1. Habacuque - do desespero para vitória.
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1. Habacuque - do desespero para a vitória. Hc 1.1 Introdução
1. Habacuque - do desespero para a vitória. Hc 1.1 Introdução
Esboço
Habacuque: Como Transformar o Desespero em Cântico de Vitória.
1. O homem, seu tempo e sua mensagem
(Hc 1.1)
2. Um homem em crise com Deus e com os homens
(Hc 1.1–4)
3. Quando o céu deixa a terra alarmada
(Hc 1.5–11)
4. A esperança que nasce do desespero
(Hc 1.12–17)
5. Quando o céu acalma a terra
(Hc 2.1–5)
6. Semeadura maldita, colheita desastrosa
(Hc 2.6–20)
7. Como fazer uma viagem do medo à exultação
(Hc 3.1–19)
Introdução:
O livro do profeta Habacuque é breve, mas perturbadoramente atual. Ele trata de política internacional, opressão econômica, violação dos direitos humanos, violência brutal na guerra e decadência moral e religiosa. Ele nos fala também sobre a soberania de Deus e o avivamento espiritual. Podemos observar e comparar as grandes tensões políticas, sociais, econômicas, morais e espirituais da atualidade ao examinar a mensagem deste livro.
O livro de habacuque é o oitavo dos profetas menores. Embora ele esteja distante de nós mais de 2.500 anos, sua mensagem é atual, e sua pertinência, insofismável. Os tempos mudaram, mas o homem é o mesmo. Ele ainda é prisioneiro das mesmas ambições, dos mesmos descalabros morais, da mesma loucura.
Habacuque profetiza num tempo em que sua nação, o reino de Judá, estava à beira de um colapso. Porque retardou o seu arrependimento e não aprendeu com os erros de seus irmãos do Reino do Norte, que foram levados cativos pela Assíria em 722 a.C., entrariam, também, inevitavelmente no corredor escuro do juízo. As tempestades já se formavam sobre a cidade orgulhosa de Jerusalém. O tempo da oportunidade havia passado. Porque não escutaram a trombeta do arrependimento, sofreriam inevitavelmente o chicote da disciplina.
O princípio de Deus é: “Arrepender e viver”, ou: “Não se arrepender e sofrer”. O cálice da ira de Deus pode demorar a encher-se, mas, quando transborda, o juízo é iminente e inevitável. É impossível escapar das mãos de Deus. O homem pode burlar as leis e corromper os tribunais da terra, mas jamais enganar Aquele que se assenta no alto e sublime trono. O homem pode esconder seus crimes e sair ileso dos julgamentos humanos, porém jamais o culpado será inocentado diante dAquele que sonda os corações (Êx 34.7).
Os temas levantados por Habacuque são manchetes dos grandes jornais ainda hoje. Habacuque está nas ruas. Sua voz altissonante ainda se faz ouvir. Seus dilemas são as nossas mais profundas inquietações. Suas perguntas penetrantes são aquelas que ainda ecoam do nosso coração. Por isso, estudar Habacuque é diagnosticar o nosso tempo, é abrir as entranhas da nossa própria alma, é buscar uma resposta para as nossas próprias inquietações.
O homem Habacuque
Nada sabemos acerca da família, da procedência e da posição social de Habacuque. Henrietta Mears diz que pouco sabemos desse profeta da fé, exceto que formulava perguntas e obtinha respostas. Seu nome só é citado duas vezes e apenas no seu próprio livro (1.1; 3.1), embora sua mensagem tenha tido grande repercussão no Novo Testamento.
Gleason Archer diz que o nome Habacuque é raro, e seu significado, incerto. O nome Habacuque, segundo os estudiosos, significa “abraçar”. Jerônimo, o tradutor da Vulgata, entendeu que fosse “abraço”, mas de luta. Seria assim “porque ele lutou com Deus”. Habacuque tanto se agarrou a Deus buscando resposta para suas íntimas e profundas indagações quanto abraçou o povo, levando-lhe a consoladora verdade de que o inimigo opressor seria exemplarmente julgado por Deus. Enquanto o povo da aliança triunfaria sobre a crise e viveria pela fé, os soberbos caldeus seriam eliminados sem jamais serem restaurados.
