Devocional em Romanos 12.3 - O contentamento do serviço
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Texto base
Texto base
Romanos 12.3 (ARA)
Porque, pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um.
Introdução
Introdução
Irmãos, todos nós, como cristãos salvos e renovados pela graça de Cristo, somos chamados a viver o contentamento em todas as áreas das nossas vidas. Entretanto, trata-se de uma chamado que esconde por trás uma das maiores batalhas de todo cristão. No campo de nossas vidas diárias, viver o genuíno contentamento contrapõe uma vida de ingratidão diante de Deus, ou seja, uma batalha constante contra a cobiça e contra a avareza; porém, na igreja, esse contentamento contrapõe a ambição e o comodismo relacionados ao serviço do Reino de Deus.
Esses dois extremos são pecados que, constantemente, invadem as igrejas: primeiramente, porque o ambiente eclesiástico traz consigo um peso de organização para o qual muitas posições são vistas de forma distorcida por muitos que ambicionam algum nível de prestígio para satisfazerem os seus próprios desejos pecaminosos. Isso não é algo novo:
Mateus 20.20–28 (ARA)
Então, se chegou a ele a mulher de Zebedeu, com seus filhos, e, adorando-o, pediu-lhe um favor. Perguntou-lhe ele: Que queres? Ela respondeu: Manda que, no teu reino, estes meus dois filhos se assentem, um à tua direita, e o outro à tua esquerda. Mas Jesus respondeu: Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu estou para beber? Responderam-lhe: Podemos. Então, lhes disse: Bebereis o meu cálice; mas o assentar-se à minha direita e à minha esquerda não me compete concedê-lo; é, porém, para aqueles a quem está preparado por meu Pai. Ora, ouvindo isto os dez, indignaram-se contra os dois irmãos. Então, Jesus, chamando-os, disse: Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.
Mas não só isso, muitos substituem o contentamento de servir pelo comodismo de ser o famoso “crente de banco”, limitando a relação de comunhão e serviço a estar presente nos cultos. Isso não só sobrecarrega muitos irmãos fiéis, que são diligentes no serviço a Deus, mas também os expõem à tentação da soberba e da arrogância. Quando trocam o contentamento de servir pelo comodismo, vivem uma contrradição ao deixar de viver aqui aquilo que já aponta para o que viveremos na eternidade:
Apocalipse 7.13–17 (ARA)
Um dos anciãos tomou a palavra, dizendo: Estes, que se vestem de vestiduras brancas, quem são e donde vieram? Respondi-lhe: meu Senhor, tu o sabes. Ele, então, me disse: São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro, razão por que se acham diante do trono de Deus e o servem de dia e de noite no seu santuário; e aquele que se assenta no trono estenderá sobre eles o seu tabernáculo. Jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o sol, nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima.
Precisamos ser contentes no serviço a Deus, seja qual for a forma do serviço. Entretanto, visto todas as tentações envolvidas em nosso chamado a servir, seja por ambição ou comodismo, precisamos nos atentar para o que a palavra de Deus nos diz acerca no nosso contentamento em servir. Pelo menos 3 princípios podem ser extraídos do nosso texto devocional: o contentamento do serviço...
Exige a renovação da nossa mente
É testificado pela moderação
Glorifica e agrada a Deus.
Exige a renovação da nossa mente
Exige a renovação da nossa mente
“...digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém...”
Quando olhamos para o nosso texto, é interessante observarmos que Paulo deixa bem clara uma proibição imperativa e fundamentada em sua autoridade apostólica: “não pense de si mesmo”. Primeiramente, Paulo está deixando claro que o contentamento é um chamado espiritual aplicado à mente de todo cristão. É importante entendermos isso à luz do contexto do nosso texto: quando voltamos ao versículo anterior, Paulo diz:
Romanos 12.2 (ARA)
E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
Nesse versículo o apóstolo também faz uma proibição que se conecta com a proibição do nosso texto. Ele deixa claro que, como cristãos, não podemos nos conformar com este século, mas precisamos nos transformar através da renovação da nossa mente. O nosso “culto racional”, ou nosso “serviço racional”, depende de não nos conformarmos ao modelo mental desse mundo, mas de renovarmos nossas mentes pela palavra de Deus.
