Cartas Gerais (seminario Mananciais)
Apocalipse
Em uma obra apocalíptica, ocorre uma inversão: os mistérios celestes tornam-se realidade verdadeira; e os poderes terrenos voltados contra os santos tornam-se a ilusão, porque logo serão destruídos. O Apocalipse, como um exemplo nitidamente cristão deste gênero, desafia os seguidores de Cristo a perseverar à luz da promessa de que Deus logo intervirá e transformará este mundo em favor dos fiéis.
A mentalidade apocalíptica está centrada na soberania de Deus. Ele controla o passado, presente e futuro; ele é “aquele que é, que era e que virá” (Ap 1.4, 8; 4.8; 11.17; 16.5). Esta é a razão pela qual seus seguidores que sofrem podem suportar a oposição e o sofrimento presentes: eles sabem que Deus certamente justificará seu povo. Podem superar a pressão para conformar-se com este mundo e recusarem-se a viver para seus prazeres porque sabem que ele é fugaz e que logo desaparecerá. Não é o atual “César” que importa, mas sim o “Senhor Deus Todo-Poderoso” (o principal título de Deus no Apocalipse) que está no comando. Só ele merece nossa lealdade e nossa adoração. O cristão apocalíptico sabe que os ímpios serão julgados e que os justos serão recompensados.
Finalmente, devemos considerá-lo uma narrativa com uma estrutura de trama (plot) – uma sequência de ações que detalha a história da batalha entre o bem e o mal, conduzida por Deus em nome de seu povo. Nessa história, eles lutam contra a hostilidade deste mundo e recorrem a Deus em adoração para ganhar forças a fim de derrotar os poderes malignos, tanto cósmicos quanto humanos.
Aqueles que o tomam como sendo completamente literal sentem falta da própria natureza do gênero apocalíptico, mas tomá-lo de modo inteiramente simbólico faz com que, igualmente, se erre o alvo. Na literatura apocalíptica judaica, os dois aspectos são mesclados e interdependentes, e cada símbolo deve nos guiar no sentido de mostrar-nos como ele funciona em seu contexto.
Embora a interpretação exata de alguns símbolos possa não ser clara, é importante lembrar que todos eles têm sua origem nos símbolos comuns herdados das obras apocalípticas judaicas escritas entre 200 a.C. a 100 d.C. Grande parte do simbolismo deriva da situação histórica da igreja ligada aos mundos judeu e romano do primeiro século