Êxodo 20.4-6

Série expositiva no Livro do Êxodo  •  Sermon  •  Submitted   •  Presented
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O autor bíblico elucida o segundo mandamento como a estipulação divina ao seu culto, e a proibição de que seu povo elabora para si imagens, tendo em vista evitar que incorram numa adoração ilegítima e inadequada, e portanto, idolatra, em relação ao único e verdadeiro Deus.

Notes
Transcript
"São estes os nomes..." (Êx 1.1).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
Seguindo o fluxo lógico imbuído no código legal que representa a relação pactual entre Deus e seu povo, numa que o SENHOR estabeleceu, no primeiro mandamento, a reclamação de ser o único Deus a ser adorado por ser o único Deus existente, a ordenança seguinte amplia essa a percepção do compromisso do povo, agora a partir de uma esfera ou natureza cúltica.
Tendo o espaço do coração de seu povo já sido devidamente reservado somente para si, entendendo eles que, a partir disso, todos os outros relacionamentos poderiam ser corretamente administrados, sem que houvesse invasão ou furto do amor supremo devido somente ao próprio Deus, o SENHOR agora exorta seu povo à forma através da qual esse amor e reverência exclusivos deverão confluir na adoração por ele requerida. O caso não é mais a quem (ênfase do primeiro mandamento) servir/adorar/amar/obedecer, e sim, como.
Pressuposto o reconhecimento do SENHOR como único Deus, como nação santa e reino de sacerdotes, cada um dos filhos do SENHOR deve apreciar o modo estabelecido pelo próprio YHWH para que seja adorado por seu povo. Tal preceito da Lei, será inclusive ampliado no momento em que Moisés destrinchar quais foram as ordens que recebeu de Deus em relação a confecção do tabernáculo: o local que representaria a presença de Deus no meio de seu povo, sendo naquela ocasião enfatizado o cuidado para que Moisés "tudo f[izesse] segundo o modelo que [...] foi mostrado no monte" (cf. 25.40).
Como Jochem Douma ratifica: "[Ainda que] alguém volt[e] as suas costas aos ídolos, ainda assim deve aprender a curvar-se adequadamente diante do Deus de Israel" (DOUMA, 2019, p.53. Acréscimo nosso). O segundo mandamento circunscreve os limites do culto verdadeiro, estabelecendo os princípios e proibições que devem estar presentes na adoração ao verdadeiro Deus. Da ausência de elementos gráficos, até os constituintes do culto legítimo (conforme entendimento dos documentos confessionais (e.g. CMW, Heildelberg, etc.)), o mandamento disposto ao povo de Deus evoca o zelo divino por ser adorado como ele próprio requer, à parte da imaginação humana, recebendo a promessa de que os que isso violarem, despertarão sua fúria, ao passo que os que procederem condizentemente, serão agraciados com sua misericórdia.
Em face dessas observações o texto de Êxodo 20.4-6 sintetiza a comunicação dos termos da aliança divina: Os Dez Mandamentos - o segundo mandamento: A adoração legítima.
Elucidação
Como apresentado por ocasião da análise do primeiro mandamento, cada uma das dez ordenanças emitidas pelo SENHOR, resguarda um aspecto positivo (exigência) e negativo (proibição) em relação ao princípio central. Essa consideração dupla, apesar de não está explícita na forma da ordem, pode ser inferida do quadro contextual em que o código é estabelecido. A exigência divina conclama o povo a agir de conformidade à Lei. Porém, sendo de conhecimento do Todo-poderoso que a natureza pecaminosa inclinará seu povo ao descumprimento, os aspectos proibitivos do mandamento também fazem-se lógicos, com o objetivo de que os filhos de Deus saibam quais são as disposições do coração e atitudes contrárias ao édito do SENHOR.
Em face disso, a estrutura expositiva do ensinamento dos mandamentos, seguirá obedecendo esse aspecto dual das Dez Palavras, conforme passaremos a considerar.
1. Aspecto positivo (exigência) do segundo mandamento.
O progresso conceitual do mandamento divino avança a cada nova ordem emitida, o que faz com que cada uma esteja diretamente ligada a anterior; uma lançando luz sobre a outra, de modo que, para que cada mandado seja devidamente compreendido, os dez devem ser apreendidos e radicados no coração do povo de Deus.
Assim, como introduzido, uma vez que o SENHOR estabeleceu, à luz do primeiro mandamento, a percepção de que ele é o único Deus existente, sendo por tanto o único a atrair e centralizar em si todo o amor e obediência do povo como a nenhuma outra coisa ou ser no mundo, agora, ele passa a descrever o caráter da manifestação da vivência desse princípio por parte do povo.
A esfera cúltica ou de adoração é o escopo que delineia toda a prescrição do SENHOR no segundo mandamento, e isso fica claro à luz da própria construção gramatical registrada por Moisés na passagem.
