Salmo 119.17-24 - Uma vida centrada na Palavra de Deus

INTRODUÇÃO

O mundo que vivemos é marcado pelo pecado. A vida do homem é manchada pela presença do pecado, e nós podemos perceber os efeitos do pecado nos homens de diversas formas.

O pecado tem efeitos “verticais”, ou seja, afetam o relacionamento do homem com Deus. De modo mais intenso, isso é notável quando o homem ignora e se rebela contra Deus, por isso vemos o ateísmo em alta nos dias de hoje. Mas o pecado também gera efeitos nos crentes, quando ignoram a vontade de Deus, e decidem viver da forma que mais lhe agrada, sem se importar com o que o Senhor espera de nós.

Mas o pecado também gera efeitos “horizontais”, isto é, afetando o relacionamento do homem com o homem. Quando vemos o noticiário na TV ou Internet, percebemos os efeitos mais intensos desse tipo de pecado, quando vemos a criminalidade, os roubos, assaltos, mortes, tráfico de drogas, a corrupção política, e tantos outros. No entanto, também podemos perceber os efeitos do pecado de forma mais sutil, quando vemos alguém contando uma “mentirinha”, a preguiça, a fofoca (que no meio da igreja, muitas vezes vem disfarçada de motivo de oração), o orgulho, egoísmo, a desonestidade, e tantos outros.

O fato é: o pecado ainda está presente neste mundo. E nós temos de lutar contra ele todos os dias da nossa vida. Mas essa nossa luta contra o pecado não é firmada em nossa própria força, mas na obra de Cristo, a qual temos acesso somente por meio das Escrituras, da Palavra de Deus.

Por isso, nós veremos hoje que este trecho do Salmo 119 fala sobre como viver centrado na Palavra de Deus. Entendendo a dificuldade de viver num mundo que não só se opõe à fé, mas que conspira contra ela, essa passagem nos mostra que a Palavra de Deus, devidamente compreendida e obedecida de forma consistente, traz conforto e orientação nas dificuldades da vida.

VIVENDO CENTRADO NA PALAVRA DE DEUS

Como viver centrado na Palavra de Deus?

I. DESEJANDO A PALAVRA (17-20)

Nos versículos 17, 18 e 19, o salmista faz pedidos a Deus, mostrando o seu desejo por viver centrado na Palavra de Deus, e o seu desejo pela própria Palavra.

a. Pedido para que Deus o capacite a viver e observar a Palavra (17) A vida centrada na Palavra é uma vida de prática da Palavra. O salmista se identifica como servo do Senhor, e como servo, seu desejo é de ser obediente ao seu Senhor. Ele entende que a única vida verdadeira consiste em conhecer e obedecer à Palavra de Deus. Quando ele diz “para que eu viva e observe a tua palavra” é como se ele dissesse “dá-me a vida verdadeira e então eu guardarei, ou obedecerei diligentemente à tua palavra enquanto eu viver”.

b. Pedido para que Deus desvende seus olhos para contemplar as maravilhas da Lei (18) Compreensão daquilo que “está além das suas capacidades” (maravilhas da tua lei). O segundo pedido do salmista é por iluminação divina para compreender mais plenamente qual é a vontade e os caminhos de Deus, especialmente nas tensões atuais. Esse pedido nos lembra que nem todo mundo que lê a Palavra de Deus tem o entendimento espiritual para apropriar-se dela corretamente. O apóstolo Paulo escreve claramente a respeito disso aos crentes de Corinto:

“Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus.” (1Co 1.18) “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus.” (1Co 2.4-5) “mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta, a qual Deus preordenou desde a eternidade para a nossa glória;” (1Co 2.7) “Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus.” (1Co 2.10) “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.” (1Co 2.14)

O que o salmista pede, no versículo 18, é para que possa perceber as coisas maravilhosas da lei, as coisas profundas e surpreendentes de Deus reveladas na Palavra.

c. Declaração de que sua alma está consumida/esmagada pelo anseio da Palavra (19-20) É como se o salmista dissesse “eu sou um morador temporário neste mundo, e do pouco tempo que tenho aqui, o que seria de mim sem a tua Palavra?”. Os servos de Deus sabem que este mundo é um lar temporário e, portanto, precisam saber mais sobre a vontade de Deus no pouco de tempo que têm aqui.

Quando o salmista diz que sua alma está consumida, literalmente, o que ele diz é “minha alma está esmagada por desejar teus juízos todo o tempo”.

Diante disso tudo, a pergunta que eu faço é: o quanto você tem desejado a Palavra de Deus? Quando foi a última vez que você abriu sua Bíblia? Você tem uma Bíblia (porque muitos sequer tem uma, porque é mais fácil ter no celular, mas, com certeza, é muito mais comum utilizar seu celular par whatsapp, instagram, youtube, e tantos outros aplicativos, e a Bíblia não tem lugar nessa “disputa”)?

