Rute e a Providência Divína

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Rute e a Providência Divína

TEXTO: Rute

Resumo

No capítulo 1, dos versos 1 a 5, lemos que no período dos juízes, Elimeleque, Noemi e seus filhos saem de Belém por causa da fome, para peregrinar em Moabe. O marido de Noemi, Elimeleque, morre ali. Malom e Quiliom, os filhos desse casal, casam-se com duas mulheres moabitas, Rute e Orfa. Dez anos depois os dois irmãos morrem também, sem deixar filhos. Noemi fica então sem família (1.1-5).
Ao saber que o período de fome em Israel havia terminado, Noemi decide voltar a Belém; Orfa, uma de suas noras fica para trás, mas Rute acompanha Noemi. Aqui temos o episódio da famosa declaração de fidelidade de Rute para com a sua sogra:
Rute 1.16–17 (NAA)
16 Porém Rute respondeu:
— Não insista para que eu a deixe nem me obrigue a não segui-la! Porque aonde quer que a senhora for, irei eu; e onde quer que pousar, ali pousarei eu. O seu povo é o meu povo, e o seu Deus é o meu Deus. 17 Onde quer que você morrer, morrerei eu e aí serei sepultada. Que o Senhor me castigue, se outra coisa que não seja a morte me separar de você.
Temos aqui um belo retrato de como era o relacionamento entre as duas. Extremo companheirismo e amor. A relação entre elas se extendeu de sogra e nora para mãe e filha. Não são poucas as vezes em que Noemi chama Rute de “filha.
Na época da colheita, Rute, como manifestação de seu amor para com Noemi, vai para trabalhar em um campo para colher espigas, a fim de trazer para casa alimento para que ambas se sustentassem. O campo para onde ela vai, ocasionalmente, pertence a um parente de Elimeleque, Boaz (cap. 2). Noemi sabe que ele é um parente resgatador. Essa é uma palavra que aparece algumas vezes nesse livro. Justamente por estar no centro da história do Livro. O termo aparece 23 vezes no livro (entre “resgatador”, “resgatar” e “resgate”). O resgate da propriedade por um parente assegurava que a terra não permaneceria fora da família perpetuamente. Lv25.23-25
Levítico 25.23–25 (NAA)
23 Também a terra não será vendida em definitivo, porque a terra é minha; pois vocês são para mim estrangeiros e peregrinos. 24 Portanto, em todas as terras da propriedade de vocês, permitam que as terras sejam resgatadas.
25 — Se alguém do seu povo empobrecer e vender alguma parte das suas propriedades, então virá o seu resgatador, seu parente, e resgatará o que esse seu irmão vendeu.
O casamento levirato envolve uma viúva sem filhos se casar com o irmão de seu marido para dar um herdeiro para o marido morto Dt 25.5-6
Deuteronômio 25.5–6 (NAA)
5 — Se dois irmãos morarem juntos, e um deles morrer sem filhos, a mulher do que morreu não se casará com um estranho, alguém de fora da família; seu cunhado a tomará, a receberá por mulher e exercerá para com ela a obrigação de cunhado. 6 O primogênito que ela lhe der será sucessor do nome do seu irmão falecido, para que o nome deste não se apague em Israel.
No Livro de Rute, o resgate acontece pela parte de Boaz, que não é necessariamente irmão e nem o parente mais próximo. Havia outro parente, mas que não quis resgatar Rute, logo, Boaz o fez. Uma vez ocorrido o resgate, a condição desesperadora de Rute e Noemi mudam radicalmente. A solução para o conflito narrativo é o ato de resgate de Boaz, resultando em bênçãos para Rute e para Noemi. O resgate também trouxe bênção para a comunidade toda, e — através de Davi — à nação de Israel.
Por meio desse breve resumo, podemos perceber algumas coisas que são dignas de destaques. O quanto este Livro e esta história nos ensinam sobre o poder, amor, misericórdia e soberania de Deus. No culto de hoje eu gostaria de destacar 3 lições importantes que podemos tirar do livro como um todo. Claro que são incontáveis as coisas que podemos aprender por meio desta história, mas hoje nos deteremos nestas 3: passamos por adversidades; Deus é provedor e Deus é Soberano. O autor e pastor Batista John MacArthur comenta:
Rute descreve a soberania de Deus (1:6;4:13) e seu cuidado providencial (2:3) com pessoas aparentemente sem importância em tempos aparentemente insignifican-tes, que mais tarde demonstraram ser de importância crucial para o cumprimento da vontade de Deus.
John F. MacArthur
Rute nos ensina como nossas interpretações e julgamentos das situações nos enganam.
Vamos ao desenvolvimento.

