Escatologia Bíblica (III/VIII)

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AS SETENTA SEMANAS
AS SETENTA SEMANAS
Entre todas as profecias da Bíblia, as Setenta Semanas de Daniel merecem destaque especial. Sem ela será muito difícil desvendar as profecias bíblicas. A compreensão destas semanas é indispensável para quem pretende entender a Escatologia Bíblica.
Nenhuma passagem do AT revela tanto os mistérios do plano profético de Deus para Israel e as nações quanto o livro de Daniel. Em particular, a profecia das setenta semanas (hb. Shavuah, “sete”) em Daniel 9.24-27 apresenta a chave cronológica indispensável para a profecia bíblica.
24 — Setenta semanas estão determinadas para o seu povo e para a sua santa cidade, para acabar com a transgressão, para dar fim aos pecados, para expiar a iniquidade, para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia e para ungir o Santo dos Santos. 25 Saiba e entenda isto: desde que foi dada a ordem para restaurar e para edificar Jerusalém até a vinda do Ungido, o Príncipe, haverá sete semanas e sessenta e duas semanas. As ruas e as muralhas serão reconstruídas, mas será um tempo de muita angústia. 26 Depois das sessenta e duas semanas, o Ungido será morto e não terá nada. O povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário. O seu fim virá como uma inundação. Até o fim haverá guerra, e desolações foram determinadas. 27 Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana. Na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de cereais. Sobre a asa das abominações virá aquele que causa desolação, até que a destruição, que está determinada, seja derramada sobre ele.
A profecia diz respeito tanto ao início quanto ao fim da “destruição de Jerusalém” (desde a conquista dos babilônios até o segundo advento de Cristo) e define este período como “os tempos dos gentios” (Lc 21.24), depois do qual o tempo de restauração de Israel terá início (cf. Is 2.2-4; Zc 8.1-15, 14.3-21). A profecia das setenta semanas, portanto, pertence ao grande acervo de textos sobre a restauração profética, dados a Israel como consolo em seu cativeiro. Estas profecias prometem a redenção messiânica por intermédio da dinastia de Davi em Jerusalém (Is 40-66; Jr 30-33; Ez 33-48).
A profecia das setenta semanas está incluída na parte do livro de Daniel que registra visões dos reinos terrestres futuros, tanto humanos quanto divinos (7-12). Ela fornece um modelo profético para posteriores revelações escatológicas como o Sermão do Monte proferido por Jesus (Mt 24; Mc 13; Lc 21), o sermão do “dia do Senhor” feito por Paulo (2 Ts 2), e a seção sobre a ira divina no livro do Apocalipse (Ap 6-19). Os autores do NT usaram a profecia das setenta semanas para predizer eventos futuros, de modo que nós também devemos interpretá-las de forma futurista.
Explicação das Setenta Semanas de Anos de Daniel
69 semanas de anos x 7 anos em cada semana x 360 dias por ano = 173.880 dias
5 de março, 44 a.C. (decreto de Artaxerxes) + 173.880 dias = 30 de março, 33 d.C. (a entrada triunfal)
Verificação
444 a.C. a 33 d.C. = 476 anos
476 anos x 365.2421989 dias = 173.855 dias + dias entre 5 de março (decreto de Artaxerxes) e 30 de março (a entrada triunfal) = 25 dias. Total = 173.880 dias
Fundamentação para os Anos de 360 dias
1/2 semana (ou 3 1/2 anos) — Daniel 9.27
1.260 dias — Apocalipse 11.3, 12.6
42 meses — Apocalipse 11.2, 13.5
42 meses = 1.260 dias = tempo, tempos, metade de um tempo = meia semana Portanto, um mês = 30 dias; um ano = 360 dias
O contexto da profecia
O contexto da profecia
Daniel entendeu, a partir das profecias de Jeremias, que o exílio na Babilônia duraria setenta anos (Dn 9.2; Jr 25.11, 29.10). Ele reconheceu que a restauração dependia do arrependimento nacional (Jr 29.10- 14), de modo que Daniel intercedeu pessoalmente por Israel com penitência e petições. Ele orou especificamente pela restauração de Jerusalém e do Templo (Dn 9.3-19). Aparentemente, Daniel esperava o cumprimento imediato e completo da restauração de Israel com a conclusão do cativeiro dos setenta anos. No entanto, a resposta que lhe foi entregue pelo arcanjo Gabriel (a profecia dos setenta anos) revelou que a restauração de Israel seria progressiva e se cumpriria defintitivamente somente no tempo do fim (cf. Dn 12).
A abrangência da profecia
A abrangência da profecia
Deus decretou que completaria a redenção messiânica dos judeus e de Jerusalém (incluindo os dois adventos de Cristo) em setenta semanas. Ele apresentou seis objetivos da restauração que se cumpriria no decorrer deste tempo:
a) “extinguir a transgressão”;
b) “dar fim aos pecados”;
c) “expiar a iniquidade”;
d) “trazer a justiça eterna”;
e) “selar a visão e a profecia”;
f) “ungir o Santo dos santos”.
As setenta “semanas”, na realidade, são setenta semanas de anos, ou 490 anos. Estes são divididos em sete semanas (49 anos), 62 semanas (434 anos) e uma semana (7 anos). A restauração completa de Israel não se cumprirá com o retorno de um remanescente dos exilados depois dos setenta anos. Em vez disso, Deus cumprirá as suas promessas sobre o futuro de Israel depois de 490 anos. Os estudiosos cristãos conservadores aplicam esta profecia à vinda e à morte de Jesus, o Messias (9.25-26) e à “destruição da cidade [Jerusalém] e do santuário [Templo]”.
