O AMOR NO DISCIPULADO
Exposição do Evangelho de Mateus • Sermon • Submitted • Presented
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INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
Mateus 5.19–48 (NVI)
19 Todo aquele que desobedecer a um desses mandamentos, ainda que dos menores, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será chamado menor no Reino dos céus; mas todo aquele que praticar e ensinar estes mandamentos será chamado grande no Reino dos céus. 20 Pois eu lhes digo que se a justiça de vocês não for muito superior à dos fariseus e mestres da lei, de modo nenhum entrarão no Reino dos céus.
21 “Vocês ouviram o que foi dito aos seus antepassados: ‘Não matarás’, e ‘quem matar estará sujeito a julgamento’. 22 Mas eu lhes digo que qualquer que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento. Também, qualquer que disser a seu irmão: ‘Racá’, será levado ao tribunal. E qualquer que disser: ‘Louco!’, corre o risco de ir para o fogo do inferno. 23 “Portanto, se você estiver apresentando sua oferta diante do altar e ali se lembrar de que seu irmão tem algo contra você, 24 deixe sua oferta ali, diante do altar, e vá primeiro reconciliar-se com seu irmão; depois volte e apresente sua oferta. 25 “Entre em acordo depressa com seu adversário que pretende levá-lo ao tribunal. Faça isso enquanto ainda estiver com ele a caminho, pois, caso contrário, ele poderá entregá-lo ao juiz, e o juiz ao guarda, e você poderá ser jogado na prisão. 26 Eu lhe garanto que você não sairá de lá enquanto não pagar o último centavo. 27
“Vocês ouviram o que foi dito: ‘Não adulterarás’. 28 Mas eu lhes digo: Qualquer que olhar para uma mulher para desejá-la, já cometeu adultério com ela no seu coração. 29 Se o seu olho direito o fizer pecar, arranque-o e lance-o fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ser todo ele lançado no inferno. 30 E se a sua mão direita o fizer pecar, corte-a e lance-a fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ir todo ele para o inferno.
31 “Foi dito: ‘Aquele que se divorciar de sua mulher deverá dar-lhe certidão de divórcio’. 32 Mas eu lhes digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher, exceto por imoralidade sexual, faz que ela se torne adúltera, e quem se casar com a mulher divorciada estará cometendo adultério.
33 “Vocês também ouviram o que foi dito aos seus antepassados: ‘Não jure falsamente, mas cumpra os juramentos que você fez diante do Senhor’. 34 Mas eu lhes digo: Não jurem de forma alguma: nem pelos céus, porque é o trono de Deus; 35 nem pela terra, porque é o estrado de seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei. 36 E não jure pela sua cabeça, pois você não pode tornar branco ou preto nem um fio de cabelo. 37 Seja o seu ‘sim’, ‘sim’, e o seu ‘não’, ‘não’; o que passar disso vem do Maligno.
38 “Vocês ouviram o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente’. 39 Mas eu lhes digo: Não resistam ao perverso. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra. 40 E se alguém quiser processá-lo e tirar-lhe a túnica, deixe que leve também a capa. 41 Se alguém o forçar a caminhar com ele uma milha, vá com ele duas.42 Dê a quem lhe pede, e não volte as costas àquele que deseja pedir-lhe algo emprestado. 43 “Vocês ouviram o que foi dito: ‘Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo’. 44 Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, 45 para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos. 46 Se vocês amarem aqueles que os amam, que recompensa vocês receberão? Até os publicanos fazem isso!47 E se saudarem apenas os seus irmãos, o que estarão fazendo de mais? Até os pagãos fazem isso! 48 Portanto, sejam perfeitos como perfeito é o Pai celestial de vocês.