1. Adversidades da vida: Rute 1:20-21

Rute 1.20–21 (NAA)
20 Porém ela lhes dizia:
— Não me chamem de Noemi, mas de Mara, porque o Todo-Poderoso me deu muita amargura. 21 Quando saí daqui, eu era plena, mas o Senhor me fez voltar vazia. Por que, então, querem me chamar de Noemi, se o Senhor deu testemunho contra mim e o Todo-Poderoso me afligiu?
Noemi estava devastada. Acabada. Sem o mínimo de esperança. Podemos olhar para a atitude de Rute para com a sua sogra e nos encantarmos com o seu amor e o seu compromisso. Mas, aparentemente, Noemi não recebeu da mesma forma. Diante de uma das declarações mais lindas e profundas de toda a Bíblia, Noemi se cala. “Nem mesmo um “muito obrigada!” deu o ar da graça nos lábios de Noemi. Não houve nenhum “Eu vou ficar muito grata por ter companhia nessa estrada difícil”. Um comentarista afirma:
Estudos Bíblicos Expositivos em Ester e Rute (Chamai-Me Mara!)
Tendo ouvido um dos discursos mais tocantes de toda a Bíblia, no qual Rute jurava total lealdade a Noemi, esta não foi capaz de dar outra resposta que não o duro silêncio.
Este silencio de Noemi é um reflexo de seu coração que realmente havia ficado amargurado. Naomi significa: “agradável”, já Mara significa “amarga”. Tamanha era a tristeza de Noemi devido suas perdas, que ela já não se enxergava mais como antes. Sua essência havia mudado. Noemi olhava para si diante da perspectiva de um mundo sem esperança e sem Deus. Ela olhou a sua situação e se definiu por meio dela.
Noemi é o reflexo de nossos corações. Ansiosos, entristecidos, amargurados, desesperançosos. Como um eco do pecado em nossa natureza, somos impedidos de perceber que Deus se faz presente em meio a dor. Nossa mente caída e limitada, é incapaz de perceber a Graça divina em meio ao luto. Somos responsáveis por um mundo que não consegue lidar com adversidades, dores e choro. Vivemos em um mundo que canta: “Onde Jesus mora não há tristeza. Onde Jesus mora não há dor, não há choro. Onde Jesus mora só existe alegria .A gente canta todo dia. É feliz quem tem Jesus no coração”.

Observe também que Noemi não estava quebrantada e arrependida com relação à sua experiência moabita. Ela podia estar voltando para a terra do Senhor em corpo, mas não necessariamente voltando para o Senhor com um espírito quebrantado e um coração contrito. Mara, “Amarga”, era um nome perfeito para Noemi agora. Era um nome com uma história; a história do povo de Deus se rebelando pelo fato de achar que ele não provera as necessidades dele.

Veja se não somos assim. Reclamamos com Deus, o afrontamos. Alguns expressam com palavras como “porque eu estou passando por isso?”, “onde está o Senhor?”. Outros se contentam em guardar em seus corações feridas que alimentam contra o próprio Deus.
Talvez essa primeira lição encontrada no texto nem precisasse do texto em sim “sobre adversidades eu entendo, Daniel”. Mas bem, a lição está aqui, e o que podemos aprender com ela é que adversidades nós sempre enfrentaremos, mas isso nunca significa ausência, apatia ou descompromisso da parte de Deus. Ele é conosco.

