Exposições em Gálatas - Sermão 5: O Evangelho da Justiça

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Introdução

Desde que o pecado entrou no mundo pelo homem, o ser humano tenta constantemente justificar a si mesmo; a sua natureza é tentar entender tudo o que pode fazer para corrigir algo que claramente está muito errado em sua essência. Como uma criança que quebra um vaso e tenta incansavelmente colar todas as peças até que começa a se gabar de ter conseguido resolver o problema, mesmo sem perceber que o que tem nas mãos até parece um vaso, mas é apenas um emaranhado de peças que não se encaixam e que, claramente, não tem utilidade.
Não só isso, mas desde que o pecado entrou no mundo, a autoridade confiada ao ser humano foi manchada de tal modo que não suporta nada que fuja do seu controle, nem a ausência de um julgo para impor sobre o próximo. Amamos regras, principalmente aquelas com um fim visível diante de todos, para que possamos estar no controle do resultados delas sobre nossa vida e para que possamos nos sentir superiores, impondo-as rigorosamente aos demais, mesmo que só cumpramos aquelas que sejam mais vantajosas para nós.
Nesse caminho, podemos estar, por um lado agindo como aquilo que não somos ou, por outro lado, não agindo como aquilo que somos. Seja qual for a opção, os dois lados caem na hipocrisia de não reconhecer aquilo que somos, carentes de justiça, e de não aceitar que não estamos no controle. Podemos tanto ecoar a frase inicial do jovem rico “tudo isso tenho observado; que me falta ainda?”, julgando-nos justos por nossa capacidade, quanto ecoar o seu silêncio final, ao entender que algo nos falta, mas continuarmos agindo como se não nos faltasse.
Mateus 19.16–22 (ARA)
E eis que alguém, aproximando-se, lhe perguntou: Mestre, que farei eu de bom, para alcançar a vida eterna? Respondeu-lhe Jesus: Por que me perguntas acerca do que é bom? Bom só existe um. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos. E ele lhe perguntou: Quais? Respondeu Jesus: Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não dirás falso testemunho; honra a teu pai e a tua mãe e amarás o teu próximo como a ti mesmo. Replicou-lhe o jovem: Tudo isso tenho observado; que me falta ainda? Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu; depois, vem e segue-me. Tendo, porém, o jovem ouvido esta palavra, retirou-se triste, por ser dono de muitas propriedades.Contexto imediato
É sobre isso que se trata o sermão dessa noite: como alcançamos a nossa justiça? Qual o caminho para solução desse grande problema da humanidade em desejar incansavelmente e em vão justificar a si mesma? Compreender isso é indispensável para vencermos a hipocrisia que o ser humano herda de nascença e trilharmos o verdadeiro caminho de Justiça.