Continuando nossa série em Mateus, chegmos a um momento interessante. Jesus estebalecera o relacionamento do discípulo com a Lei. Cristo é o cumprimento da lei e demanda que nós como seus discípulos compreendamos que devemos obedecer e ensinar os mandamentos do Senhor, e aqui nos é apresentado um conceito muito importante que vai ser ilustrado a seguir:
O texto que acabamos de ler tem a premissa fundamental de que o discipulado cristão exige uma justiça superior aos dos fariseus. A partir dessa declaração, Jesus começa uma série de ilustraçoes de como o discípulo deve se diferenciar dos fariseus na sua retidão moral;; através dos exemplos do homicidio, adulterio, juramentos, vingança e odio aos inimigos. Esses trechos podem ser tanto aprofundados de maneira isolada, na qual cada tópico pode virar um próprio sermão, quanto de maneira conjunta. Hoje, nós vamos tratá-los juntos e ver através da Palavra do nosso Senhor como que a justiça cristã deve ser vivida.
Então hoje, ao observar esse texto, vamos entender a forma e o conteúdo da justiça
1. O conceito de Justiça
O que é ser justo perante Deus? O que é praticar justiça? De que maneira a justiça de um discípulo deve exceder a justiça de um fariseu?
RC SPROUL
Quando consideramos a noção bíblica de justiça, estamos lidando com uma questão que atinge praticamente todos os planos da teologia. Vamos entender
Em primeiro lugar, há a retidão de Deus, pela qual todos os padrões de certo e errado devem ser medidos. O caráter de Deus é o fundamento e o modelo definitivo da justiça. No Antigo Testamento, a justiça passa a ser definida em termos de obediência aos mandamentos dados por Deus, que é totalmente justo. Esses mandamentos incluem não apenas preceitos de comportamento humano em relação a nossos semelhantes, mas também questões de natureza litúrgica e cerimonial.
No Israel do Antigo Testamento e entre os fariseus do Novo Testamento, a retidão litúrgica foi substituída pela retidão autêntica. Ou seja, os homens se satisfaziam em obedecer aos rituais da comunidade religiosa em vez de cumprir as implicações mais amplas da lei. Por exemplo, Jesus repreendeu os fariseus por darem o dízimo da hortelã e do cominho enquanto omitiam as questões mais importantes da lei: justiça e misericórdia (Mt 23.23) Jesus indicou que os fariseus estavam corretos ao dar o dízimo, mas estavam incorretos ao presumir que os exercícios litúrgicos haviam cumprido as exigências da lei. Nesse caso, a justiça litúrgica havia se tornado um substituto para a obediência verdadeira e plena.
No mundo evangélico, a justiça é uma palavra rara, de fato. Falamos de moralidade, espiritualidade e piedade. Raramente, porém, falamos de justiça. No entanto, o objetivo de nossa redenção não é a piedade ou a espiritualidade, mas a justiça., E é por isso que oi texto termina “sejam perfeitos como perfeito é vosso Pai”
A espiritualidade no sentido do Novo Testamento é um meio para o fim da justiça. Ser espiritual significa que estamos exercitando as graças espirituais dadas por Deus para nos moldar à imagem de Seu Filho. As disciplinas da oração, do estudo da Bíblia, da comunhão na igreja, do testemunho e outras semelhantes não são fins em si mesmas, mas são planejadas para nos ajudar a viver em justiça, . Ficaremos atrofiados em nosso crescimento se presumirmos que o fim da vida cristã é a espiritualidade cerimonial.
As preocupações espirituais são apenas o início de nossa caminhada com Deus. Devemos tomar cuidado com o perigo sutil de pensar que a espiritualidade completa as exigências de Cristo. Cair nessa armadilha - a armadilha dos fariseus - é substituir a autêntica justiça por práticas litúrgicas ou ritualísticas. De qualquer forma, devemos orar, estudar a Bíblia e dar testemunho no evangelismo. No entanto, nunca, em momento algum de nossa vida, devemos descansar de nossa busca pela justiça.
