A vida do novo homem (Ef 4.25-32)

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Efésios 4.25–32: A vida do novo homem
[1] Por isso, deixando a mentira, que cada um fale a verdade com o seu próximo, porque somos membros do mesmo corpo. (25) cf. Zc 8.16; Cl 3.9
Por isso, conecta ao que foi dito anteriormente; é por causa disso: de termos aprendido Cristo através do ensino e pregação verdadeiros e assim ter deixado para traz a velha natureza e ter sido renovados em nossa mente e assim nos revestido da nova natureza que é Criada segundo Deus, para estar em justiça e retidão que vem da verdade que devemos deixar:
“Uma vez que o crente se vestiu do novo homem na conversão, a vida subsequente da pessoa deve refletir o que ela é” (HOEHNER, 2023)
deixando ἀποτίθημι (apotithēmi): a mesma palavra usada para “deixar de lado” no versículo 22.
mentira ψεῦδος (pseudos): uma mentira; falsidade consciente e intencional (THAYER)
Ex.: A mentira ou falsidade não é algo que são próprios dos que nasceram de novo, pois isto é inerente ao diabo, pois é o pai da mentira (Jo 8.44) e é algo que está na lista do que não entrará na Nova Jerusalém (Ap 21.27). Em Rm 1.25 Paulo retrata a pessoa que vive em pecado como alguém que trocou a verdade de Deus por uma mentira. Já em 2Ts 2.9, 11 Paulo fala do homem ímpio que surgirá e realizará falsas maravilhas, nas quais as pessoas crerão.
O motivo para que cada um deixe de lado a mentira e fale a verdade com o próximo é justamente porque somos membros do mesmo corpo. É como se fosse falso ou mentiroso consigo mesmo.
Em Zc 8.16-17 estas são coisas que se devem fazer após a restauração pois tanto o pensar mal no coração contra o seu próximo e amar o juramento falso são coisas que o Senhor odeia. Já em Cl 3.9 vemos que deixar a mentira é algo inerente a quem se despiu do velho homem, quem deixou para traz a velha natureza.
[2] Fiquem irados e não pequem (Sl 4.4). Não deixem que o sol se ponha sobre a ira de vocês, nem deem lugar ao diabo. (26-27)
Fiquem irados ὀργίζω (orgizō): ficar com raiva;
Ficar com raiva acontece, mas a raiva não pode dar ocasião ao pecado, deixando que se torne uma mágoa ou ódio em que o diabo pode se aproveitar da ocasião (1Pe 5.8).
Jesus falou que aquele que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento (Mt 5.22)
a ira παροργισμός (parorgismos)*: estado de ser intensamente provocado, humor irritado, raiva (Ef 4.26)
{A ideia aqui é não permanecer irado para que isto não se torna pecado. O problema é deixar que a ira chegue ao “pôr do sol” ou seja, na transição de um dia para o outro. Esta raiva fica armazenada e então vira uma raiz de amargura no coração, tornando-se um peso e assim virando uma oportunidade para o diabo (aquele que tenta) venha agir.
“Quando a ira arde por longos períodos, ela leva a acessos de raiva o que conduz a pessoa a pecar. O dia da ira deve ser o dia da reconciliação” (HOEHNER, 2023)
Talvez o melhor exemplo aqui seja o de Caim e Abel. Caim ficou irado sem motivo contra o seu irmão Abel, e em vez de confessar sua raiva e assim trazer reconciliação, preferiu guardá-la. Sentir raiva é normal, o problema está no que você faz com ela.
Gênesis 4.6–7 (NAA)
6 Então o SENHOR lhe disse: — Por que você anda irritado? E por que essa cara fechada? 7 Se fizer o que é certo, não é verdade que você será aceito? Mas, se não fizer o que é certo, eis que o pecado está à porta, à sua espera. O desejo dele será contra você, mas é necessário que você o domine.
[3] Aquele que roubava não roube mais; pelo contrário, trabalhe fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o necessitado. (28)
roubava κλέπτω (kleptō): da onde vem nossa palavra “Cleptomania” que é um transtorno do controle do impulso que faz com que o indivíduo apresente um desejo incontrolável e dominador de cometer furtos.
{Portanto a solução para quem rouba é trabalhar com as próprias mãos (1Ts 4.11), mas não qualquer trabalho, mas o que é bom, ou seja um trabalho que não seja de caráter duvidoso.
Então, o propósito deste trabalho também é ter o suficiente para repartir com quem tem necessidade, ou seja, aquele que precisa de auxilio para se manter.
A prática de repartir era comum na igreja (At 2.45; 4.35; 20.35; Rm 12.13; Tt 3.14; 1Jo 3.17). Paulo mesmo foi ajudado em suas necessidades pelas igrejas (Fp 4.16).