Você pode dizer como o salmista “a minha alma está como que esmagada por tanto desejar a tua Palavra”. Precisamos rever nossas prioridades, avaliar o que realmente é importante para nós. O que mais toma o nosso tempo em nosso dia a dia, sem dúvidas, é o que mais valorizamos. Reflita sobre isso!

Como viver centrado na Palavra de Deus? 1º Desejando a Palavra.

II. DELEITANDO-SE NA PALAVRA (21-24)

Aqui o salmista faz mais declarações ou afirmações, do que pedidos a Deus.

a. Afirmação de que o Senhor repreende (increpaste) os que se desviam da sua Palavra (21) Os servos de Deus sabem que Deus julgará aqueles que rejeitam a sua Palavra. O salmista chama aqueles que se desviam dos mandamentos de Deus de soberbos e malditos. Se a bênção de Deus está sobre os obedientes, sua maldição está sobre aqueles que são desobedientes, que se afastam dos mandamentos de Deus.

b. Pedido por remoção do motivo de escárnio e desprezo (22-23) O salmista faz o seu pedido a Deus para que retire de sobre ele o motivo de vergonha e zombaria, pois ele é um servo do Senhor que tem guardado com fidelidade os testemunhos do Senhor e têm meditado nos seus decretos.

Isso nos chama a atenção para refletir como tem sido a nossa atitude diante de Deus. Muitas vezes pedimos ao Senhor por auxílio, ajuda e livramento, no entanto, não temos vivido em conformidade com a Palavra do Senhor. Muitas vezes não temos nos portado como verdadeiros servos de Deus, mas como pedintes apenas.

c. Afirmação de que o “prazer” (alegria) e os “conselheiros” dele são a Palavra do Senhor (24) O salmista destaca que os verdadeiros servos do Senhor têm como genuína alegria a Palavra do Senhor, e destaca também a dependência da Palavra de Deus em todas as circunstâncias de sua vida.

O salmista estava sendo perseguido e desprezado, mas mesmo assim, desejava incessantemente a Palavra de Deus, ele a guardava e entrava prazer nela. Isso me faz lembrar das palavras de Jesus em sua oração sacerdotal, pedindo a Deus Pai que guarde seus filhos, ele diz:

“Eu lhes tenho dado a tua palavra, e o mundo os odiou, porque eles não são do mundo, como também eu não sou. Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal. Eles não são do mundo, como também eu não sou. Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.” (Jo 17.14-17)

Isso deve nos conduzir a compreender melhor o que Cristo fez por nós. Compreender que a oração de Jesus em favor de seus discípulos é para que Deus os guarde e santifique. Isso deve chamar a nossa atenção para o que temos priorizado, se são as coisas deste mundo, os nossos afazeres para satisfazer os nossos desejos, ou se temos dado verdadeiramente o valor que a Palavra de Deus deve ter.

Precisamos responder à seguinte pergunta: o quanto a vida e obra de Jesus importa para mim? O quanto a Palavra de Deus, que revela a vontade do Pai e que revela a obra de Cristo, o quanto essa Palavra é importante para nossa vida diária?

Quando compreendermos verdadeiramente o valor da Palavra de Deus, teremos desejos semelhantes aos do salmista, de entender que seu pouco tempo aqui neste mundo tem o propósito de viver para conhecer e obedecer à Palavra de Deus, e também de reconhecer que a única vida verdadeira só pode ser encontrada na Palavra de Deus. Quando isso fizer sentido para nós, então desejaremos viver verdadeiramente centrados na Palavra de Deus.

CONCLUSÃO

Neste trecho do Salmo 119, nós podemos ver que o salmista enfatiza a importância da Palavra de Deus nas dificuldades e angústias deste mundo. A situação do salmista se assemelha muito ao que nós vivemos muitas vezes, e o exemplo do salmista nos ajuda ao nos direcionar para onde devemos buscar conselhos. Ele nos ensina também que precisamos clamar a Deus para que nos capacite a compreender melhor sua vontade e aquilo que Ele revelou em sua Palavra.

A única maneira de encontrar conforto e orientação para lidar com o pecado e os problemas da vida é descobrindo as maravilhas da lei do Senhor, as coisas profundas e surpreendentes na Palavra de Deus. Por isso, para viver centrado na Palavra de Deus, precisamos desejar incessantemente a Palavra de Deus, buscando colocar em prática tudo o que temos aprendido dela, sendo obedientes ao nosso Senhor, firmando-nos nos méritos e na força de Cristo por nós e em nós. E também, viveremos centrados na Palavra de Deus, quando nos deleitarmos nela, encontrando prazer e orientação vinda da Palavra do Senhor.

Nosso desejo deve ser como o do salmista, de desejar viver para obedecer à Palavra de Deus, e também, de entender que é a Palavra de Deus a fonte de vida verdadeira.