Sem título Homilia (3)
25Por isso, vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes?
26Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves?
27Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida?
28E por que andais ansiosos quanto ao vestuário? Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham, nem fiam.
29Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles.
30Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós outros, homens de pequena fé?
31Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos?
32Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas;
33buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.
34Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal.
Nessa passagem Jesus golpeia a tendência de centralizarmos a vida ao redor da comida e do vestuário, perdendo assim o seu verdadeiro significado. O problema não é tanto o que comemos e vestimos hoje, mas o que comeremos e vestiremos daqui a dez, vinte ou trinta anos. Tal preocupação sobre o futuro é pecado, pois nega o amor, a sabedoria e o poder de Deus. A preocupação nega o amor de Deus implicando que ele não se preocupa conosco. Nega sua sabedoria implicando que ele não sabe o que está fazendo. E nega seu poder implicando que ele não é capaz de suprir nossas necessidades.
Esse tipo de preocupação faz com que dediquemos todas as nossas melhores energias a fim de termos a certeza de que teremos o suficiente para nos mantermos vivos. Então, antes de percebermos, nossa vida passou e perdemos o propósito central para o qual fomos criados. Deus nos criou à sua imagem com um objetivo muito mais elevado que o mero consumismo. Estamos aqui para amá-lo, adorá-lo e servi-lo, e representar seus interesses na terra. Nosso corpo foi planejado para ser nosso servo e não nosso mestre.
6:26 As aves do céu ilustram o cuidado de Deus em prol das suas criaturas. Elas nos ensinam quanto é desnecessário nos preocuparmos. Elas não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Portanto, se na hierarquia da criação divina valemos muito mais do que as aves, então é certo que deveríamos esperar que Deus tome conta das nossas necessidades.
Mas não deveríamos deduzir disso que não precisamos trabalhar para nossa provisão. Paulo nos lembra disso: “se alguém não quer trabalhar, também não coma” (2Ts 3:10). Tampouco deveríamos concluir que seria errado um fazendeiro semear e colher a safra. Essas atividades fazem parte da sua provisão. O que Jesus está proibindo aqui é a multiplicação de celeiros na tentativa de providenciar segurança futura independente de Deus (prática que ele condena na parábola do fazendeiro rico em Lucas 12:16–21). A obra Daily Notes of the Scripture Union [Notas diárias da união bíblica] resume da seguinte forma o versículo 26: “O argumento é que se Deus sustenta criaturas de menor valor sem que haja participação consciente delas quanto mais sustentará, com a participação ativa deles, aqueles para quem a criação ocorreu”.
6:27 Ficarmos ansiosos quanto ao futuro não é apenas uma desonra para Deus, mas é também inútil. O Senhor demonstra isso com uma pergunta: Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida? Uma pessoa de estatura pequena não pode se preocupar a ponto de crescer 45 centímetros. Ainda, relativamente falando, seria muito mais fácil executar esse feito que se preocupar com a existência de todas as providências das suas necessidades futuras.
6:28–30 Em seguida, o Senhor lida com a irracionalidade de nos preocuparmos se teremos ou não vestuário suficiente para o futuro. Os lírios do campo (provavelmente anêmonas selvagens) não trabalham nem fiam, contudo sua beleza ultrapassa a dos vestuários reais de Salomão. Se Deus pode providenciar tal vestuário elegante para as ervas do campo, que têm breve existência e então são usadas como combustível no forno, certamente ele cuidará do seu povo que o adora e o serve.
6:31–32 A conclusão é que não deveríamos gastar nossa vida numa ansiosa perseguição de comida, bebida e vestuário para o futuro. Os gentios descrentes vivem desesperadamente em busca de uma acumulação de bens materiais, como se a comida e o vestuário fossem tudo na vida. Mas não deveria ser assim com os cristãos que têm um Pai celestial que sabe das necessidades básicas de todos.
Se os cristãos tivessem de fixar diante deles a meta de providenciar antecipadamente todas as suas necessidades futuras, então seu tempo e suas energias teriam de ser dedicadas à acumulação de reservas financeiras. Eles nunca poderiam estar certos de que têm guardado o suficiente, pois sempre existe o perigo de um colapso de mercado, uma inflação, uma catástrofe, uma enfermidade prolongada, um acidente provocando paralisia. Isso indica que Deus seria roubado do serviço do seu povo. O verdadeiro propósito pelo qual eles foram criados e convertidos seria perdido. Os homens e as mulheres que levam a imagem divina estariam vivendo para um futuro incerto nesta terra quando deveriam estar vivendo com os valores da eternidade em mente.
6:33 O Senhor, portanto, faz um pacto com seus seguidores. Em resumo, ele diz: “Se você colocar os interesses de Deus em primeiro lugar na sua vida, eu garantirei suas necessidades futuras. Se você buscar, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, então eu cuidarei para que nunca lhe falte as necessidades da vida”.
6:34 Esse é o programa de “providência social de Deus”. A responsabilidade do crente é viver para o Senhor, confiando em Deus para o futuro com uma confiança inabalável de que ele tudo providenciará. Nosso trabalho é simplesmente suprir nossas necessidades atuais; qualquer coisa acima disso deve ser investida no trabalho do Senhor. Somos chamados para viver um dia de cada vez: o amanhã trará os seus cuidados