Nessa mesma linha de pensamento, Keil e Delitzsch dizem que Lutero entendeu que o nome Habacuque significa “um abraçador”, ou aquele que abraça outro ou toma-o em seus braços. Assim, Habacuque abraça o povo e toma-o em seus braços, isto é, conforta-o e segura-o como se abraça uma criança que chora, acalmando-o com a garantia de que, se Deus quiser, tempos melhores virão em breve.
O tempo de Habacuque
Habacuque profetizou no final do período do reino de Judá. O Reino do Norte, por não ouvir os profetas de Deus, sucumbiria ao poderio militar da Assíria havia mais de cem anos, pois em 722 a.C. a orgulhosa cidade de Samaria fora entrincheirada durante três anos e, por fim, caiu impotente diante da supremacia militar dessa poderosa potência estrangeira. O Reino do Norte durou apenas 209 anos. Durante todo esse tempo, endureceu sua cerviz e andou longe dos caminhos de Deus. O cativeiro sem volta foi sua herança. A ferida sem cura foi seu legado.
O Reino do Sul alternou entre caminhadas na direção de Deus e escapadas perigosas para distanciar-se do Eterno. Quando reis piedosos ascendiam ao poder, havia conserto, e o povo dava ouvidos aos profetas e se arrependia de seus pecados, mas, quando reis ímpios e idólatras governavam, o povo era oprimido e ainda se desviava da presença de Deus.
As lições da queda do Reino do Norte não foram suficientes para abrir os olhos de Judá, nem as reformas religiosas realizadas pelo rei Josias no ano 621 a.C. tiveram profundidade suficiente para evitar a tragédia do cativeiro. Logo após a morte de Josias, Jeoaquim resistiu fortemente à pregação do profeta Jeremias, queimou os rolos do Livro e lançou o profeta na prisão. Nesse mesmo tempo, o mapa da política internacional estava passando por grandes mudanças. A poderosa Assíria tinha caído nas mãos dos babilônios em 612 a.C. O Egito, outra superpotência da época, marchou com seus carros blindados para o norte da Síria, em Carquemis, atravessando o território de Judá para enfrentar o exército caldeu. Nessa encarniçada peleja, Faraó Neco sucumbe também ao poderio militar da Babilônia em 605 a.C. Nesse mesmo ano, Nabucodonosor, o opulento rei da Babilônia, que governou esse majestoso império e construiu a gloriosa cidade com seus muros inexpugnáveis e seus jardins suspensos, cercou a cidade de Jerusalém. Estava lavrada a sorte desse reino que desprezava a Palavra de Deus, oprimia os fracos e aviltava a justiça.
Habacuque foi contemporâneo de Jeremias. Ele sofreu as mesmas pressões, as mesmas angústias e viu os mesmos perigos.
Habacuque viveu durante os últimos dias de Judá. A maior parte dos estudiosos situa o seu ministério antes de 605 a.C., quando a Babilônia, sob o governo de Nabucodonosor, tornou-se uma potência mundial (1.5). As palavras de Habacuque contra a Babilônia (2.6–20) deixam implícito que ela já havia se transformado em uma nação forte.
O estilo do profeta Habacuque
Habacuque era um homem que se entregava às lucubrações. Habacuque era um homem que tinha coragem de abrir o peito e expor suas dúvidas. Concordo com Isaltino Gomes Coelho Filho quando afirma que Deus não nos proíbe de pensar nem mesmo nos exige um “suicídio intelectual”.10 A fé não anula a razão. Ao contrário, a fé ilumina, esclarece e reorienta a razão. Pensar não é pecado. Habacuque é nosso contemporâneo. Lendo-o, podemos ouvir as dúvidas do jovem estudante universitário, as questões do intelectual, daquele que pensa em nível de questionamentos. Habacuque nos ensina a fazer a dolorosa transição da dúvida para a fé.