Contexto imediato

Até então, o apóstolo Paulo tem redigido uma bela defesa do Evangelho de Cristo com o objetivo claro de restaurar os irmãos da Galácia que estavam cedendo a alguns homens que pervertiam o Evangelho de Cristo e, com isso, perturbavam aqueles irmãos com a imposição de ordenanças restritivas para a salvação.
Paulo iniciou com a elaboração de um diagnóstico para os gálatas: como alguém quejá conhece e tem à sua disposição o alimento saudável e nutritivo, mas, insensatamente, o rejeita pela guloseima prejudicial, os gálatas estavam deixando de se alimentar do único e verdadeiro evangelho da graça e da paz que Deus proporciona na Pessoa de Jesus Cristo, para se alimentar do falso evangelho que escraviza e perturba. Depois de diagnosticá-los, como um médico que deseja a recuperação rápida de seus paciente, Paulo receita a única solução para a doença daquela igreja: “vocês já conhecem o alimento saudável, pois rejeite como amaldiçoados todos aqueles que lhes apresentarem o alimento prejudicial, seja quem for!”.
Depois disso, Paulo começa uma série de argumentos históricos baseados em seu ministério, argumentos que tinham o peso de exemplo doutrinário e encorajamento pastoral:
Primeiramente, ele relembra que, diferente daqueles que intentavam contra eles com base em uma falso evangelho diluído em ordenanças humanas, o evangelho por ele anunciado era estritamente o evangelho que havia recebido do próprio Cristo;
Ele declara que, outrora, ele mesmo vivia dentre os mais zelosos pregadores dar ordenanças humanas impostas sobre os gálatas, mas que em meio a isso perseguia a Igreja de Cristo e não conhecia verdadeiramente a Cristo, até que o próprio Cristo o transformou pelo poder do Seu Evangelho, tornando-o um dos maiores pregadores verdadeiro evangelho;
Ele declara que aqueles que intentavam contra os gálatas também já haviam se infiltrado como falsos irmãos na igreja de Jerusalém para atacar sua unidade e liberdade, tentando reduzir Paulo, Barnabé e Tito à escravidão do pecado. Entretanto, em nenhum momento se submeteram àqueles homens, mas continuaram sujeitos a Cristo, em especial Tito, o gentio que deveria servir de exemplo de firmeza no evangelho para os inconstantes gálatas.
A própria Igreja já havia testificado do poder transformador do evangelho pregado por Paulo, o verdadeiro Evangelho de Cristo.
Em vista disso, tratava-se de grande insensatez se sujeitar a um falso evangelho, como os gálatas estavam fazendo, porque:
Um falso evangelho sempre será humano e sustentado por erros;
Porque esse evangelho não possui poder para transformar, libertar e unir, mas para enganar, escravizar e perseguir;
Porque Cristo já havia testificado do evangelho pregado por Paulo através de Sua Igreja.
Agora, Paulo irá concluir sua argumentação histórica declarando que se o verdadeiro evangelho transforma, liberta e une, certamente o faz porque nos entrega a Justiça que a Pessoa e a Obra de Cristo nos proporcionam; Justiça que o ser humano carece desde a queda e que, todos, carecerão desde o nascimento até serem chamados pela graça de Cristo.

Divisão do texto

Gálatas 2.11-13 - A transgressão da Justiça
Gálatas 2.14 - A defesa da Justiça
Gálatas 2.15-16- O caminho da Justiça
Gálatas 2.17-21 - A eficácia da Justiça

A transgressão da Justiça (Gálatas 2.11-13)