Estes eventos aconteceram depois das 7 semanas e das 62 semanas, ou 483 anos (segundo o calendário lunar judeu). Os 483 anos começaram com o decreto de Artaxerxes a Neemias para reconstruir os muros de Jerusalém em 444 a.C. e terminaram com a morte de Cristo, em 33 d.C. Os futuristas interpretam, de maneira clássica, a septuagésima e última semana (no v. 27) como tendo início muito tempo depois do final da sexagésima nona semana. Daniel 12 e os textos proféticos do NT que se baseiam na profecia das setenta semanas mostram que os acontecimentos da septuagésima semana descrevem a Tribulação, incluindo a revelação e a destruição do Anticristo. A Bíblia também chama este período de sete anos de tribulação, Dia do Senhor, dia da ira, dia de aflição, dia de angústia, tempo de angústia para Jacó, dia de trevas e tristeza, e de ira do Cordeiro. A septuagésima semana completa a restauração de Israel no tempo do fim (Dn 12.4,9; veja também 8.17), de modo que se segue (e se distingue) a era da Igreja (que é consumada pelo arrebatamento).
O esquema em Daniel retrata a perspectiva pré-milenial e pré-tribulacional das setenta semanas. Isto é, mostra o arrebatamento tendo lugar antes da Tribulação, e a segunda vinda de Cristo antes do Milênio. Embora nem todos os evangélicos se apeguem a uma interpretação de arrebatamento pré-tribulacional (alguns são favoráveis a uma perspectiva mesotribulacional ou pós-tribulacional), eles concordam que o Anticristo surgirá durante a Tribulação, e poderá estar em uma posição de autoridade antes do arrebatamento, mas as pessoas não o reconhecerão como o Anticristo até que se inicie a Tribulação (2 Ts 2.6,8).
A interpretação da profecia
A interpretação da profecia
A profecia das setenta semanas será cumprida quando os seus seis objetivos de restauração forem satisfeitos (Dn 9.24). Os não futuristas afirmam que a morte, a ressurreição e ascensão de Jesus cumpriram estes objetivos. Por isso consideram que toda a profecia foi cumprida, consecutivamente, sem interrupção, entre a sexagésima nona e a septuagésima semana. Alguns futuristas concordam que alguns dos objetivos redentores podem ter se cumprido no primeiro advento de Cristo, mas crêem que outros objetivos não podem ser cumpridos isoladamente dos eventos que acompanham o segundo advento. Por exemplo, ainda não vemos a resposta ao interesse central de Daniel – o tempo do fim do cativeiro dos judeus e de Jerusalém (Dn 9.2).
A interpretação não futurista aponta para as revoltas temporárias dos judeus, mas todas elas foram malsucedidas e acabaram levando à destruição da cidade e do Templo e ao exílio. Isto, naturalmente, não oferece nenhuma solução ao pedido específico de Daniel pelo retorno do seu povo a Jerusalém, e pela reconstrução do Templo (9.16-19). Como resultado, os não futuristas geralmente partem da interpretação literal histórica e recorrem a um cumprimento simbólico: uma “restauração espiritual” que surge pela expiação de Cristo.
Gabriel prometeu a Daniel que aquele que destruísse o Templo seria completamente destruído (9.27), o que nunca aconteceu. Em vez disso, Tito, o general romano que destruiu o segundo Templo juntamente com seu pai, o imperador Vespasiano, desfilou com os utensílios do Templo pelas ruas de Roma. A destruição profética do destruidor do Templo no versículo 27 deve ocorrer literalmente, assim como a destruição do Templo no versículo 26 ocorreu literalmente e as referências messiânicas nos versículos 25- 26 foram cumpridas literalmente. Esta destruição é “decretada” – será, claramente, o resultado do juízo divino. Somente a interpretação futurista que vê o destruidor do Templo como o Anticristo (2 Ts 2.3-4; Ap 11.1-2), com a sua destruição no segundo advento de Cristo (2 Ts 2.8-9l Ap 19.11-20), está em harmonia com esta profecia.
O cumprimento progressivo da profecia
O cumprimento progressivo da profecia
Diversos outros fatores também apontam para um cumprimento progressivo futuro destes objetivos. Por exemplo, segundo Daniel 9.24, a profecia de setenta semanas é para todo o Israel, e para Jerusalém. Em outras palavras, não é uma promessa universal. Ela prediz o futuro dos judeus em sua terra histórica.
Em respostas à oração de Daniel, um remanescente judeu retornou a Judá para restabelecer a terra e reconstruir Jerusalém e o Templo. Além disso, um Messias judeu veio à terra de Israel para “expiar a iniquidade” (9.24). Da mesma maneira como estes eventos se cumpriram literalmente, pode-se esperar que os seis objetivos proféticos das setenta semanas também se cumpram literalmente. Estes seis objetivos não foram cumpridos na Igreja neste século; eles se aplicam à nação judaica, no século futuro.
A missão do Messias
A missão do Messias
Os três primeiros objetivos dizem respeito aos pecados nacionais de Israel, e os três últimos têm a ver com a salvação. O Messias cumpre estes objetivos no seu primeiro e no segundo advento. O retorno de Israel, no final dos setenta anos, não “extinguiu a transgressãoo”, nem “deu um fim aos pecados”, nem “expiou a iniquidade”.
Os intérpretes judeus também sustentavam que o cumprimento final destes objetivos não fora cumprido com o retorno de Zorobabel e a restauração empreendida por ele, em 538 a.C. Segundo o intérprete judeu Abarbanel, o pecado de Israel não requeria setenta anos, mas 490, por causa da transgressão à lei sabática (2 Cr 36.21). Outros intérpretes judeus como Rashi e Metzudos afirmaram que isto se referia a um período posterior aos 490 anos, que, segundo acreditavam, tinham terminado com a destruição do segundo Templo.
