Escatologia Bíblica (I/VIII)

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A. O EVANGELHO

A palavra “evangelho” significa “boas novas”.
O ponto central das Boas Novas foi apresentado por Pedro no dia de Pentecostes: “Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos testemunhas. De sorte que, exaltado pela destra de Deus e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis. Porque Davi não subiu aos céus, mas ele próprio diz: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés” (At 2.32-35).
As Boas Novas referem-se não apenas ao fato de Jesus haver ressuscitado dentre os mortos, mas também ao estar ele assentado à direita de Deus Pai – lugar de autoridade – intercedendo por nós. Ele fala ao Pai em nossa defesa (1Jo 2.1). Desde o trono, ele continua a derramar o Espírito Santo nos crentes para nos ajudar e capacitar com poder. Ele também aguarda pelo momento em que Deus dirá que chegou a hora de enviá-lo de volta, em triunfo, sobre todos os seus inimigos (Hb 10.13).
Pedro apresenta maiores detalhes acerca das Boas Novas ao afirmar que a promessa do derramamento do Espírito Santo não estava restrita ao dia de Pentecostes: era também para todos os que se arrependessem e fossem batizados: “Recebereis o dom do Espírito Santo. Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos e a todos os que estão longe: a tantos quantos Deus, nosso Senhor, chamar” (At 2.38-39).
Contudo, esse chamamento não se resume em ir a Jesus para ser perdoado e receber poder. Pedro exorta: “Salvai-vos desta geração perversa” (At 2.40). Esse apelo é mais que necessário nos dias de hoje. Vivemos num mundo em que o futuro parece ser cada vez mais incerto. Após a Segunda Guerra Mundial, o grande cientista Albert Einstein chamou a atenção para o fato de que o medo entre as nações estava aumentando, como também a fome, a injustiça, os conflitos territoriais e a política armamentista.1
1 Otto Nathan, Heinz Norden, eds., Einstein on Peace (Einstein em Tempos de Paz). New York: Harper & Row, Publishers, 1980, p. 355, 356.
A despeito de todos os esforços que hoje são feitos em prol da paz, essa condição ainda é uma realidade. A natureza humana caída não mudou. João Batista chamou os incrédulos impenitentes de “raça de víboras” (Mt 3.7). Jesus os chamou de hipócritas, cães, porcos, condutores cegos, cheios de hipocrisia e iniquidade, tendo por pai o diabo (Mt 7.5-6. 23.24-25.28; Jo 8.44). Ele enviou seus apóstolos “como ovelhas ao meio de lobos” (Mt 10.16). Pedro os descreveu como “aqueles que segundo a carne andam em concupiscências de imundícia e desprezam as dominações. Atrevidos, obstinados, não receiam blasfemar das autoridades; enquanto os anjos, sendo maiores em força e poder, não pronunciam contra eles juízo blasfemo diante do Senhor. Mas estes, como animais irracionais, que seguem a natureza, feitos para serem presos e mortos, blasfemando do que não entendem, perecerão na sua corrupção, recebendo o galardão da sua injustiça; pois que tais homens têm prazer nos deleites cotidianos; nódoas são eles e máculas, deleitando-se em seus enganos, quando se banqueteiam convosco; tendo os olhos cheios de adultério e não cessando de pecar, engodando as almas inconstantes, tendo o coração exercitado na avareza, filhos de maldição” (2Pe 2.10- 14).
Judas acrescenta que eles “são murmuradores, queixosos da sua sorte, andando segundo as suas concupiscências, e cuja boca diz coisas muito arrogantes, admirando as pessoas por causa do interesse... escarnecedores que andam segundo as suas ímpias concupiscências. Estes são os que causam divisões, sensuais, que não têm o Espírito” (Jd 16,18,19). Como o pastor Guy Duty escreve: “Aquele que está moralmente doente afunda-se cada vez mais na escala moral.”2
2 Guy Duty, Christ's Coming and the World Church (A Vinda de Cristo e a Igreja Mundial). Minneapolis: Bethany Fellowship, 1971, p. 119.

B. AS ÚNICAS BOAS NOTÍCIAS QUE RESTARAM

A maioria das pessoas ainda teima em esperar pelo melhor, não obstante a pouca esperança evidenciada pela mídia, a ausência quase total de boas notícias. De fato, o Evangelho de Deus são as únicas boas notícias que restaram. As Boas Novas abrangem o passado, o presente e o futuro. São as Boas Novas que dão ênfase ao fato de Deus, que criou todas as coisas por meio de Jesus Cristo (Jo 1.3), amar todas as pessoas e desejar nos abençoar e manter comunhão com cada um de nós. São as Boas Novas que proclamam que Jesus morreu por todos, morte essa que pôs em efeito uma nova aliança, oferecendo não apenas salvação e comunhão com Deus mediante Jesus, mas também o dom do Espírito Santo e a bem-aventurada esperança da volta de Cristo e de nossa participação na glória eterna (Rm 8.9,10,23,24, 15.13; 2 Co 3.8,11,12; Ef 3.16-19; Cl 1.17; 1 Pe 4.14). Também são as Boas Novas que anunciam que, a despeito da corrupção deste mundo, todos aqueles que arrependidos se voltarem para Deus serão lavadosde seus pecados, vindo então os tempos de refrigério pela presença do Senhor. O grego indica que podemos ter esses períodos de refrigério, tempos de grande reavivamento espiritual até o dia em que Jesus voltar à terra para nos buscar.
As Boas Novas dão sentido à vida. Ainda podemos influenciar nosso mundo para Cristo. Ainda podemos esperar ver derramamentos de poder e milhares de pessoas sendo salvas e acrescentadas à Igreja, como agora mesmo acontece em muitas partes do mundo.
Podemos e devemos ser “o sal da terra”, temperando e preservando aqueles que nos cercam. Podemos e devemos ser “a luz do mundo”, deixando que nossa luz resplandeça “diante dos homens, para que vejam as [nossas] boas obras e glorifiquem o [nosso] Pai, que está nos céus”, como Jesus ordenou (Mt 5.13-16). Afastar-se da corrupção do mundo não significa dar as costas ao mundo e suas necessidades. Não significa deixar de tomar parte no processo político ou nos esforços da comunidade que objetivam melhorar a situação em que vivemos. Nossas boas obras implicam não apenas em participar das bênçãos espirituais, mas também em ajudar o pobre e fazer tudo o que pudermos para diminuir a corrupção e a violência que contaminam o mundo.
Faz muito tempo que a humanidade inteira se afastou de Deus (Rm 1.18-23). Mas Deus não se afastou de nós. Ele veio ao curso da história e da vida humana para se revelar a si mesmo e preparar o caminho para o dom do seu Filho. A morte e a ressurreição de Jesus garantem que todos os que nele crêem não perecem mas têm a vida eterna (Jo 3.16). Hoje essa vida está disponível a cada um de nós por meio do ministério do Espírito Santo. Além disso, temos outra promessa: o mesmo Jesus há de vir assim como para o céu os discípulos o viram subir (At 1.11). Uma nuvem o recebeu, e ele retornará em nuvens, assim como ele próprio indicou numa referência à profecia de Daniel 7.13, durante o seu julgamento no Sinédrio (veja Mt 26.64).