Gálatas 2.11 (ARA)
Quando, porém, Cefas veio a Antioquia, resisti-lhe face a face, porque se tornara repreensível.
Apesar de há pouco Paulo relatar que Cefas e os demais líderes da Igreja terem conssentido com a pregação do evangelho anunciado por ele aos gentios, Paulo agora começa a relatar um evento de instabilidade similar à que os gálatas estavam vivendo. Ele relata que Cefas se tornara repreensível que foi visitar a igreja gentílica de Antioquia. Repreensível aqui denota alguém que tornara-se comprovadamente culpado de algo e que precisa de correção, ao ponto que Paulo, ao invés de se sujeitar ao erro, resistiu-lhe “face a face”. A resistência de Paulo aqui não acontece de forma indireta ou por meios excusos, seu objetivo não era dividir a igreja, mas ele se levanta na presença de Cefas para exortar-lhe pessoalmente, com o único objetivo de corrigir-he e restaurar os seus caminhos. O interessante é que o equivalente hebraico ao verbo resistir é utilizado em vários momentos que Deus ordena seu povo a levantar-se e cumprir a sua vontade. Aqui não é uma situação diferente, a coragem do apóstolo para exortar Cefas se dá pela força que Deus lhe confiara na defesa do Evangelho. Aqui temos um complemento ao que o apóstolo já afirmara acerca da superioridade do evangelho de Cristo; precisamos ser agentes de defesa do evangelho que recebemos, não há margem para convivermos com o erro ao nosso redor, e só há uma forma de defendê-lo: pela pregação corajosa, diligente e confrontadora do verdadeiro evangelho de Jesus. Mas afinal, qual o motivo dessa acusação? De quê Cefas se tornara culpado e passível de repreensão? É o que Paulo segue explicando.
Gálatas 2.12 (ARA)
Com efeito, antes de chegarem alguns da parte de Tiago, comia com os gentios; quando, porém, chegaram, afastou-se e, por fim, veio a apartar-se, temendo os da circuncisão.
Aqui, vemos um dos mais comuns transtornos do mundo cristão: a bipolaridade espiritual. Paulo declara que Cefas testificou de dois comportamentos opostos relacionados à chegada de “alguns da parte de Tiago”. Quando o apóstolo declara que antes de chegarem ele “comia” com os gentios, ele está declarando que ele publicamente demonstrava comunhão com eles, afinal comer com outras pessoas, naquele contexto histórico, significava a existência de comunhão, como podemos ver em alguns relatos dos evangelhos:
Lucas 15.2 (ARA)
E murmuravam os fariseus e os escribas, dizendo: Este recebe pecadores e come com eles.
Entretanto, após a chegada dos da parte de Tiago, seu comportamento mudou drasticamente: ele se afastou e se apartou. Se “afastar” denota que ele começou a hesitar quanto testificar da comunhão com os gentios, ou seja, assim como os gálatas, Cefas estava instável no evangelho que recebera; se “apartar” denota a fase extrema dessa instabilidade, ou seja, ele se separou da comunhão dos gentios e os expulsou do relacionamento. A presença daqueles homens perturbou a paz de Cefas e o fez comprometer a unidade da Igreja. Aqui vemos o perigo de vivermos a instabilidade no evangelho da graça e da paz de Cristo: quanto mais nos firmamos na verdade do evangelho de Cristo, mais desfrutamos da liberdade que ele nos promove e mais fortalecemos a unidade da Igreja, entretanto, quanto mais instáveis estejamos nele, mais nos escravizamos e mais comprometemos a unidade da Igreja.
Qual a raiz do problema aqui? Por que Cefas cometeu tamanho erro passível de repreensão? Afinal, em outro momento o próprio Pedro já havia testificado de sua comunhão com o gentios e da obra de Cristo na vida deles:
Atos dos Apóstolos 11.1–18 (ARA)
Chegou ao conhecimento dos apóstolos e dos irmãos que estavam na Judeia que também os gentios haviam recebido a palavra de Deus. Quando Pedro subiu a Jerusalém, os que eram da circuncisão o arguiram, dizendo: Entraste em casa de homens incircuncisos e comeste com eles. Então, Pedro passou a fazer-lhes uma exposição por ordem, dizendo: Eu estava na cidade de Jope orando e, num êxtase, tive uma visão em que observei descer um objeto como se fosse um grande lençol baixado do céu pelas quatro pontas e vindo até perto de mim. E, fitando para dentro dele os olhos, vi quadrúpedes da terra, feras, répteis e aves do céu. Ouvi também uma voz que me dizia: Levanta-te, Pedro! Mata e come. Ao que eu respondi: de modo nenhum, Senhor; porque jamais entrou em minha boca qualquer coisa comum ou imunda. Segunda vez, falou a voz do céu: Ao que Deus purificou não consideres comum. Isto sucedeu por três vezes, e, de novo, tudo se recolheu para o céu. E eis que, na mesma hora, pararam junto da casa em que estávamos três homens enviados de Cesareia para se encontrarem comigo. Então, o Espírito me disse que eu fosse com eles, sem hesitar. Foram comigo também estes seis irmãos; e entramos na casa daquele homem. E ele nos contou como vira o anjo em pé em sua casa e que lhe dissera: Envia a Jope e manda chamar Simão, por sobrenome Pedro, o qual te dirá palavras mediante as quais serás salvo, tu e toda a tua casa. Quando, porém, comecei a falar, caiu o Espírito Santo sobre eles, como também sobre nós, no princípio. Então, me lembrei da palavra do Senhor, quando disse: João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo. Pois, se Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós nos outorgou quando cremos no Senhor Jesus, quem era eu para que pudesse resistir a Deus? E, ouvindo eles estas coisas, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: Logo, também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para vida.