A morte do Messias
A morte do Messias
A profecia de Daniel revela claramente que o Messias veio e cumpriu a primeira parte da sua missão (os três primeiros objetivos) no tempo predito nos versículos 25-26, i.e., 483 dos 490 anos. No versículo 26, o Messias é morte, e Jerusalém e o Templo são destruídos. Isto aconteceu no final do período do segundo Templo, precisamente quando as fontes rabínicas (veja o Talmude babilônio, tratado do Sinédrio 97 a-b) esperavam que o Messias viesse. A morte do Messias deu um fim ao pecado e expiou a iniquidade, conforme predito no versículo 24. Este ato serve como base para a futura salvação de Israel, no segundo advento (Zc 12.10; Mt 24.30-31; Lc 21.27-28; Rm 11.26-27). As palavras “tirado... e não será mais” podem querer dizer “sem herdar o reino messiânico” (v. 26). Depois da morte e da ressurreição de Jesus, ele disse que o reino ainda era futuro (At 1.6-7).
O programa do Messias
O programa do Messias
O cumprimento dos três últimos obstáculos espera o tempo do fim. A expressão “trazer a justiça eterna” refere-se à restauração milenial ou “era da justiça” (cf. Is 1.26, 11.2-5, 32.16-18; Jr 23.5-6, 33.15-18).
Esta restauração escatológica também pode “selar a visão e a profecia”. O último objetivo, “ungir o Santo dos santos”, deve considerar uma futura dedicaçãoo do Santo dos santos do Templo. A interpretaçãoo rabínica relaciona isto ao terceiro templo. Segundo Tosefta Sotah 13.2, o segundo Templo não tinha sido ungido porque não continha a arca do concerto nem a Shekiná (a presença divina). Quando o Messias retornar em glória, edificará o Templo milenial (cf. Ez 40-48), e o encherá com a presença divina (Ez 43.1-7). Ele o consagrará para uso, por toda a era messiânica (Is 56.6-7, 60.7; Jr 33.18; Ez 43.11, 18-27, 44.11-28, 45.13-46.15; Zc 14.16-21). Portanto, Daniel descreve a missão do Messias para com Israel, começando com a sua crucificaçãoo como o Salvador de Israel, e culminando com o seu reinado como Rei de Israel. Deus cumprirá todos os elementos da oração de Daniel na era futura do reinado do Messias.
O evento notável que leva à conclusão do programa messiânico para Israel na segunda metade da septuagésima semana é a “abominação desoladora”. Um líder (chamado de “princípe” como o Messias, no v. 25) do povo (os romanos) que destruiu o segundo Templo faria um concerto com os líderes (os muitos) de Israel. A natureza específica deste concerto não está clara, mas tem a ver com a reconstrução do Templo, de alguma maneira.
Jesus disse que a futura profanação do Templo seria o sinal inevitável para Israel no tempo da Grande Tribulação (Mt 24.15; Mc 13.14). O apóstolo Paulo também usou este sinal como evidência para a ascensãoo inequívoca do “homem do pecado” (o Anticristo) e do juízo de Deus, que viria na Tribulação (2 Ts 2.9; Ap 13.11-15). Com a destruiçãoo do Anticristo e seus exércitos por Cristo (Ap 19.20), e o arrependimento nacional de Israel (Rm 11.26-27), a restauração final de Israel e a exaltação de Jerusalém e do santuário de Deus se cumprirão (cf. Is 2.2-3, 4.2-6; Jr 3.17; Ez 37.24-28, 48.35; Zc 8.3-8, 13.1-2,
14.8-20).
O propósito da profecia
O propósito da profecia
Daniel procurara os profetas e orara, pedindo uma resposta para o mistério que rodeava a desolação do Templo nos seus dias. Ele aprendeu que os tempos dos gentios começaram com o cativeiro dos seus dias, e terminaria com um império internacional, liderado por um futuro governante ímpio. Deus revelou que isto aconteceria no tempo do fim, e que o ato final da destruição do Templo assinalaria o juízo final de Deus contra as forças gentias. Finalmente, Deus cumpriria todas as suas promessas a Israel (Dn 2.44-45, 7.17-27, 12.1,7). Na profecia das setenta semanas, Deus nos dá a chave para o enigma profético do tempo do fim, de modo que possamos saber o que esperar, e tenhamos confiança em nossos dias.
A SEGUNDA VINDA DE CRISTO
A SEGUNDA VINDA DE CRISTO
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A segunda vinda de Cristo a esta terra é um dos acontecimentos mais importantes mencionados em toda a Bíblia. Apenas o NT inclui 321 referências a este impressionante acontecimento, tornando-o a segunda mais proeminente doutrina apresentada nas Escrituras, depois da própria salvação.
Enoque foi o primeiro profeta a mencionar a segunda vinda de Cristo, conforme registrado em Judas 14-
15. A segunda vinda é mencionada em muitos dos salmos, por todos os profetas, por todos os apóstolos, e, naturalmente, pelo próprio Senhor, em diversas ocasiões. O NT ensina-a em um dentre cada trinta versículos, e em todos os capítulos de 1 e 2 Tessalonicenses – os primeiros livros escritos para a Igreja Primitiva. Além disso, todos os nove autores do NT a mencionam em 23 de seus 27 livros. Obviamente, Deus pretendia que a sua Igreja fosse motivada à santidade, à evangelização, e ao interesse missionário pelo estudo da segunda vinda de Cristo.
