Filho pródigo 3
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LUCAS 15.11–32
CONTINUOU: CERTO HOMEM TINHA DOIS FILHOS; O MAIS MOÇO DELES DISSE AO PAI: PAI, DÁ-ME A PARTE DOS BENS QUE ME CABE. E ELE LHES REPARTIU OS HAVERES. PASSADOS NÃO MUITOS DIAS, O FILHO MAIS MOÇO, AJUNTANDO TUDO O QUE ERA SEU, PARTIU PARA UMA TERRA DISTANTE E LÁ DISSIPOU TODOS OS SEUS BENS, VIVENDO DISSOLUTAMENTE. DEPOIS DE TER CONSUMIDO TUDO, SOBREVEIO ÀQUELE PAÍS UMA GRANDE FOME, E ELE COMEÇOU A PASSAR NECESSIDADE. ENTÃO, ELE FOI E SE AGREGOU A UM DOS CIDADÃOS DAQUELA TERRA, E ESTE O MANDOU PARA OS SEUS CAMPOS A GUARDAR PORCOS. ALI, DESEJAVA ELE FARTAR-SE DAS ALFARROBAS QUE OS PORCOS COMIAM; MAS NINGUÉM LHE DAVA NADA. ENTÃO, CAINDO EM SI, DISSE: QUANTOS TRABALHADORES DE MEU PAI TÊM PÃO COM FARTURA, E EU AQUI MORRO DE FOME! LEVANTAR-ME-EI, E IREI TER COM O MEU PAI, E LHE DIREI: PAI, PEQUEI CONTRA O CÉU E DIANTE DE TI; JÁ NÃO SOU DIGNO DE SER CHAMADO TEU FILHO; TRATA-ME COMO UM DOS TEUS TRABALHADORES. E, LEVANTANDO-SE, FOI PARA SEU PAI. VINHA ELE AINDA LONGE, QUANDO SEU PAI O AVISTOU, E, COMPADECIDO DELE, CORRENDO, O ABRAÇOU, E BEIJOU. E O FILHO LHE DISSE: PAI, PEQUEI CONTRA O CÉU E DIANTE DE TI; JÁ NÃO SOU DIGNO DE SER CHAMADO TEU FILHO. O PAI, PORÉM, DISSE AOS SEUS SERVOS: TRAZEI DEPRESSA A MELHOR ROUPA, VESTI-O, PONDE-LHE UM ANEL NO DEDO E SANDÁLIAS NOS PÉS; TRAZEI TAMBÉM E MATAI O NOVILHO CEVADO. COMAMOS E REGOZIJEMO-NOS, PORQUE ESTE MEU FILHO ESTAVA MORTO E REVIVEU, ESTAVA PERDIDO E FOI ACHADO. E COMEÇARAM A REGOZIJAR-SE. ORA, O FILHO MAIS VELHO ESTIVERA NO CAMPO; E, QUANDO VOLTAVA, AO APROXIMAR-SE DA CASA, OUVIU A MÚSICA E AS DANÇAS. CHAMOU UM DOS CRIADOS E PERGUNTOU-LHE QUE ERA AQUILO. E ELE INFORMOU: VEIO TEU IRMÃO, E TEU PAI MANDOU MATAR O NOVILHO CEVADO, PORQUE O RECUPEROU COM SAÚDE. ELE SE INDIGNOU E NÃO QUERIA ENTRAR; SAINDO, PORÉM, O PAI, PROCURAVA CONCILIÁ-LO. MAS ELE RESPONDEU A SEU PAI: HÁ TANTOS ANOS QUE TE SIRVO SEM JAMAIS TRANSGREDIR UMA ORDEM TUA, E NUNCA ME DESTE UM CABRITO SEQUER PARA ALEGRAR-ME COM OS MEUS AMIGOS; VINDO, PORÉM, ESSE TEU FILHO, QUE DESPERDIÇOU OS TEUS BENS COM MERETRIZES, TU MANDASTE MATAR PARA ELE O NOVILHO CEVADO. ENTÃO, LHE RESPONDEU O PAI: MEU FILHO, TU SEMPRE ESTÁS COMIGO; TUDO O QUE É MEU É TEU. ENTRETANTO, ERA PRECISO QUE NOS REGOZIJÁSSEMOS E NOS ALEGRÁSSEMOS, PORQUE ESSE TEU IRMÃO ESTAVA MORTO E REVIVEU, ESTAVA PERDIDO E FOI ACHADO.
