Cristianismo Nominal
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Cristianismo Nominal
Tanto a condenação da figueira sem frutos quanto a purificação do templo foram atos simbólicos que ilustraram a triste condição espiritual da nação de Israel. A despeito de seus muitos privilégios e oportunidades, Israel estava externamente sem frutos (a árvore) e internamente corrupto (o templo).820 O Evangelho de Marcos registra dezoito milagres. Destes, a maldição da figueira é o último. Alguns pontos devem ser destacados:
Em primeiro lugar, uma propaganda enganosa. A figueira sem frutos é um símbolo da nação de Israel e do culto judaico. Tinham pompa, mas não vida; tinham rituais, mas não comunhão com Deus; tinham inúmeros sacerdotes, mas não homens de Deus. William Barclay diz que o eixo central dessa passagem é a condenação da promessa sem cumprimento e a condenação da profissão de fé sem prática.821 Adolf Pohl compreendeu claramente o sentido do texto, quando afirmou:
Em toda a divisão principal que começa em 11.1 e, especialmente aqui, a partir do versículo 11, o movimento do templo com seus responsáveis está no centro das atenções. Havia por um lado a “folhagem”, ou seja, sua grandiosidade arquitetônica (13.1,2) e por outro lado sua organização econômica (11.15,16). Infelizmente, porém, quem olhava de perto não encontrava “frutos”, antes endurecimento (11.33), planos secretos de assassinato (12.12), fingimento e falsidade (12.13,15), cegueira instruída (12.24,27) e infâmia sob o manto da dignidade (12.38-40). O versículo 15 é ainda mais concreto.822
Essa passagem enseja-nos algumas lições solenes. Charles Spurgeon, em seu célebre sermão sobre a figueira murcha, lança luz sobre esse assunto:
A figueira sem frutos aparenta superar as demais figueiras. A figueira sem frutos destacava-se dentre as demais. Assim são aqueles que parecem verdadeiros cristãos, mas só têm aparência. São loquazes na conversa, profundos na especulação teológica, mas são também estéreis.
A figueira sem frutos parecia desafiar as estações do ano. A figueira produz folhas em março ou abril e, então, começa a produzir frutos em junho, com outra safra em agosto e, possivelmente, a terceira colheita no mês de dezembro. A presença de folhas implicava na presença de frutos.823 A figueira produz os frutos antes das folhas. Folhas pressupõem frutos. Ela fazia propaganda do que não tinha. Assim também algumas pessoas parecem muito adiantadas em comparação com as pessoas ao seu redor, mas é só fachada, só aparência.
A figueira sem frutos atraiu a atenção de Jesus. Ele viu de longe essa árvore. As demais ainda não tinham folhas. Essa árvore era a única que estava em posição de destaque. Essa figueira representa aqueles que sem nenhuma modéstia tocam trombetas e anunciam frutos que não possuem.
Em segundo lugar, uma investigação meticulosa. O Rei Jesus vai investigar a figueira, assim como investigou a nação de Israel, o templo, os rituais, os corações. Ele ainda sonda os corações. Algumas lições devem ser destacadas:
Jesus tem o direito de procurar frutos em nossa vida. Ele perscruta profundamente a nossa vida para ver se tem fruto, alguma fé genuína, algum amor verdadeiro, algum fervor na oração. Se ele não encontrar frutos não ficará satisfeito. Ele tinha o direito de encontrar fruto porque o fruto aparece primeiro, depois as folhas. Aquela árvore estava fazendo propaganda de algo que não possuía. Jesus tem encontrado fruto na sua vida? O Pai é glorificado quando produzimos muito fruto (Jo 15.8).
Jesus não se contenta com folhas, Ele quer frutos. Jesus teve fome. Ele procurava frutos e não folhas. Ele não se satisfaz com folhas. Ele não se satisfaz com aparência. Ele quer vida.
Jesus não se deixa enganar. Quando Ele se aproxima de uma alma, Ele o faz com discernimento profundo. Dele não se zomba. A Ele não podemos enganar.
Já pensei ser figo aquilo que não passava de folha. Mas Jesus não comete esse engano. Ele não julga segundo a aparência. Se eu professo a fé sem a possuir não é isso uma mentira? Se eu professo arrependimento sem tê-lo não é isso uma mentira?
Charles Spurgeon diz que a profissão de fé sem a graça divina é a pompa funerária de uma alma morta.