Ele difere de todos os outros na sua abordagem. Todos os outros profetas ergueram a voz, em nome de Deus, para confrontar o povo e chamá-lo ao arrependimento. O profeta Amós convocou as nações estrangeiras e, sobretudo, o povo de Deus a arrepender-se de suas atrocidades. O profeta Isaías tocou sua trombeta contra as nações estrangeiras e anunciou-lhes o juízo de Deus. O profeta Jonas foi à capital da Assíria, à impiedosa cidade de Nínive, e pregou em suas ruas sobre a subversão que desabaria sobre ela. O profeta Naum profetizou a queda da Assíria, e o profeta Obadias, a queda de Edom. Contudo, Habacuque não confrontou o povo, mas a Deus. Em vez de falar à nação da parte de Deus, ele falou a Deus da parte da nação. Em vez de chamar a rebelde Jerusalém ao arrependimento, ele cobrou de Deus Sua inação diante das calamidades que saltavam aos seus olhos.
O maior problema de Habacuque não era fazer um diagnóstico da doença de sua nação, mas um estudo do comportamento de Deus. O que mais lhe causou espanto não foi a derrocada moral da sua gente, mas a demora e o silêncio de Deus diante da calamidade do Seu povo. Habacuque teve dificuldade de conjugar o caráter santo de Deus com a sua aparente inação diante do prevalecimento do mal.
Habacuque entrou em crise quando suas orações deixaram de ser atendidas no tempo que gostaria de vêlas respondidas, e sua crise ainda se agravou por demais quando Deus respondeu a elas de maneira inimaginável. Os caminhos de Deus não são os nossos caminhos. Deus não pode ser domesticado. Ele é soberano e não segue a agenda que tentamos traçar para Ele. Ele faz todas as coisas conforme o conselho da Sua vontade. Deus diz a Habacuque que não estava inativo, mas trabalhando para responder à sua oração, trazendo os caldeus para serem a vara da disciplina contra o Seu povo
Situação política nos dias de Habacuque
Como já dissemos, o cenário político no tempo de Habacuque era muito nervoso. O mapa político das grandes potências mundiais estava mudando rapidamente. Naquele tempo, havia três grandes potências mundiais: a Assíria, a Babilônia e o Egito. O soberbo e aparentemente invencível Império Assírio, que tinha levado o Reino do Norte para o cativeiro em 722 a.C. e esmagado com crueldade desumana todas as nações do Crescente Fértil, acabara de ser derrotado pelos babilônios em 612 a.C. A Babilônia, imediatamente, assumiu a posição inconteste de superpotência no berço da civilização. A outra superpotência, o Egito, sentiu-se ameaçada, e, em 605 a.C., enviou um poderoso exército ao Norte, para refrear o programa expansionista caldeu. Faraó Neco, rei do Egito, ameaçado por essa façanha dos caldeus, põe seus carros de guerra em marcha e atravessa o deserto do Sinai, cruza o território de Judá e avança para o norte da Síria para enfrentar em Carquemis o poderoso exército caldeu, em 605 a.C. Nessa peleja encarniçada, os egípcios foram derrotados, e recuaram para a sua terra.
A Babilônia torna-se a única superpotência mundial. Seus exércitos marcham pelas planuras da terra fazendo campanhas expansionistas. Ninguém pôde resistir ao rei Nabucodonosor e seus exércitos. Por ser Judá um país satélite do recém dominado Egito, Nabucodonosor entrincheirou Jerusalém para dominá-la.
Como a invasão dos caldeus a Jerusalém deu-se em três turnos: 605, 597 e 587, é muito provável que a descrição de Habacuque refira-se à aproximação do primeiro cerco, quando foram levados os jovens estudantes para a Babilônia, dentre eles Daniel e seus três amigos. Podemos chegar a essa conclusão por causa da surpresa do profeta ao saber que Deus mesmo é quem estava trazendo os caldeus para serem os instrumentos da disciplina ao Seu povo.