Na justificação, nos tornamos justos aos olhos de Deus por meio do manto da justiça de Cristo. Entretanto, assim que somos justificados, nossa vida deve evidenciar a justiça pessoal que flui de nossa justificação. É interessante para mim que todo o conceito bíblico de justiça está contido em uma palavra grega, dikaios. Essa mesma palavra grega é usada para se referir, em um primeiro momento, à justiça de Deus; em um segundo momento, ao que chamamos de justificação; e, em um terceiro momento, à justiça da vida. Assim, do começo ao fim - desde a natureza de Deus até o destino do homem - nosso dever humano permanece o mesmo - um chamado à retidão de vida!
Os fariseus vivam aplicados a serem justos perante Deus e eles inclusive calcularam que a lei contém 248 mandamentos e 365 proibições, sabiam todos de cor e se policiavam para cumprir. Como então, a justiça dos discípulos Jesus excederia tamanho zelo?
É o que vamos responder nos próximos 2 pontos: O SENTIDO DA JUSTIÇA DOS e O CONTEÚDO DA JUSTIÇA
2. O SENTIDO E O CONTEÚDO DA JUSTIÇA
Ao analisar os 6 exemplos que Jesus nos dá, podemos enxergar um padrão nas advertências do Senhor.
Os fariseus estavam acostumados com a formalidade, com a casca, com o que os olhos humanos podiam ver. Eles, como se diz no futebol, jogavam com “o regulamento debaixo do braço”. Procuravam fazer o mínimo para serem irrepreensíveis pelos homens.
Na minha vida de professor eu pude ver muito bem o que significa isso. Você pede as coisas pros alunos, e existem dois tipos de execução. Existe esse tipo de execução farisaica:
Você pede uma tarefa, dá uma ou duas semanas para ser feita, o as vezes até mais, e finalmente chega o dia da correção. Existe o aluno que separou o tempo, que se aprofundou, que fez direito, que lidou com as questões, que lidou com suas difiuldades, e que se aplicou para compreender o conteúdo; e existe o aluno que chegou no dia da aula, e usou a aula de outra disciplina para fazer a tarefa de modo rápido, só para que eu, como professor, pudesse considerar a tarefa pronta. Ambos recebem o ponto pela tarefa, mas quem foi justo? Quem sai na vantagem? Quem vai poder resistir ao juízo do vestibular? Quem vai ser aprovado?
Agora observaremos o texto bloco a bloco e em cada bloco veremos a mesma coisa: O SENTIDO E O CONTEÚDO DA JUSTIÇA
Observemos rapidamente os exemplos:
21 “Vocês ouviram o que foi dito aos seus antepassados: ‘Não matarás’, e ‘quem matar estará sujeito a julgamento’. 22 Mas eu lhes digo que qualquer que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento. Também, qualquer que disser a seu irmão: ‘Racá’, será levado ao tribunal. E qualquer que disser: ‘Louco!’, corre o risco de ir para o fogo do inferno. 23 “Portanto, se você estiver apresentando sua oferta diante do altar e ali se lembrar de que seu irmão tem algo contra você, 24 deixe sua oferta ali, diante do altar, e vá primeiro reconciliar-se com seu irmão; depois volte e apresente sua oferta. 25 “Entre em acordo depressa com seu adversário que pretende levá-lo ao tribunal. Faça isso enquanto ainda estiver com ele a caminho, pois, caso contrário, ele poderá entregá-lo ao juiz, e o juiz ao guarda, e você poderá ser jogado na prisão. 26 Eu lhe garanto que você não sairá de lá enquanto não pagar o último centavo.
os fariseus não assassinavam, mas contentavam-se em cultivar ódio no seu coração. A lei proibia o homicídio, e portanto, contanto que eu não tirasse a vida de alguém, nada precisava ser tratado no meu coração. Muitas vezes permitimo-nos irar com nossos irmãos mas Jesus aqui adverte-nos sobre isso. A ira humana não produz a justiça divina, e sempre na ira humana há raíz de pecado e auto promoção. Aqui contentava-se em não matar efetivamente, mas o coração cheio de ódio.