O contexto
Uma grande ajuda para perceber o contexto é vermos como inicia a parábola, diz que CONTINUOU.
vamos só dar uma vista de olhos aos versículos 1 e 2
Aproximavam-se de Jesus todos os publicanos e pecadores para o ouvir.
E murmuravam os fariseus e os escribas, dizendo: Este recebe pecadores e come com eles.
Jesus depois inicia com 2 parábolas que antecedem esta (ovelha perdida e dracma perdida), apesar desta parábola não ter no titulo de perdido ou perdida, vemos associado essa mesma ideia no verso
porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado. E começaram a regozijar-se.
Jesus estava a ensinar aos publicanos e aos espiritualmente marginalizados por causa da sua conduta moral. Ensinava-lhes verdades espirituais que diziam respeito ao reino de Deus, quando os líderes religiosos daqueles dias manifestaram seu desagrado. Embora procurassem ganhar convertidos, os doutores da Lei e os fariseus não tinham interesse em receber estes convertidos não queriam entender que Deus deseja o arrependimento que, quando demonstrado, causa imenso júbilo nos céus.
Jesus usa a familia e apresenta 3 personagens bem definidas que caracterizava seus ouvintes. Cada um dos que o ouviam tinha de se olhar ao espelho da parábola e pensar: “Este sou eu”.
O filho pródigo retratava aqueles que, por sua moral e pela sua classe social, eram marginalizados. Seu irmão era o judeu farasaico, e o pai era o refl exo de Deus. Jesus se dirigiu diretamente aos que o ouviam. Chamou o pecador ao arrependimento e exortou o justo a aceitar o pecador e a se alegrar com a salvação dele. A parábola descreve claramente o amor de Deus por seus filhos, tanto pelo rebelde quanto pelo obediente. Os contemporâneos de Jesus tinham plena consciência da paternidade de Deus.
O filho mais novo
Jesus contou a história de um homem rico que tinha dois filhos. Os dois trabalhavam com o pai na fazenda da família
mas o mais jovem deles se tornou impaciente e queria partir para longe da casa dos pais. Queria ser livre para ir a outras terras e viver como lhe agradasse. O pai notara que o filho queria partir, mas não disse nada. Ele poderia ter feito ver ao filho sua posição na vida – ele e o irmão um dia herdariam a fazenda toda. Eventualmente, o filho tomaria conta da fazenda, dos servos e dos trabalhadores contratados. Em vez disso, o pai esperou que o filho tomasse sua própria decisão.
Um dia, o mais jovem se aproximou do pai e disse: “Pai, dá-me a parte dos bens que me cabe”. Ele, naturalmente, não podia pedir a divisão da propriedade porque o patrimônio da família devia permanecer intacto enquanto o pai fosse vivo. Ao pedir a sua parte, o filho mais novo confessava que não permaneceria mais com o pai, que se aborrecia com a rotina diária e queria a parte a que tinha direito para gastá-la como quisesse. O pai deu ao filho o que era seu, provavelmente dois nonos da soma total. Quando o pai morresse, ele teria direito a um terço da herança (Dt 21.17); porém, ao receber sua parte antecipadamente, o filho perdia o direito de exigir mais, quando realmente se desse a partilha dos bens. O pai, embora dividindo a propriedade, continuou administrando a fazenda. O pai, não o filho mais velho, administrava os bens da família.
O filho mais novo recebeu sua parte e reuniu “tudo o que era seu”. Estava agora por conta própria e livre para partir. Pensava: “Tenho dinheiro, vou viajar”. Poderia ir para a Babilônia, ao leste; à Ásia Menor, ao norte; à Grécia e à Itália, a oeste; ou ao Egito e África, ao sul. Tinha o mundo à sua disposição.
Diversos fatores influíram profundamente no futuro do filho mais jovem. Seu idealismo juvenil, sua inexperiência e falta de discernimento, sua saída da área rural para a área urbana, o dinheiro à mão – tudo teve um papel importante. Sua intenção de viver por sua própria conta logo se frustrou, quando foi cercado por falsos amigos. Princípios de vida e conduta, aprendidos em casa, foram postos de lado e esquecidos. Ele foi descuidado e perdulário. A reprovação do irmão mais velho – “esse teu filho, que desperdiçou os teus bens com as meretrizes” – não é mera acusação. Baseava-se em informações que a família recebia, de tempos em tempos, de como o caçula passava seus dias dissolutamente. A desobediência às leis da economia e da moral não podia continuar. Ele teve de pagar um preço pela vida desregra da. Em relativamente pouco tempo, gastou tudo. Chegou ao fim da linha.