Paulo deixa claro o que o levou a perturbar sua paz e comprometer a unidade da igreja: o medo. Cefas estava temendo mais aos homens do que a Deus e, com isso, estava transgredindo contra a Justiça da qual ele mesmo testificara outrora. Sua bipolaridade espiritual aqui está no fato de, naquele momento, ele permitir que o medo pecaminoso dos homens sobressaísse em relação ao temor a Deus. Isso não era estranho a Cefas, afinal já havia negado a Cristo três vezes pelo mesmo motivo, mas também não é estranho a cada um de nós. Quantas vezes, nós vivemos personalidades opostas em virtude do medo pecaminoso dos homens? Somos especialistas em viver na igreja, escondendo aquilo que somos fora dela e viver fora da igreja, escondendo o que somos nela. Quando não estamos firmes no Evangelho de Cristo, transgredimos a Justiça libertadora de Sua obra e priorizamos nos justificar a nós mesmo aos olhos dos homens, do que usurfruir a justiça que já recebemos pela obra de Cristo.
Gálatas 2.13 (ARA)
E também os demais judeus dissimularam com ele, a ponto de o próprio Barnabé ter-se deixado levar pela dissimulação deles.
Quando lemos essa passagem, podemos nos perguntar: “certo, mas porque Cefas estava temendo aqueles da parte de Tiago se, logo antes, todos conssentiram com a pregação do evangelho de Paulo aos gentios?”. A resposta a essa pergunta surge quando percebemos que parece haver uma distinção clara quando Paulo chama alguns de “judeus” e outros de “os da circuncisão”. Os da circuncisão eram exatamente aqueles que compunham o partido que pregava a necessidade de os gentios se circuncidarem para que fossem salvos. Eles estavam no meio da igreja de Jerusalém e contantemente acompanhavam as movimentações em massa com o objetivo de espreitar a liberdade promovida pelo evangelho aos gentios e aos judeus convertidos. É exatamente o que Paulo declarar aqui, que Cefas temeu os da circuncisão e os demais judeus dissimularam com ele, ou seja, começaram a agir de forma contrária ao que criam e ao que haviam testificado nos versículos anteriores temendo a opinião desse partido. Aqui percebemos que essa bipolaridade espiritual nada mais é do que hipocrisia, a qual não se manifesta apenas como a hipocrisia dos fariseus, que pregavam o rigor de suas ordenanças, quando por trás desfrutavam de uma liberdade pecaminosa, mas também como a hipocrisia de negar diante dos homens a liberdade santa que se tem em Cristo, quando se recebeu e se usurfrui dela. Quantas vezes agimos, mesmo conhecendo o verdadeiro evangelho de Cristo, nos julgamos justos pelas obras que executamos e pelo manto legalista que colocamos sobre nossos ombros para nutrirmos um senso de superioridade e agradar aos homens? Aqui temos um conselho para reconhcermos tal hipocrisia: para quem você direciona seu olhar de aprovação quando executa suas boas obras e o que elas te levam a sentir? Você espera a aprovação dos homens ou espera agradar a Deus? Você se sente superior aos demais e até quebra a comunhão com eles ou você reconhece que sua carência da obra divina para executar quaisquer boas obras?
Paulo continua declarando o perigo arrasador de conviver com o engano na igreja e de não confrontar a hipocrisia à qual ele leva. O engano invade a igreja pela pregação de falsos cristãos e vai levando muitos a agirem hipocritamente visando manterem as aparências, ao ponto de criar um padrão de auto justificação que arrasta muitos que encontram-se instáveis no evangelho verdadeiro a viverem a mesma hipocrisia. O engano doutrinário oprime aqueles que são levados ao engano pessoal da hipocrisia pelo medo pecaminoso e que arrastam muitos ao engano coletivo pela influência. É exatamente o que acontece aqui, mesmo Barnabé tendo perseverado em Jerusalém e não se sujeitado à pressão dos falsos irmãos que ali estavam, aqui ele é arrastado pela massa coletiva de Cefas e os demais judeus. Não há margem para vivermos com a hipocrisia no Corpo de Cristo pois ela é um atentado à verdadeira Justiça que alcançamos ao recebermos o evangelho verdadeiro:
Lucas 12.1 (ARA)
Posto que miríades de pessoas se aglomeraram, a ponto de uns aos outros se atropelarem, passou Jesus a dizer, antes de tudo, aos seus discípulos: Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia.
Gálatas 5.9 (ARA)
Um pouco de fermento leveda toda a massa.