C. ESCATOLOGIA: REALIDADE, NÃO FUGA

Ainda que devamos evitar especulações extrabíblicas, estamos negligenciando, sob risco próprio, o que a Bíblia diz acerca do cumprimento do propósito eterno de Deus.3 O termo técnico para esse estudo é “escatologia”, do grego eschatos (“último”) e logos (“palavra”, “mensagem”, “conhecimento”).
Os pentecostais, assim como a maioria dos que crêem na Bíblia, reconhecem que a escatologia “forma a estrutura central e essencial da teologia do Novo Testamento.”4
A escatologia chama a nossa atenção para a verdade de que Deus é um Deus pessoal que tem um propósito, um plano que abrange presente e futuro, podendo ele contar como certa a sua realização.
A escatologia nos informa que o mundo erra ao buscar um futuro melhor através do evolucionismo e de meros esforços humanos. Ela “nos faz lembrar que, em última análise, a redenção da História é um milagre da graça.”5 Também nos diz que Deus se preocupa com as pessoas.
Para o evolucionista, o indivíduo em si tem pouca importância. O Novo Testamento oferece salvação e um futuro cheio de bênçãos não para a humanidade em geral, mas para os indivíduos, a “todo aquele que nele crê” (Jo 3.16-18).
Como Alf Corell ressalta: “A escatologia não é um vôo distante da realidade... Pelo contrário, traz em si uma profunda percepção do significado da realidade. Ela está fundamentada na revelação dada no passado... e vivenciada aqui no presente, dando plena certeza de seu cumprimento.”6
Deus enviou o seu Filho, “vindo a plenitude dos tempos” (Gl 4.4). Isso implica no cumprimento de um plano. Mas esse plano não findou com a primeira vinda de Cristo. Ele veio, e por isso fomos remidos “a fim de recebermos a adoção de filhos” (Gl 4.5). Desse modo, tornamo-nos herdeiros de Deus com uma herança futura que será completamente nossa quando Jesus voltar e tomarmos parte em sua glória (Rm 8.17; Gl 4.7). Então, “convém que reine até que haja posto a todos os inimigos debaixo de seus pés... para que Deus seja tudo em todos” (1 Co 15.25-28). De acordo com essa perspectiva, pode-se dizer que toda teologia é essencialmente escatológica. Definitivamente, a escatologia não é “um apêndice no contexto dos interesses maiores da vida presente”, mas a certeza de que “aquele que... começou a boa obra a aperfeiçoará até ao Dia de Jesus Cristo” (Fp 1.6).
Ela nos assegura que “quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, também vós vos manifestareis com ele em glória” (Cl 3.4). Ele é a nossa esperança (Cl 1.27), e a esperança da sua vinda dá significado à vida. Ele é o vencedor e, em última análise, o futuro a ele pertence. Por conseguinte, o futuro não é uma categoria de menor importância.
A Bíblia, em todos os seus ensinamentos, aponta claramente para o fim que se aproxima. “Toda a energia vital dos profetas, apóstolos e mártires flui para acontecimentos que ainda estão para se cumprir, os quais esclarecerão devidamente toda a vida atual.”7

D. SUBSTITUTOS À VERDADE

O mundo fora de Cristo tem perdido o rumo. Muitos rejeitam a luz que a Bíblia lança sobre os caminhos da vida. Ainda não sabem que maravilhoso e seguro guia é o Espírito Santo. Em razão disso, o mundo não sabe para onde estão nos levando as rápidas mudanças que ocorrem nos relacionamentos do mundo e na história mundial. Stephen Travis salienta que, para os descrentes, “é como se a raça humana fosse passageira de um avião a jato – sem ninguém na cabine de comando.”8 A incerteza da vida moderna produz um espírito de desespero que visa engabelar alguns a ponto de acreditarem que o mundo se autodestruirá.9 Se uma bomba nuclear não nos destruir, a poluição o fará.
Alguns estão cegos, cultivando pensamentos ilusionistas e confundindo os próprios desejos com a realidade. Outros tentam esquecer a situação afundando-se no amor à “boa vida” e no entretenimento. Multidões procuram fugir, voltando-se para as filosofias humanistas, místicas e pagãs ou apegando-se a práticas ocultistas, num vão esforço de controlar o futuro ou pelo menos achar esperança nele. Ignoram as advertências bíblicas contra a astrologia, a cartomancia, a mediunidade espírita, a feitiçaria, o satanismo e o culto pagão, que são coisas tolas e fúteis (Is 44.25), além de corromperem as pessoas e serem detestáveis ao único Deus verdadeiro (Lv 19.31; Dt 18.9,12).10 Fazem parte da área de atuação de Satanás, o espaçoso caminho cujo fim só pode ser a destruição (Mt 7.13). O engodo satânico leva tais pessoas a uma visão errônea da História.

