Admoestem uns aos outros

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Domingo Passado

Domingo passado vimos que devemos nos aceitar uns aos outros. Algumas traduções falam em acolher, isto é, receber e abrigar.
O modelo desse acolhimento é a forma como Jesus nos acolheu. Fomos aceitos por ele sem pré-condições morais, filosóficas ou comportamentais.
Hoje falamos que as pessoas devem aceitar Jesus, mas nesse texto ficamos sabendo que foi Jesus que nos aceitou. Isso nos oferece um outro ponto de vista sobre a salvação. É interessante essa inversão.
Entre várias expressões de aceitação, uma é deixar de lado o pré-julgamento. Nas muitas questões de gosto, preferência, costumes, tradição ou opinião, somos convidados e deixar de apontar o dedo uns para os outros.
Se queremos prosseguir em direção a uma igreja que valoriza o relacionamento (com Deus e com os irmãos) como uma estratégia para experimentar e anunciar o evangelho de Jesus, precisamos desenvolver a tolerância em relação a questões menos importantes para que os relacionamentos entre nós tenham tempo para amadurecer;
Outra forma de aceitação mútua é reconhecer e rejeitar, em nossa maneira de agir, a acepção de pessoas, isto é, rejeitar a ideia de podemos escolher quem vamos tratar bem ou mal, com quem vamos ser simpáticos, quem vai ter nossa atenção, quem merece respeito, com quem seremos corteses e educados.
Ao decidimos aceitar uns ao outros da mesma forma como Cristo nos aceitou... estamos reconhecendo que não temos autorização de Deus para normatizar a vida uns dos outros e isso promove a saúde da igreja.
Claro que isso não significa transigir com o pecado ou fazer vistas grossas a valores, crenças e comportamentos que entram em choque com o evangelho. Para essas situações existem outros mandamentos recíprocos, como o que veremos hoje

Introdução

Romans 15:14 ARA
14 E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros.
A palavra Admoestar não faz parte do nosso vocabulário do dia-a-dia, mas você certamente já ouviu algumas vezes em pregações e palestras, ou leu em algum texto. Admoestar é a tradução da palavra grega νουθετεω noutheteo
As diversas traduções da Bíblia usam também outros termos para traduzir a palavra Noutheteo neste verso, tais como... Aconselhar (NVI, NTLH), Corrigir (PAST), Ensinar (VIVA, VFL) e Orientar (KJA, AM). Além disso, essa mesma palavra é traduzida em outras passagens do NT como Instruir e Advertir.
Aconselhar, corrigir, ensinar, orientar, instruir e advertir: tudo isso faz parte da vida da igreja. Isto é, viver igreja é nos envolvermos uns com os outros a ponto de ser possível ensinar, orientar, advertir, aconselhar e corrigir, bem como ser ensinado, orientado, advertido, aconselhado e corrigido.

Extremos

Tom Jones e Steve Brown, no livro “Uns aos outros” nos lembram que uma das características marcantes dos relacionamentos cristão é o senso de responsabilidade mútua. São abundantes as referências à igreja com uma família em que as pessoas participam da vida uns dos outros e cuidam umas das outras em suas necessidades.
Como devemos fazer isso? Que nível de participação (proximidade) devemos ter nas vidas uns dos outros? Sobre que questões podemos oferecer/receber ajuda uns dos outros? As resposta que damos a essas perguntas podem, como tudo na vida, levar-nos a extremos.

Cuide da sua vida

Para aqueles de nós que cresceram com um elevado senso de privacidade, do tipo “cuide da sua vida que eu cuido da minha”, a ideia de que alguém interfira em nosso modo de viver e diga algo sobre isso pode ser bastante desconfortável e até ofensivo. Na verdade nenhum de nós deseja que alguém dê uma de intrometido e comece a dar opinião sobre a maneira como vivemos.
Essa intromissão começou a acontecer em Tessalônica, quando as pessoas se tornaram ociosas, porque pararam as ocupações normais da vida sob o pretexto de que Jesus estava voltando. O apóstolo Paulo rapidamente se pronunciou assim:
2 Thessalonians 3:11–12 VFL
11 Nós mencionamos isto porque ouvimos que há pessoas entre vocês que não querem trabalhar, que não fazem nada, e que só se intrometem na vida dos outros. 12 Nós ordenamos e incentivamos essas pessoas no Senhor Jesus Cristo a trabalharem pacificamente e a comerem sua própria comida.
Não é desse tipo de envolvimento com a vida alheia que estamos falando.
Mas, se alguém se identifica com a ideia “cuide da sua vida que eu cuido da minha” deve abrir espaço para reconsiderar essa sua crença. Porque oferecer e receber orientação, instrução, precaução, advertência e, às vezes, até repreensão é parte de sermos fiéis e responsáveis em nossos relacionamentos.

Não julguem

Outra posição extrema que precisamos considerar é daqueles que se agarram a Mateus 7.1
Matthew 7:1 NVI
1 “Não julguem, para que vocês não sejam julgados.
Com esse texto em mente, um grupo de pessoas rejeita as orientações, conselhos ou alertas carimbando tudo isso como julgamento. Elas se sentem julgadas e condenadas em cada tentativa que alguém faz para ajudá-las.
Às vezes, essa sensação de estar sendo acusado reflete a verdade; outras vezes acontece quando estamos contaminadas com o vírus do perfeccionismo, pensando que seremos mais aceitos e amados, por Deus e pelas pessoas, se ninguém conseguir nos apontar o dedo. Por isso o desespero que toma conta da pessoa quando alguém percebe que algo em sua vida pode ser melhor.
Talvez não fosse preciso dizer, mas esse é um caminho que nos leva ao isolamento e a perder as oportunidades de crescimento que outras pessoas podem nos oferecer, com sua experiência e sabedoria.
O mesmo verso também é usado por outro grupo de pessoas para não se envolver com a vida dos irmãos. Sob o pretexto de não querer julgar, alguns cruzam os braços e deixam o irmão caminhar para um precipício conhecido, numa clara demonstração da ausência de um amor comprometido.
Esse verso não pode ser usado como mandamento de não nos envolvermos na vida das pessoas. Se observarmos o contexto veremos que Jesus está fazendo um alerta em relação à hipocrisia de negar nossos próprios problemas e ao mesmo tempo dar uma santarrão, apontando os erros nas vidas de outras pessoas.
Devemos evitar os extremos. As Escrituras não dão qualquer aval para a intromissão constante na vida dos irmãos, mas também não recomendam uma vida solitária, vazia de vozes que nos questionem e orientem. O equilíbrio pode ser encontrado no cuidado mútuo e amoroso. Isso é indispensável se queremos viver como uma igreja viva e saudável.

Dois Aspectos

A palavra grega νουθετεω noutheteo, usada por Paulo em sua carta aos irmãos da cidade Roma, bem como os contornos da sua fala, nos levam a compreender pelo menos dois aspectos sobre a admoestação: primeiro que é algo abrangente; segundo que não é algo exclusivo para pastores líderes.

Abrangente

As diferentes traduções para noutheteo, aconselhar, corrigir, ensinar, orientar, instruir e advertir são a tentativa de elucidar a abrangência daquilo que se pretendia dizer nos textos bíblicos. Quando somos orientados a nos admoestar uns aos outros estamos sendo chamados para lidar com a complexidade da vida humana.
Essa grande guarda-chuva de ações fala sobre o quanto somos necessitados uns dos outros para avançarmos em direção ao projeto de Deus para nós. Todos precisamos de conselho, correção, ensino, orientação, instrução e advertência nas mais diferentes áreas de nossas vidas.
Essa é a razão pela qual Noutheteo é usada com frequência no Novo Testamento para descrever aspectos importantes dos relacionamentos que devemos desenvolver entre nós. Vejamos alguns textos:
Acts 20:31 NVI
31 Por isso, vigiem! Lembrem-se de que durante três anos jamais cessei de advertir cada um de vocês disso, noite e dia, com lágrimas.
Colossians 1:28 NVI
28 Nós o proclamamos, advertindo e ensinando a cada um com toda a sabedoria, para que apresentemos todo homem perfeito em Cristo.
Romans 15:14 NVI
14 Meus irmãos, eu mesmo estou convencido de que vocês estão cheios de bondade e plenamente instruídos, sendo capazes de aconselhar-se uns aos outros.
1 Thessalonians 5:14 NVI
14 Exortamos vocês, irmãos, a que advirtam os ociosos, confortem os desanimados, auxiliem os fracos, sejam pacientes para com todos.
Em Éfeso, Colossos, Roma ou Tessalônica a ênfase é a mesma: precisamos de conselho, correção, ensino, orientação, instrução e advertência uns dos outros nas mais diversas áreas de nossas vidas

Inclusivo

Além de abrangente, Admoestar é uma orientação Inclusiva. De várias formas, todos fazemos parte do programa de Deus para nos tornar pessoas mais parecidas com Jesus através da admoestação mútua. Essa NÃO é uma tarefa apenas para pastores e líderes, mas para todos.
Cada um de nós pode e será usado por Deus, em alguma ocasião, para aconselhar, corrigir, ensinar, orientar, instruir ou advertir outra pessoa. Da mesma forma, todos nós, em alguma ocasião precisamos ser aconselhados, corrigidos, ensinados, orientados, instruído ou advertidos por nossos irmãos.
São esses os aspectos destacados: admoestar é abrangente e trata da nossa vida de forma integral e também é inclusivo e deve fazer parte da vida de todo e qualquer cristão.

Duas Condições

Também é possível perceber no texto que duas condições são apresentadas pelo Apóstolo Paulo para alguém cumprir bem a função de admoestar o seu irmão:

Possuídos de bondade

A primeira condição é estar possuído de bondade. John Murray diz que a palavra grega agathosunes, “bondade”, se refere à virtude oposta a tudo quanto é vil e maligno; também inclui retidão, gentileza e beneficência de coração e vida.
Isso quer dizer que para ajudar nossos irmãos é preciso que estejamos tomados de sentimentos, pensamentos e intenções de bondade de uns para com os outros. Desejar o bem do outro e agir nesta direção é pré-requisito para ser útil ao orientar, advertir ou corrigir alguém. Da mesma forma para ser orientado, advertido ou corrigido é preciso presumir a boa intenção de que nos fala.
Hernandes Lopes, esclarece que na prática a bondade tem a ver também com a disposição de investir tempo e energia para socorrer as outras pessoas em suas necessidades. Bem como a disposição de tratar bem aqueles que ninguém recomendaria por causa de suas virtudes.
Isso quer dizer que é necessário dispor de tempo para ensinar aconselhar ou advertir alguém. Não é coisa que se faz rapidinho. Também é preciso uma disposição para ser gentil cordial e cheio de graça, sobretudo quando há resistência à Palavra de Deus, levando a atitudes insensatas e irresponsáveis.
Outro aspecto desse “possuídos de bondade” é que para admoestar alguém é preciso que nossa caminhada com Jesus, nosso crescimento em fé e confiança no Senhor sejam uma realidade. Não é preciso ser perfeito, mas é preciso que haja algum amadurecimento em nós naquilo em que pretendemos ajudar nosso irmão.

Cheios de Conhecimento

A segunda condição é que sejamos cheios de todo conhecimento, isto é, é preciso que haja compreensão da fé e da caminhada cristã, sendo necessário também a capacidade de fazer compreensível as bases dessa fé e da caminha com Cristo para outra pessoa. Ao pé da letra, a palavra Noutheteo, traduzida por admoestar, significa “por na mente” do outro.
Assim, faz sentido a afirmação do comentarista “O pastoreio mútuo depende não só de bondade, mas também de conhecimento”. Hernandes Lopes afirma que o conheci­mento deve guiar a bondade: A bondade enche o cora­ção de amor; o conhecimento enche a mente de luz.
Portanto, antes de aconselhar alguém é preciso saber o que as Escrituras ensinam a respeito do assunto e ter alguma experiência prática naquilo que se pretende orientar. E isso não é apenas para problemas grandes e complexos, mesmo os pequenos conselhos que damos no dia-a-dia precisam encontrar suporte tanto na Palavra de Deus quanto em nossa experimentação dela.
A admoestação à qual somos chamados como membros do Corpo de Cristo não é apenas dizer nossa opinião sobre uma certa questão, mas ajudar de forma prática apresentando uma verdade bíblica, claramente discernível, aplicável, experimentada, e que possa servir de guia para seu irmão seguir a Jesus de perto.

Orientações Gerais

Qual o objetivo?

Tom Jones e Steve Brown podem nos ajudar nisso. Ele começam listando o que NÃO é o objetivo de admoestação mútua. Vejamos:
Não é fazer a pessoa que está admoestando parecer boa ou a outra pessoa parecer má;
Não é ganhar uma posição de autoridade ou superioridade;
Não é forçar alguém a fazer algo que essa pessoa não queira fazer;
Não é constranger alguém;
Não é manter as pessoas na linha.
O objetivo é nos ajudarmos mutualmente a crescer e a promovermos em nós as mudanças que nos farão mais parecidas com Jesus Cristo.

Compromisso de Amor

Acts 20:31 NVI
31 Por isso, vigiem! Lembrem-se de que durante três anos jamais cessei de advertir cada um de vocês disso, noite e dia, com lágrimas.
A admoestação deve ser fruto de profundo compromisso de amor: “com lágrimas” – se você não estiver comprometido com seu irmão de maneira que seu coração chore por ele, sua admoestação não vai produzir os resultados esperados.

Persistência

A admoestação dever ser persistente: “noite e dia” – ensinar, corrigir, advertir e instruir não é coisa que deva ser feita apenas nos momentos de crise. Somos chamados por Deus a nos aconselharmos mutuamente de forma contínua e perseverante.

Relacional

1 Thessalonians 2:11–12 NVI
11 Pois vocês sabem que tratamos cada um como um pai trata seus filhos, 12 exortando, consolando e dando testemunho, para que vocês vivam de maneira digna de Deus, que os chamou para o seu Reino e glória.
A admoestação como as Escrituras supõem é muito mais eficaz dentro de contextos relacionais. Conselho, orientação, consolo, quando vem acompanhado pelo testemunho do exemplo de vida, tem maior possibilidade de serem usados pelo Espírito de Deus a fim realizar as mudanças de que precisamos.

Discrição

1 Corinthians 4:14 NVI
14 Não estou tentando envergonhá-los ao escrever estas coisas, mas procuro adverti-los, como a meus filhos amados.
A admoestação dever ser preferencialmente pessoal: “cada um” – A pregação ou a oração pública não devem ser usadas como exortação genérica, se o desejo é orientar ou alertar uma pessoa. É muito melhor chamar o irmão em particular e dizer o que precisa ser dito, e evitar as orações relatórios que muitas vezes expõem a vida dos irmãos sem ajudar em nada.

Boa motivação

Colossians 3:16–17 NVI
16 Habite ricamente em vocês a palavra de Cristo; ensinem e aconselhem-se uns aos outros com toda a sabedoria, e cantem salmos, hinos e cânticos espirituais com gratidão a Deus em seu coração. 17 Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai.
A admoestação dever surgir de razões puras: “não estou tentando envergonhá-los” – Se percebermos qualquer motivação que não seja para o bem da pessoa que estamos aconselhando, devemos imediatamente interromper esse aconselhamento. Se houver sentimentos de vingança, auto-afirmação, orgulho, desejo de humilhar ou qualquer outro sentimento incompatível com a cruz de Cristo, nem comece a ajudar.

Isso funciona?

Depende. Depende da nossa disposição em ouvir, aprender e ajustar nossas vidas. Depende de nos deixarmos curar do perfeccionismo e admitirmos quem somos. Depende de deixarmos libertar do moralismo do dedo em riste. Depende de compreendermos o significado de uns aos outros, que ora estaremos ajudando e ora estaremos sendo ajudados.
Esta semana procure alguém em quem você confia e faça duas perguntas:
Como você percebe a minha atitude como relação a ser ensinado, aconselhado e corrigido?
Há alguma coisa em minha vida sobre a qual você tenha pensado em falar comigo, mas se segurou?

Conclusão

A admoestação dever ser o resultado natural de uma igreja que está crescendo em maturidade – “instruí-vos e aconselhai-vos” -
Cada um de nós pode e será usado por Deus, em alguma ocasião, para aconselhar, corrigir, ensinar, orientar, instruir ou advertir o irmão. Da mesma forma, todos nós, em alguma ocasião precisaremos ser aconselhados, corrigidos, ensinados, orientados, instruídos ou advertidos por nossos irmãos.
Quando nos colocamos à disposição para viver este admoestai-vos uns aos outros, estamos dizendo que nossas vidas estão abertas para os reparos que Deus deseja fazer.
Falamos sempre sobre ser aperfeiçoados, mas às vezes esquecemos que esse aperfeiçoamento não é uma mágica, mas um caminho árduo de se deixar polir através da convivência com nossos irmãos.
Se somos uma igreja que pretende conviver mais de perto... experimentar mais que o culto de domingo... e queremos fazer parte da vida uns dos outros... precisamos aprender a sabedoria das Escrituras para nos orientarmos em nossas lutas contra o pecado, enquanto choramos juntos uns pelos outros; por outro lado precisamos aprender a abrir mão dos melindres e não-me-toques, permitindo que o Espírito de Deus use nossos irmão para nos corrigir e advertir.
Precisamos uns dos outros. Precisamos de relacionamentos em que falemos a verdade uns para os outros, em amor. Precisamos nos deixar mover pelo Espírito de Deus e trocar a apatia pelo amor prático. Precisamos deixar que o perfeito amor de Jesus nos ajude a lançar fora os medos que nos aprisionam e avançar em confiança naquele que se entregou por nós.
Romans 15:14 NVI
14 Meus irmãos, eu mesmo estou convencido de que vocês estão cheios de bondade e plenamente instruídos, sendo capazes de aconselhar-se uns aos outros.
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