Em terceiro lugar, uma condenação dolorosa. Se Jesus tinha poder para matar a árvore, por que não usou seu poder para restaurar a árvore? Porque tinha lições importantes a transmitir. Jesus usou esse fato para ensinar sobre o fracasso da nação de Israel. A nação de Israel poderia ter muitas folhas que o povo admirava, mas nenhum fruto que o povo pudesse comer.
Jesus decretou uma dupla condenação à figueira sem fruto.
Ela secou desde a raiz. João Batista já havia alertado para o machado que estava posto na raiz das árvores (Mt 3.10). A falência dessa árvore foi total, completa e irremediável.
Ela nunca mais produziu fruto. Jesus sentenciou a figueira a ficar como estava. Esse é o maior juízo de Deus ao homem, ficar como está. Jesus condenou a árvore infrutífera. Spurgeon diz que Jesus não apenas a amaldiçoou, ela já era uma maldição. Ela não servia para o revigoramento de ninguém. A sentença foi: fica como está; estéril, sem fruto. Continue sem graça. Jesus dirá no dia final: “Apartai-vos” para aqueles que viveram a vida toda apartada. A Escritura diz: “Continue o imundo sendo imundo”.
Em quarto lugar, uma lição primorosa. Depois de condenar a religião formal, mas sem vida, Jesus mostra aos seus discípulos como ter um relacionamento certo com Deus. Ele fala sobre duas condições fundamentais para termos comunhão e vitória com Deus por meio da oração.
A fé em Deus. Ninguém pode aproximar-se de Deus sem crer que Ele existe. Na imaginação de um judeu, uma montanha significa alguma coisa forte e inamovível, um problema que se colocará em nosso caminho (Zc 4.7). Nós podemos mover essa montanha apenas pela nossa fé em Deus. A fé, contudo, não deve ser entendida à parte de outras verdades. Muitas pessoas apanham os versículos 23 e 24 para defenderem que não devemos orar segundo a vontade de Deus; antes, se temos fé, Deus é obrigado a atender nossos pedidos. Essa visão está em desacordo com o ensino geral das Escrituras. Isso não é fé em Deus, mas fé na fé ou fé nos sentimentos. Fé não é presunção. Não podemos confundir fé com tentar a Deus. O diabo queria que Jesus se jogasse do pináculo do templo, para que o Pai o segurasse no ar. Mas isso é tentar a Deus e não exercer fé.
O perdão aos irmãos. A verdadeira oração envolve perdão tanto quanto a fé. Eu preciso estar em comunhão tanto com Deus no céu quanto com meu irmão na terra se quiser prevalecer na oração.824 Onde não tem relacionamento horizontal, não existe relação vertical. Não podemos ser reconciliados com Deus e viver em guerra com os irmãos. Não podemos amar a Deus e odiar os irmãos. Não há vitória na oração, sem o exercício do perdão.
Falar de religião de maneira casual, orar sem ter a alma faminta e viva fé, nada aproveita. A fé nominal em Cristo, que O aceita apenas como o Salvador do mundo, não pode nunca trazer cura à alma. A fé que opera salvação, não é mero assentimento espiritual à verdade. Aquele que espera inteiro conhecimento antes de exercer fé, não pode receber bênção de Deus. Não basta crer no que se diz acerca de Cristo; devemos crer nEle. A única fé que nos beneficiará, é a que O abraça como Salvador pessoal; que se apropria de Seus méritos. DTN 347
“Vi que Deus tem filhos honestos entre os adventistas nominais e as igrejas caídas, e antes que as pragas sejam derramadas, ministros e povo serão chamados a sair dessas igrejas e alegremente receberão a verdade. Satanás sabe disto, e antes que, o alto clamor da terceira mensagem angélica seja ouvido, ele suscitará um despertamento nessas corporações religiosas, a fim de que os que rejeitaram a verdade pensem que Deus está com eles”. Primeiros Escritos, pág. 261.
820 Wiersbe, Warren W., Be Diligent, 1987: p. 109,110.
821 Barclay, William, Marcos, 1974: p. 281,282.
822 Pohl, Adolf, Evangelho de Marcos, 1998: p. 327.
823 Wiersbe, Warren W., Be Diligent, 1987: p. 110.
824 Wiersbe, Warren W., Be Diligent, 1987: p. 111.