[4] Não saia da boca de vocês nenhuma palavra suja, mas unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem. (29)
suja σαπρός (sapros): relativo ao que é prejudicial por não ser saudável e por resultar em corrupção — “prejudicial, que faz mal” (LouwNida); palavras impróprias (DTNT); palavra maldosa (EDNT) “palavra imoral” (HOEHNER, 2023)
No Dia do Juízo as pessoas darão conta de toda palavra inútil que proferirem (Mt 12.36)
Então em vez de conversas prejudiciais por serem impróprias, temos que ter conversas apenas que sejam úteis para a edificação οἰκοδομή (oikodomē), ou seja, palavras que acrescentem algo de útil para o crescimento espiritual.
“Assim, o propósito de nossa fala é suprir aquilo que está faltando na vida de outros crentes ao pronunciar palavras benéfica, contribuindo assim, para o crescimento espiritual do corpo”. (HOEHNER, 2023)
Esta palavra deve ser de acordo com a necessidade, para poder transmitir graça aos que ouvem.
graça aqui tem o sentido de capacitação aos que estão ouvindo, ajudando com estas palavras no seu desenvolvimento pessoal.
1Ts 5.11; Cl 4.6
[5] E não entristeçam o Espírito de Deus, no qual vocês foram selados para o dia da redenção. (30)
entristeçam λυπέω (lypeō): causar severo sofrimento mental ou emocional, vexar, irritar, ofender, insultar, agir. (BDAG)
É traduzido algumas vezes como ficar muito triste (Mt 17.23; 18.31); é um sentimento que o próprio Senhor Jesus experimentou (Mt 26.37). É algo que o próprio Deus pode ocasionar em seus servos para produzir arrependimento (2Co 7.9, 11).
Em Is 63,9 o que entristeceu o Espírito Santo foi justamente a rebeldia.
Em relação ao Espírito Santo é somente aqui. Mas o que pode entristecer o Espírito de Deus? Justamente andar como os gentios andam que é o contexto dessa passagem. Ou como Hoehner coloca: que a tristeza que o crente pode causar ao Espírito é quando fala palavras perniciosas.
Qualquer atitude contrária a estas descritas aqui são atitudes que entristecem o Espírito e que Paulo lembra que nele fomos selados para o dia da redenção (Ef 1.13)
“há duas etapas na redenção: a primeira é a que liberta os crentes do pecado e de seu poder; a segunda é a que ocorre no futuro escatológico, quando Cristo vier para santos, libertando os crentes da presença do pecado”. (HOEHNER, 2023)
[6] Que não haja no meio de vocês qualquer amargura, indignação, ira, gritaria e blasfêmia, bem como qualquer maldade. (31) cf. Cl 3.13
amargura πικρία (pikria): estado de ser amargo num sentido afetivo, amargura, animosidade, raiva, dureza (BDAG); Amargura é um estado emocional caracterizado por sentimentos intensos de ressentimento, raiva, descontentamento e tristeza profunda. (GPT)
É traduzida por inveja em At 8.23 (fel de amargura); é algo que sai da boca (Rm 3.14) e chamado de raiz de amargura que quando surge causa perturbação no meio do povo de Deus, contaminando a muitos (Hb 12.15)
indignação θυμός (thymos): um estado de intensa irritação, com a implicação de explosões de raiva (LouwNida); uma raiva ardente (DV)
É traduzida como fúria (Lc 4.28) - ficaram furiosos (NVI), e o que causa esta ira ou fúria é justamente ouvir algo que não é do seu gosto pessoal, ou que contradiz o que você acredita (At 19.28).
Esta indignação é o resultado causado naqueles que desobedecem a verdade para obedecerem a injustiça (Rm 2.8). É algo que advém de pessoas carnais, que não são cheias do Espírito Santo (Gl 5.20). É algo que Paulo incentiva os colossenses a abandonarem (Cl 3.8) e é desta forma que o diabo descerá no período da grande tribulação para a terra (Ap 12.12).
Mas também é algo inerente de Deus (Ap 15.1, 7; 16.19; 19.15). Se o ser humano vier a ter esta indignação ele peca.
ira ὀργή (orgē): estado de desagrado relativamente forte, w. focaliza o aspeto emocional, raiva (BDAG); isto combina com a advertência em 26-27.
Está relacionado a ira de Deus (Mt 3.7; Lc 3.7; Lc 21.23; Jo 3.36; Rm 1.18; 2.5; 3.5; 5.9; 9.22) e do cordeiro (Ap 6.16, 17; 11.18; 14.10; 16.19; 19.15) e é algo que Jesus teve em Mc 3.5 ao se deparar com a dureza do coração das pessoas.
Mas porque não é bom ficarmos irados? Justamente porque a ira pertence a Deus (Rm 12.19), pois somente ele é justo para aplicá-la, visto que a ira humana jamais poderá produzir a justiça de Deus (Tg 1.20), pois não há nenhum ser mortal tão justo quanto Deus.