Quando Jesus diz “quem disser a seu irmão racá...”: está falando de julgamento condenatório e também ao desprezo entre irmãos. No evangelho de Mateus é curioso você saber que a palavra “irmão” sempre se refere ao membro da comunidade: aos discípulos de Jesus.
é impossível aqui não se lembrar do apóstolo João dizendo:
11 Mas quem odeia seu irmão está nas trevas e anda nas trevas; não sabe para onde vai, porque as trevas o cegaram.
O que é demandado do discípulo de Jesus é o AMOR por seus irmãos, o AMOR por aqueles por quem Jesus derramou seu sangue, e assim cumprimos a justiça. E esse amor vem de um coração transformado e deve ser genuíno!
9 O amor deve ser sincero. Odeiem o que é mau; apeguem-se ao que é bom.
os fariseus contentavam-se em não matar; todavia o discípulo de Jesus ama e valoriza. Para exceder a justiça dos fariseus o nosso amor deve ser insistido, trabalhado, genuíno, de coração.
27 “Vocês ouviram o que foi dito: ‘Não adulterarás’. 28 Mas eu lhes digo: Qualquer que olhar para uma mulher para desejá-la, já cometeu adultério com ela no seu coração. 29 Se o seu olho direito o fizer pecar, arranque-o e lance-o fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ser todo ele lançado no inferno. 30 E se a sua mão direita o fizer pecar, corte-a e lance-a fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ir todo ele para o inferno. 31 “Foi dito: ‘Aquele que se divorciar de sua mulher deverá dar-lhe certidão de divórcio’.
Aqui Jesus passa do sexto para o sétimo mandamento (Êxodo 20:14). "Adultério" geralmente se refere a relações sexuais de uma pessoa casada com um parceiro que não seja seu cônjuge, mas o v. 28 deixa claro que Jesus não está limitando seus mandamentos a pessoas casadas, mas falando do pecado sexual em geral. A gramática do v. 28a leva a duas traduções possíveis. Jesus poderia estar falando de alguém que "olha para uma mulher com a intenção de cometer adultério" ou de alguém que "olha para uma mulher com o propósito de levá-la a cobiçá-lo".
E o que Jesus diz aqui é que não levar ao ato consumado não é o suficiente perante Deus. A ilustração exagerada que Jesus faz aqui de fato é radical pois nossa luta contra nosso pecado é radical. Jesus reconhece a força da tentação sexual e nos leva como seus discípulos a reconhecê-la também, e nos orienta a buscar proteger nosso coração mesmo que isso implique em decisões drásticas. Obviamente, e o óbvio precisa ser dito, Jesus não está falando de mutilação de modo literal. Mas Mais uma vez vemos: a direação da Justiça. Ela vem de dentro do coração pra fora
Paulo diz para timóteo tratar as mulheres:
2 as mulheres idosas, como a mães; e as moças, como a irmãs, com toda a pureza.
O amor também é a peça chave aqui. O amor genuíno de cristãos é puro e decente. Irmãos e irmãs, amemo-nops uns aos outros com pureza, cuidado e respeito.
31 “Foi dito: ‘Aquele que se divorciar de sua mulher deverá dar-lhe certidão de divórcio’. 32 Mas eu lhes digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher, exceto por imoralidade sexual, faz que ela se torne adúltera, e quem se casar com a mulher divorciada estará cometendo adultério.
havia toda uma questão sobre o divórcio nos dias de Jesus; havia uma disputa de interpretações sobre a lei que regulava a carta de divórcio, e muitos se apegavam ao texto de Deuteronômio 24. 1-4 para desprezar suas esposas e assim trocar de casamento ao seu bel-prazer. Não vamos nos deter muito aqui pois esse assunto será tratado no capítulo 19 com mais clareza e esse assunto por si só merece uma exposição exclusiva. Todavia, o que eu quero ressaltar é que Jesus reconhece aqui duas coisas: 1) o divórcio estava se tornando uma opção comum e banal 2) o divórico, mesmo nas suas cláusulas justifcadas nas Escrituras, é sempre triste, é sempre fruto de dureza de coração e a direção que Deus estabelece em conflitos é sempre a da reconciliação e da restauração, que deve fluir de dois corações quebrantados e prostrados aos pés da cruz.