Além da própria ordem a que não fossem feitas imagens de esculturas (v. 4) para serem adoradas pelos filhos de Israel — demonstrativo mais do que suficiente para remeter o entendimento do povo ao aspecto litúrgico do mandamento —, o autor clarifica tal princípio a partir da redação do imperativo auxiliar “Não as adorarás, nem lhe darás culto”.
O uso do verbo “adorar” (“תִשְׁתַּחְוֶ֥֣ה” = “curvar-se”, “inclinar-se”) na forma como foi usada (i.e. hitpa’el + jussivo), indica uma ação reflexiva, na qual o sujeito deseja realizar determinada ação em relação a si mesmo. Isso sugeriria, como uma possível tradução da ordem secundária anexa ao mandamento, a sentença: “Não desejarás te inclinar”, expondo a dimensão não somente externa de culto à outras imagens ou deuses — principalmente se estas fossem reproduções gráficas do próprio YHWH, algo que afrontaria seu caráter, atributos e revelação —, mas principalmente, uma inclinação do coração nesse sentido.
O segundo mandamento não apenas delimita as ações cúlticas ao SENHOR no âmbito externo, como por exemplo, ritos ou práticas, mas legisla a inclinação do coração em voltar-se em adoração e veneração ao único e verdadeiro Deus, a partir daquilo que ele mesmo determina como sendo uma expressão disso.
O Catecismo Maior de Westminster, em sua resposta à pergunta 108, capta essa dimensão ao articular a definição do que exige o segundo mandamento, nos seguintes termos:

Pergunta 108. Quais são os deveres exigidos no segundo mandamento?

Resposta: Os deveres exigidos no segundo mandamento são: receber, observar e guardar, puros e inalterados, todo o culto e todas as ordenanças religiosas que Deus instituiu na sua Palavra, especialmente a oração e as ações de graças em nome de Cristo; a leitura, a prédica e o ouvir da Palavra; a administração e a recepção dos sacramentos; o governo e a disciplina da Igreja; o ministério e a sua manutenção; o jejum religioso; jurar em nome de Deus e fazer os votos a ele; bem como desaprovar, detestar e opor-se a todo culto falso, e, segundo a posição e vocação de um, a remoção de tal culto e de todos os símbolos de idolatria.

Segundo aludido, dois pontos ficam evidentes à luz dessa declaração confessional.
A) O mandamento concentra-se, primeiramente, em conduzir o coração à adoração ao SENHOR.
Os imperativos principais elencados na resposta do BCW, isto é, que a igreja de Deus receba, observe, e guarde o culto legítimo, e também desaprove, deteste e oponha-se a todo culto falso, ratificam a esfera subjetiva do ser humano que deve estar envolvida na guarda do mandamento. Todo o culto a Deus (quer falso (i.e. adulterado) ou verdadeiro) também tem a raiz da sua motivação no coração do ser humano, e como declarado no primeiro mandamento, o coração é um território a ser governado por Deus. Logo, antes de tudo, é a partir de suas afeições que alguém pode coadunar-se às prescrições externas do culto divino, ou rebelar-se contra elas, elucubrando adulterações à adoração ordenada ou dando à luz ídolos através dos quais “materialize” sua revolta contra o Soberano.
B) O mandamento delimita e restringe a forma do genuíno culto à Deus, apenas àquilo que por ele mesmo foi instituído e determinado, não havendo espaço para que seja venerado a partir do que sugere a imaginação do homem.
Nada obstante, em amplo espectro, o mandamento traça um princípio claro: todo o culto a Deus deve ser prestado de acordo com aquilo que ele mesmo estabeleceu. A observância desse mandamento se tornará ainda mais evidente, a partir dos capítulos posteriores, quando o SENHOR entregar a Moisés a forma de culto propriamente dita, inaugurando o sacerdócio araônico e instituindo o tabernáculo, este último como referência direta de sua presença no meio de seu povo (e não como uma representação pessoal/visível de Deus).
Embora, no que concerne à administração das dispensações (i.e. Antigo e Novo Testamento), possam haver aspectos de descontinuidade em relação ao modo de culto e elementos visíveis; por exemplo, a riqueza física do tabernáculo/templo do antigo Israel, substituída pela glória espiritual como ambiente de culto da igreja, os princípios que permeiam o arquétipo da adoração são exatamente os mesmos, sendo inclusive citados na própria resposta do CMW:
“[…] A oração e as ações de graças em nome de Cristo; a leitura, a prédica e o ouvir da Palavra; a administração e a recepção dos sacramentos; o governo e a disciplina da Igreja; o ministério e a sua manutenção; o jejum religioso; jurar em nome de Deus e fazer os votos a ele”.
Todos esses elementos de culto foram determinados pelo SENHOR atemporalmente, como sendo o meio através do qual seu povo o adorará nas reuniões solenes a serem realizadas. As circunstâncias peculiares em que esses elementos serão executados, ou mesmo idiossincrasias envolvendo alguns deles (e.g. horário de culto, quantas reuniões, duração da pregação etc.) podem ser pensadas de modo a melhor atender a igreja, de acordo com a necessidade e oportunidade. Porém, não está facultado à igreja imaginar outra forma de venerar e cultuar a Deus para além desta, correndo sob o risco de, se assim for feito, incorrer numa violação do segundo mandamento.