E. FILOSOFIAS PAGÃS

A maior parte das antigas filosofias pagãs encarava a História como um ciclo, sem começo e sem fim, sem meta.
Descobertas arqueológicas em Ugarit, ao norte de Tiro e Sidom, mostram que as pessoas tinham medo de que “deuses envelhecidos, forças destrutivas, reinos da morte” estivessem trabalhando para apagar “a lâmpada da organização do mundo civilizado”, provocando desse modo “um retorno ao início do ciclo e... o caos.”11
Os cananeus viam em deuses como Baal “um ritmo sazonal entre a vida e a morte”, o que “não dava muito incentivo a qualquer planejamento de longo alcance... O ponto de vista grego com relação à vida [também] era completamente pessimista.”12 Muitos pagãos ensinavam a reencarnação. Quer dizer, uma vida devia suceder outra em um ciclo interminável. Os hindus, entretanto, não consideram a reencarnação uma vantagem. Eles esforçam-se para negar o anseio pela vida, na esperança de poderem sair da roda da vida, perderem a identidade e serem absorvidos por um Brâman ou Atman, suposta “grande alma” do Universo.13 Contudo, essa “grande alma” transforma-se em algo que, segundo os seus filósofos, não se pode dizer que exista ou não. Em geral, as pessoas influenciadas por essas filosofias não percebem o vazio e a falta de significado que tais ensinamentos trazem à existência humana.
A visão cíclica da História não oferece nenhuma verdadeira resposta aos problemas da vida humana. O mesmo se dá com qualquer outra visão linear divorciada das raízes bíblicas, como é o caso de muitas ideias modernas de progresso.

Desde René Descartes (1637), os filósofos seculares têm colocado a humanidade no centro de tudo. Immanuel Kant (1783) fez da razão humana a única autoridade.

Hoje, os esforços humanos ainda tentam conduzir o mundo à democracia, à liberdade e a uma nova ordem de coisas. Mas, ao contrário disso, tais esforços “levam a um novo tipo de escravidão e autodestruição em potencial.”14 A moderna filosofia existencial também focaliza o humano “e ignora as dimensões cósmicas da Bíblia.”15

F. A RESPOSTA BÍBLICA

Por outro lado, a Bíblia mantém-se em juízo contra todas essas ideias e imaginações humanistas. A Palavra de Deus nos dá uma esperança e uma promessa, as quais somos incapazes de alcançar através de nossos próprios esforços. “As Escrituras revelam essencialmente uma visão linear da História, que tem Deus como Criador e Redentor.”16
Houve, de fato, um começo. Deus tinha um plano na criação, o qual demonstrava seu interesse por aqueles que foram criados à sua imagem. Na redenção, o plano divino destacava-se pelo derramamento, na cruz, do amor pela humanidade (Jo 3.16). Ele será fiel na realização desse plano até o último e maior cumprimento; não uma volta ao começo, mas algo muito melhor: uma meta que trará o reino milenial e, por fim, os novos céus e a nova terra e a Nova Jerusalém que ele está preparando.
Por causa do pecado, “a aparência deste mundo passa” (1Co 7.31). E tem de ser assim, pois apenas mediante julgamento o futuro Reino poderá vir em sua plenitude e perfeição (Dn 2.44-45). Todavia, pelo fato de Jesus ter vindo, o poder, o governo e a salvação do Reino de Deus entraram na História de maneira inédita e preparam a nossa participação no “eterno propósito [de Deus] que [ele] fez em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Ef 3.11).
Esse eterno propósito já fazia parte do plano de Deus antes da criação do Universo. Seu plano teve um verdadeiro começo e terá um verdadeiro fim. A maneira como o hebraico é usado em nesis 1.1 coloca em grande evidência a expressão “no princípio”.17 Em geral, os antigos religiosos pagãos evitavam a ideia de um começo. Se falavam a respeito de uma criação referiam-se geralmente à criação de algo que já existia, tal como a terra, o ar, o fogo e a água, o lodo ou o corpo de um gigante.18 Seus deuses eram retratados por eles como a brigar uns com os outros, sem existir verdadeiramente um soberano no Universo.
Ninguém sequer imaginava um Deus que fosse grande, poderoso e sábio o suficiente para criar algo do nada. Baal, por exemplo, era visto não “como aquele que tornava o mundo fértil, mas sim como aquele que faz [sua parte no] mundo fértil... ele se torna o meio pelo qual ganhamos as coisas... um deus a ser usado”, em vez de verdadeiramente adorado.19 Mas a Bíblia continua apontando Deus como o Criador. De fato, só ele pode criar. O hebraico do Antigo Testamento jamais utiliza o verbo “criar” (bara), não sendo Deus o sujeito.
E o mesmo Deus que nos criou nos ama o suficiente para nos remir. A Bíblia é o registro do desdobramento do seu grande plano de redenção, um plano que nos dá uma firme esperança. Como crentes em Jesus, somos espiritualmente uma nova criação, aguardando com ansiedade um novo corpo, na ressurreição, e por fim uma eternidade com novos céus e nova terra, uma criação completamente nova.
Portanto, escatologia não é unicamente o estudo da doutrina das últimas coisas. Ela se relaciona a tudo o que a Bíblia ensina. Ocupa-se, sobretudo, com a fidelidade de Deus, dando-nos a certeza de que a vitória final será dele – não de Satanás.20 Como crentes em Jesus, temos também o Espírito Santo como “outro Consolador” (parakletos – “a judador”, Jo 14.16), que nos capacita a servir a Deus e a ajudar uns aos outros à medida que ele mesmo nos habilita para a existência vindoura. Como experiência de revestimento de poder, o prometido batismo com o Espírito Santo outorga dons e ministérios. Mas não é só isso. O poder do Espírito Santo ocasiona o súbito aparecimento de uma esperança transbordante, fixada no Deus da esperança; uma esperança das recompensas eternas reservadas no céu para nós; uma esperança da ressurreição; uma esperança da volta de Jesus e do estabelecimento do seu reino milenial; uma esperança da glória eterna que excede em peso e excelência toda a nossa “leve e momentânea tribulação” que passamos hoje (2 Co 4.17). No presente século, podemos provar “a boa palavra de Deus e as virtudes do século futuro” (Hb 6.5).