As notícias sobre a quebra da safra eram os principais comentários naquela terra. A infl ação levou os preços para os ares, os empregos eram raros, e a economia indicava que tempos difíceis haviam chegado. O jovem de vida devassa estava sem dinheiro e sem sequer um amigo que o ajudasse. Em terrível necessidade, percorreu as ruas e arredores da cidade procurando serviço, mas tudo que pôde achar foi a tarefa humilde de alimentar porcos. Ele tinha, então, chegado à degradação mais profunda, pois desde a infância aprendera, como qualquer judeu, que o porco é um animal imundo (Lv 11.7). Era agora empregado de um gentio e teve de abandonar o hábito de guardar o sábado. Nessa triste situação, estava alijado da religião de seus pais espirituais.9 Ele estava desesperado. Seu empregador o fazia sentir que aqueles porcos tinham mais valor para ele que um simples empregado. Sentia falta de amizade e consideração, mas ninguém se importava com ele. Por causa da escassez de comida, sua alimentação diária não era suficiente para acalmar sua fome. Queria até mesmo comer da comida dada aos porcos, as vagens da alfarrobeira. A falta de interesse humano por um empregado faminto era mais do que o jovem podia suportar. Para ele, esse foi o ponto da virada. Havia procurado por bondade humana e não a encontrou.
As notícias a respeito da fome o fizeram pensar em sua terra natal. Começou a pensar em sua casa. Devia voltar? Quando essa ideia lhe passou pela mente, primeiro ele a afastou. Os servos e os contratados dificilmente esconderiam seu escárnio. Seu irmão mais velho de modo algum o receberia bem se voltasse para casa, para uma propriedade a que não mais tinha direito. Seu pai veria seu segundo filho descalço e vestido como um empregado. Se voltasse para casa, ele seria uma figura abjeta da pobreza.
O filho começou a pensar em seu pai – como o tinha magoado, como seu pai lhe havia dado a parte da herança que ele, filho pródigo, tinha esbanjado. Começou a falar consigo mesmo: “quantos trabalhadores de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui morro de fome!”. Ele se comparou, não com os servos que tinham emprego estável, mas aos trabalhadores ajustados temporariamente. Assalariados, como ele era na ocasião, viviam regiamente na fazenda de seu pai.
Ele sabia que o amor de seu pai se estendia a todos aqueles que pertenciam ao amplo círculo de sua família. Sabia, também, que havia desobedecido ao mandamento: “Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR, teu Deus, te dá” (Êx 20.12). Ele tinha pecado contra Deus.
Quando caiu em si, estava pronto para confessar seus pecados contra Deus e contra seu pai. Ele disse a si mesmo: “Levantar-me-ei e irei ter com meu pai e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti”. Sabia que tinha transgredido o mandamento de Deus, e que, ao agir dessa maneira, ofendera e magoara seu pai. Queria se corrigir. Procuraria o pai e lhe diria: “Já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores”.
Tudo que ousava pedir era um emprego temporário. Ansiava pela reconciliação, sem esperar reintegração. Levantou-se e foi para casa.
O pai
Jesus iniciou a parábola dizendo: “Certo homem tinha dois filhos”. Mas, à medida que continuava, mostrou que esse homem tinha um relacionamento extraordinário com os filhos: ele os amava de modo sábio, com ternura e não possessivamente. Poderíamos esperar um pai ainda suficientemente moço para se opor rigorosamente ao pedido de divisão dos bens, feito pelo filho mais novo. O pai poderia ter recusado o pedido porque o filho era jovem demais para receber sua parte dos bens. Nenhum argumento, no entanto, foi usado. O pai consentiu que o filho se tornasse independente e, embora ferisse seu coração vê-lo partir, sabiamente guardou para si o que sentia.
Podemos presumir que o pai tenha tentado descobrir onde vivia o filho e o que fazia longe de casa. As notícias sobre a fome, com certeza, chegaram até ele. Deve ter sabido das condições miseráveis em que o filho vivia, e que determinariam a sua volta, porque constantemente olhava ao longo do caminho por onde esperava que ele regressasse.