2. Aspecto negativo (proibição) do segundo mandamento e razões anexas.
A) Proibição
Partindo do espectro negativo, isto é, daquilo que é proibido no segundo mandamento, a compreensão já germinada com base na explanação da exigência, pavimenta o caminho para a apreensão da ideia no imperativo, restringindo a inclinação corrupta da natureza pecaminosa do povo de Deus.
A partir da forma na qual a ordenança foi construída (i.e. “Não farás para ti imagem de escultura”…), e antevendo principalmente o contato de Israel com outros povos residentes na terra de Canaã, o SENHOR alerta seu povo para uma prática corrente naquelas nações, mas que era abominável a seus olhos. O costume pagão de confeccionar imagens do que pensavam serem seus deuses, confinava o conceito das divindades veneradas àquilo que era visível através do arquétipo. Assim, ao ordenar que não fossem feitas imagens, duas possíveis considerações podem estar inclusas na ordem: 1) Que Israel não adorasse outros deuses, sendo esta pouco provável, por isso constituir-se numa repetição do princípio já exposto no primeiro mandamento; ou 2) (e mais tangível) Que o povo não criasse imagens do que, em suas mentes (à parte da auto-revelação divina), seria YHWH, pois isso feriria seu próprio caráter e pessoa, mediante uma imprecisão e limitação.
No momento em que o SENHOR, formalmente, convocou Israel a estar em sua presença, sendo esta a primeira cerimônia de culto (entendendo este como sendo o momento de comunhão entre o SENHOR e seu povo), NENHUMA imagem foi avistada pelos filhos de Israel. O contexto do capítulo 19 de Êxodo, que introduz o presente episódio ratifica isto, conforme o próprio Moisés comenta mais adiante no Pentateuco:
Deuteronômio 4.10–12 ARA
Não te esqueças do dia em que estiveste perante o Senhor, teu Deus, em Horebe, quando o Senhor me disse: Reúne este povo, e os farei ouvir as minhas palavras, a fim de que aprenda a temer-me todos os dias que na terra viver e as ensinará a seus filhos. Então, chegastes e vos pusestes ao pé do monte; e o monte ardia em fogo até ao meio dos céus, e havia trevas, e nuvens, e escuridão. Então, o Senhor vos falou do meio do fogo; a voz das palavras ouvistes; porém, além da voz, não vistes aparência nenhuma.
Em síntese, o modo com o SENHOR revelou-se (em glória, mas sem exibir qualquer forma), estabelece o molde do que seria exercido pelos filhos de Israel no momento do culto. A invisibilidade de Deus permeia todo os ritos de adoração do povo, pois, ainda que tenham sido concedidos elementos visíveis para o processo de culto, como o Tabernáculo e seus utensílios (ou o batismo e Ceia, no Novo Testamento), nenhum desses elementos configura uma representação pessoal de YHWH (com exceção da Ceia que aponta para o copo e sangue de Cristo; a expressão exata do ser de Deus (Cl 1.15; Hb 1.3)), mas, como já dito, são indicativos ou da presença do SENHOR no meio do povo, ou da própria história redentiva, tendo em vista que, no Tabernáculo, por exemplo, eram realizados os sacrifícios que apontavam para a majestade da ação sacrificial-expiatória que seria realizada pelo Messias (i.e. Cristo Jesus), quando de sua vinda.
Fazer uma imagem de Deus seria ir contra sua ação reveladora/legisladora. A imagem limitaria a compreensão do povo, pois aquilo que Deus é, transcende em muito qualquer representação que a imaginação humana possa elucubrar e, portanto, consistiria num ataque frontal à sua determinação quanto ao modo através do qual devia ser adorado. A ausência de uma forma visível, aponta para o povo a essência da natureza divina, tal como, por exemplo é exposto por Cristo Jesus: “Deus é espírito (e.g. invisível) ; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade” (João 4.23) [cf. CMW, p. 7].
A confecção de uma imagem de Deus, fere o princípio básico de seu culto (qual seja, seu ser e atributos), criando uma caricatura do SENHOR, e interpõe-se como ente mediador entre Deus e seu povo; lugar somente ocupado por aquele que apropriadamente foi designado como tal: Jesus Cristo. À luz do entendimento elucidado pelo segundo mandamento, a forma do culto está diretamente ligada ao ser de Deus, sendo esta a razão para a adoração ser regulada por ele mesmo, como adiantado no ponto anterior.
Todavia, também como antes exposto, a dimensão da ordem proibitiva contida no segundo mandamento, aprofunda nossa compreensão do que vem a ser restringido no que tange a confecção de imagens com fins cúlticos. O CMW capta essa dimensão ao propor em sua pergunta 109, a seguinte conclusão:
Símbolos de Fé: Confissão de Fé, Catecismo Maior e Breve Catecismo (Pergunta 109)
Pergunta 109. Quais são os pecados proibidos no segundo mandamento?