Diversas doutrinas essenciais da Bíblia são absolutamente dependentes da segunda vinda de Cristo. Por exemplo, a ressurreição dos mortos não pode ser cumprida até que Jesus venha outra vez. Da mesma maneira, a vitória de Cristo sobre Satanás não poderá ser completa até que ele retorne. E, o mais importante, a sua natureza divina não pode ser confirmada a menos que ele venha outra vez à terra, uma vez que ele prometeu tantas vezes que o faria. Jesus seria culpado de fraude e engano se deixasse de retornar, e Deus simplesmente não pode mentir. João 14.3 cita Jesus dizendo: “Virei outra vez”. Portanto, a segunda vinda de Cristo não somente é uma certeza; é uma necessidade doutrinária.
Distinção entre a primeira e a segunda vinda
Distinção entre a primeira e a segunda vinda
O fato de a primeira e a segunda vinda de Cristo terem sido inadvertidamente interpretadas como um só evento explica por que tantos judeus não aceitaram Jesus como seu Messias há dois mil anos. As promessas de Cristo de vencer o mundo, estabelecer o seu reino e trazer a paz (promessas que aplicam-se à segunda vinda) foram equivocadamente aplicadas à primeira vinda. Portanto, a principal razão por que muitos o rejeitaram não foi porque ele operasse milagres incríveis e fosse o maior Mestre que já viveu, mas sim que o povo desejava que ele libertasse Israel dos grilhões de seus opressores romanos, e assim não perceberam que as profecias relativas ao futuro reino referiam-se à sua segunda vinda, não à primeira. O propósito da primeira vinda era sofrer pelos pecados do mundo, morrer sobre a cruz e ressuscitar outra vez – sem isto não haveria vida eterna. Nós, que vivemos na era da Igreja, temos o benefício de olhar para trás e determinar quais profecias se cumpriram na primeira vinda, e quais ainda se cumprirão na segunda.
As duas fases da segunda vinda
As duas fases da segunda vinda
A primeira aparição física de Cristo na terra pode ser dividida em diversas partes: nascimento, ministério, morte, ressurreição e ascensão. Da mesma forma, só podemos compreender a segunda vinda de Cristo se percebermos que esta também possui fases distintas. As muitas referências à segunda vinda revelam que não se trata apenas de um evento singular. A primeira fase envolve o arrebatamento da Igreja: consiste em nosso Senhor vir do céu, nos ares, para levar todos os crentes à casa de seu Pai, como prometeu em João 14.1-3. As inúmeras referências a este magnífico evento incluem as descrições do apóstolo Paulo em 1Coríntios 15.50-58 e em 1Tessalonicenses 4.13-18.
“O mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras” (1 Tessalonicenses 4.16-18).
A segunda fase da segunda vinda de Cristo é conhecida como a “manifestação gloriosa” (Tt 2.13), e é descrita em detalhes em Apocalipse 19.11-20. Este evento que envolve o retorno de Cristo à terra com os seus santos para estabelecer o reino acontece no final dos sete anos da Tribulação.
Os problemas surgem quando teólogos tentam eliminar as fases da segunda vinda de Cristo colocando tanto o arrebatamento quanto a “manifestação gloriosa” no final do período da Tribulação – visão conhecida como “interpretação pós-tribulacional do arrebatamento”. Neste cenário, os crentes terão de vivenciar os horrores da Tribulação. Para sustentar esta opinião, é necessário deixar de espiritualizar, ou simplesmente ignorar, diversas passagens das Escrituras. Mas um estudo cuidadoso de todas as referências bíblicas relacionadas à segunda vinda claramente mostra que o arrebatamento e a manifestação da glória são duas fases separadas da segunda vinda. Compare as seguintes diferenças:
Arrebatamento
Manifestação Gloriosa
Nos ares, Cristo vem para aqueles que lhe
pertencem.
Cristo vem à terra com aqueles que lhe pertencem.
Todos os crentes são transformados e
recebem novos corpos.
Não há transformação de corpos.
Os crentes são levados à casa do Pai.
Os santos ressurretos permanecem na terra.
A terra não é julgada.
Cristo julga os habitantes na terra.
A Igreja estará no céu.
Cristo institui seu reino na terra.
Pode ocorrer a qualquer momento (é iminente).
Não ocorrerá até o fim da Grande Tribulação.
Não será precedido por nenhum sinal.
Inúmeros sinais a precederão.
Afeta apenas os crentes.
Afeta toda a humanidade.
É um acontecimento que traz alegria.
É um evento que traz lamentação.
Acontece antes do dia da ira.
Acontece após a Grande Tribulação.
Satanás não é mencionado.
Satanás é preso no abismo por mil anos.
As obras dos crentes são julgadas no Tribunal de Cristo.
Não há um tribunal de Cristo.
Acontece as Bodas do Cordeiro.
A noiva desce com o Noivo à terra.
Somente os que pertencem a Cristo o verão.
Todo olho o verá.
Dá início à Grande Tribulação
Dá início ao reino milenial de Cristo.
Razões para reconhecer uma segunda vinda em duas fases
Razões para reconhecer uma segunda vinda em duas fases
A segunda vinda de Cristo pode ser melhor interpretada como abrangendo todo o período de sete anos e múltiplos eventos que incluem o arrebatamento, a Tribulação e a manifestação gloriosa.
O arrebatamento demonstra de maneira notável a incrível misericórdia de Deus pelos crentes. Ele prometeu que a Igreja de Jesus Cristo não terá de passar pela Tribulação, razão por que a Bíblia chama o arrebatamento de “bem-aventurada esperança” (Tt 2.13). Como 1 Tessalonicenses 1.10 diz, nós esperamos “dos céus a seu Filho, a quem ressuscitou dos mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira futura”. O contexto deste versículo aponta para o arrebatamento, e a “ira futura” é a Tribulação. Como o próprio Jesus promete, em Apocalipse 3.10: “Também eu te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na terra”.