A situação religiosa nos dias de Habacuque
2Crônicas 34.3 “Porque, no oitavo ano de seu reinado, sendo ainda moço, começou a buscar o Deus de Davi, seu pai; e, no duodécimo ano, começou a purificar a Judá e a Jerusalém dos altos, dos postes-ídolos e das imagens de escultura e de fundição.”
A reforma espiritual ocorrida no período do piedoso rei Josias não teve a profundidade necessária. Stanley Ellisen diz que a reforma de Josias terminou abruptamente com sua morte em 509, e as sementes de corrupção plantadas por Manassés frutificaram com rapidez sob o reinado de Jeoaquim. Tão logo o rei Josias morreu, o povo voltou a se rebelar contra Deus e a tapar os ouvidos aos seus profetas. Jeremias fez ouvir sua voz pelas ruas de Jerusalém, chamando o povo a se humilhar debaixo da poderosa mão de Deus. Ele confrontou o impiedoso rei Jeoacaz, mas este lançou o profeta na prisão e queimou os rolos do Livro. O cálice da ira de Deus foi se enchendo, e chegou o dia em que ele transbordou. Nesse dia, o rei de Jerusalém viu seus filhos serem mortos; ele teve seus olhos vazados, e a cidade de Jerusalém foi entregue às mãos dos caldeus.
O suntuoso templo construído por Salomão virou um montão de ruínas. A cidade de Jerusalém depois de um cerco doloroso sucumbiu impotente ao ataque estrangeiro. Os que morreram à espada foram mais felizes do que aqueles que morreram de fome dentro dos muros da cidade de Davi. Os vasos sagrados do templo foram entregues nas mãos de Nabucodonosor e levados para o templo de Dagom na Babilônia.
O pecado é o opróbrio das nações. Ele não fica sem julgamento. Quem não escuta o chamado da graça, ouvirá a trombeta do juízo. Quem calca aos pés o convite do arrependimento, sofrerá inevitavelmente a chibata do juízo.
A divisão do livro de Habacuque
O livro de Habacuque pode ser dividido em três partes distintas. O capítulo primeiro fala de uma sentença, um peso, uma mensagem difícil de ser entendida e mais difícil ainda de ser engolida. Nesse capítulo, o profeta escancara as tensões da sua alma e expressa sem rodeios os dilemas que assaltam seu coração. Dois grandes conflitos são vividos por Habacuque. O primeiro é o prevalecimento do mal e a aparente inação e demora de Deus. Suas orações não são respondidas com a urgência que as endereçou ao céu. O segundo conflito é a resposta surpreendente da sua oração. A resposta de Deus deixou o profeta mais alarmado e esmagado que o seu silêncio. Deus disse a Habacuque que os caldeus sanguinários, truculentos e expansionistas estavam vindo contra Judá não ao arrepio da sua vontade, mas em obediência ao seu chamado.
O segundo capítulo fala de uma visão. O profeta deveria escrever a visão num outdoor para todos lerem. A visão que Deus revela anuncia que o soberbo vai perecer, mas o justo vai sobreviver à crise, pois ele viverá pela fé. Os caldeus, por pensarem que seu poder emanava de suas próprias mãos e de seus ídolos mudos, cairiam, sem jamais serem levantados, mas o povo de Deus, que vive pela fé, seria restaurado.
O terceiro capítulo fala de um cântico. O profeta, que começa o livro chorando, termina-o cantando. Seu cântico não é em virtude da mudança circunstancial. As circunstâncias continuavam pardacentas, mas a verdade de Deus enchera sua alma de esperança. Deus descortinara para o Seu profeta Seu propósito, mostrara a ele Sua soberania, e agora, em vez de questionar a Deus, Habacuque clama por avivamento e se alegra em Deus, a despeito da situação.
Concluindo, Charles Feinberg diz que o primeiro capítulo discorre sobre a invasão dos caldeus, e o segundo capítulo prediz o juízo de Deus contra esse povo. O terceiro capítulo retrata a vinda do Senhor e a destruição das forças mundiais hostis.