Resposta: Os pecados proibidos no segundo mandamento são: estabelecer, aconselhar, mandar, usar e aprovar, de qualquer maneira, qualquer culto religioso não instituído por Deus; fazer qualquer imagem de Deus, de todas ou de qualquer das três Pessoas, quer interiormente no espírito, quer exteriormente, em qualquer forma de imagem ou semelhança de alguma criatura; toda adoração dela, ou de Deus nela ou por meio dela; fazer qualquer imagem de deuses imaginários e todo culto ou serviço a eles pertencentes; todas as invenções supersticiosas que corrompem o culto de Deus, acrescentando ou tirando dele, quer sejam inventadas e adotadas por nós, quer recebidas por tradição de outros, embora sob o título de antiguidade, de costume, de devoção, de boa intenção, ou por qualquer outro pretexto; a simonia, o sacrilégio, toda negligência, desprezo, impedimento e oposição ao culto e ordenanças que Deus instituiu.
De acordo com a resposta do CMW, não são apenas os artefatos materiais criados pelos povos pagãos no passado ou no presente, que representariam seus ídolos, ou mesmo o próprio YHWH, que são proibidos. É possível quebrar o segundo mandamento sem que haja a materialidade de uma estátua ou objeto como centro de um culto ou inclinação religiosa. Se o coração humano formula conceitos errôneos sobre Deus (i.e. seu ser, atributos e obras), uma adulteração é gerada, incorrendo assim numa falsificação e portanto, numa percepção que não corresponde à realidade do que o SENHOR é.
O povo de Deus é chamado a adorar ao SENHOR mediante aquilo que dele receberam como orientação para o culto. Todos os aspectos ritualísticos conferidos por YHWH, atendem satisfatoriamente ao requisito do mantenimento de comunhão entre Deus e seu povo, sem que absolutamente nenhuma parte do culto deixe de proporcionar a relação edificadora para a qual o culto foi projetado a proporcionar. Todavia, adições ou subtrações aos princípios, testemunhos ou mandamentos concedidos pelo SENHOR em sua auto-revelação (que estava sendo registrada, e seria posteriormente completada no Escrito Sagrado de todo o Antigo e Novo Testamentos), poderiam desconfigurar a percepção autorizada concedida, fazendo com que o povo adorasse outro Deus que não o SENHOR, incorrendo na quebra não apenas do próprio segundo mandamento, mas também do primeiro.
Ao povo de Deus, não basta que esteja vigilante apenas com relação ao universo externo ou material, onde os homens constróem deuses de madeira ou pedra, é preciso que também vigie seu coração, a fim de que se veja adorando realmente ao SENHOR que se apresentou poderosa e redentoramente, tal como consta nos termos do pacto que estabeleceu (o que no presente abarca toda a Escritura), evitando que se incline às imagens toscas que pode gerar em sua mente, a partir de percepções particulares do que gostariam que fosse Deus, ou do que recebem de outros, mediante ensinos falsos e heréticos.
B) Razões anexas
De modo peculiar, o segundo mandamento incorpora a si o que os documentos confessionais de Westminster, por exemplo, chamam de “razões anexas”, que funcionam como reforço aos imperativos e condenações estabelecidas. No caso do segundo mandamento, as razões anexas à ordenança consistem num juramento firmado pelo próprio Deus, o qual assegura perseguir com juízo e ira aqueles que quebrarem sua Lei, e com misericórdia, os que a cumprirem; ambas a atitudes aplicadas não apenas aos transgressores, mas à todas as gerações que replicarem tal pecado ou virtude, como é descrito nos versículos 5b e 6:
Êxodo 20.5–6 (ARA)
(…) Porque eu sou o Senhor, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.
O zelo (hb “קַנָּ֔א” = ciúmes) referido pelo SENHOR, indica sua reclamação à exclusividade na adoração a ser prestada por Israel, o que novamente ecoa o princípio do primeiro mandamento e o expande, pois agora, não se aplica somente à sua singularidade como Deus, mas também à forma como é adorado.
Em síntese, Deus não está somente preocupado em ser o centro da adoração do seu povo, mas também em que essa adoração reflita adequadamente seu ser e atributos, obedecendo as prescrições que asseguram essa fidelidade cúltica do seu povo. E para que tal princípio ficasse evidente, como já dito, a promessa é de que não somente os transgressores ou cumpridores seriam alvos diretos de sua ação, mas todos os que as replicassem, o que introduz ao universo da ordenança, o caráter genealógico do pacto.
A aliança firmada por Deus não estava sendo firmada apenas com os que detinham ampla consciência ou discernimento de sua seriedade e da grandeza da obra salvadora realizada, mas incluía também os filhos dos crentes, que, tendo nascido nas famílias da mesma aliança, desfrutavam dos mesmos benefícios (como por exemplo, o terem sido também libertados da escravidão (cf. v. 2), ou terem nascido livres de tal), e também as mesmas responsabilidades, como a de responder em amor e obediência àquilo que foi determinado pelo SENHOR.