1Tessalonicenses 5.9 contém outra forte indicação de que o crente não passará pela Tribulação: “Deus não nos destinou para a ira, mas para a aquisição da salvação, por nosso Senhor Jesus Cristo”. Mais uma vez, o contexto deste capítulo é o arrebatamento. De maneira similar, a descrição da Tribulação em Apocalipse 4-18 não menciona a Igreja nem uma única vez. Por que? Porque a Igreja terá sido tirada do caminho, em segurança, pelo arrebatamento, antes do início dos horrores da Tribulação, descritos nas Escrituras como a ira do Cordeiro (Ap 6), e a ira de Deus Pai (Ap 16).
Outra razão por que é impossível que o arrebatamento ocorra no final da Tribulação é que ele não deixaria crentes sobre a terra, em corpos naturais, que pudessem povoar o reino milenial. Todos os participantes do arrebatamento estarão com os corpos glorificados, e não mais estarão envolvidos na procriação (Mt 22.30). E Mateus 25.41 indica que todos os incrédulos serão enviados ao “fogo eterno”.
Sendo assim, não sobrará ninguém com um corpo natural para entrar no reino milenial. Mas nós sabemos, a partir de inúmeras passagens do AT, assim como a de Apocalipse 20.7-10, que haverá uma grande explosão populacional durante o Milênio. De onde vêm essas pessoas? Aqueles que se tornarem crentes durante a Tribulação (graças à pregação dos 144.000 judeus e das duas testemunhas) e sobreviverem ao fim são os que irão repovoar a terra. Estas pessoas não serão arrebatadas no final da Tribulação em algum tipo de arrebatamento pós-tribulacional, mas entrarão no reino milenial de Cristo em seus corpos naturais.
ARREBATAMENTO
ARREBATAMENTO
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O arrebatamento da Igreja é um dos eventos proféticos mais comoventes e empolgantes da Bíblia. Ele é duramente ensinado em 1Tessalonicenses 4.15-18 ,onde o apóstolo Paulo nos fornece os seguintes detalhes:
15 E, pela palavra do Senhor, ainda lhes declaramos o seguinte: nós, os vivos, os que ficarmos até a vinda do Senhor, de modo nenhum precederemos os que já morreram. 16 Porque o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; 17 depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor. 18 Portanto, consolem uns aos outros com estas palavras.
Esta passagem das Escrituras delineia cinco estágios do arrebatamento:
a) o próprio Senhor descerá do céu com alarido e com som de trombeta;
b) os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro;
c) nós que estivermos vivos e permanecermos na terra seremos “arrebatados” (gr. harpazo) juntamente com eles nas nuvens;
d) encontraremoso Senhor;
e) e estaremos sempre com ele.
O apóstolo Paulo também revelou o que chamou de “mistério” a respeito do arrebatamento. Em 1 Coríntios 15.51-53, ele explicou que alguns crentes não dormiriam (morreriam), mas os seus corpos seriam instantaneamente transformados: “Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade e que isto que é mortal se revista da imortalidade.”
Assim acontecerá no dia do arrebatamento. Sem nenhum aviso, os corpos de todos os crentes que morreram desde o Dia do Pentecostes, de repente, serão transformados em novos corpos ressurretos, vivos e imortais. Mesmo aqueles cujos corpos há muito tempo se decompuseram, ou cujas cinzas foram espalhadas sobre os oceanos, receberão um novo corpo. Este novo corpo se reunirá com o espírito da pessoa, que Jesus trará consigo. Então os corpos daqueles que igualmente aceitaram a Cristo como o Salvador e que estiverem vivos na ocasião também serão instantaneamente transformados em novos corpos imortais. Juntos, todos os crentes serão transportados subitamente aos céus para encontrarem o Senhor. Aqueles que estiverem vivos e rejeitaram a salvação de Jesus Cristo permanecerão para trás, na terra, e testemunharão um evento miraculoso de proporções espantosas – o repentino desaparecimento em massa de milhões e milhões de pessoas da face da terra.
A “bem-aventurada esperança”
A “bem-aventurada esperança”
O arrebatamento é frequentemente referido como “a bem-aventurada esperança” (Tt 2.13), porque concede segurança aos crentes que estão preocupados com a Tribulação, e oferece consolação aos que anseiam reunir-se com os seus entes queridos que partiram, compartilhando a mesma fé em Cristo.
As mais de trezentas referências bíblicas à segunda vinda de Cristo claramente mostram que a sua volta possui duas fases distintas. Os elementos contrastantes não podem ser fundidos em um único evento.
Na primeira fase, ele virá de repente para arrebatar a sua Igreja nos ares e levar todos os crentes para a casa do seu Pai, em cumprimento à promessa em João 14-1-3. Ali, eles comparecerão ante o Tribunal de Cristo (2 Co 5.8-10). Enquanto os crentes estiverem no céu, aqueles deixados para trás na terra sofrerão as angústias do período de sete anos da Tribulação. Na segunda fase da segunda vinda de Jesus (a manifestação da glória), ele voltará à terra em poder e grande glória para estabelecer o seu reino milenial. Toda a segunda vinda tem sido comparada a uma peça em dois atos (o arrebatamento e o aparecimento da glória) com um intervalo de sete anos (a Tribulação). O apóstolo Paulo faz distinção entre as duas fases em Tito 2.13, onde se refere ao arrebatamento como “a bem-aventurada esperança” e a volta de Cristo à terra como “o aparecimento” (ou “manifestação”) da glória.
1.1 O que significa arrebatamento?
1.1 O que significa arrebatamento?
A palavra “arrebatamento” vem da palavra latina raptus, que as Bíblias latinas traduzem da palavra grega harpazo, usada catorze vezes no NT. A ideia básica é “remover ou arrebatar repentinamente”. É uma palavra usada pelos escritores do NT em referência a roubo ou saque (Mt 11.12, 12.29, 13.19; Jo 10.12,28-29) ou remoção (Jo 6.15; At 8.39, 23.10; Jd 23).
O NT emprega um terceiro uso, cujo enfoque aponta para o fato de sermos levados para o céu. A palavra descreve a experiência do “terceiro céu” de Paulo (2 Co 12.2, 4) e a ascensão de Cristo ao céu (Ap 12.5). Obviamente, harpazo é a palavra perfeita para descrever Deus repentinamente tomando a Igreja da terra e levando para o céu na primeira parte da segunda vinda de Cristo.
O arrebatamento será pré-tribulacional?
O arrebatamento será pré-tribulacional?
A Igreja não está na terra em Ap 4-18
A Igreja não está na terra em Ap 4-18
O termo comum do NT para “igreja” (gr. ekklêsia) é usado dezenove vezes em Apocalipse 1-3, e trata da igreja histórica do século I. No entanto, Apocalipse usa igreja mais uma vez – no final do livro (22.16), onde João volta a dirigir-se à igreja do século I. Mais interessante é o fato de que em nenhuma passagem durante o período da Tribulação o termo igreja é usado em referência aos crentes na terra.
A mudança de João destas instruções detalhadas à igreja para um absoluto silêncio a respeito desta por muitos capítulos seria impressionante e totalmente inesperada, se de fato a Igreja continuasse na terra durante a Tribulação. Se a Igreja fosse passar pela Tribulação (a septuagésima semana de Dn 9), então certamente o estudo mais detalhado dos eventos da Tribulação incluiria instruções para a Igreja, o que não ocorre. A única explicação para esta frequente menção à Igreja em Apocalipse 1-3 e a total ausência desta na terra até Apocalipse 22.16 é um arrebatamento pré-tribulacional, que irá transferir a Igreja da terra para o céu antes da Tribulação.
Um arrebatamento pós- tribulacional é incoerente
Um arrebatamento pós- tribulacional é incoerente
Se Deus preservar miraculosamente a Igreja durante a Tribulação, por que haveria um arrebatamento? Se é para evitar a ira de Deus no Armagedom (ao fim da Tribulação), então por que Deus não continuaria protegendo os santos na terra (como defende o pós-tribulacionismo) assim como ele protegeu Israel (veja Êx 8.22, 9.4,26, 10.23, 11.7) da sua ira derramada sobre o Faraó e o Egito? Além disso, se o propósito do arrebatamento é para que os santos vivos evitem o Armagedom, por que também ressuscitar os santos (que já estão imunes) ao mesmo tempo?
Se o arrebatamento ocorresse em conexão com a manifestação da glória pós-tribulacional do nosso Senhor, a subsequente separação entre ovelhas e bodes (Mt 25.31-46) seria redundante. A separação ocorreria no mesmo ato da trasladação.
Se todos os crentes da era da Tribulação forem arrebatados e glorificados após a Tribulação e exatamente antes do início do reino milenial, quem então restará para povoar e propagar o reino? As Escrituras indicam que Deus julgará os descrentes vivos no final da Tribulação e os removerá da terra (Mt 13.41-42, 25.41). No entanto, elas também ensinam que as crianças nascerão dos crentes durante o Milênio, e que estas crianças serão capazes de pecar (Is 65.20; Ap 20.7-10). Isto não seria possível se todos os crentes na terra fossem glorificados através de um arrebatamento pós-tribulacional.
Um arrebatamento pós-tribulacional e o suposto retorno imediato da Igreja à terra não deixa tempo para o bema – Tribunal de Cristo (1 Co 3.10-15; 2 Co 5.10). Por estas razões, um arrebatamento pós- tribulacional não faz nenhum sentido lógico. Um arrebatamento pré-tribulacional, ao contrário, não nos deixa com estas dificuldades insuperáveis.
A Tribulação não é iminente
A Tribulação não é iminente
Por todas as epístolas do NT, Deus deixou muitas instruções para a Igreja, incluindo advertências, mas nem uma vez os crentes são avisados a se prepararem para entrar e passar pela Tribulação (a septuagésima semana de Daniel).
O NT adverte vigorosamente a respeito do erro futuro e dos falsos profetas que virão (At 20.29-30; 2Pe 2.1 ; 1 Jo 4.1-3; Jd 4) e contra a vida ímpia (Ef 4.25-5.7; 1Ts 4.3-8 ; Hb 12.1). O NT até mesmo admoesta os crentes a perseverarem em meio à tribulação atual (1Ts 2.13-14 ; 2Ts 1.4; e toda a epístola de 1Pedro). No entanto, o NT cala-se absolutamente a respeito da Igreja se preparar para a Tribulação, como descrito em Apocalipse 6-18.
As Escrituras certamente não silenciariam sobre este período de tempo importante e traumático para a Igreja. Se o arrebatamento fosse ocorrer em parte durante ou no final da Tribulação, seria de esperar que as epístolas ensinassem a presença, o propósito, e a conduta da Igreja durante o período. No entanto, não encontramos absolutamente nada deste ensino. Apenas um arrebatamento pré-tribulacional explica satisfatoriamente a falta de tais instruções.