G. O DEUS DA ESPERANÇA

O apóstolo Paulo orou: “Ora, o Deus de esperança vos encha de todo o gozo e paz em crença, para que abundeis em esperança pela virtude do Espírito Santo” (Rm 15.13). A “virtude” (ou “poder”, gr. dunamei) são as poderosas obras e dons do Espírito na época presente.21 Quando essas obras e dons se manifestam, como aconteceu no reavivamento pentecostal, sempre há um transbordamento com a esperança de que o Senhor com certeza virá e que a glória e as bênçãos do período milenial são reais.
Pelo fato de nossa esperança provir do Deus da esperança que confirmou sua promessa com juramento, “coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta” (Hb 6.17,18), não há como duvidar. Chama-se esperança apenas porque ainda não a temos (Rm 8.24-25). Por essa razão, é uma sólida esperança, “como âncora da alma segura e firme” (Hb 6.19). Sabemos que ela nunca nos desapontará, “porquanto o amor de Deus está derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5.5).
O Espírito Santo torna o amor de Deus real em nossa vida cotidiana. Ou seja: Deus, que nos amou o suficiente para enviar Jesus a morrer no Calvário por nossos pecados, nos ama o suficiente para tomar todas as providências necessárias para nos ver a caminho da glória (Rm 5.9-10, 8.17-20) e manter viva a esperança cristã. Portanto, não admira que bem no início do século XX o reavivamento pentecostal tenha sido marcado por uma intensa expectativa em relação ao retorno de nosso Senhor Jesus Cristo à terra.
Deus sempre foi o Deus da esperança. Uma análise do primeiro capítulo de Gênesis revela que na criação houve uma sequência gradual; uma similaridade entre os dias um e quatro, dois e cinco, três e seis; um equilíbrio com um ato distinto e criativo nos dias um, dois, quatro e cinco, e dois atos distintos e criativos nos dias três e seis; e, por fim, o clímax com a criação do homem e da mulher à imagem de Deus. Todos esses fatos indicam que tudo o que Deus criou foi de acordo com um plano. Antes do plano ter sido colocado em ação, ocorreu uma expectativa, ou esperança, indicada pelo contínuo adejo do Espírito de Deus sobre o oceano primevo. Essa esperança teve seu cumprimento inicial na comunhão que Deus desfrutava com Adão e Eva pela viração do dia (Gn 3.8).
Mesmo depois dessa comunhão haver sido interrompida pelo pecado, Deus não abandonou sua esperança pela humanidade. Embora Adão e Eva e a serpente que seduziu a esta fossem punidos, no meio do julgamento da serpente encontramos Deus dando esperança, quando promete que o descendente da mulher esmagaria a cabeça da serpente (Gn 3.15). Depois, ele providenciou vestimentas de peles de animais mortos para Adão e Eva, o que prenunciava a cobertura dos pecados pelo derramamento de sangue sacrificial, em última análise, o sangue de Jesus Cristo. Deste ponto em diante, Deus começou a executar um plano de redenção que oferecia salvação a todos aqueles que, com fé, se voltassem a ele.
Verificamos, mais uma vez, que o próprio fato de podermos ver o desdobrar desse plano na Bíblia prova que houve esperança.
No tempo de Enos, alguns realmente se voltaram para Deus e o invocaram em busca de bênçãos (Gn 4.26). Mas, pela época de Noé, o mundo havia se tornado tão corrupto e tão cheio de violência que “arrependeu-se o SENHOR de haver feito o homem sobre a terra, e pesou-lhe em seu coração”, de modo que ele determinou pôr em julgamento a raça humana (Gn 6.5-7,11-13). Porém, mesmo então havia esperança, pois Noé andava com Deus e achou graça aos seus olhos (Gn 6.8-9). Deus graciosamente deu instruções para a construção de uma arca, o que trouxe salvação para Noé e sua família.
Contudo, um novo começo não resolveu os problemas do mundo. Por ocasião da torre de Babel (Gn 11.1-9), novamente o mundo se havia desviado de Deus e era consumido por uma paixão em preservar a própria vida e pela exaltação de si mesmo em uma organização mundial unificada. Deus não apenas os dispersou, mas desistiu de tratar o mundo como um todo, entregando-os a seus pecados (Rm 1.24,26), para que esses pecados fizessem parte do julgamento divino sobre eles e os preparassem para perceber a necessidade de um Salvador.
Mas Deus não abandonou o seu plano em favor da humanidade. Ele achou um homem, Abraão, que respondeu com fé. A ele, Deus fez uma quádrupla e incondicional promessa de bênçãos – para o próprio Abraão, para seus descendentes, para a terra e para todas as nações do mundo – através de um único descendente que haveria de vir (Gn 12.1-3). Dessa forma, Deus foi revelado como o Deus da promessa, e, a partir de Abraão, a Bíblia tem um olhar em direção ao futuro.