Novamente, o CMW ratifica essa concepção:

Pergunta 110. Quais são as razões anexas ao segundo mandamento para lhe dar maior força?

Resposta: As razões anexas ao segundo mandamento, para lhe dar maior força, contidas nestas palavras: “Porque eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos”, são, além da soberania de Deus sobre nós e o seu direito de propriedade sobre nós, o seu zelo fervoroso pelo seu culto e indignação vingadora contra todo culto falso, considerando-o uma apostasia religiosa, tendo por inimigos os violadores desse mandamento e ameaçando puni-los até diversas gerações, e tendo por amigos os que guardam os seus mandamentos, prometendo-lhes a misericórdia até mil gerações.

Estando agora ligados a Deus formalmente pelo pacto redentivo, os filhos de Israel deveriam não somente encaminharem seus corações ao culto verdadeiro, ao verdadeiro Deus, como também direcionar pelo ensino e educação, o coração de seus filhos ao mesmo alvo, de modo que, mediante esse aspecto de sua ordem, o SENHOR traz a si todo o povo que redimira, concedendo-lhes a graça de o conhecer e adorar genuína e adequadamente.
Transição
Sendo o centro da existência de tudo criado, incluindo seu povo, o SENHOR, por ocasião do primeiro mandamento, publica para seus filhos sua singularidade como Deus, de maneira a ser o único a ser adorado e servido de todo o coração, alma e entendimento (Dt 6.5). Entretanto, para além de uma mera disposição etérea ou mesmo restrita ao campo metafísico ou contemplativo, o SENHOR, que é tão imanente quanto transcendente, confere à sua igreja uma forma objetiva e direta através da qual o serve em veneração e temor.
O culto ao Deus Triuno não é criado por seu povo, e sim, apenas recebido e seguido. A imaginação do homem não pode reproduzir uma forma de adoração que seja adequada à majestade do Altíssimo, dada a enorme distância ontológica entre o homem e Deus.
Assim, nosso Deus nos outorgou uma forma confiável de culto. Podemos ter certeza de que ele tem recebido nossa adoração, não por causa de nossas boas intenções, pois elas não significam nada quando o assunto é reproduzir fielmente uma disposição piedosa de adoração a Deus, tendo em vista que nosso coração é enganoso (Jr 17.9), mas devido a obra mediadora de Cristo, que, como nosso representante diante de Deus, e de Deus para conosco, une as duas partes relacionais do pacto redentivo, conferindo que o sirvamos, pelo seu Espírito, através do culto por ele mesmo prescrito.
Além disso, o mesmo mandamento circunscreve os limites da adoração ao SENHOR, transmitindo o caráter espiritual, e portanto invisível, de seu ser, expandindo a compreensão de seu povo quanto ao fato de que ele não é como os ídolos inertes e limitados que são imaginados pelos que, entregues à natureza corrupta de seus corações, fomentam em suas mentes imagens toscas do que consideram deuses, ou mesmo, por meio de erros e distorções delirantes de suas próprias mentes, concebem que é o verdadeiro Deus.
Segundo citado, Deus é espírito (Jo 4.24), e seus adoradores se aproximarão dele, a partir daquela expressão exata de seu ser, que em nada acrescenta ou subtrai de sua identidade eterna e espiritual: Cristo Jesus. No Deus-Homem, vemos a face do Deus Triuno, e portanto, o adoramos verdadeiramente. Ainda que, por hora, nossos olhos físicos não o vejam, mediante o poder do Espírito Santo, somos habilitados a obedecer seus mandamentos, incluindo a forma do culto que ele prescreveu, sendo assim unidos espiritualmente ao SENHOR pela verdade.
Diante disso, o segundo mandamento reserva as seguintes considerações e aplicações a serem apreendidas pela igreja de Deus:
Aplicações
1. O segundo mandamento orienta a igreja a amar e observar o culto ao Deus Triuno, enfatizando, antes da norma externa, a disposição do coração em atender ao compromisso de serviço e adoração que deve ser prestado ao SENHOR.
Como já abundantemente analisado, o segundo mandamento não jurisdiciona apenas os aspectos práticos ou ritualísticos da adoração, isto é, os elementos do culto em si. Mas também reclama para si a consciência de que o envolvimento de cada filho de Deus no momento de adoração deve ser integral, incluindo todas as disposições positivas e piedosas do coração.
Habilitado, agora, pelo Espírito Santo, tendo este aplicado sobre a vida do crente a obra de Cristo, chamando-o das trevas para à luz do SENHOR, a nova natureza da qual dispõe, pode reproduzir afeições santas e desejos legítimos, que devem estar centralizados no SENHOR; ou, noutras palavras, agora, cada eleito de Deus está apto a amar o Deus Triuno. Esse amor, como elemento relacional essencial, deve ser a base sobre a qual sua obediência ao culto divino será manifesta. Se amamos ao SENHOR, devemos amá-lo a partir da obediência aos seus mandamentos, incluindo a conformação nossa ao rito litúrgico que ele prescreveu.