O conteúdo de 1Tessalonicenses 4.13-18
O conteúdo de 1Tessalonicenses 4.13-18
13 Irmãos, não queremos que vocês ignorem a verdade a respeito dos que dormem, para que não fiquem tristes como os demais, que não têm esperança. 14 Pois, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará, na companhia dele, os que dormem.
15 E, pela palavra do Senhor, ainda lhes declaramos o seguinte: nós, os vivos, os que ficarmos até a vinda do Senhor, de modo nenhum precederemos os que já morreram. 16 Porque o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; 17 depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor. 18 Portanto, consolem uns aos outros com estas palavras.
Suponhamos hipoteticamente, por um momento, que o arrebatamento não seja pré-tribulacional. O que esperaríamos encontrar em 1Tessalonicenses 4 ? Como isto se compara com o que observamos ali?
Esperaríamos que os tessalonicenses estivessem alegres pelo fato de seus entes queridos estarem em casa com o Senhor e não terem de passar pelos horrores da Tribulação. Mas descobrimos que os tessalonicenses estão na verdade angustiados e temerosos pelo fato de seus entes queridos terem perdido o arrebatamento. Apenas a possibilidade de um arrebatamento pré-tribulacional justifica esta angústia.
Também esperaríamos que os tessalonicenses estivessem angustiados devido à sua própria tribulação iminente, em vez de estarem angustiados por causa dos entes queridos. Além disso, esperaríamos que estivessem curiosos quanto à sua futura condenação. Mas os tessalonicenses não têm medo ou perguntas a respeito da futura Tribulação.
Finalmente, esperaríamos que Paulo, mesmo na ausência de interesse ou de perguntas por parte dos tessalonicenses, fornecesse instruções e exortações para uma provação tão suprema, que faria com que a tribulação que estavam enfrentando parecesse microscópica. Mas não encontramos nem mesmo uma única indicação de qualquer iminente tribulação desse tipo. Dado o cenário em 1 Tessalonicenses 4, apenas a possibilidade do arrebatamento pré-tribulacional faz sentido.
João 14.1-3 faz paralelo com 1Tessalonicenses 4.13-18
João 14.1-3 faz paralelo com 1Tessalonicenses 4.13-18
1 — Que o coração de vocês não fique angustiado; vocês creem em Deus, creiam também em mim. 2 Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se não fosse assim, eu já lhes teria dito. Pois vou preparar um lugar para vocês. 3 E, quando eu for e preparar um lugar, voltarei e os receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, vocês estejam também.
João 14.1-3 se refere à volta de Cristo outra vez. Não se trata de uma promessa de que todos os crentes irão a Cristo por ocasião da morte. Antes, o texto se refere ao arrebatamento da Igreja. Observe os paralelos próximos entre as promessas de João 14.1-3 e 1 Tessalonicenses 4-13-18. Primeiro, considere as promessas de estarmos com Cristo: “[...] para que onde eu estiver, estejais vós também” (Jo 14.3), e “Assim estaremos sempre com o Senhor” (1 Ts 4.17). Em segundo lugar, observe as promessas de consolação: “Não se turbe o vosso coração” (Jo 14-1), e “Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras” (1 Ts 4.18).
Jesus disse aos discípulos que ele estava indo para a casa de seu Pai (céu) para preparar-lhes um lugar. Ele prometeu que voltaria e os receberia de forma que pudessem estar com ele, onde ele estivesse.
Embora a frase “onde eu estiver” sugira uma presença contínua em geral, aqui significa a presença no céu em particular. O Senhor disse aos fariseus em João 7.34: “Aonde eu estou vós não podeis vir”. Ele não falava sobre a sua moradia atual na terra, mas antes, a sua presença ressurreta à mão direita do Pai. Em João 14-3: “onde eu estiver” deve significar “no céu”, ou a passagem 14.1-3 não teria sentido.
Um arrebatamento pós-tribulacional exigiria que os santos encontrassem Cristo nos ares e descessem imediatamente para a terra sem passar por aquilo que o Senhor prometeu em João 14. Devido ao fato de João 14 se referir ao arrebatamento, apenas um arrebatamento pré-tribulacional satisfaz a linguagem de João 14.1-3 e permite que os santos arrebatados habitem por um período de tempo significativo com Cristo na casa de seu Pai.
O Arrebatamento e a Volta
O Arrebatamento e a Volta
Uma comparação do arrebatamento (1Co 15.50-58 ; 1Ts 4.13-18) com a manifestação da glória (Mt 24- 25) revela pelo menos oito contrastes ou diferenças significativas, que exigem que o arrebatamento ocorra em um tempo significativamente diferente da manifestação da glória:
a) No arrebatamento, Cristo vem nos ares e volta para o céu (1 Ts 4.17). Na manifestação da glória, Cristo vem para a terra para habitar e reinar (Mt 25.31-32).
b) No arrebatamento, Cristo reúne os seus(l Ts 4-16-17). Na manifestação da glória, os anjos reúnem os eleitos (Mt 24-31).
c) No arrebatamento, Cristo vem para dar o galardão (1 Ts 4-17). Na manifestação da glória, ele vem para julgar (Mt 25.31-46).
d) No arrebatamento, a ressurreição é proeminente (1 Ts 4.15-16). Na manifestação da glória, a ressurreição não é mencionada.
e) No arrebatamento, os crentes deixam a terra (1 Ts 4-15-17). Na manifestação da glória, os incrédulos são levados da terra (Mt 24.37-41).
f) No arrebatamento, os incrédulos permanecem na terra. Na manifestação da glória, os crentes permanecem na terra (Mt 25.34).
g) O reino de Cristo na terra não é mencionado no arrebatamento. Na manifestação da glória, Cristo vem para estabelecer o seu reino na terra (Mt 25.31,34).
h) No arrebatamento, os crentes receberão corpos glorificados (1 Co 15.51-57). Na manifestação da glória, os sobreviventes não receberão corpos glorificados.