1 “Se um homem casar-se com uma mulher e depois não a quiser mais por encontrar nela algo que ele reprova, dará certidão de divórcio à mulher e a mandará embora.
Quero deixar claro, as clausulas do divórcio existem, quanto ao adultério, quanto ao abandono, quanto ao perigo à intregridade física. Mas aqui o foco é dizer que como cristãos, como filhos de Deus, como discípulos, a nossa justiça vem do nosso coração transformado por Jesus e deve ser traduzida em amor.
Não banalize o que Deus declara sagrado. Há esperança pro seu casamento, especialmente se forem dois cristãos. A Palavra de Deus é suficiente para transformar esse lugar inóspito em um jardim. Se vocês estão lutando e considerando o divórcio, considerem primeiro o poder restaurador do Senhor.
8 Jesus respondeu: “Moisés permitiu que vocês se divorciassem de suas mulheres por causa da dureza de coração de vocês. Mas não foi assim desde o princípio.
33 “Vocês também ouviram o que foi dito aos seus antepassados: ‘Não jure falsamente, mas cumpra os juramentos que você fez diante do Senhor’. 34 Mas eu lhes digo: Não jurem de forma alguma: nem pelos céus, porque é o trono de Deus; 35 nem pela terra, porque é o estrado de seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei. 36 E não jure pela sua cabeça, pois você não pode tornar branco ou preto nem um fio de cabelo. 37 Seja o seu ‘sim’, ‘sim’, e o seu ‘não’, ‘não’; o que passar disso vem do Maligno.
Jesus declara que seria melhor evitá-los completamente. A situação descrita é aquela em que muitos judeus consideravam que jurar pelo "céu", "terra", "Jerusalém" ou "a própria cabeça" era menos obrigatório do que jurar "por Deus". Jesus enfatiza que cada um desses itens pertence a Deus de uma forma importante (cf. Is 66:1), de modo que as distinções judaicas convencionais são falsas. Até mesmo a cabeça, que pode ser considerada como estando exclusivamente sob o controle do indivíduo, tem características divinamente predeterminadas, como a coloração do cabelo (a tintura temporária não está em vista aqui!). Em vez disso, os seguidores de Jesus devem ser pessoas cujas palavras sejam tão caracterizadas pela integridade que os outros não precisem de nenhuma garantia formal de sua veracidade para confiar nelas.
38 “Vocês ouviram o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente’. 39 Mas eu lhes digo: Não resistam ao perverso. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra. 40 E se alguém quiser processá-lo e tirar-lhe a túnica, deixe que leve também a capa. 41 Se alguém o forçar a caminhar com ele uma milha, vá com ele duas.42 Dê a quem lhe pede, e não volte as costas àquele que deseja pedir-lhe algo emprestado.
5. a questão da vingança. A lei do AT foi produzida em termos de justiça retributiva; a pena pelo crime era equivalente a ofença recebida.
Em seguida, Jesus faz alusão a Êxodo 21:24 e Dt 19:21. Mais uma vez, ele revoga formalmente um mandamento do Antigo Testamento a fim de intensificar e internalizar sua aplicação. Originalmente, essa lei proibia a exação formal de uma punição excessivamente severa que não se encaixasse em um crime, bem como a ação informal e autoproclamada de vigilantes. Agora, Jesus ensina o princípio de que a bondade cristã deve transcender até mesmo a retribuição direta. Nenhum dos mandamentos dos vv. 39-42 pode ser facilmente considerado absoluto; todos devem ser lidos no contexto histórico do judaísmo do primeiro século. No entanto, à luz do pensamento ético predominante, Jesus contrasta radicalmente com a maioria das pessoas de sua época ao enfatizar a necessidade de romper decisivamente a cadeia natural de ação e reação malignas que caracteriza os relacionamentos humanos.