Isso deveria ser bem claro aos nossos olhos, afinal, quais os principais modelos mentais desse mundo relacionados ao contentamento? Não seria que nós devemos nos sobressarir sobre tudo e todos ou mesmo que usemos outras pessoas para alcançar nosso benefício, sem nosso trabalho árduo? O nosso serviço racional deve ser cheio do contentamento que só uma mente renovada pode proporcionar.
Não só isso, mas uma mente renovada também nos leva a outro fundamento do contentamento do serviço: olhar para si e menos para o outro, buscando ter uma visão correta de si mesmo. Uma mente conformada com este século possui uma visão distorcida de si mesmo, pois está olhando para si mesmo pelas lentes do pecado. Esquecemos que somos pecadores, incapazes de quaisquer boas obras por nós mesmos e começamos a nos enxergar como superiores aos outros irmãos, esquecendo que por nossas forças falhamos, miseravelmente, no serviço a Deus segundo os padrões dEle. Começamos a direta (verbal) ou indiretamente (pensamento) a proclamar frases como: eu prego melhor do que os outros, eu canto melhor do que os outros, eu aconselho melhor do que os outros, eu tenho mais conhecimento que os outros, eu sou mais generoso que os outros etc.
Uma mente renovada faz nos coloca então debaixo das lentes corretas acerca de nós mesmos, como Isaías declara:
Isaías 64.6 (ARA)
Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades, como um vento, nos arrebatam.
Como diz Paul Tripp em seu livro “Instrumentos nas mãos do Redentor”:
“O pecado também produz insensatez em nós. A insensatez acredita que não há perspectiva, discernimento, teoria ou verdade mais confiável que a nossa própria. Acredita na mentira de que sabemos mais. Ela faz com que distorçamos a realidade e vivamos em mundos que nós mesmos criamos. É como se estivéssemos olhando a vida através de um espelho distorcido de um parque de diversões, convencidos de que estamos vendo claramente.” (Tripp, Paul David. Instrumentos nas Mãos do Redentor. NUTRA Publicações, 2009).
Sob essa ótica renovada, nos enxergamos totalmente carentes da obra divina para que venhamos a executar quaisquer boas obras e passamos a parecer menos com o fariseu e mais com o publicano na parábola de Jesus:
Lucas 18.9–14 (ARA)
Propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um, fariseu, e o outro, publicano. O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho. O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado.
É testificado pela moderação
É testificado pela moderação
“…Antes, pense com moderação...”
Se o contentamento na execução de nosso serviço racional é fruto de uma mente renovada, ele é testificado na vida daqueles que enxergam e colocam a si mesmos no devido lugar. Qual este lugar? Paulo nos responde que este lugar é a moderação, que no original grego talvez nos dê uma percepção melhor de como essa moderação é aplicada na nossa vida de serviço:
Moderação - Sophronein: ser sobriamente sábio — pensar e viver sabiamente em autocontrole sobre suas paixões e desejos.
Quando desenvolvemos nosso serviço a Deus e a sua Igreja de forma sábia, ou seja, não submetendo nosso serviço às nossas paixões e desejos pecaminosos, vivemos e testificamos o contentamento do serviço através da nossa moderação. Precisamos compreender que os dons e chamados que nos foram entregues não o foram para nos colocar nos holofotes da igreja, não o foram para nos exaltar através de virtudes e habilidades, ou mesmo para nos servirem de enfeites sem utilidade alguma, mas para o serviço da Igreja para sua edificação. Se não pensarmos e vivermos essa moderação, certamente estaremos buscando apenas a autopromoção, ou mesmo, a acomodação.
Um ponto importante de ressaltarmos acerca da moderação à qual nós somos ordenados a viver, para nutrirmos o contentamento em nosso serviço racional, é que essa moderação é aplicada ao pensamento e não à ação. Como assim? O nosso agir deve ser diligente, incessante e frutíforo, mas isso não deve nos levar a termos um pensamento exaltado sobre nossos irmãos. Paulo foi um exemplo claro disso, ele não deixava de reconhecer o seu trabalho diligente e incessante, mas não permitia que isso o levasse a reconhecer-se como superior, justamente porque ele enxergava a si mesmo por uma mente renovada e sabia que tudo o que fizera vinha do próprio Deus:
1Coríntios 15.9–10 (ARA)
Porque eu sou o menor dos apóstolos, que mesmo não sou digno de ser chamado apóstolo, pois persegui a igreja de Deus. Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo.