É triste como alguns crentes se permitem entrar no culto a Deus, sem qualquer ânimo ou demonstração de prazer em estar na reunião solene onde seu Salvador e Senhor será reverenciado e adorado, juntamente com todos aqueles que, tal como ele, foram libertos e redimidos. O culto é mais do que uma sequência de ações, gestos, recitações e leituras. É um encontro amoroso e espiritual, entre Deus e seu povo. Como é possível que alguém esteja presente nesse ambiente, sem estar profundamente envolvido com todo o seu coração nessa tão magnífica atividade?
Jeremiah Burroughs, um puritano inglês do século 17, abordando a importância da adoração em espírito, isto é, integral afirma:
[“…] Deus é Espírito? Então todo aquele que o adora precisa adorá-lo em Espírito e em verdade. Em outras palavras, quando vou adorar a Deus, preciso considerá-lo como ele é, um Espírito infinito e glorioso. Muito bem. Então, é evidente que não basta que eu adore com meu corpo. Embora eu me ajoelhe em oração, ou me faça fisicamente presente para ouvir a Palavra ou para receber o sacramento, isso não é adorar a Deus como um Espírito. […] Quando ouvimos a Palavra, precisamos ativar nossa alma, colocá-la para trabalhar. Quando estás ouvindo, não é suficiente vir e sentar no banco e escutar o som das palavras; a tua alma precisa trabalhar. Adorar com o corpo sem adorar com a alma não é nada (…)” (BURROUGHS, 2015, p. 152, 153).
A conclusão última a que se pode seguramente chegar, à luz dessas considerações, é que para que o segundo mandamento seja quebrado, não é preciso que alguém recuse adorar o Deus verdadeiro, ou o adore de outra forma que não aquela por ele ordenada. Basta que, em primeiro lugar, não esteja intimamente movido por um amor reverente, não desejando venerar espiritualmente o SENHOR, Deus Triuno, como o único Deus.
2. A preservação do culto verdadeiro, isto é, daquela determinação litúrgica divinamente prescrita, é um imperativo. Deus não é adorado através do modo como queremos que seja ou que imaginamos que deveria ser. Ele mesmo estabeleceu toda o serviço de culto a ser prestado por seu povo.
Embora tenha sido argumentado que a determinação divina de uma forma específica de culto, garanta ao seu povo segurança quanto ao recebimento da adoração, esta não é a pedra de toque do princípio da obediência ao culto de Deus, conforme requerida no segundo mandamento.
O édito divino é que o povo de Deus, reconhecendo a supremacia deste, incline-se reverentemente diante dele, a partir daqueles elementos de culto e atividade religiosa por ele estabelecidos. Não se trata de uma forma melhor de culto, por ter sido entregue pelo SENHOR, a partir da qual podemos adaptá-la a fim de que sirva aos nossos propósitos ou gostos, e sim uma ordem.
Esbarramos aqui numa dificuldade crescente que tem provocado muita discussão em nosso tempo: o lugar da espontaneidade e sinceridade na adoração. Com facilidade, atualmente, reconhecemos o número farto de igrejas que sobrepõem o elemento expontâneo/sentimental/afetivo do culto sobre o prescritivo. A alegação é que, a partir desses princípios, proporciona-se um ambiente de “liberdade”, que por sua vez, como dito, potencializa a sinceridade da adoração.
Não há qualquer referência bíblica que retire do culto o aspecto afetivo/sentimental da adoração, tal como demonstrado na aplicação anterior. Todavia, em que pese a importância de um envolvimento holístico do ser humano na atividade de culto, o caráter prescritivo toma precedência na adoração a ser entregue pela igreja a Deus, pois a expressão maior de amor requerida pelo Deus Triuno não é a sinceridade, mas sim, a obediência.
Pensemos: que maior presente uma mãe poderia receber de seu filho, numa determinada data comemorativa? Um carro? uma jóia? ou uma viagem? Será que todas essas coisas significariam tanto para essa mãe, quanto ver seu filho honrá-la ou obedecê-la? Se é possível chegar a uma resposta positiva quanto a este segundo questionamento, muito mais o é em relação a Deus.
Devemos aprender a expressar nosso amor a Deus, a partir daquelas formas que ele estabeleceu para que isso seja feito. O prazer nosso, enquanto filhos, é fazer com que nosso Pai seja amado e reverenciado, em seu Filho, nosso salvador e que nos tornou seu povo, quando, pelo Espírito Santo, o obedecemos, principalmente na forma como glorificamos seu nome no culto.
3. O princípio base que norteia a teologia bíblica do culto, é a doutrina do ser de Deus, tal como revelada nas Escrituras. O SENHOR é adorado, principalmente, a partir do que ele é.
A grande tônica das proibições do SENHOR ao longo dos Dez Mandamentos, é a contenção da natureza corrupta do coração humano em transgredir o seu mandado que, em contraponto ao segundo mandamento, sempre inclinará o homem à feitura de imagens (exteriores ou interiores) de Deus, violando seu culto, e portanto, fomentando uma concepção falsa a respeito dEle.