Antistēnai ("resistir") no v. 39 era frequentemente usado em um contexto legal (cf. Is 50:8) e, à luz do v. 40, provavelmente deve ser entendido dessa forma aqui. O ensinamento de Jesus, então, é paralelo a 1 Coríntios 6:7 contra não levar outros crentes ao tribunal, embora possa ser traduzido de forma um pouco mais ampla como "não se vingue de alguém que lhe faz mal" (GNB). No entanto, devemos definitivamente resistir ao mal em certos contextos (cf. Tg 4:7; 1Pe 5:9). Golpear uma pessoa na face direita sugere um tapa nas costas de um agressor tipicamente destro e era uma forma característica de insulto judaico. Jesus nos diz para não trocarmos tais insultos, mesmo que isso signifique receber mais. Em nenhum sentido o versículo 39 exige que os cristãos submetam a si mesmos ou a outros a perigo físico ou abuso, nem se relaciona diretamente com o debate pacifismo-guerra justa. O versículo 40 está claramente limitado a um contexto legal. A pessoa deve estar disposta a dar como garantia uma vestimenta externa - mais do que a lei poderia exigir, que era apenas uma vestimenta interna (cf. Êxodo 22:26-27). Casaco e camisa refletem paralelos contemporâneos com "manto" e "túnica", embora ambos se parecessem mais com vestes longas. O versículo 41 continua o tema legal referindo-se ao recrutamento romano de cidadãos particulares para ajudar a carregar equipamentos militares para os soldados enquanto viajavam.
Cada um desses mandamentos exige que os seguidores de Jesus ajam de forma mais generosa do que a letra da lei exigia. "Ir além" tornou-se, com razão, uma expressão proverbial e capta a essência de todas as ilustrações de Jesus. Os discípulos não apenas devem rejeitar todo comportamento motivado apenas por um desejo de retaliação, mas também devem trabalhar positivamente para o bem daqueles com quem, de outra forma, estariam em desacordo. No versículo 42, Jesus conclama seus seguidores a darem àqueles que pedem e a não se afastarem daqueles que querem pedir emprestado. Ele presume que as necessidades são genuínas e ordena que não as ignoremos, mas não determina especificamente a melhor maneira de ajudar. Como Agostinho observou corretamente, o texto diz "dai a todo aquele que pedir", não "dai tudo àquele que pedir" (De Sermone Domine en Monte 67). Compare a resposta de Jesus ao pedido feito a ele em Lucas 12:13-15. Também é crucial observar que "a disposição de abrir mão de seus direitos pessoais e de se permitir ser insultado e sofrer imposições não é incompatível com uma posição firme em relação a questões de princípio e aos direitos dos outros (cf. a atitude de Paulo em Atos 16:37; 22:25; 25:8-12)". Os versículos 39-42, portanto, compreendem uma "instância focal" de não retaliação; comandos específicos e extremos atraem nossa atenção para um tema ético fundamental que deve ser aplicado de forma variada conforme as circunstâncias mudam.
43 “Vocês ouviram o que foi dito: ‘Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo’. 44 Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, 45 para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos. 46 Se vocês amarem aqueles que os amam, que recompensa vocês receberão? Até os publicanos fazem isso!47 E se saudarem apenas os seus irmãos, o que estarão fazendo de mais? Até os pagãos fazem isso! 48 Portanto, sejam perfeitos como perfeito é o Pai celestial de vocês.
