ORGULHO – PARTE I – Pág. 85 – 89
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Harris, Joshua. Ortodoxia humilde: defendendo as verdades bíblicas sem ferir as pessoas. São Paulo: Vida Nova, 2013
https://blogdoseino.blogspot.com/2021/07/resenha-da-obra-ortodoxia-humilde-de.html
Resenha da obra "Ortodoxia Humilde", de Joshua Harris e Eric Stanford
- julho 19, 2021
Joshua Harris foi pastor na Covenant Life Churcch, bem como membro do Gospel Coalition. Casado, com três filhos, e após anos de ministério anunciou que estava abandonando a sua fé cristã. Escreveu este livro juntamente com Eric Stanford, quando ainda ativo no ministério. Em princípio, "Ortodoxia humilde" era o último capítulo de uma obra maior, porém, por incentivo de amigos, bem como por sugestão anterior de John Pipper, foi transformado em uma obra à parte. Stanford ajudou a mesclar sermões do autor, bem como preparou os guias de estudo que compõem o livro.
O autor inicia seu livro compartilhando a experiência de um amigo que escrevia livros de ficção com a temática cristã, obra essa sem muita ortodoxia, o que acabou angariando críticas severas de muitos irmãos. Isso fez o autor meditar na necessidade de sermos mais amorosos ao defendermos doutrinas.
Uma singela definição de ortodoxia é dada no livro, como sendo "o pensamento correto sobre Deus", mencionando-se algumas doutrinas como sendo as corretas e que todo cristão ortodoxo deve aceitar. Ocorre que cristãos ortodoxos, vez por outra, se comportam como chatos, censores da fé alheia.
O autor ressalta a necessidade de se crer nas verdades conforme foram reveladas, mas ensina que elas devem ser compartilhadas com humildade. As alternativas seriam uma "ortodoxia arrogante", ou então uma "heterodoxia humilde" (a pessoa sempre simpática, agradável, que nunca confronta ninguém), sendo que nenhuma destas posturas se apoia no exemplo do evangelho.
O capítulo é encerrado com trechos da segunda epístola de Paulo a Timóteo em que são ressaltadas passagens em que o apóstolo determina que seu discípulo sempre observe a verdade, porém, que seja sempre manso para como todos, apto para ensinar e paciente.
Joshua Harris inicia o segundo capítulo fazendo uma adaptação do relato do publicado e do fariseu. Ele dá o exemplo de um cristão ortodoxo que dá graças a Deus por fazer parte de uma igreja doutrinariamente ortodoxa, e não desses crentes com doutrina água com açúcar, entre outras superficialidades.
Agir de forma arrogante é não reconhecer de que foi alcançado pela graça de Deus. Não devemos usar da verdade para fustigar a vida das pessoas. Isso também não significa se dobrar diante da opinião pública. Devemos ter lágrimas nos olhos em gratidão a Deus por termos sido alcançados, e lágrimas para com o nosso próximo também.
Harris cita o texto em que Josué se encontra com o chefe do exército do Senhor e pergunta de que lado ele está (Josué 15). Com base na resposta ("Nenhum dos dois") o autor argumenta que não é Deus que deve estar do nosso lado. Ele não se compromete com a nossa agenda. Somos nós que devemos nos comprometer com a agenda e a verdade dele. Josué foi levado à adoração ante a resposta que recebeu. A ortodoxia também deve nos levar primeiramente à adoração.
Essa arrogância na defesa da ortodoxia diz mais respeito ao nosso egocentrismo, diz o autor. Quando temos por objetivo o conhecimento sem amor, e sem nos motivarmos à adoração, ainda que sejam coisas boas em si, podem se tornar muito complicadas. Por isso nos tornamos agressivos quando questionados.
Harris volta a enfatizar no final do capitulo que a correção para com a atitude arrogante não é menos, mas sim mais ortodoxia. Que é preciso ter cuidado também com uma teologia sentimentalista que acha que é arrogante alguém que acredita naquilo que claramente foi ensinado pela Palavra. É a atitude que deve mudar, e sempre que houve uma crítica à alguém, deve se feita com amor, pois tanto ela quanto qualquer um de nós é necessitado da graça de Deus.
Em "O arrependimento começa por mim", terceiro capítulo de sua obra, Harris começa mencionando o exemplo de Justin, autor do blog "Between two worlds", e a humildade com que trata os que o atacam em seu site. Justin sustenta que "a humildade leva à ortodoxia e a ortodoxia leva à verdade". Depois, Harris cita o exemplo bíblico do rei Josias, que após descobrir o livro da lei, humilhou-se a si mesmo ao invés de procurar culpados pela situação do reino. Diz que a ortodoxia "não deveria ser um cassetete para atacar as pessoas" e menciona que deveríamos gastar mais energia para obedecer a Palavra e ser reformados por ela do que para criticar os que a difamam.
Uma das formas que Harris testemunha que o ajudam a se tornar humilde é tentar viver a verdade em sua inteireza. Também ensina que o fato de outras pessoas não viverem a verdade não me é desculpa para ignorar os mandamentos de Deus, como no caso de Moisés, que ao invés de falar com a rocha, irritado com a petulância do povo, acabou batendo, e por isso foi disciplinado por Deus. Testemunha que, muitas vezes, novos convertidos como ele havia sido, deveriam passar um tipo de "fase de jaula", pois ao mesmo tempo que se tornam felizes por descobrirem mais a verdade, correm o risco em seu zelo, de saírem ofendendo as pessoas que pensam diferente, bem como de se sentirem superiores. Leciona, mencionando Trevin Wax, que não tem problema ter uma mente crítica, que investiga a verdade, mas que não se deve ter um espírito crítico que destrói e despreza.
No último capítulo, o autor chama a atenção para o fato de que não devemos assumir determinadas ideias motivados por aquilo que irão pensar de nós, mas que devemos buscar sempre a aprovação do Senhor. Relata o que considera três erros daqueles que vivem não para agradar a Deus. O primeiro deles seria viver para agradar a geração passada; o segundo, de cruzar a linha para fazer coisas e impressionar a cultura contemporânea, ainda que seja com a intenção de ganhar pessoas; e o terceiro, é o de se isolar culturalmente e querer agradar somente "os de dentro". Para não cometermos tais erros, devemos nos atentar à Palavra, manejando-a bem, como mencionado em 2 Timóteo 2.15, e fazer tudo para a glória de Deus e também com amor profundo às pessoas. Termina exortando seus leitores a se lembrarem que no céu, só haverá um totalmente certo, que é Deus. Todos os demais estarão errados em muitíssimas coisas, e que em algum sentido, todos teremos muitas coisas por nos desculpar. Veremos finalmente que não foi sábio brigar tanto por coisas secundárias, mas também veremos que as verdades essenciais se cumpriram. Ao final, o autor argumenta que ser humilde em sua ortodoxia não significa a aderir a algo que "dá certo", mas sim a algo que é o correto a se fazer. E por mais humildes que sejamos ,a verdade do evangelho ainda assim será ofensiva a muitos.
O autor está correto em toda a sua tese de que não se deve ser arrogante ao se defender o evangelho, e tudo aquilo que se creia em torno da Palavra. A prática já não é tão fácil. É necessário aprender a ter suas próprias ideias rejeitadas, e também respeitar o direito do outro a ter uma opinião diferente da sua. Algo que chama muito a atenção foi o autor da obra ter abandonado a fé cristã. Será que ele se tornou tão humilde a ponto de colocar em dúvida suas próprias convicções, algo que na própria obra recomendou que não se fizesse, mencionando inclusive Chesterton? Questões referentes à fé calvinista, da qual pertencia Harris, poderiam ser questionadas também, tendo em vista que esta teologia não admite que alguém que tenha sido verdadeiramente convertido abandone a fé. Será mesmo que alguém que verdadeiramente abraçou na vida a fé cristã não pode deixá-la?
Enfim, mesmo que o próprio autor não tenha permanecido na fé, a mensagem dessa obra é muito boa, e faremos bem se a assimilarmos.
Entre todas as personagens da Bíblia que nos causam repúdio, talvez nenhuma seja pior do que o fariseu santarrão. A ironia, porém, está no fato de que, enquanto o condenamos, agimos da mesma forma moralista sem nem pensar. Lucas 18:11
Neste capítulo, vamos estudar o pecado do orgulho – não o orgulho em geral, porém algumas de suas manifestações que são especialmente tentadoras aos cristãos. Examinaremos o orgulho do moralismo, orgulho da doutrina correta, o orgulho das realizações e o orgulho do espírito independente.
Ao analisar esses pecados sutis, oro para que eu mesmo não caia no orgulho do espírito crítico. Assim, gostaria de deixar claro logo de início que não estou livre do orgulho, especialmente do tipo que se esconde atrás do jaleco de professor. Um dos problemas com o orgulho é que o enxergamos nas outras pessoas, mas não em nós mesmos. Romanos 2:21
Portanto, peço ao leitor que ore comigo para que Deus revele a cada um de nós o orgulho que ele enxerga em nossas vidas. Tiago e Pedro enfatizam a importância do assunto com este: “Deus se opõe aos arrogantes”. Tiago 4:6; I Pedro 5:5
11.1. SUPERIORIDADE MORAL.
11.1.1. Na parábola de Jesus, o pecado do fariseu foi o que chamaríamos de moralismo. Esse pecado se expressa no sentimento de superioridade moral em relação a terceiros. Esse tipo de orgulho não se limita aos cristãos. Manifesta-se no reino político e cultural, entre liberais e conservadores.
11.1.2. Quem acredita, por exemplo, que é campeão dos altos padrões morais na área política, econômica ou ecológica muito provavelmente se orgulha em ser o dono da verdade. Infelizmente essa atitude é bastante comum entre os evangélicos conservadores.
11.1.3. O pecado da superioridade moral é uma armadilha na qual caímos com facilidade, pois a sociedade como um todo comente ou aceita abertamente pecados como imoralidade, divórcio, homossexualismo, aborto, embriaguez, drogas, avarezas e outras indecências flagrantes e escandalosas. Por não cometermos esses pecados, nós nos achamos moralmente superiores e olhamos com certo desdém ou desrespeito aqueles que os cometem.
11.1.4. Claro que os pecados que mencionei são coisas graves que destroem os alicerces morais da sociedade em que vivemos. São pecados sérios de verdade, e respeito os líderes cristãos de nossos dias que levantam vozes proféticas contra eles. Contudo, o pecado que nos emaranha é o do moralismo, e do espírito crítico que ele provoca em relação às pessoas que cometem pecados. Lucas 18:9
11.1.5. Aventuro-me a dizer que, entre todos os pecados sutis que analisamos neste livro, o orgulho da superioridade moral talvez seja o mais comum, ficando atrás somente do pecado da impiedade. Embora seja tão predominante entre nós, é difícil ser reconhecido porque nenhum de nós escapa dele totalmente.
11.1.6. Na verdade, parece que sentimos uma alegria perversa em acusar a sociedade de ter perdido a vergonha. Quando adotamos esse tipo de mentalidade ou fazemos esse tipo de comentário, escorregamos no pecado da superioridade moral.
11.1.7. Como, então, nos guardaremos desse pecado?
1. Primeiro, adotando uma atitude humilde baseada na verdade de que “é só pela graça de Deus que não estou na mesma situação.” Embora essa afirmação tenha virado lugar-comum, aplica-se a todos nós. Se somos moralmente corretos, e especialmente se somos cristãos que buscam viver de maneira correta, é só porque a graça de Deus prevalece em nós. Salmo 51:5
Em vez de nos sentirmos moralmente superiores àqueles que praticam os pecados escabrosos que condenamos, devemos sentir profunda gratidão a Deus porque sua graça nos manteve distantes, ou nos resgatou, do mesmo estilo de vida.
2. Outra maneira de nos guardarmos contra o orgulho moral é nos identificando perante Deus com a sociedade pecadora em que vivemos. Após o cativeiro na Babilônia, quando muitos judeus retornaram a Judá, Esdras, o habilidoso escriba da Lei de Moisés, voltou a ensiná-la ao povo de Deus. Esdras 7:10
É óbvio que Esdras foi um homem virtuoso que viveu de modo exemplar. Mesmo assim, nas ocasiões em que observou algum pecado extremo entre o povo, ele se identificou com o erro, mesmo que não tivesse culpa alguma. Esdras 9:6
Veja como ele se inclui na confissão de culpa: “nossos pecados” e “nossa culpa”. Ao testemunharmos a degradação moral crescente da sociedade, vamos adotar a atitude de Esdras, e ela nos protegerá do orgulho da autorretidão.
11.2. ORGULHO DA DOUTRINA CORRETA.
11.2.1. O orgulho moral é bastante parecido com o orgulho doutrinário – a presunção de que minhas crenças doutrinárias, sejam quais forem, estão corretas, e de que quem não pensa igual a mim é teologicamente inferior. Nós que nos preocupamos com a doutrina somos passíveis dessa forma de orgulho.
11.2.2. Não importa se somos arminianos ou calvinistas, se adotamos a teologia dispensacionalista ou da aliança, ou se abraçamos alguma forma de teologia eclética, somos propensos a achar que nossas crenças doutrinárias é que estão corretas, e olhamos com altivez para quem não crê da mesma forma.
11.2.3. Para completar o leque desse tipo de orgulho, há pessoas que menosprezam a doutrina e desdenham de quem lhes dá valor. Isso é orgulhar-se de um sistema de crença em particular, seja ele qual for, e isso também mostra que achamos que nossas crenças nos tornam espiritualmente superiores e quem crê de outro modo.
11.2.4. Em I Coríntios 8, Paulo trata dessa forma de orgulho em relação aos alimentos oferecidos aos ídolos. Alguns cristãos de Corinto achavam que comer ou não comer esses alimentos fazia parte da liberdade cristã. Paulo não discordou da conclusão deles, todavia os repreendeu por causa do orgulho doutrinário resultante do que criam. I Coríntios 8:1
11.2.5. Paulo concorda com o “conhecimento” dessas pessoas – isto é, a crença doutrinária delas sobre comer alimentos oferecidos aos ídolos – porém as acusa de orgulho doutrinário. O “conhecimento” havia deixado esse pessoal arrogante.
11.2.6. Se o calvinismo, ou o arminianismo, ou o dispensacionalismo, ou a opinião sobre o fim dos tempos, ou o desdém por todas as outras crenças bíblicas levam você a considerar-se superior a quem pensa de modo diferente, então você é culpado de orgulho doutrinário.
11.2.7. Com isso, não sugiro que não devemos conhecer as verdades bíblicas e desenvolver convicções doutrinárias sobre o que a Bíblia ensina. Estou dizendo que deveríamos defender nossas convicções com humildade, entendendo que muitas pessoas virtuosas e capazes na área teológica têm convicções diferentes das nossas.
11.2.8. Um dos objetivos deste capítulo é enfatizar o perigo do orgulho doutrinário e encorajar o leitor a considerar em oração se esse não é o caso de um de seus pecados “aceitáveis”. Se achar que pode ser, sugiro que memorize o versículo sobre “arrogância do conhecimento”.
11.2.9. E ore sobre o assunto. Depois, procure identificar com precisão as áreas em que você é inclinado a ser orgulhoso doutrinariamente, e peça que Deus o capacite a defender suas convicções com um espírito genuíno de humildade.