H. O DEUS DA ALIANÇA

A promessa a Abraão foi confirmada pela aliança de Deus e seu juramento, duas coisas “nas quais é impossível que Deus minta” (Hb 6.17,18). Mais tarde, Deus confirmou a promessa a Isaque (Gn 26.3,4), a Jacó (Gn 28.13,14) e depois, no período do Êxodo, à nação de Israel (Êx 6.8). Deus cumpriria a promessa à sua própria maneira, e essa certeza foi intensificada tanto pelos profetas como pelo Novo Testamento.
No monte Sinai, Deus levou o povo de Israel a um relacionamento de aliança consigo mesmo, quando lhe deu a Lei através de Moisés. Contudo, a Lei não era o propósito final de Deus. Ele ainda tinha em vista bênçãos para todos os povos do mundo. Israel era uma nação escolhida – eleita como serva para ajudar a realizar aquele propósito. Foi escolhido quase da mesma maneira que os comandos da Segunda Guerra Mundial – eleitos para entrar no território inimigo e fazer uma cabeça-de-praia, de modo que os outros pudessem entrar. O mundo todo havia se tornado em campo do inimigo. Israel, na Terra Prometida, faria uma espécie de cabeça-de-praia, preparando o caminho para que as bênçãos de Deus fossem espalhadas pelas nações através daquele que prometera enviar.
Contudo, o mundo não estava preparado para Cristo e nem para a cruz. Nem Israel estava pronto para ser a testemunha necessária à preparação para a expansão do Evangelho. Consequentemente, a Lei foi dada como um aio temporário (gr. paidagogos, Gl 3.24) para que, através dos séculos, o povo de Israel fosse guardado até que viesse “a plenitude dos tempos” e Deus enviasse o seu Filho (Gl 4.4). Todavia, Deus “fez notórios os seus caminhos a Moisés e os seus feitos, aos filhos de Israel”, e era “misericordioso e piedoso” (Sl 103.7-8). Israel caía constantemente em pecado e idolatria. Contudo, a despeito das faltas, Deus enviava profetas para consolidar a aliança e encorajar o povo com a esperança da futura restauração e de grandes bênçãos. Essa esperança incluía uma revelação gradual do prometido Messias – o Profeta, Sacerdote e Rei ungido de Deus. Alguns críticos, que afirmam que os trechos contendo mensagens de esperança são adições posteriores, vêem os profetas apenas como proclamadores de condenação e desesperança. Mas é impossível “não dar crédito à onda de mensagens proféticas cheias de esperança que focalizam... a restauração... na qual o próprio Deus reina nos corações dos homens e particularmente por meio do Filho de Davi.”22
A profecia de Natã a Davi asseverava-lhe que Deus cuidaria para que sempre houvesse um descendente no trono.
Essa promessa olhava para o futuro, àquele que tornará eterno o trono de Davi. A profecia também deixava claro que se os descendentes de Davi pecassem, eles seriam punidos “com vara de homens” (2Sm 7.14).
2 Samuel 7.14 NAA
14 Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho. Se vier a transgredir, eu o castigarei com varas de homens e com açoites de filhos de homens.
Por isso, visto que Israel ficava a cair vez após vez na idolatria, Deus pôs fim ao reino davídico e enviou o povo para o exílio.
Entretanto, os profetas mostram que o propósito de Deus ao enviar o seu povo para a Babilônia era livrá-los da idolatria (Jr 29.8-13). Isto, de fato, aconteceu. No exílio, Israel começou a perceber quem eram os verdadeiros profetas, e através do estudo dos livros proféticos viram a loucura da idolatria. Quando voltaram, seu propósito era reconstruir o templo e restaurar a pura adoração ao Senhor. Por ocasião do nascimento de Jesus, em Belém, os judeus e suas sinagogas estavam espalhados por todos os cantos do mundo, sendo reconhecidos como um povo que servia a Deus e mantinha altos padrões morais. Infelizmente, a visão que tinham do Messias focalizava somente os aspectos terrenos do seu reino (ou governo). Procuravam alguém que fosse apenas um homem, e sua esperança era mais temporal e política do que religiosa. Queriam alguém que destruísse o Império Romano e fizesse dos judeus governantes do mundo. Não obstante, pelo fato de eles possuírem as Escrituras, suas sinagogas tornaram-se a base para o rápido avanço do Evangelho no primeiro século.
Com a vinda do Filho de Deus e sua morte na cruz, o trabalho da Lei estava completo e já não era mais necessário. Na realidade, a Lei havia se tornado uma barreira que separava os judeus do resto das nações (os gentios). Mas Jesus mesmo “é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derribando a parede ele separação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, assim fazendo a paz, e, pela cruz, reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades” (Ef 2.14-16).
Abolida a aliança da Lei, a morte de Jesus e o derramamento do seu sangue fazem vigorar uma nova aliança (Hb 8.13, 9.15-10.18). Essa aliança promete uma “eterna herança” (Hb 9.15) e nos garante que Jesus “aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para a salvação” (Hb 9.28).
Então, como sempre, a Bíblia faz uma aplicação prática para os dias de hoje: “Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no Santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne, e tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé; tendo o coração purificado da má consciência e o corpo lavado com água limpa, retenhamos firmes a confissão da nossa esperança, porque fiel é o que prometeu. E consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos à caridade e às boas obras, não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns; antes, admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais quanto vedes que se vai aproximando aquele Dia (Hb 10.19-25).
Essa passagem nos mostra, de maneira convincente, que “a segunda vinda é uma inevitável sequência histórica da primeira. As duas estão indissoluvelmente unidas”.23 O apóstolo Paulo tem uma aplicação prática similar em mente ao escrever aos crentes tessalonicenses: “Sempre damos graças a Deus por vós todos, fazendo menção de vós em nossas orações, lembrando-nos, sem cessar, da obra da vossa fé, do trabalho da caridade e da paciência da esperança em nosso Senhor Jesus Cristo, diante de nosso Deus e Pai.” Essa fé, caridade (ou amor) e esperança eram produtos do Evangelho que não haviam chegado até eles “somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo, e em muita certeza”. Eles receberam a palavra “com gozo do Espírito Santo”, de maneira que se tornaram modelo, pois dos ídolos eles haviam se convertido “a Deus, para servir ao Deus vivo e verdadeiro e esperar dos céus a seu Filho, a quem ressuscitou dos mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira futura” (1Ts 1.2-10).
Pedro também, em vista dos ardentes julgamentos finais do Dia do Senhor, declara: “Havendo, pois, de perecer todas estas coisas, que pessoas vos convém ser em santo trato e piedade, aguardando e apressando-vos para a vinda do Dia de Deus, em que os céus, em fogo, se desfarão, e os elementos, ardendo, se fundirão?” (2 Pe 3.11,12). Em seguida, por causa dos novos céus e da nova terra que virão, acrescentou: “Pelo que, amados, aguardando estas coisas, procurai que dele sejais achados imaculados e irrepreensíveis em paz” (2Pe 3.14).