2. Providência de Deus: Rute 2:3

Rute 2.3 (NAA)
3 Ela se foi, chegou ao campo e apanhava espigas atrás dos ceifeiros. Por casualidade entrou na parte do campo que pertencia a Boaz, que era da família de Elimeleque.
A segunda lição portanto, vem de encontro com a primeira. Não necessariamente negando o primeiro ponto, mas nos alertando a maneira de como lidamos com ele. É a partir daqui que começamos a perceber as coisas como de fato são. O Rev. Hernandes Dias Lopes comenta o seguinte:
Rute: Uma Perfeita História de Amor (Capítulo 4: Casualidade ou Providência? (Rt 2.1–23))
O capítulo dois do livro de Rute é a história de um dia na vida de Rute que transforma a tragédia de um passado doloroso e abre largas avenidas para um futuro glorioso.
Hernandes Dias Lopes
O que antes era um relato de morte e amargura, começa a tomar traços de esperança. Rute vai catar espigas no campo, afim de conseguir o que comer. O texto vai dizer então que “por casualidade” Rute entra no campo que pertencia a Boaz. Casualidade aqui, obviamente não nos fala sobre Deus, mas sim sobre a forma com nós vemos as coisas. Rute não sabia sobre Boaz e que ele era seu resgatador, de forma irônica o texto diz que foi simplesmente a causa. Bom, é só ler o restante da história para ter certeza de que essa causa é o próprio Deus.
Pois bem, o fato de Rute ir colher espigas nos revela algumas coisas muito fantásticas a respeito da provisão divina. Começando pelo fato de que esse hábito de ir a campos e pegar espigas atrás dos ceifeiros e pegar o que estivesse pelo chão, vinha da própria Lei de Deus.
Levítico 19.9–10 (NAA)
9 — Quando você fizer a colheita da sua terra, não colha totalmente o canto do seu campo, nem volte para recolher as espigas caídas. 10 Não seja rigoroso demais ao fazer a colheita da sua vinha, nem volte para recolher as uvas que tiverem caído no chão; deixe-as para os pobres e estrangeiros. Eu sou o Senhor, o Deus de vocês.
Essa recomendação presente no livro de Levíticos nos aponta um Deus que provê tanto para o dono do campo, que para nós é rico e poderoso, quanto também para o pobre e estrangeiro. Pegar espigas que foram deixadas para trás só é possível devido a maravilhosa graça e misericórdia do nosso Deus. Porque não dizer que Ele tinha em mente a história de Rute quando instituiu este hábito na sua Lei.
E isso fica ainda mais evidente quando Boaz dá a seguinte órdem para seus servos:
Rute 2.15–16 (NAA)
15 Quando ela se levantou para ir apanhar espigas, Boaz deu esta ordem aos seus servos:
— Deixem que ela apanhe espigas até no meio dos feixes e não sejam rudes com ela. 16 Tirem também algumas espigas dos feixes e deixem cair, para que ela as apanhe, e não a repreendam.
Como servo fiel do Soberano Provedor, Boaz encontra na Lei de Deus a oportunidade para ser gracioso com Rute e Noemi.
Aqui nos vale uma reflexão interessante. Deus usa necessariamente de feitos extraordinários para prover o necesário ao seu povo? Claro, lemos para a história do povo no deserto e vemos pão cair do céu, água sair da rocha. Mas seria esse o único meio pelo qual Deus age? E se Ele quiser usar você para prover graciosamente na vida de quem precisa? Em Romanos capítulo 12 verso 8 nós temos listado o dom de contribuição e que seja feito com generosidade (“Rm12:8 o que exorta faça-o com dedicação; o que contribui, com generosidade; o que preside, com zelo; quem exerce misericórdia, com alegria.”). Quer uma dica para saber se você tem o dom da generosidade? Se você tem condições. Já parou pra pensar que Deus pode estar te dando uma vida de conforto, prosperidade financeira, para que você seja canal de benção na vida de pesoas que estão clamando a Deus pela provisão? A atitude de Boaz para com Rute e Noemi foi de misericórdia. E ele foi usado como instrumento da graça de Deus para prover na vida de quem precisava. Deus quer fazer de você um Boaz, não ame seu dinheiro e sua riqueza, seja generoso.
Da mesma forma, você que clama e pede a Deus pela provisão divina. Ela pode muito bem vir por meios naturais. Não espere que o Céu se abra e a provisão venha até você, Deus pode fazer isso, mas não nos incentiva a esperar por isso. Creia que Deus nos provê nos detalhes e no cotidiano. Para nós tudo o que temos vem do Senhor. Ele é o santo provedor. O que te sustenta não é o seu salário, emprego, família, nome ou qualquer outra coisa. A fonte do teu sustento é e sempre será o próprio Deus, pois Ele é o Maravilhoso Provedor.
Rute e Noemi esperimentaram do Deus provedor.