Cristo não nos chama a viver como arrogantes, achando que pela diligência de nossas obras somos superiores aos nossos irmãos, mas também não nos chama a viver uma falsa modéstia acerca das obras que executamos, isso é hipocrisia; Cristo nos chama a reconhecer as obras que executamos e testemunharmos de que não foram feitas por nós mesmos, mas pelo Espírito Santo de Deus que habita em nós.
Glorifica e agrada a Deus
Glorifica e agrada a Deus
“...segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um...”
Paulo também declara que o próprio Deus repartiu uma medida de fé a cada um de nós. Paulo não está tratando da fé salvadora, nem mesmo de privilégios na distribuição da fé, mas que Deus distribui para sua igreja a fé que nos impulsiona a realizar toda obra para edificação dela. Quando possuímos uma mente renovada, conseguimos viver a moderação de não submeter o serviço a Deus aos nossos próprios desejos, mas à fé que Deus nos entregou e que nos impulsiona a atender às necessidades e carências de sua igreja. Ou seja, não restringimos nosso serviço a Deus àquilo que desejamos, mas àquilo que a fé que recebemos nos impulsiona a realizar para edificação do corpo de Cristo.
É interessante quando conectamos esse princípio ao contexto de Rm 12.1, porque passamos a compreender que quando exercemos esse serviço racional ao qual a fé que recebemos nos impulsiona, estamos glorificando e agradando a Deus, porque estamos colocando em prática a Sua vontade. Saber disso nos leva a ter contentamento no serviço ao qual Deus nos chamou a executar, porque reconhecemos que através daquele serviço a Igreja está sendo edificada e nosso Deus agradado e glorificado.
Entretanto, se quando vivemos esse contentamento do serviço agradamos e glorificamos a Deus, quando não vivemos ele, a negatia é verdadeira. Vejamos o que Paulo fala em 1Co 12.3-6:
1Coríntios 12.3–6 (ARA)
Por isso, vos faço compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus afirma: Anátema, Jesus! Por outro lado, ninguém pode dizer: Senhor Jesus!, senão pelo Espírito Santo.
Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. E também há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em todos.
Quando não vivemos o contentamento de realizarmos o serviço impulsionado pela fé que recebemos, buscarmos apenas atender aos desejos e ambições do nosso coração, quando por isso nos julgamos superiores aos demais irmãos, ou mesmo quando não nos contentamos em servir em nada a Deus, profanamos esse Deus Triúno. Quando pensamos sobre nós mesmos além do que convém, nos colocando como melhores do que os demais, estamos dizendo nas entrelinhas que a obra do Deus Triúno na vida dos outros possui uma baixa eficácia, como se esse eficácia estivesse sujeita a nós como instrumentos; quando nos eximimos do serviço, estamos declarando nas entrelinhas que o efeito da fé que nos foi entregue pelo Deus Triúno para realizarmos sua obra de edificação da Sua Igreja é nulo. Precisamos compreender a gravidade de uma vida distante do contentamento do serviço do Senhor.
Uma definição para esse contentamento, que se adequa tanto ao serviço, quanto as circunstâncias de nossas vidas, é a du pregador puritano Jeremiah Burroughs:
“Contentamento cristão é aquele estado doce, interior, sereno e gracioso de espírito, que livremente se submete e se delicia na disposição paternal de Deus em toda e qualquer situação.” (Burroughs, Jeremiah. The Rare Jewel of Christian Contentment. Banner of Truth, Carlisle, PA, 2000, p.19).
Conclusão
Conclusão
Irmãos, hoje nós somos chamados a renovarmos nossa mente, para que olhemos para nós mesmos não pela ótica dos desejos e paixões dos nossos corações, mas pela ótica do que a palavra de Deus nos mostra a nosso respeito. Quando pararmos de olhar para nós mesmos como superiores aos nossos irmãos, ou pararmos de nos eximir de nossas responsabilidades como cristãos, estaremos aptos a pensar e viver a moderação que nos leva a trabalhar deligentemente realizando obras maravilhosas pela ação do Espírito Santo, mas, mesmo assim, nos mantendo firmes na genuína humildade diante de Deus e da Igreja.
Precisamos viver o serviço do Reino com uma genuína piedade, parando de selecionar as formas de servir que mais agradam o nosso ego, mas sendo sensíveis aos serviços que suprirão as necessidades da Igreja que Deus tem nos revelado e livre e deleitosamente nos submetendo à fé que Deus nos entrega para atender a elas, nos contentando por estarmos glorificando e agradando ao nosso Deus.