É algo que Tiago recomenda que seja tardio em nossas vidas (Tg 1.19)
gritaria κραυγή (kraugē): significa “o tumulto da controvérsia” (DV) É algo como em At 23.9.
blasfêmia βλασφημία (blasphēmia): discurso que denigre ou difama, injúria, difamação, desrespeito, calúnia (BDAG); calúnia, detração, discurso prejudicial ao bom nome de outra pessoa (THAYER); Esse substantivo é usado para denotar a violação da glória, majestade e poder de Deus e pode ser traduzido como "blasfêmia" ou "zombaria". Esse termo descreve uma violação do próprio Deus (Ap 13:6) e de seus anjos (2Pe 2:10-12; Jd 8-10). A blasphēmia também está associada a falso testemunho, ferindo a reputação por meio de relatos maldosos e palavras maldosas (Mc 7:22; Ef 4:31; Cl 3:8; 1Tm 6:4). Teologicamente, o termo transmite uma rejeição consistente do movimento e do poder do Espírito Santo; uma ação que não pode ser perdoada porque envolve uma rejeição endurecida da salvação de Deus (Mt 12:32). (Mounce)
Ex.: É o pecado que não será perdoado caso seja proferido contra o Espírito (Mt 12.31; Mc 3.28-29). É algo que procede do coração humano (Mt 15.19; Mc 7.22). É algo que Jesus foi acusado de cometer (Mt 26.65; Mc 14.64; Lc 5.21; Jo 10.33); e está na lista de coisas a serem deixadas definitivamente em (Cl 3.8); e pode ser usada como difamações ocasionadas por suspeitas malignas (1Tm 6.4). É colocado também como sentença difamatória ou juízo infamatório ou acusação injuriosa contra o diabo (Jd 9).
A besta irá aparecer com nomes de blasfêmia (Ap 13.1; 17.3) e que irá proferir (Ap 13.5-6)
maldade κακία (kakia): uma atitude ou disposição mesquinha ou viciosa, malícia, má vontade, malignidade (BDAG); malignidade, malícia, má vontade, desejo de ferir (THAYER)
A maldade foi vista no coração de Simão o mágico que tentou comprar o dom de Deus com dinheiro (At 8.18-22). É algo que as pessoas que desprezam o conhecimento de Deus estão cheias (Rm 1.28-29). É chamado de fermento do mal em 1Co 5.8. E que em relação a esta maldade precisamos ser iguais a crianças que a possuem em uma escala bem pequena (1Co 14.20). Está na lista de coisas a serem abandonadas em Cl 3.8. Esta maldade deve ficar somente na vida passada (Tt 3.3). É algo que Tiago também exorta seus leitores a deixar (Tg 1.21) e que Pedro da mesma maneira (1Pe 2.1) e que não se deve usar a liberdade que temos em Cristo para fazer o mal (1Pe 2.16).
[7] Pelo contrário, sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando uns aos outros, como também Deus, em Cristo, perdoou vocês. (32)
Pelo contrário, ou seja, em vez de praticarem essas coisas
sejam γίνομαι (ginomai): tornem-se; adquiram essas características na vida diária.
bondosos χρηστός (chrēstos): gentil, amoroso, benevolente (BDAG); manejável, i.e., suave, agradável, (oposto a áspero, duro, afiado, amargo) (THAYER)
Ex.: É uma palavra usada para retratar o jugo suave de Jesus (Mt 11.30); fala sobre o vinho excelente (Lc 5.39). É algo que caracteriza Deus até mesmo em relação aos ingratos e maus e por isso dever ser algo que devemos praticar (Lc 6.35). Pois é a bondade de Deus que leva as pessoas ao arrependimento (Rm 2.4). É traduzida em relação aos bons costumes (1Co 15.33). É algo que pode ser experimentado da parte de Deus (1Pe 2.3). E é parte do fruto do espírito (Ef 4.32)
Portanto esta é uma instrução equivalente a de Jesus em Lc 6.35-36.
compassivos εὔσπλαγχνος (eusplagchnos): a ter sentimentos ternos por alguém, coração terno, compassivo (BDAG); é o ato de ser misericordioso.
Ser misericordioso significa ter compaixão e demonstrar bondade e perdão para com aqueles que estão em situações de dificuldade, sofrimento ou erro. É um ato de compreensão e indulgência em relação às fraquezas ou erros dos outros, mesmo quando não merecem. A misericórdia envolve olhar para além das falhas e imperfeições das pessoas e oferecer apoio, conforto e oportunidades para redenção ou reconciliação. (GPT)
É algo que Pedro também exorta seus leitores.
{Esta bondade e misericórdia é vista em relação a cada membro do corpo de Cristo através do perdão.
perdoando χαρίζομαι (charizomai): mostrar-se gracioso perdoando as transgressões (BDAG); é um ato de liberação emocional no qual uma pessoa decide conscientemente deixar de lado ressentimentos, raiva ou desejo de vingança em relação a alguém que a machucou, mesmo que essa pessoa não peça desculpas ou mude seu comportamento. (GPT)
Ex.: É visto no ato de um credor perdoando uma dívida (Lc 7.42). É o que Paulo quer que a igreja em Corinto faça em relação ao irmão faltoso (2Co 2.10) e que exorta também a igreja de Colossos a particar (Cl 3.13).
{Este perdão deve ser como também Deus Pai, através de Cristo, perdoou. E isto está relacionado ao que se tem queixa contra a outra pessoa. Jesus mesmo falou sobre isto em Mt 6.14-15.
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