I. UMA BEM-AVENTURADA ESPERANÇA

Vimos que houve uma progressão na história direcionada por Deus, a qual levou à primeira vinda de Cristo, conforme lemos em Gálatas 4.4,5: “Vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos”. Mas a plenitude desses direitos ainda não é nossa, pois a passagem bíblica prossegue, dizendo: “E, porque sois filhos, Deus enviou aos [vossos] corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai. Assim que já não és mais servo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro de Deus por Cristo” (Gl 4.6,7). A palavra “herdeiro” olha para além do tempo presente, para uma herança futura, unindo assim a primeira vinda com a promessa da segunda e inferindo que podemos esperar por uma progressão ordenada por Deus em direção ao seu cumprimento.
A primeira vinda também se mostra ligada à segunda quando a Bíblia fala da graça salvadora de Deus. Essa graça nos ensina “que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, justa e piamente, aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo, o qual se deu a si mesmo por nós, para nos remir de toda a iniquidade e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras” (Tt 2.11-14). O termo “bem-aventurado” (gr. makarian) sugere uma plenitude de bênçãos, felicidade e alegria através do gracioso e imerecido favor de Deus. Ainda que nós, como crentes, já sejamos abençoados, há muito mais para receber.
Hoje, Jesus Cristo é a nossa esperança (1Tm 1.1) e Cristo em nós é a esperança da glória que virá (Cl 1.27), pois “quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, também vós vos manifestareis com ele em glória” (Cl 3.4). Como ressalta Paul Minear: “A vida em Cristo sem esperança é inconcebível. Onde quer que haja vida em Cristo há uma viva esperança.”24 Minear também observa que a palavra “esperança” (gr. elpís) nunca é encontrada no plural no Novo Testamento. Apenas uma esperança é real e consistente com a realidade e a vontade de Deus, pela qual vale a pena viver.25

J. EXPECTATIVAS DA IGREJA PRIMITIVA

É óbvio que o Novo Testamento considera o Reino de Deus como já vigorando em Jesus durante o seu ministério terreno. Através dele, os crentes podiam “viver sob o domínio da justiça de Deus como um dom da graça de Deus” (Mt 6.33, 13.44-46).26 Nele, “o futuro já começou”. O Reino era uma realidade presente quando ele expulsava demônios pelo Espírito de Deus em grandiosas demonstrações de poder (Mt 12.28). Era um tesouro, uma pérola excelente e de grande valor (Mt 13.44-46), imediatamente disponível àqueles que se convertessem e se fizessem como crianças (Mt 18.3,4; 19.14). Estava próximo dos que se arrependiam (Mt 4.17). Contudo, a plenitude do Reino não virá até que Jesus volte (Mt 26.29), quando então os crentes entrarão na plenitude da vida eterna e tomarem parte na alegria do seu Mestre (Mt 25.21,23,46). Por meio de Jesus, o poder e a presença de Deus adentraram à força e de forma diferente o cenário da vida humana, e o futuro será nada mais que o desdobramento e a conclusão daquilo que em Cristo e no Espírito já existe e do que ele triunfantemente realizou, a despeito... do sofrimento e da morte.
Portanto, quando o Espírito Santo veio como o outro Consolador, no dia de Pentecostes, Pedro interpretou o advérbio “depois”, ele Joel, pela expressão “nos últimos dias” (Jl 2.28; At 2.17). Em outras palavras, o apóstolo reconhece que o período da Igreja, a dispensação do Espírito Santo, é o último antes da dispensação do Reino, “o século futuro”. Contudo, Pedro não está preocupado com a hora da vinda de Jesus. Sua maior preocupação é fazer com que as pessoas se arrependam e se beneficiem da promessa de Deus no que concerne ao perdão dos pecados e ao dom do Espírito Santo, a fim de que cada um se salve “desta geração perversa” (At 2.38-40). As pessoas daquela geração haviam sido orientadas na direção errada e estavam tentando arrastar outros junto com elas (Rm 1.32). Aqueles que se voltavam para Jesus podiam fazer a diferença pela santidade de suas vidas e pela influência que causavam em suas comunidades.
Não há dúvida de que a Igreja Primitiva realmente esperava que Jesus voltasse logo, antes mesmo que aquela geração de crentes morresse. Os tessalonicenses esperavam Jesus com tamanha expectativa que chegaram a imaginar que os mortos haviam perdido a alegria da vinda de Jesus. Paulo teve de lhes assegurar que os mortos em Cristo não perderiam nada, pois ressuscitariam primeiro e seriam arrebatados juntamente com os crentes que estivessem vivos para um encontro com o Senhor Jesus nos ares (1 Ts 4.13-18).
Essa esperança permaneceu viva para o apóstolo Paulo e constituiu-se num grande incentivo para um viver piedoso. Mesmo quando se aproximava o fim de sua vida, ele escreveu sobre aguardar a “bem- aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo” (Tt 2.11- 14).
A mesma esperança permanecia viva no coração de Paulo depois de ele saber que estava a ponto de ser martirizado. Em sua última carta, mais uma vez proclama a esperança que pautava a sua vida: “Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda” (2 Tm 4.8). Ele tinha plena certeza que chegaria em segurança ao reino celestial (2 Tm 4.18).
O livro de Apocalipse mostra que a esperança da vinda de Jesus ainda era intensa perto do fim do primeiro século, pois as últimas palavras registradas do ressurreto e ascendido Jesus foram: “Certamente, cedo venho”. E a resposta da Igreja foi: “Ora, vem, Senhor Jesus” (Ap 22.20). Dessa maneira, o Deus da esperança dedica a Jesus uma grande atenção sobre o fato de que este realmente virá. Isto dá urgência ao apelo da Igreja, um senso de iminência, que é o que ele quer que tenhamos. Precisamos dar a mesma resposta de João e orar para que Jesus volte Jogo. Ele realmente está vindo em triunfo, para reinar como Rei dos reis e Senhor dos senhores (Ap 19.16).
Jesus mesmo enfatizou que “este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as gentes, e então virá o fim” (Mt 24.14). Haverá um fim, não uma mera interrupção, não um simples beco sem saída. A palavra “fim”, nesse versículo, implica em um ajuntamento e uma consumação. Deus reunirá o que for necessário para cumprir o seu glorioso plano.
Algumas das coisas que estão para acontecer foram reveladas por Deus nas profecias da Bíblia. Entretanto, Apocalipse 10.3,4 mostra-nos o que aconteceu quando o apóstolo João ouviu o que proferiram as vozes dos sete trovões. Havia uma mensagem. Mas quando João ia escrevê-la, uma voz do céu o deteve. Isto significa que Deus preferiu não nos informar antecipadamente a respeito de algumas coisas que ainda estão no futuro. Há surpresas à frente, que fazem parte do seu plano tanto quanto fazem parte as coisas que ele já nos revelou.