3. Soberania Divina: Rute 4:13-14

Rute 4.13–14 (NAA)
13 Assim Boaz recebeu Rute, e ela passou a ser a sua mulher. Ele teve relações com ela, e o Senhor concedeu que ela ficasse grávida e tivesse um filho. 14 Então as mulheres disseram a Noemi:
— Bendito seja o Senhor, que não deixou hoje de lhe dar um neto que será o seu resgatador. Que o nome dele venha a ser famoso em Israel!
E como conclusão da manifestação de Deus, O vemos como Soberano. Depois de toda uma história que não foi nada comum, o seu final nos apresenta o Grande Maestro que estava regendo todas essas coisas. De modos improváveis vemos como tudo sempre fez parte do Plano perfeito de Deus. Rute foi resgatada, sua linhagem foi preservada. Ao olhar para a conclusão desse capítulo da história, vemos o relato de Boaz se casando com Rute e como isso se encaixa no plano de Deus para a linhagem de Davi e, eventualmente, para o nascimento de Jesus Cristo.
A Soerania Divina estava conduzindo tudo para a a linhagem divina.
Estudos Bíblicos Expositivos em Ester e Rute (Capítulo 14: A Recompensa de Rute (Rute 4.1–22))
Portanto, essa não é apenas a história da fidelidade pactual de Deus (hesed) a Noemi e Rute. Ela é a respeito da fidelidade pactual de Deus (hesed) a Israel. Os israelitas nem mesmo pensavam em pedir um rei ainda. Eles ainda estavam nos dias dos juízes (Rt 1.1). Contudo, em sua soberania e amor fiel, Deus já estava preparando de antemão a linhagem daquele que iria enfim satisfazer a essa necessidade. Quem poderia imaginar esse final surpreendente quando a história começou?
O nosso Deus não perde o controle. Ele não é pego de surpresa, Ele é soberano. Ele tem todo o poder em suas mãos. Nada foge do poder de Deus. As dores, tristezas, sofrimentos, amarguras da vida, elas não mostram a ausência de Deus, mas revelam muito mais de nossos corações que não estão totalmente depositados sobre O Soberano. A dor e sofrimento de Noemi não tinham como intuito puni-la por algum pecado. Deus não estava sendo tirano e impiedoso. Noemi olhava para si e via castigo de Deus, via a miséria, o luto como castigos da parte de Deus. Mas ao fim da história, percebemos que seu sofrimento produziria o perfeito reflexo da misericórdia de Deus sobre o Seu povo. O conforto e descanso na Soberania Divina, é olhar para nossas dores e sofrimentos e crer, mesmo sem entender, que Deus tem cuidado de cada um dos detalhes, mesmo que não possamos enxergá-los.
Ao fim, podemos perceber que em Sua soberania, Deus cuidou tanto de Rute como também de Noemi. Enquanto uma se casa e dá a luz um filho, a outra tem em seu coração renovada a esperança.
Rute: Uma Perfeita História de Amor (Um Descendente (4.13–22))
Noemi cuida do neto sem qualquer atitude de ciúmes de Rute (4.16). Noemi não apenas tem a alegria de receber um neto, mas o privilégio de cuidar dele. Rute não tentou afastar o filho da avó; ao contrário, deu-lhe liberdade para instruí-lo. Noemi esperava amargar uma velhice solitária, quando perdeu o marido e os filhos. Com a chegada do neto, ela voltou a ter uma família. Era amada, e tinha um lugar de honra. O bebê, em certo sentido, simbolizava tudo isso; e Noemi dedicou-se a ele.
Hernandes Dias Lopes
Meus irmãos, o nosso Deus é soberano. Ele tem todo o controle nas mãos. Tudo está sob o Seu cuidado e supervisão. Nosso Deus não falha, não erra e NUNCA nos abandona. Precisamos confiar sem reservas na soberania do nosso Deus.
O cristão que não vive na confiança da soberania de Deus não terá a paz de Deus e será deixado ao caos de um coração perturbado.
John F. MacArthur

Conclusão:

Não podemos olhar para histórias como essa e não nos quebrantarmos ainda mais diante do nosso Deus. A história do Livro de Rute é como nossas histórias, adversidades, problemas, morte, luto e dor. Mas sempre sob a provisão do nosso Santo e Poderoso Deus, totalmente confiados em Sua eterna soberania.
Olhar para essa história é olhar para Jesus, que assim como Boaz, veio em nosso resgate, nos tirou da pobreza de nossas almas, nos alimentou com Sua santa Palavra e em breve, muito em breve, meus irmãos, nós nos casaremos com Ele. Somos a sua noiva, aguardando ansiosamente para as Bodas do Cordeiro, onde estaremos perfeita e eternamente ligados a Ele.

Aplicações

1- Não se esqueça de Deus em meio a adversidade, Ele é contigo.
2- Seja generoso e participe da obra provedora de Deus na vida de outros.
3- Confie sempre na provisão de Deus, que é Senhor sobre tudo e todos.
4- Descanse na soberania do nosso Deus, Ele está cuidando de Você e não te esqueceu.
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