O culto público, regulado pelo SENHOR (como visto a partir do que exige o mandamento), reflete o que Deus é: espírito puríssimo, devendo ser adorado dessa forma, isto é, espiritualmente. Os elementos visíveis do culto e todas as ordenanças da adoração (oração, Palavra, cânticos, sacramentos etc), proporcionam ao povo o ambiente relacional adequado para que conheça a Deus e o venere, sem que haja a maculação desse entendimento a partir de distorções imagéticas.
O ser de Deus (sua essência ontológica), seus atributos, suas obras, permeiam o culto público a partir dos elementos do rito de adoração, sendo portanto os trilhos sobre os quais o entendimento de sua igreja será guiado ao conhecimento de sua pessoa, adorando-o genuinamente.
Em complemento a esse raciocínio, como dito, limitar a proibição encontrada no segundo mandamento apenas aos objetos físicos que podem ser usados como formas de representar Deus ou um ídolo, é um erro crasso, pois deixa de capturar toda a amplitude do que é ordenado. Os ídolos podem estar escondidos nos recantos mais profundos do coração, direcionando nossa adoração à uma noção no mínimo pobre a respeito do SENHOR, baseada naquilo que achamos que Deus é ou deveria ser, principalmente quando sobrepomos nossas opiniões sobre aquilo que a Palavra de Deus nos revela quanto ao que ele é.
Para que adoremos a Deus, é necessário que estejamos num relacionamento (e.g. Pacto) com íntimo com ele, a fim de que possamos primeiro conhecê-lo, e só podemos conhecê-lo a partir do que ele revela (especialmente em sua palavra, onde seu conhecimento é especificado quanto ao dever que é requerido do homem), e sua revelação está diretamente ligada a forma como ele deseja ser adorado e servido. Uma coisa leva a outra, e no fim do raciocínio, o culto e o conhecimento de Deus estão intimamente ligados.
Outro ponto que deve ser estabelecido a partir da concepção da adoração divina regulada pelo conhecimento do ser de Deus, gira em torno da invisibilidade e espiritualidade do SENHOR em relação ao estágio progressivo-revelacional, que culmina com a manifestação daquela única expressão de Deus que verdadeiramente faz jus ao que ele é: Cristo Jesus.
Segundo já citado, o Senhor Jesus é a expressão exata do ser de Deus, e assim, é nele que o imaterial torna-se material de modo preciso, não havendo qualquer prejuízo à revelação do SENHOR e, consequentemente, à sua adoração. Contemplar Cristo (como foi possível aos apóstolos e demais discípulos) é contemplar o Deus Triuno (cf. Jo 14.9), sendo ele a concessão divina que viabiliza que o homem adore ao SENHOR a partir de um conhecimento pleno dele mesmo; algo prometido desde o AT e cumprido na encarnação do Verbo de Deus - Cristo.
Quando o Senhor Jesus direcionou à mulher samaritana ao entendimento de que os verdadeiros adoradores do SENHOR, o adorarão entendendo que ele “é espírito, e [que] importa que seus adoradores o adorem em espírito e em verdade”, ele esclarece que essa espiritualidade e verdade só podem ser fruídas naquele que estava transmitindo essa realidade mais ampla do relacionamento com o SENHOR, e portanto, do serviço cúltico a ser a ele prestado, isto é, o próprio Cristo. Israel adorou ao SENHOR no passado, mediante os mesmos princípios dados no Novo Testamento, porém refletidos nas formas parciais da revelação, como o tabernáculo e o sistema sacrificial. Agora, a realidade plena inaugurada em Cristo, eleva a proximidade da igreja com o Deus Triuno, proporcionando que o conceito de espiritualidade (e invisibilidade) divina, sejam transpostos à materialidade. O Deus que é espírito se fez carne, a fim de que seu povo esteja mais intimamente unido a ele, e a adoração, com isso, é aprofundada.
Como comenta o Dr. Douma:
Ao ser indagado pela mulher samaritana acerca do local de adoração - se no monte Gerizim ou em Jerusalém —, Jesus respondeu que esse tempo já havia passado. (…) “Deus é espírito” e isso significa que ele concedeu ao novo poder porque o Messias traria um fim a adoração no antigo templo. A adoração a Deus deve ser feita “em espírito e em verdade, em comunhão com o poder doador de vida do Messias e em comunhão com a verdade que o Messias proclama (DOUMA, 2019, p. 68).
Adoramos a Deus pelo que ele é, e seu ser é expresso clara e exatamente em Cristo, por meio de quem podemos verdadeira e espiritualmente ter uma comunhão mais profunda com o Pai; mais do que os antigos tiveram.