K. O IMPACTO DO FUTURO SOBRE O PRESENTE

De fato, à medida que folheamos a Bíblia notamos que Deus está muito mais interessado em nos contar acerca de sua vontade para a vida que hoje vivemos do que em nos revelar detalhes a respeito do futuro. Toda a Escritura inspirada que Deus nos entregou é “proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra” (2 Tm 2.16,17). As “grandíssimas e preciosas promessas” da Bíblia nos foram dadas para que por elas nos tornemos “participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que, pela concupiscência [ou desejo ardente], há no mundo” (2 Pe 1.4).
Por exemplo, Isaías ao profetizar sobre o modo como algum dia todas as nações buscarão ao Senhor, desejosas de sua instrução, conclui: “Vinde, ó casa de Jacó, e andemos na luz do Senhor” (Is 2.2-5). Em outras palavras, uma vez que todas as nações irão buscar a Deus, Israel, sem dúvida, ao invés de agir como a velha natureza de Jacó, tirará proveito de sua vigente oportunidade. Deus quis que o povo de Israel vivesse em comunhão com ele na atualidade. Assim, Isaías estava mostrando o futuro não para satisfazer a curiosidade do povo, mas para desafiá-lo à santidade e ao crescimento e maturidade espirituais.
Os ensinamentos de Jesus acerca do futuro também tinham a intenção de nos desafiar. “Não eram especulações acerca do fim, nem visões para fascinar alguma curiosidade ociosa. Eram ensinamentos a respeito da fidelidade para o fim, a perseverança, a coragem, o serviço e o amor.”27
João nos desafia da mesma maneira, quando declara que no momento em que Jesus voltar seremos semelhantes a ele, isto é, transmudados à sua semelhança com corpos transformados, glorificados. E João continua: “E qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é puro” (1 Jo 3.2,3). O desafio para um viver piedoso ainda é a principal razão para pregarmos e ensinarmos o que a Bíblia diz sobre a doutrina das últimas coisas ou o fim dos tempos.
É essa preocupação pela santidade, pureza, piedade e justiça a primordial razão que me nos faz estudar a Escatologia. Nenhuma área dos ensinamentos bíblicos é mais controversa que a que se ocupa com as profecias e o fim dos tempos. Diferenças de opinião são abundantes. Pessoas boas, nascidas de novo, que amam a Jesus, acreditam na Bíblia como a infalível e inspirada Palavra de Deus e se dedicam ao culto e serviço a Deus, frequentemente têm grandes diferenças de opinião nesta área.
Mas essas verdades também são por demais importantes para serem negligenciadas pelos cristãos. Todos nós, de uma forma ou outra, somos como os crentes tessalonicenses que dos ídolos nos convertemos “a Deus, para servir ao Deus vivo e verdadeiro, e esperar dos céus a seu Filho, a quem ressuscitou dos mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira futura” (1 Ts 1.9,10). O que Deus fez, não só na vida, morte e ressurreição de Jesus, mas também através delas, constitui o sólido fundamento tanto para a fé como para a esperança.
Entretanto, diferenças de opinião não deveriam nos afastar da comunhão uns com os outros em Cristo Jesus. Nem deveriam as dificuldades de interpretação nos demover de estudar e pregar as verdades escatológicas. Como W. A. Whitehouse muito bem ressalta: “Se através do Espírito, o crente humilde tem de ser alimentado com as palavras e obras de Jesus (e, sem dúvida, essa é a parte essencial para uma pregação eficaz), então a trama e o enredo escatológico dessas palavras e obras devem se tornar parte de nosso pensamento nestes dias em que vivemos. Numa coisa todos podemos concordar: A Bíblia oferece uma firme e segura esperança para os cremes, uma esperança que nunca nos desapontará (Rm 5.5). Tal como os anjos falaram àqueles que viram Jesus ascender ao céu: “Este [mesmo] Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir” (At 1.11).
O mundo precisa dessa esperança e necessita saber que o nosso Deus é o Deus da esperança. A sociedade moderna tem feito de si mesma o centro de tudo. Aqueles que ainda têm esperança de um progresso automático esquecem-se de que Deus é o Deus do futuro, bem como do passado. Ao falarem a respeito de uma nova ordem pela qual esperam salvar o mundo de seus problemas, eles mesmos se excluem dos fundamentos bíblicos que primeiramente deram esperança e rumo, pois foram esses mesmos fundamentos que apresentaram a ideia de progresso. Isto tem resultado na exploração do meio ambiente como também no aumento da pobreza, do pecado e da vida sem sentido – além do crescente perigo da autodestruição. Os crentes têm de tomar uma posição firme contra todas essas coisas. Ao mesmo tempo, essas coisas chamam a atenção para outro lado do futuro. Virá o dia, e terá de vir, “quando o mal for finalmente abolido” e “a justiça finalmente terá amplos e plenos poderes”.28