Essa antítese final é a primeira a começar com uma citação que não vem inteiramente das Escrituras. "Ame o seu próximo" vem de Lv 19:18, mas "odeie o seu inimigo" não aparece em nenhum lugar do Antigo Testamento. Os comentaristas debatem se esse último mandamento é ou não uma inferência legítima de textos como Dt 23:3-6; 25:17-19; ou Sl 139:21, mas o ódio aos inimigos era comum o suficiente nas gerações subsequentes para se enquadrar na categoria de algo que o público de Jesus "ouviu dizer que foi dito" (cf. a atitude combatida em Lucas 10:25, 37 e expressa em 1QS 1:4, 10). Mais uma vez, Jesus se opõe ao ensino tradicional e enuncia uma ética mais exigente. Os cristãos devem amar seus inimigos (v. 44). Caso contrário, eles não serão diferentes dos cobradores de impostos e dos pagãos, dois grupos classicamente desprezados pelos judeus ortodoxos - o primeiro por trabalhar para Roma na cobrança de tributos de Israel e o segundo por causa de sua falsa religião (v. 46). Quase todas as pessoas cuidam de seus próprios interesses. O verdadeiro teste do cristianismo genuíno é como os crentes tratam aqueles que são naturalmente inclinados a odiar ou que os maltratam ou perseguem. Independentemente das emoções que possam estar envolvidas, "amor" aqui se refere a "generoso, caloroso e custoso sacrifício pessoal para o bem do outro". "Cumprimentar" (v. 47) refere-se a mais do que um simples olá, ou seja, "expressões sinceras de desejo pelo bem-estar da outra pessoa". As pessoas que amam e cumprimentam seus inimigos e oram por seus perseguidores provam ser aquelas, como no v. 9, que estão crescendo em conformidade com a semelhança de seu Pai Celestial (v. 45).
Os seguidores de Jesus devem, portanto, demonstrar um padrão moral mais elevado do que a média dos incrédulos. Uma segunda justificativa para amar os inimigos é que Deus também os ama. Entre outras maneiras, ele demonstra esse amor por meio da graça comum para toda a humanidade em suas boas provisões na natureza (o sol brilhando e a chuva caindo, v. 45). "Que recompensa vocês receberão?" (v. 46) é paralelo a "O que você está fazendo mais do que os outros?" (v. 47), sugerindo não a ideia de compensação por fazer o bem, mas o tema recorrente da distinção do crente.
5:48 O parágrafo iniciado no v. 43 termina com um comando que pode igualmente resumir todas as seis antíteses. "Perfeito" aqui é melhor traduzido como "maduro, completo", ou seja, amar sem limites (provavelmente refletindo um tamim aramaico subjacente). Jesus não está frustrando seus ouvintes com um ideal inatingível, mas desafiando-os a crescer em obediência à vontade de Deus - a se tornarem mais parecidos com ele. J. Walvoord observa com razão: "Embora a perfeição sem pecado seja impossível, a piedade, em seu conceito bíblico, é alcançável". Mas essa piedade não pode ser formulada de forma abrangente em um conjunto de regras; a ética do sermão é sugestiva, não exaustiva. A passagem paralela em Lucas (6:36) usa sinédoque (o uso de uma parte para o todo) para capturar a essência da imagem de Deus na qual estamos sendo renovados, a saber, a misericórdia (cf. Êxodo 34:6-7a). Mesmo que Deus estabeleça padrões mais elevados em sua nova aliança do que na lei, ele se revela mais tolerante com nossos fracassos.
FIM
O AMOR SÓ VEM DE QUEM TEVE O CORAÇÃO TRANSFORMADO POR JESUS
SE VOCÊ, TRANSFORMADO POR JESUS, PERCEBEU QUE ESTÁ FALTANDO AMOR EM ALGO AQUI, LEMBRE-SE
18 Mas, se vocês são guiados pelo Espírito, não estão debaixo da Lei. 19 Ora, as obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza e libertinagem; 20 idolatria e feitiçaria; ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções 21 e inveja; embriaguez, orgias e coisas semelhantes. Eu os advirto, como antes já os adverti: Aqueles que praticam essas coisas não herdarão o Reino de Deus. 22 Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, 23 mansidão e domínio próprio. Contra essas coisas não há lei. 24 Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos. 25 Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito.