VENCENDO OS VÍCIOS (48)
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Transcript
Pregação 1: Admitindo o pecado, a destruição e a dependência para vencer os vícios
Introdução
Em seu conhecido Sermão do Monte, Jesus chama de bem-aventurados (ou felizes) os que se reconhecem espiritualmente pobres (Mt. 5:3). Apesar de comumente relacionarmos o pobre de espírito com alguém desprezível ou mesquinho, a pobreza de espírito tratada aqui tem outro sentido, que é a convicção que aquele sujeito tem de que não tem nada para oferecer a Deus senão o compartilhamento do que o próprio Senhor tem dado.
O pobre de espírito entende a sua miséria espiritual de tal forma que se entrega totalmente a Deus a fim de que ele seja o seu mantenedor, principalmente em relação à salvação, sendo gracioso para reconciliar o pecador com o Pai por meio cruz do Filho. O pobre e sem recursos para ser salvo, a não ser o seu próprio pecado e miséria, entende que o que tem de Deus é lucro, o que tem de Deus é graça, o que tem de Deus é misericórdia, e por isso se alegra simplesmente por ter sido aceito, aprendendo a agradecer mais que a murmurar, a orar e a confiar mais do que a se inquietar e a se desesperar.
O nosso primeiro passo usará outros dois textos como base, mas este texto serve como cenário inicial para o que trataremos aqui: se não reconhecermos nossa incapacidade de administrar a nossa vida, cedo ou tarde destruiremos nossa história; seja com a vergonha pública diante dos pecadores, seja com a vergonha da eternidade diante do Santo Juiz.
Textos base:
Rm. 7:18-19 “Sei que nada de bom habita em mim, isto é, em minha carne. Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo. Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer esse eu continuo fazendo.”
Fp. 2:13 “Pois é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele.”
Passo 1
Admitimos que somos impotentes perante nossas feridas, dependências e comportamentos compulsivos, e que nossa vida se tornou ingovernável.
“Sei que nada de bom habita em mim, isto é, em minha carne. Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo.”(Romanos 7:18)
1- Admitindo da limitação
Apesar de discordar de muita coisa que os estudiosos da mente humana dizem na Academia, preciso concordar, depois de anos estudando dependência química, com uma sentença muito utilizada no estudo sobre adicções: “uma das maiores dificuldades no processo de restauração de um adicto é o reconhecimento de que ele precisa de ajuda”.
No tratamento de dependentes químicos costumamos ouvir o viciado dizer: “eu não sou viciado” e “eu não preciso de ajuda, pois eu consigo parar quando eu quiser”. Esta é uma das mais complexas fases da dependência químicas, a fase chamada de Negação. Negar a dependência piora o problema, que pode se tornar incontornável.
A vida cristã é assim também. O ponto de curva para mudar de vida vencendo os vícios e desfrutar de uma relação intensa com o Senhor, é o reconhecimento de que não podemos vencer nossa carne somente confiando em nós mesmos.
Todos nós temos pecados, temos vícios contra os quais devemos lutar e não reconhecer isto é já iniciar o processo de destruição.
Em nosso texto inicial, vemos Paulo reconhecendo sua limitação, sua impossibilidade de, por si só, conseguir alcançar o que Deus determinou para ele. Não é possível lutar sozinhos, pois nossa carne nos vencerá.
Existem virtudes humanas, as chamadas cardeais (ou principais) - (Prudência, Justiça, Fortaleza e Temperança) que até podem ser alcançadas também por aqueles que não conhecem a Deus, pois se trata do propósito para o qual todo ser humano foi criado (para a excelência). Quem não tem Jesus pode ser temperante, justo, ter fortaleza e prudência, mas sem a graça de Deus, por intermédio da ação do Espírito Santo, tais virtudes nunca serão alcançadas plenamente senão. Isto ocorre por causa do pecado, por isso é necessário o derramar do amor de DEUS e sua plena ação sobre os seus.
Apesar de homem sem Deus conseguir alcançar a virtude, quando não há reconhecimento do seu pecado (que se contrapõe à virtude), se não entender a gravidade de seus atos e de sua impossibilidade de mudar, não alcançará a cura, a bênção de Deus para sua vida para que haja o florescimento das virtudes.
Perceba que, em seu texto que lemos acima, Paulo traz uma poderosa consciência de sua limitação, de sua impossibilidade de, sozinho, alcançar a vontade de Deus.
Em seu comentário à Carta aos Romanos, Adolf Pohl[1] diz: “Quando o ser humano não apenas tem sua constituição como criatura, mas quando ela o ‘tem’, ou seja, quando ele se rende a ela, quando se arma contra seu Criador com auxílio da sua capacidade, suas posses e seu saber, então “estar na carne” perde a neutralidade. ‘Minha carne’ torna-se ‘carne do pecado’ (Rm 8:3). (...) ele afirma-se do mesmo eu: em mim não mora nada de bom. Os processos internos são mostrados mais uma vez com toda a clareza: pois o querer o bem está em mim, de modo que estou diante da escolha real de uma alternativa. Não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. No caminho para a ação prática estou pecando sem cessar, contra as minhas possibilidades”
Ao mesmo tempo em que expressa seu desejo de lutar contra o pecado, Paulo admite que, se depender somente dele, ele não conseguirá atingir este ideal de vida de santidade. É necessário haver a intervenção divina, pois há uma natureza pecaminosa que sempre o atrairá para aquilo que desagrada a Deus.
À primeira vista pode parecer que Paulo está fugindo de sua responsabilidade, pois diz que ele quer fazer o bem, mas o pecado que habita nele não quer. Ora, seria o pecado um terceiro que o atormenta, e que a culpa seria deste “sujeito” chamado pecado, e não do próprio Paulo? De forma alguma - o pecado não é um estranho que “entrou” nele e “entra” em nós sem ser convidado. O pecado está em nossa própria natureza, são as nossas próprias tendências, nossos próprios desejos, por isso, ao mesmo tempo em que somos inteiramente culpados, somos inteiramente responsáveis por abandoná-lo, por expulsá-lo de nossas vidas.
O pecado habita em nós e sempre seremos tentados a fazer o que Deus abomina: “É a natureza pecaminosa, aqui em outras partes chamada de carne, que é o verdadeiro réu, o ofensor real. É esse invasor perverso, que habita com Paulo em sua própria casa (sua alma), que é a base de toda essa iniquidade. É esse intruso que tão amiúde torna impossível a Paulo fazer o bem que tanto deseja fazer.”[2]
2- Depender de nossa própria força é ativar uma vida desgovernada (v. 19)
“Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer esse eu continuo fazendo.”
Ter a humildade de reconhecer as próprias limitações é o ponto de partida para vencer nossos vícios e viver a restauração, pois confessar a limitação é também reconhecer a dependência àquele que é ilimitado em poder. Quando reconhecemos que não conseguimos vencer nossos vícios por nós mesmos, entregamos esta luta a quem pode vencê-la: o Deus todo poderoso.
O apóstolo Paulo, consciente de sua limitação, reconhece que, apesar de querer fazer o bem, também conclui que o pecado o atrai, então é necessário se entregar totalmente a quem pode nos fortalecer em meio às lutas e que é capaz de nos fortalecer para que vençamos nossa carne.
Muitas são as forças que nos atraem para que desviemos da rota que o Senhor estabeleceu para que caminhemos. Alguns são atraídos pela luxúria, outros pela inveja, outros por substâncias psicoativas, outros por sexo fora do padrão de Deus, alguns são escravos de sua autoestima e outros são dominados até mesmo por outras pessoas, quando vivem escravos de opiniões ou de abusos emocionais ou físicos de quem os cerca, também gerando codependência.
Quando não admitimos nossa limitação, afundamos no pecado, pois alimentamos o autoengano, achando que podemos controlar nossa carne a qualquer momento, caminhando cada vez mais para o abismo que nos separa do propósito de Deus para as nossas vidas.
Vários exemplos nas Escrituras nos mostram pessoas que confiaram em si e caíram em desgraça. Sansão era um homem que conhecia ao Senhor, mas as tentações sexuais o fizeram se afastar de Deus ao acreditar que poderia vencer sozinho suas tentações, e isto o levou a destruir o futuro abençoador que ele teria. Davi era um homem segundo o coração de Deus, mas confiou em si mesmo e, em um momento que deveria estar ajudando seus comandantes a desenvolver estratégias de guerra, resolveu ficar na ociosidade de seu quarto, acessando a nudez alheia pela janela (ou, se fosse hoje, pela tela do computador ou smartphone) – a destruição veio e trouxe consequências duradouras que evidenciaram que o prazer fora da vontade de Deus nunca valerá a pena.
Não é humilhante admitir nossa fraqueza. Pelo contrário: isto é sinal de sabedoria, pois os sábios não querem ser derrotados pela arrogância; não admitir a impotência pessoal é o caminho para a destruição.
O nosso terceiro ponto também é o nosso Passo 2:
Passo 2
Acreditamos que um Poder Superior a nós poderia nos devolver à sanidade.
“Pois é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele.” (Filipenses 2:13)
A partir do momento em que confessamos nossa limitação e partimos para a busca por restauração, também partimos para o reconhecimento de que precisamos de alguém maior, alguém soberano, alguém capaz de mudar nossa história e nos fazer vencer nossas lutas, nossas fraquezas, aquilo que nos destrói. O Senhor é o único capaz de transformar a nossa história, de nos fazer vencer as tentações que vêm sobre nós.
Quando escreve à igreja em Filipos, que foi compilada durante sua prisão e intenso sofrimento, Paulo lembra àquele povo de onde pode vir a resposta aos seus anseios, a força em meio à tentação, o socorro em meio às fraquezas.
Podemos fazer um paralelo com o conhecido Salmo 121. Davi escreve aquele Salmo em um contexto de perseguição, de luta. Em meio ao caminho de angústia, Davi olha para os montes e hoje temos este lindíssimo Salmo.
Nossos vícios, as tentações que nos cercam são inimigos que tentam nos destruir, e basta que vacilemos, deixando nos levar pela busca pelo prazer, pela atração da carne, para que sejamos afundados na lama do pecado.
Davi olhou para os montes e se conscientizou sobre de onde deveria vir sua segurança. Em quem você tem confiado? Quem é o teu socorro em meio à angústia? O salmista diz que no meio do deserto, ao olhar para os montes, ele tem plena convicção que não é a segurança dos montes quem faz ele confiar. Sua segurança viria do Criador não só daqueles, mas de todos os montes e vales.
Assim também é conosco: nossa segurança, como vimos no ponto anterior, não pode vir de nós, mas temos a quem recorrer. Você e eu podemos nos achar fortes, ou podemos ter coisas às quais nos apegamos e que achamos que nos fortalecem, mas só nos enganam. Nós não somos Deus e nossas práticas precisam reverberar isto. O Criador dos montes é o nosso socorro bem presente na angústia, na aflição, é quem nos fortalece para que sejamos livres da queda.
Olhando para este alerta de Paulo aos Filipenses, temos duas questões fundamentais: a primeira é a certeza de que nós mesmos não podemos fazer nada de bom; a segunda é que quem é o criador do conceito de bondade está diante de nós, direcionando nossas ações. Ele é bom, ele é presente para abraçar, curar e restaurar os que clamam o seu nome.
Paulo traz conforto à igreja em Filipos dizendo que eles devem desenvolver a vida com Deus buscando a santidade, que é o sinal dos que são salvos, e devem confiar que o próprio Deus atuará para que alcancem esta santidade, conquanto andem em arrependimento e busquem amar a Deus lutando para obedecê-lo.
Hendriksen[3]explica este trecho sintetizando o conforto das palavras de Paulo, ao dizer que os filipenses “(...) só poderão operar sua própria salvação permanecendo num vivo e ativo contato com seu Deus. E é exatamente porque Deus começou a boa obra neles – não são eles os “amados”? –, e porque Deus começou essa boa obra, também a levará à perfeição, os filipenses, como “cooperadores de Deus”, poderão levar essa salvação à sua conclusão. Não só o princípio, mas cada ponto do processo salvífico é de Deus. Somos “feitura”, sua criação, seu “poema”. Ele nos fez o que somos. Por meio de seu Espírito operando nos corações de seu povo (...), Deus é o operador, grande, constante e efetivo, o energizador, operando na vida dos filipenses, realizando neles tanto o querer quanto o realizar.”
O poder dos nossos vícios por vezes parece ser maior que nossas forças. Para o vaidoso, é uma grande luta desenvolver a humildade; para o maledicente, falar mal dos outros lhe traz prazer, e silenciar quanto à vida alheia o incomoda. É tortuoso para o pornógrafo não se saciar com a promiscuidade à distância, assim como o escravo da luxúria se alimenta da deturpação sexual presente.
São filas de pecados que estão diante de nós e que nos atiçam. Quando estamos sendo influenciados pelos nossos vícios, eles parecem ser ainda mais poderosos do que podemos imaginar. Nossa doença, nosso vício, nosso pecado não são externos, eles moram em nós, devem ser chamados pelo nome e combatidos diariamente.
Conclusão
Por vezes parece que fomos longes demais em nossas transgressões. É comum que os que estão caídos no pecado se vejam como irrecuperáveis ou indignos da misericórdia divina. De fato, não somos dignos desta misericórdia, pois a ação de Deus sobre nós é graça, é gratuita, ela ocorre simplesmente porque ele decide nos ama e resolve investir em nossa vitória sobre os vícios que nos cercam. Sim, ele tem poder para nos fortalecer, para nos restaurar e recomeçar nossa história, por mais adoecidos que estejamos.
Nos Grupos de Ajuda Mútua, os adictos aprendem que há um “Poder Superior” que pode curar as mazelas, as doenças espirituais que tomam os que caíram em pecado.
Como dissemos, muitos são os vícios contra os quais podemos lutar. Você pode ser alguém que sofre com a baixa autoestima, com a dependência ou codependência emocional, com a dependência química, a ansiedade, a compulsão sexual, a ira, a procrastinação ou alguma compulsão. Não interessa a especificidade: nossos vícios nos destroem e precisamos do “Poder Superior”.
Este “Poder Superior” pode recuperar os que o buscam de forma a torná-los melhores do que antes do pecado, no período de “insanidade”. Este Poder Superior tem nome: ele é o Pai Criador, o Filho Redentor, o Espírito consolador; ele é um Deus pessoal. A Santa Trindade pode mudar a nossa história, o sacrifício de Cristo na cruz nos revela que ele decide não só nos receber e perdoar quando reconhecemos nosso pecado, mas nos restaurar quando estamos destruídos pelos vícios e nos fortalecer para que não retornemos à lama.
Confiemos plenamente nele.
Que o Senhor nos abençoe!
[1] Adolf Pohl, Comentário Esperança, Carta aos Romanos (Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 1999), 123.
[2] William Hendriksen, Romanos, ed. Cláudio Antônio Batista Marra, trans. Valter Graciano Martins, 2a edição., Comentário do Novo Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2011), 295–296.
[3] William Hendriksen, Efésios e Filipenses, ed. Cláudio Antônio Batista Marra, trans. Valter Graciano Martins, 3a edição., Comentário do Novo Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 1992), 495.