Podemos perguntar por que os parentes próximos do rapaz não o procuraram sabendo de sua situação tão degradante. Havia fartura na fazenda. Teria sido carinhoso da parte deles enviar algo ao filho para aliviar suas necessidades. O pai poderia ter enviado ao filho uma mensagem, convidando-o a voltar. Tudo isso teria sido prova de amor.
Porém, aqui, nos deparamos com um contraste. O pai não procurou seu filho para trazê-lo de volta para casa. Nas outras duas parábolas, o pastor vasculhou os montes para encontrar a ovelha perdida, e a mulher varreu o chão à procura da moeda. Mas o pai ficou em casa. Há uma diferença entre uma ovelha e uma moeda, de um lado, e um filho, de outro. O pastor só pode encontrar sua ovelha se sair à procura dela pelos montes. A única maneira de a mulher recuperar sua moeda é varrendo a casa. O pai, no entanto, tinha mais que uma opção. A primeira, seria visitá-lo e chamá-lo de volta para casa. A segunda era esperar paciente e prudentemente que o filho caísse em si, confessasse seus pecados e buscasse a reconciliação. Assim, estaria restabelecida a relação pai-filho. Então o que estava perdido seria encontrado.
Quem estava no controle da situação era o pai, não o filho. O pai olhava na direção de onde esperava que seu filho viesse. Quando o viu, seu coração se compadeceu dele. Deixando de lado a dignidade e o decoro, correu ao encontro do filho descalço e maltrapilho e, abraçando-o, o beijou. O pai aceitou o filho como membro da família antes que ele pudesse atirar-se a seus pés para beijá-los, como um escravo; ou, antes, que se ajoelhasse e lhe beijasse as mãos. Abraçando-o e beijando-o, deixou que soubesse que era considerado filho. Assim, não foi necessário que o jovem fizesse o discurso que já havia preparado para dizer que gostaria de ser empregado como trabalhador na fazenda de seu pai.17 O pai o impediu, beijando-o e tratando-o como filho. O filho confessou seu pecado: “Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho”. Ele falou a verdade. Já não era mais digno por causa de seu passado. Tinha perdido o direito legal à sua filiação. Porém, o pai o aceitou como filho, e isso pôs fim a qualquer ideia de trabalhar na fazenda como contratado. Assim determinou o fazendeiro.
O longo período de espera chegara ao fim. O pai tinha seu filho de volta. Portanto, era hora de comemorar. O pai ordenou aos servos que lhe trouxessem as melhores roupas. Puseram-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. O filho foi tratado com muita honra pelo pai, pois as melhores vestes estavam sempre guardadas para hóspedes muito especiais. O anel era símbolo de autoridade; e, assim, todos podiam ver que ele havia sido reintegra do.19 Naturalmente, as sandálias lhe foram dadas para indicar que era um homem livre. Os escravos e os pobres andavam descalços. “Trazei também e matai o novilho cevado”, disse o pai. “Comamos e regozijemo-nos.” Como o pastor tinha chamado os amigos e vizinhos para festejarem com ele por ter achado a ovelha perdida, e como a mulher celebrou a recuperação da moeda com amigas e vizinhas, também o pai ordenou que houvesse músicas e danças. Todos os membros da família e os servos foram chamados para a festa. Era hora de celebrar e ser feliz.
“Porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado.” O pai se referia ao fato de que o filho, deixando de ter parte na herança da família, e dando por acabada sua obrigação moral e material para com o pai, tinha-se desligado de casa. Para todos os propósitos práticos, o filho estava morto. Na verdade, ele não tinha mais nenhum direito sobre a propriedade, quando o pai morresse. “Este meu filho estava morto e reviveu”, disse o pai.
A parábola não diz como foram resolvidos os aspectos legais dos direitos envolvidos com relação à herança. Esse não é o objetivo. O ponto importante é a volta do jovem e o fato de ter sido aceito plenamente como filho.
O filho mais velho
A parábola do filho pródigo poderia se encerrar com as palavras: “E começaram a regozijar-se”. Porém, nesse caso, a sentença introdutória: “Certo homem tinha dois filhos” seria de pouca ou nenhuma significância. A história estaria incompleta sem outras referências ao filho mais velho.
O pai não era pai apenas do filho mais novo; era pai, também, do filho mais velho. Seu primogênito tinha sido um filho leal, com interesse pessoal na fazenda. Naturalmente, o filho sabia que era o herdeiro. Ele estava fora, no campo, enquanto todos celebravam a volta de seu irmão. Ele servia bem a seu pai, e seu pai aprovava o zelo do filho. Porém, como pai, conhecia também as manifestações de inveja, e sabia que a atitude do filho mais velho, em relação ao caçula, estava influenciada por ela.
Não nos é contado por que razão o irmão mais velho foi o último a saber da volta do caçula. Pode ter sido porque naquele dia ele tivesse ido inspecionar a parte distante da propriedade, e, por isso, tenha voltado mais tarde, naquela noite. Ao chegar, ouviu a música e as danças e perguntou a um dos servos o “que era aquilo”. Em segundos ficou sabendo que o irmão mais moço tinha voltado e que o pai mandara matar o novilho cevado, porque recebera de volta o filho, são e salvo.
O filho mais velho simplesmente não podia entender por que seu pai estava tão feliz com a volta daquele filho inútil. Ninguém, nunca, antes, expressara alegria e felicidade por causa do primogênito; ninguém, nunca, fizera uma festa para aquele que ficara em casa e que servia ao pai. O filho mais velho se recusou a entrar em casa. Não tinha nada para tratar com seu irmão irresponsável, que, ao voltar para casa, recebia a atenção de todos.
O pai havia tido de sair de casa para ir ao encontro de um filho; saiu de casa, outra vez, para encontrar o outro. Ele dera as boas-vindas ao primeiro; saiu e fez o mesmo com o segundo. Tratou os dois da mesma maneira. No entanto, o irmão mais velho não queria tratamento igual. Ele censurou o pai, embora o pai continuasse a argumentar com ele. Ao se justificar, o filho via a si mesmo como um dos servos, não como filho. “Há tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem tua”, disse ao pai. Ele não entendia o que significava ser filho, e, assim, não podia ver o que estava implícito na paternidade. Acusou o pai de nunca lhe ter dado sequer um cabrito para festejar com os amigos. Para seu irmão perdulário, ao contrário, mandara matar o novilho cevado. Suas palavras eram cortantes e amargas; recusava-se a tratar o pai como “pai” e a se referir ao irmão como “irmão”. Insolentemente, disse: “Vindo, porém, esse teu filho, que desperdiçou os teus bens com meretrizes, tu mandaste matar para ele o novilho cevado”. Com essas palavras magoou o pai tanto quanto o magoara o filho pródigo com sua vida de dissipações. O filho mais velho se afastava do pai, tanto quanto o fizera o irmão mais moço. Aquele voltara para casa; o pai, agora, procurava argumentar com o outro para que fizesse o mesmo.
Tanto o mais velho quanto o mais novo eram seus filhos, e o pai se dirigiu ao mais velho com a mesma ternura com que se dirigira ao caçula. Disse o pai: “Meu filho, tu sempre estás comigo; tudo o que é meu é teu”. O pai ensinou-lhe o que significa ser filho: estar sempre na presença do pai, como herdeiro. E mais ainda, mostrou-lhe as relações familiares de pai para filho e de irmão para irmão. Ele estava dizendo: “Porque és meu filho, eu sou teu pai; e porque o pródigo é meu filho, ele é teu irmão”.27 Como uma família, disse o pai, “era preciso que nos regozijássemos e nos alegrássemos, porque esse teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado”. A questão do relacionamento entre os filhos estava proposta. O filho mais velho, que fielmente tinha servido ao pai, na fazenda da família, aceitaria ficar ao lado do pai quando este celebrava a volta do mais jovem?
A parábola termina com um refrão: “Porque esse teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado”. Essas palavras repetem as proferidas na conclusão da parte que focaliza o filho mais novo. As palavras ligam, inseparavelmente, os irmãos um ao outro e ao pai.
Jesus não disse o que aconteceu depois. Parou ali, propositadamente. Se tivesse mostrado a recusa do filho mais velho de entrar em casa, teria fechado a porta. Deixando inacabada a história, indicava que a porta permanecia aberta. O pai convidou o filho a participar das festas; o filho tinha de se decidir. Cabia a ele a decisão.
Aplicação
A intenção de Jesus era descrever a atitude dos fariseus e mestres da Lei em relação aos coletores de impostos e às prostitutas. Ele havia sido acusado de receber esses pecadores e de comer com eles. Tinham-lhe dado a entender que, associando-se com os proscritos, ele mesmo seria banido. Jesus contou essa parábola na qual o pai manda matar o novilho cevado e diz: “Comamos e regozijemo-nos”. Queria mostrar aos escribas e fariseus por que comia com publicanos e meretrizes.
Na pessoa do filho pródigo, os ouvintes de Jesus viram o retrato dos marginalizados daqueles dias. Os coletores de impostos e os “pecadores” eram judeus quanto à nacionalidade; porém, por causa de sua ocupação, tinham sido banidos da comunidade religiosa. Estavam espiritualmente mortos aos olhos dos judeus que permaneciam na lei. O filho pródigo trabalhara para um empregador gentio, assim como o coletor de impostos. O pródigo, no entanto, caiu em si e voltou para a casa de seu pai. Poderiam os publicanos fazer o mesmo e voltar? A pergunta que Jesus propunha aos ouvintes era: “O que acontece quando um publicano ou um ‘pecador’ se arrepende?”
Jesus retratou o amor do pai pelo filho para deixar bastante claro que o amor de Deus é infinito. Seus ouvintes reconheceram Deus, na pessoa do pai. Sabiam que o pecado é sempre primeiro contra Deus e depois contra o semelhante. Como Deus perdoa um pecador e depois o reintegra como membro da sua família? A atitude do pai, na parábola, representa o perdão amoroso de Deus oferecido ao pecador que se arrepende. Como o pai disse aos servos: “Comamos e regozijemo-nos”, assim Deus se alegra com seus anjos por um pecador que se arrepende. Como nas parábolas da ovelha e da dracma perdidas todos os amigos e vizinhos se reúnem para festejar, também na parábola do filho pródigo, o filho mais velho é convidado a festejar e a alegrar-se.
Os fariseus e doutores da Lei não podiam deixar de entender a pretendida identificação. Jesus tinha apontado seu dedo para eles quando contara a parte sobre o irmão mais velho. Jesus, entretanto, não os acusou, de maneira alguma. Por meio da parábola, mostrou amor e zelo genuínos, não apenas pelo pecador arrependido, mas também pelo filho obediente. Pediu aos líderes religiosos daqueles dias para celebrarem e alegrarem-se quando alguém social e moralmente marginalizado se arrependesse. Pediu-lhes que aceitassem essas pessoas com amor fraternal e que os reintegrassem na comunidade religiosa. Jesus fez a proposta. Os fariseus e os doutores da Lei teriam de tomar a decisão.
A parábola do filho pródigo proclama as boas-novas do evangelho. Todos aqueles que voltaram suas costas para Deus, que consideram a igreja fora de moda e aceitam a permissiva sociedade atual, encontrarão um Pai celestial amoroso, esperando por eles, no momento em que regressarem. Há uma volta ao lar para eles, porque Deus é o lar. Embora o arrependimento seja um mistério, o cristão que tem amado e obedecido a Deus deve regozijar-se e alegrar-se quando um pecador se arrepende. Para ele são dirigidas as palavras: “Meu filho, tu sempre estás comigo; tudo o que é meu é teu”. Essa é a mensagem para o justo que tem enfrentado batalhas pelo e com o Senhor, que tem suportado o calor do dia e tem guardado a fé.
Do ponto de vista da economia, modernos filhos pródigos têm dissipado milhões. Os pródigos de nossos dias esbanjam tempo e talentos como se não tivessem valor. Não é de admirar que os justos digam: “Imaginem se esses recursos fossem usados para difundir o evangelho e construir o reino de Deus!” Ninguém pode discutir isso. Deus não está interessado em tempo, energia e talentos gastos – embora não perdoe o mau uso e o desperdício. Deus está interessado na salvação dos seres humanos. Quando um pródigo moderno cai em si e volta para Deus, há alegria nos céus. Como o céu se alegra, assim a igreja deve celebrar e regozijar-se quando alguém espiritual mente morto revive, e quando o que estava perdido é achado. Proclamar o evangelho da salvação e ver pecadores serem salvos pelo conhecimento de Cristo deve ser uma infindável celebração de vida para todos os que creem.
É essa uma história na qual apenas a graça de Deus é revelada? A parábola é uma história do cristianismo sem Cristo? A resposta a essas perguntas é que a parábola deve ser vista no contexto das Escrituras. A Bíblia, do princípio ao fim, da desobediência de Adão e Eva à descrição das multidões cercando o trono do Cordeiro, é um comentário fluente a respeito dessa parábola. É Jesus que fala sobre o amor do Pai, que abre o caminho para a casa do Pai, e que chama o pecador de volta para casa.