A defesa da Justiça (Gálatas 2.14)

Gálatas 2.14 (ARA)
Quando, porém, vi que não procediam corretamente segundo a verdade do evangelho, disse a Cefas, na presença de todos: se, sendo tu judeu, vives como gentio e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus?
Aqui, Paulo prossegue para o relato e algo que é o dever de todo cristão, ainda mais daqueles que se encontram firmados no evagelho de Cristo, desfrutando da maturidade espiritual que vem da sabedoria de Deus. Esse dever pode ser explicado em dois pontos:
Primeiramente, que precisamos estar firmados na verdade do evangelho para que possamos identificar os enganos, sejam eles os enganos doutrinários ou os enganos hipócritas que se manifestam em nosso meio. Precisamos conhecer a verdade e vivê-la genuinamente para que possamos reconhecer as mentiras em nosso meio. Quando Paulo viu que não procediam corretamente, estava colocando em prática o julgamento que ele chamara os gálatas a viverem ao provar a todos pela verdade do evangelho, de modo que tudo que se encontra fora dele é passível de repreensão;
Segundo, é dever de todo cristão se manifestar quando o evangelho é atacado pelo engano. Paulo identifica o pecado do engano da hipocrisia e não se omite, mas se manifesta em defesa do evangelho pelo confronto do engano. Não podemos nos calar em meio ao engano, pois fazer isso coloca em risco todo o corpo de Cristo, sendo de nossa inteira responsabilidade defendermos o evangelho contra a pregação do engano.
O confronto de Paulo é esclarecedor. Ele deixa claro que viver sob a tentativa de se auto justificar perante os homens nos aprisiona a viver o conflito natural da hipocrisia: Cefas usurfruia da liberdade que o Evangelho da Justiça de Cristo o proporcionara, ao viver a comunhão com os gentios convertidos, mas por sua instabilidade e medo dos homens, continuava tentando justificar a si mesmo diante dos homens ao viver pelas aparências e obrigar, forçar outros a viverem da mesma forma nas práticas e ritos judaicos. Aqui, o obrigar não se refere a uma perseguição, mas ao exemplo que oprime pela separação. Precisamos entender que o exemplo hipócrita tem capacidade para arrastar a muitos pelo medo e a disseminar o engano em nós mesmo e no próximo.

O caminho da Justiça (Gálatas 2.15-16)

Gálatas 2.15–16 (ARA)
Nós, judeus por natureza e não pecadores dentre os gentios, sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado.
Paulo, então, continua para o centro de sua argumentação exortativa para com Cefas, declarando qual o único caminho para a Justiça. Ele declara:
A justificação não se dá por natureza: Paulo não está corroborando que os judeus não pecassem, mas que por natureza, os judeus eram o povo que possuía a comunhão com Deus pela revelação da sua palavra, enquanto os gentios eram o povo ímpio que precisava ser alcançado pelos caminhos divinos através do povo escolhido de Deus. Entretanto, o simples fato de pertencerem a esse povo, cumprindo seus ritos e ordenanças, inclusive carregando consigo sua principal marca, a circuncisão, não os tornavam justos, porque o próprio Moisés declara:
Deuteronômio 6.24–25 (ARA)
O Senhor nos ordenou cumpríssemos todos estes estatutos e temêssemos o Senhor, nosso Deus, para o nosso perpétuo bem, para nos guardar em vida, como tem feito até hoje. Será por nós justiça, quando tivermos cuidado de cumprir todos estes mandamentos perante o Senhor, nosso Deus, como nos tem ordenado.
Deuteronômio 31.29 (ARA)
Porque sei que, depois da minha morte, por certo, procedereis corruptamente e vos desviareis do caminho que vos tenho ordenado; então, este mal vos alcançará nos últimos dias, porque fareis mal perante o Senhor, provocando-o à ira com as obras das vossas mãos.
E, ainda, pela boca do salmista:
Salmo 143.2 (ARA)
Não entres em juízo com o teu servo,
porque à tua vista não há justo nenhum vivente.
A justificação se dá pela fé em Cristo Jesus: Paulo está exortando a Cefas e os demais que eram verdadeiros judeus convertidos ao cristianismo; eles haviam recebido o evangelho de Cristo tanto quanto Paulo e haviam entendido que a salvação se dá pela fé em Cristo. Essa é exatamente a boa nova de Cristo, que outrora estávamos em dívida para com o Pai e Cristo assumiu e pagou essa dívida, sendo a consumação da Justiça em nosso lugar.
Nenhuma boa obra é suficiente para nos salvar: O grande problema aqui é que somos tentados constantemente a olharmos para a Lei como um meio para estarmos bem aos olhos de Deus. Esmiuçamos a Lei e criamos os mais específicos detalhes que nos garantirão que estamos bem aos olhos dEle. Entretanto, esquecemos de tudo o que ele disse quanto ao nosso real problema, o problema que está em nosso coração quebrado e que nenhuma de nossas boas obras pode nos justificar, porque estão manchadas pela nossa iniquidade.
Isaías 64.5–7 (ARA)
Sais ao encontro daquele que com alegria pratica justiça, daqueles que se lembram de ti nos teus caminhos; eis que te iraste, porque pecamos; por muito tempo temos pecado e havemos de ser salvos? Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades, como um vento, nos arrebatam. Já ninguém há que invoque o teu nome, que se desperte e te detenha; porque escondes de nós o rosto e nos consomes por causa das nossas iniquidades.

A eficácia da Justiça (Gálatas 2.17-21)

Gálatas 2.17 (ARA)
Mas se, procurando ser justificados em Cristo, fomos nós mesmos também achados pecadores, dar-se-á o caso de ser Cristo ministro do pecado? Certo que não!
Paulo agora conclui seu argumento exortativo para com os irmãos que estavam em hipocrisia tomando como base no único caminho para a justificação que declarara anteriormente. Ele começa a deixar clara a seriedade do pecado que estavam cometendo: se ao sabermos que o único caminho para alcançarmos nossa justiça é pela fé em Cristo Jesus como proclamado pela verdade do evangelho, buscamos ser justificados nEle e isso nos leva a viver a liberdade e unidade de sermos um só corpo, judeus e gentios, e, com isso, nós mesmos nos imputamos pecado, a conclusão seria que Cristo é ministro do pecado! Meus irmãos, quão tamanha ofensa e insensatez é não nos agarrarmos com a graça do evangelho da verdade que nos justifica e nos dá paz para com Deus! Nos julgarmos pecadores por sermos libertos da escravidão de tentarmos em vão nos justificar através das boas novas de Cristo é imputar a Ele o ministério do pecado!
Gálatas 2.18 (ARA)
Porque, se torno a edificar aquilo que destruí, a mim mesmo me constituo transgressor.
Mas isso não trata-se apenas de uma ofensa para com Cristo, mas também de um ataque insenasato a nós mesmos, afinal, se torno fortalecer aquilo que foi revogado por Cristo, naturalmente me torno transgressor; se torno a colocar sobre meus ombros o peso da dívida que tinha para com Deus, quando tento pelo cumprimento da Lei alcançar a minha justiça, automaticamente torno-me transgressor da Lei.
Tiago 2.10–11 (ARA)
Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos. Porquanto, aquele que disse:
Não adulterarás
também ordenou:
Não matarás.
Ora, se não adulteras, porém matas, vens a ser transgressor da lei.
Gálatas 2.19 (ARA)
Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo;
Essa Lei à qual todos nós estamos sujeitos aponta o nosso pecado por natureza, desde Adão até nós, a Lei exige a nossa condenação porque continuamos vivendo a natureza adâmica até que, na plenitude dos tempos, Cristo surge na história e declara com sua obra: “Eu Sou a Lei de Moisés! Eu Sou o sacrifício Perfeito! Eu Sou a Justiça daqueles que me foram confiados desde Adão!”. A partir de então, na cruz de Cristo, morremos para a lei, ou seja, morremos para o desejo de nos auto justificar e mortificamos a nossa carne adâmica, para ressucitarmos com Ele e vivermos segundo o Espírito Santo de Deus para a vontade de Deus! Começamos a olhar para a Lei como a vontade de Deus e a desejar vivê-la tão simplimente para agradá-lo, deixando de olhar para ela como um método de estarmos bem, em dias para com Deus.
Gálatas 2.20 (ARA)
logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim.
Aqui Paulo quebra qualquer argumento gnóstico, tal como “minha carne peca, mas o meu espírito testifica de Cristo”. Não é assim! A nova vida daqueles que foram justificados por Cristo de dá quando nos revestimos dEle em nossa própria carne; a nossa vida, os nossos membros, os nosso pensamentos e os nossos desejos, tudo isso se conforma à Pessoa de Cristo, não tendo mais a Lei cravada em tábuas de pedra, mas no próprio coração! Esse viver só é possível pela fé em Cristo, fé no evangelho da Justiça; mas como se dá essa fé?
Quando cremos que Cristo é o Filho de Deus, verdadeiramente Deus;
Se entendo que toda a sua obra foi por amor, por graça, não por nenhum merecimento de seus eleitos;
Quando compreendo e confio que a Sua obra consumou a nossa justiça, quando ele pagou a nossa dívida em nosso lugar.
Gálatas 2.21 (ARA)
Não anulo a graça de Deus; pois, se a justiça é mediante a lei, segue-se que morreu Cristo em vão.
A conclusão aqui é simples: se creio que Cristo é, verdadeiramente, o Filho de Deus, não posso anular, invalidar ou tirar a força jurídica de sua graça ao trazer à tona a nossa dívida para com Deus e tentarmos pagá-la com nossas boas obras, porque isso tornaria vão o sacrifício de Cristo em prol de pagar a nossa dívida em nosso lugar! Deus jamais executaria tamanha oba, de entregar Seu Filho Unigênito à condenação em vão! Daí, segue a eficácia da Justica do Evangelho de Cristo! Ele não morreu em vão, nem morreu por si mesmo, Ele é Justo, não possuía qualquer dívida para com o Pai, mas morreu pela justiça dos seus, isso foi por amor, por graça, de modo que essa graça jamais pode ser revogada porque Ele é Deus!

Conclusão e aplicações

Quão fácil, irmãos, é cedermos às armadilhas enganosas de Satanás em acharmos que estamos no controle da situação, de que podemos resolver o nosso grande problema pelas nossas próprias forças. Quando o fazemos, direcionamos os nossos esforços para o temor pecaminoso dos homens, desejando não termos qualquer tipo de perda para com eles. Satanás continua, à semelhança do engano no Éden (quando declarou que nossos pais poderiam ser como Deus), enganando muitos a acharem que podem executar a obra que Cristo já executou.
Temos a clara responsabilidade de nos levantar e lutar contra o engano da hipocrisia que se levanta sobre a Igreja. Trata-se de um perigo real que pode arrastar a muitos pela opressão do exemplo que direciona a tentação aos corações de muitos que tentam se auto justificar. Para isso, precisamos estar firmados no Evangelho da Verdade para que identifiquemos aqueles que não procedem corretamente conforme a verdade.
Saiba que você pode manipular os homens com suas obras, mas a Deus você não pode manipular. Você não precisa mostrar para Deus que você é bom, Ele sabe que você não é. Diferente dos homens, a quem constantemente tentamos enganar pela aparência exterior, Deus olha para nós e enxerga todas as nossas iniquidades, até que somos alcançados por Cristo e nossa carne é cravada na sua cruz para renascermos como nova criatura, não mais como o primeiro Adão, mas como Cristo, o segundo Adão, que sanou a raiz de todo o problema da humanidade para aqueles que creem nEle: a dívida para com Deus foi paga e alcançamos a nossa Justiça para com Ele.
Irmãos, tenhamos verdadeira fé no Filho de Deus, que nos amou e se entregou por nós! A verdadeira Justiça se acha em uma Pessoa, mas essa pessoa não somos nós mesmos; a verdadeira Justiça se acha em uma Obra, mas essa obra não é a nossa! Cristo é a Lei de Moisés! Ele é a nossa liberdade, Ele é o nosso descanso, Ele é a nossa satisfação, Ele é a nossa Salvação! Ele é o caminho para a nossa Justificação!
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