas ou três testemunhas. 29 Imaginem quanto mais severo deve ser o castigo daquele que pisou o Filho de Deus, profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado e insultou o Espírito da graça! 30 Pois conhecemos aquele que disse: “A mim pertence a vingança; eu retribuirei.” E outra vez: “O Senhor julgará o seu povo.” 31 Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo.
Veja também Mt 10.33; Jo 15.6; 2Tm 2.12; Hb 3.12; 2Pe 3.17
Mateus 10.33 (NAA) — 33 mas aquele que me negar diante das pessoas, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus.
João 15.6 (NAA) — 6 Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora, à semelhança do ramo, e secará; e o apanham, lançam no fogo e o queimam.
2Timóteo 2.12 (NAA) — 12 se perseveramos, também com ele reinaremos; se o negamos, ele, por sua vez, nos negará;
Hebreus 3.12 (NAA) — 12 Tenham cuidado, irmãos, para que nenhum de vocês tenha um coração mau e descrente, que se afaste do Deus vivo.
2Pedro 3.17 (NAA) — 17 Portanto, vocês, meus amados, visto que já sabem disso, tenham cuidado para que não sejam arrastados pelo erro desses insubordinados e caiam da posição segura em que se encontram.
Exemplos de apostasia pessoal no AT
Rei Saul:
1Sm 15.11; 1Sm 15.28; 1Sm 16.14; 2Sm 7.15
1Samuel 15.11 (NAA) — 11 — Lamento haver constituído Saul como rei, porque deixou de me seguir e não executou as minhas palavras. Então Samuel ficou triste e clamou ao Senhordurante toda a noite.
1Samuel 15.28 (NAA) — 28 Então Samuel lhe disse: — Hoje o Senhor rasgou das suas mãos o reino de Israel e o deu a alguém que é melhor do que você.
1Samuel 16.14 (NAA) — 14 Depois que o Espírito do Senhor se retirou de Saul, um espírito mau, vindo da parte do Senhor, o atormentava.
2Samuel 7.15 (NAA) — 15 Mas a minha misericórdia não se afastará dele, como a retirei de Saul, a quem tirei de diante de você.
Exemplos de apostasia pessoal no NT
Lc 13.26–27; Jo 6.66; Tt 1.16; 2Pe 2.1–3; 2Pe 2.10–15; 2Pe 2.20–22; Jd 4; Jd 8–16
Lucas 13.26–27 (NAA) — 26 Então vocês dirão: “Comíamos e bebíamos com o senhor. Além disso, o senhor ensinava em nossas ruas.” 27 Mas ele dirá a vocês: “Não sei de onde vocês são; afastem-se de mim, vocês todos que praticam o mal.”
João 6.66 (NAA) — 66 Diante disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele.
Tito 1.16 (NAA) — 16 Afirmam que conhecem a Deus, mas o negam por meio do que fazem; é por isso que são abomináveis, desobedientes e reprovados para qualquer boa obra.
2Pedro 2.1–3 (NAA) — 1 Assim como surgiram falsos profetas no meio do povo, também haverá falsos mestres entre vocês. Eles introduzirão heresias destruidoras, chegando a renegar o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição. 2 E muitos seguirão as suas práticas libertinas, e, por causa deles, o caminho da verdade será difamado. 3 Movidos por avareza, eles explorarão vocês com palavras fictícias. Mas, para eles, a condenação decretada há muito tempo não tarda, e a destruição deles não caiu no esquecimento.
2Pedro 2.10–15 (NAA) — 10 especialmente aqueles que, seguindo a carne, andam em desejos impuros e desprezam qualquer autoridade. Atrevidos, arrogantes, não temem difamar os gloriosos seres celestiais, 11 ao passo que anjos, embora maiores em força e poder, não proferem contra essas autoridades sentença difamatória na presença do Senhor. 12 Esses, porém, como animais irracionais, seres guiados pelo instinto e que nascem para serem capturados e mortos, falando mal daquilo que não entendem, na sua destruição também hão de ser destruídos, 13 recebendo injustiça como pagamento pela injustiça que praticam. Encontram prazer na satisfação de seus desejos libertinos em pleno dia. Como manchas e defeitos, encontram satisfação nas suas próprias mentiras, enquanto se banqueteiam com vocês. 14 Eles têm os olhos cheios de adultério e são insaciáveis no pecado. Enganam almas inconstantes e têm o coração exercitado na avareza, essa gente maldita. 15 Tendo abandonado o reto caminho, desviaram-se e seguiram pelo caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o pagamento pela injustiça.
2Pedro 2.20–22 (NAA) — 20 Portanto, se, depois de terem escapado das contaminações do mundo mediante o conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, se deixam enredar de novo e são vencidos, o seu último estado se tornou pior do que o primeiro. 21 Pois teria sido melhor que eles nunca tivessem conhecido o caminho da justiça do que, após conhecê-lo, voltar atrás e se afastar do santo mandamento que lhes havia sido dado. 22 Com eles aconteceu o que diz certo provérbio muito verdadeiro: “O cão volta ao seu próprio vômito.” E: “A porca lavada volta a rolar na lama.”
Judas 4 (NAA) — 4 Pois certos indivíduos, cuja sentença de condenação foi promulgada há muito tempo, se infiltraram no meio de vocês sem serem notados. São pessoas ímpias, que transformam em libertinagem a graça do nosso Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo.
Judas 8–16 (NAA) — 8 Do mesmo modo também esses, quais sonhadores, contaminam a carne, rejeitam a autoridade e insultam os gloriosos seres celestiais. 9 Contudo, nem mesmo o arcanjo Miguel, quando entrou em conflito com o diabo e discutia a respeito do corpo de Moisés, ousou pronunciar sentença difamatória contra ele. Pelo contrário, disse: “O Senhor repreenda você!” 10 Esses, porém, quanto a tudo o que não entendem, difamam; e, quanto a tudo o que compreendem por instinto natural, como animais irracionais, até nessas coisas se corrompem. 11 Ai deles! Porque seguiram o mesmo caminho de Caim e, movidos por ganância, caíram no erro de Balaão, e foram destruídos na revolta de Corá. 12 Esses são como rochas submersas nas festas de fraternidade que vocês fazem, banqueteando-se com vocês sem qualquer receio. São pastores que apascentam a si mesmos; são nuvens sem água impelidas pelos ventos; são árvores que, em plena estação dos frutos, continuam sem frutos, duplamente mortas e arrancadas pela raiz; 13 são ondas bravias do mar, que espumam as suas próprias sujeiras; são estrelas sem rumo, para as quais está reservada a mais profunda escuridão, para sempre. 14 Foi a respeito deles que também profetizou Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: “Eis que o Senhor vem com milhares de seus santos, 15 para exercer juízo contra todos e para convencer todos os ímpios a respeito de todas as obras ímpias que praticaram e a respeito de todas as palavras insolentes que ímpios pecadores proferiram contra ele.” 16 Esses tais são murmuradores, pessoas descontentes que andam segundo as suas paixões. A sua boca vive falando grandes arrogâncias; adulam os outros por motivos interesseiros.
[1]Simon J. Kistemaker, Epístolas de Pedro e Judas, trans. Susana Klassen, 1a edição., Comentário do Novo Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2006), 381–389.
[2]Simon J. Kistemaker, Epístolas de Pedro e Judas, trans. Susana Klassen, 1aedição., Comentário do Novo Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2006), 391–394.