Hoje, nossos olhos não contemplam a Cristo, apesar de estarmos num estágio superior de adoração (em termos do poder do qual desfrutamos e da amplitude da benção relacional que repousa sobre nós na Nova Aliança). Mas, um dia, quando o pecado for retirado de nós e com ele, o perigo de produzirmos, quer exteriormente quer interiormente, uma imagem de Deus que não faria jus a quem e ao que ele é, veremos sua face em Cristo Jesus; a expressão exata do ser de Deus.
4. As razões anexas ao segundo mandamento, devem inspirar em nós um profundo zelo pelo culto verdadeiro, e portanto, pela adoração ordenada pelo próprio SENHOR como parte do serviço que, tanto nós quanto nossos filhos, somos ordenados a prestar-lhe, entendendo que o próprio SENHOR é zeloso a respeito de como é servido/adorado, trazendo maldição sobre os que ignorarem ou forem temerários para com suas prescrições, e benção sobre os que procederem em harmonia aos seus princípios.
O SENHOR ter anexado a esta ordenança uma promessa em razão de sua obediência ou trangressão, nos faz contemplar sua imensa preocupação com o modo como o seu povo deve adorá-lo. Segundo inicialmente afirmado, o SENHOR não deseja ser apenas o centro da vida de seu povo (tema do primeiro mandamento), de modo que o serviço religioso seja legado ao segundo plano; pelo contrário, tão importante quanto direcionarmos ao SENHOR todo nosso amor e veneração, é a obediência a esse princípio a partir do culto ou da adoração, sendo este o ambiente no qual o primeiro mandamento é obedecido, sendo estabelecido assim, a conexão entre aquele e a segunda ordem.
O zelo do SENHOR deve, portanto, ser um sentimento compartilhado pela igreja. Devemos amar o culto verdadeiro e seguir as prescrições de adoração determinadas pelo próprio Deus, a fim de que estejamos certos de não estar adorando uma falsificação do SENHOR; isto é, uma imagem parca e distante, que nem de longe reflete a pessoa, atributos e obras do Santíssimo Criador e Redentor.
Os efeitos desse zelo (ou de sua ausência) também não podem deixar de ser mencionados. Uma das formas determinadas por Deus para que seu povo fosse alcançado com misericórdia, é a adoração solene e obediente que este presta. Assim, quando toda a igreja está ciente de que é Deus quem determina como seu culto será executado, e se empenha em obedecer essa prescrição, a graça e a misericórdia do SENHOR podem ser vistas no meio do povo. O crescimento, a edificação, o consolo, a paz, todas essas coisas são também frutos da obra do Espírito que guia o coração do povo à adoração ordenada por Deus. Porém, o contrário disso também é verdade.
A maldição do SENHOR perseguirá aqueles que inventam normas e formas de culto que não estão registradas na palavra do SENHOR, e Deus pode manifestar sua disciplina de diversas formas. Se as benção são também indicativos da disposição obediente do coração do povo em adorar a Deus, a partir do que ele determinou, maldições evidenciam a rebelião de uma comunidade em fazê-lo, e tais sanções podem manifestar-se na vida de toda a comunidade.
Essa consideração ampla, entretanto, é apenas uma inferência lógica, levando em consideração o ambiente corporativo no qual os termos do Pacto (i.e. os Dez Mandamentos) foram publicados (cf. cap. 19). O foco central da promessa de benção e maldição mediante cumprimento ou não do segundo mandamento é a família, tal como é expresso nas palavras “visito a iniquidade dos pais nos (hb “עַל” = “sobre”) os filhos” (v.5).
Os pais que não honrarem o SENHOR, ensinando a seus filhos quem ele é e como deve ser servido, principalmente a partir de uma adoração ajustada à forma como ele mesmo estabeleceu, estão fadados a serem perseguidos pela disciplina do SENHOR.
Tal princípio parece transmitir um tom de ameaça que raramente ouvimos em nossos dias. Em tempos nos quais a “maldição divina”, parece ser uma forma tosca de causar medo nos mais fracos ou desentendidos quanto a Palavra, a fim de escravizar suas consciências à todo tipo de vento de doutrina que somente beneficia os hereges de nosso tempo, ignoramos que na verdade as maldições do SENHOR são muito reais, e podem vir sobre nós sim, se não o obedecermos, principalmente (levando em consideração o segundo mandamento), conduzirmos nossas crianças ao conhecimento pleno do verdadeiro e único de Deus, e do culto verdadeiro por ele criado e ordenado.
Três ou quatro gerações (isto é, um número limitado) sentirão o peso da mão divina contra si, se negligenciarem o culto ao SENHOR, recusando-se adorar a Deus de modo adequado e como requerido. Por outro lado, mil gerações (ou seja, um número ilimitado) de filhos da Aliança, serão alvos da benção do SENHOR, o Deus Triuno, por terem sido instruídos a amá-lo em obediência aos seus mandamentos, zelando por adorá-lo como ele quer.
Conclusão
A ordem divina é que seus filhos desejem inclinar-se somente diante de seu SENHOR/Redentor, expressando sua relação pactual através de um culto prescrito e ordenado pelo próprio Deus; ambiente no qual poderão, guardando seu mandamento, exibir seu amor.
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