Nossa esperança, como a do antigo Israel, está somente em Deus. Não podemos confiar no progresso humano ou na gama de informações agora disponíveis de um panto de vista também humano. Em meio à corrupção vigente na sociedade, necessitamos do poder do Espírito Santo, não apenas para testemunhar de Jesus, mas também para nos fazer abundar em esperança, sabendo que Deus é fiel. O Deus que nos amou o suficiente para enviar o seu Filho a morrer por nós também nos ama o suficiente para nos prover de tudo o que for necessário a fim de nos ver a caminho da glória que Ele está preparando para nós (Rm 5.5-10). Assim, hoje não temos falta de nada que venhamos precisar, e a alegria da nossa salvação é suficiente para contestar as reivindicações do comunismo, da psicologia freudiana e de tudo o mais que tente contradizer o Evangelho.51
Também podemos ter a certeza de que Deus deseja que examinemos as Escrituras todos os dias, como faziam os bereanos (At 17.11). O Espírito Santo inspirou toda a Escritura (2 Tm 3.16,17) e seu desejo é tornar o estudo da Bíblia um deleite. Com sua ajuda, podemos ter revelações das verdades escatológicas e usá-las para encorajar os outros, ao mesmo tempo que nos fortalecemos em nossa santíssima fé.
Como declara Stephen Travis: “Esta esperança não são pensamentos ilusionistas... nem mero escapismo”. É “um poderoso estímulo para uma vida cristã positiva e para uma mudança social... para transformar nossas vidas e influenciar nossa sociedade”.29 Embora Satanás ainda seja “o deus deste século”, que “cegou os entendimentos dos incrédulos” (2 Co 4.4), ele já é um inimigo derrotado. Jesus, o Senhor da glória, “se deu a si mesmo por nossos pecados para nos livrar do presente século mau” (Gl 1.4). Embora a vitória final ainda esteja no futuro, sua ressurreição e o derramamento do seu Espírito nos habilita a viver “num novo patamar” (At 2.33, 5.32; Gl 4.31) e “a esperança do retorno de Jesus coloca as coisas sob uma nova perspectiva.”30
Esperar implica em trabalho (Mt 24.45-51; Lc 19.12-26), e nossa esperança dá novo significado a toda obra que fazemos, até mesmo a mais comum. Esperar também significa combater o bom combate da fé – o único combate “bom” (2Tm 4.7). Deus nos tem providenciado uma armadura que nos permite tomar uma posição firme e vitoriosa contra todo plano maligno (Ef 6.10-18). Contudo, nossa atitude deve diferir da atitude daqueles que combatem as batalhas do mundo. Não precisamos ser beligerantes nem temer o que o mundo teme. Tendo Cristo como Senhor em nossos corações, podemos dar a razão de nossa esperança, e podemos fazê-lo “com mansidão e temor” (1Pe 3.14-15). E, sem chamar a atenção para nós mesmos, podemos praticar nossas boas obras (Mt 6.1-4).
Assim, podemos avançar, mantendo os nossos olhos firmes em Jesus, regozijando-nos até mesmo em meio aos sofrimentos, vivendo pelo Espírito, seguindo seus passos à medida que ele nos guia (Gl 5.25). Pode ser que não mudemos o curso do mundo em sua impetuosa trajetória de colisão em direção aos dias do Anticristo, mas podemos fazer nossa parte no intuito de ajudar e salvar tantas almas quanto possível. Deus ordenou aos judeus exilados na Babilônia: “Tomai mulheres e gerai filhos e filhas; tomai mulheres para vossos filhos e dai vossas filhas a maridos, para que tenham filhos e filhas; multiplicai-vos ali e não vos diminuais. Procurai a paz da cidade para onde vos fiz transportar; e orai por ela ao SENHOR, porque, na sua paz, vós tereis paz” (Jr 29.6-7). Nós também devemos orar e buscar a paz e a prosperidade onde quer que estejamos vivendo. Então, pela graça, atingiremos nossa meta indicada por Deus e levaremos outros conosco. Essas são as verdadeiras Boas Novas!
Apocalypse 22.20 NA28
20 Λέγει ὁ μαρτυρῶν ταῦτα· ναί, ἔρχομαι ταχύ. Ἀμήν, ἔρχου κύριε Ἰησοῦ.
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