A Promessa de Livramento
A Promessa de Livramento
Em Apocalipse 3.10: Jesus prometeu:
10 ὅτι ἐτήρησας τὸν λόγον τῆς ὑπομονῆς μου, κἀγώ σε τηρήσω ἐκ τῆς ὥρας τοῦ πειρασμοῦ τῆς μελλούσης ἔρχεσθαι ἐπὶ τῆς οἰκουμένης ὅλης πειράσαι τοὺς κατοικοῦντας ἐπὶ τῆς γῆς.
“Eu te guardarei da [gr. ek, “fora”] hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo”. Esta passagem deixa claro que a intenção de Cristo é guardar a Igreja fora do período da Tribulação.
A preposição grega ek admitidamente tem a ideia básica de saída. Mas isto não é sempre assim. Dois exemplos notáveis são 2Coríntios 1.10 e 1Tessalonicenses 1.10.
Na passagem de Coríntios, Paulo narra o seu livramento da morte feito por Deus. Paulo não saiu da morte, mas antes foi salvo do perigo de morte potencial.
Ainda mais convincente é 1 Tessalonicenses 1.10. Aqui, Paulo afirma que Jesus está livrando os crentes da ira futura. A ideia não é sair, mas, antes, protegê-los da entrada na ira divina.
Se Apocalipse 3.10 significa imunidade ou proteção “dentro”, como outras posições procuram insistir, então várias contradições se apresentam como resultado. Primeiro, se em Apocalipse 3.10 a proteção limita-se apenas à proteção da ira de Deus e não da de Satanás, então Apocalipse 3.10 nega o pedido de nosso Senhor em João 17.15.
Segundo, se Apocalipse 3.10 significa imunidade total, então que valor tem a promessa tendo em vista Apocalipse 6.9-11 e 7.14, onde há abundância de mártires? O martírio dos santos em larga escala durante a Tribulação exige que a promessa para a Igreja de Filadélfia seja interpretada como “guardando fora” da hora da tentação, e não “guardando dentro” desta.
A Igreja deve ser livrada da ira futura. Em 1 Tessalonicenses 1.10, o apóstolo Paulo nos diz que devemos “esperar dos céus a seu Filho, a quem ressuscitou dos mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira futura”. O contexto da passagem aponta para o arrebatamento. A Igreja deve ser removida da terra antes que a Tribulação comece, a fim de ser livrada da ira futura.
A Igreja não está destinada para a ira. Conforme 1 Tessalonicenses 5.9, “Deus não nos destinou para a ira, mas para a aquisição da salvação, por nosso Senhor Jesus Cristo”. Mais uma vez, o contexto da passagem mostra que se trata do arrebatamento. Pelo fato de a Tribulação envolver especificamente a ira de Deus, e pelo fato de os cristãos não estarem destinados à sua ira, a Igreja deve ser arrebatada, tirada do caminho, antes que a Tribulação comece.
Se a Igreja é arrebatada no fim da Tribulação, não restará ninguém para povoar o Milênio. Exatamente antes do início do Milênio, todos os pecadores (aqueles que rejeitarem a Jesus Cristo como Salvador) que sobreviverem à Tribulação, serão lançados no inferno conforme Mateus 25.46. Se o arrebatamento ocorresse no final da Tribulação, todos os crentes também seriam removidos da terra, não deixando ninguém na terra com um corpo natural para repovoar o planeta durante o Milênio. Os “justos” (“ovelhas”) que entram no Milênio são os santos que sobrevivem à Tribulação – aqueles que não eram salvos no momento do arrebatamento, mas que se tornaram crentes durante a Tribulação. Para que isto ocorra, o arrebatamento deve acontecer antes da Tribulação, e não no seu final.
Perguntas e Respostas
Perguntas e Respostas
1. Visto que, em 1Tessalonicenses 4.17, a frase “encontrar o Senhor” pode referir-se a uma cidade amistosa saindo para encontrar o rei visitante, escoltando-o de volta à cidade, ela não indica decididamente um arrebatamento pós-tribulacional?
1. Visto que, em 1Tessalonicenses 4.17, a frase “encontrar o Senhor” pode referir-se a uma cidade amistosa saindo para encontrar o rei visitante, escoltando-o de volta à cidade, ela não indica decididamente um arrebatamento pós-tribulacional?
Em primeiro lugar, este termo grego pode referir-se tanto a um encontro dentro da cidade (Mc 14.13; Lc 17.12) como à saída da cidade para encontrar e voltar (Mt 25.6; At 28.15). Assim, o uso desta frase específica não é, de nenhum modo, decisivo. Em segundo lugar, lembre-se de que na manifestação da glória, Cristo está vindo para um povo hostil em geral, que acabará lutando contra ele no Armagedom. O arrebatamento pré-tribulacional retrata melhor o Rei resgatando, através de um arrebatamento, os seus seguidores fiéis que estão presos em um mundo hostil, e que posteriormente o acompanharão quando ele voltar à terra para derrotar os seus inimigos e estabelecer o seu reino (Ap 19.11-16).
2. Por que, em 1Tessalonicenses 5.6, Paulo instrui os crentes a vigiarem como uma preparação para o “Dia do Senhor”, se eles não irão vê-lo, uma vez que terão sido arrebatados antes da Tribulação?
2. Por que, em 1Tessalonicenses 5.6, Paulo instrui os crentes a vigiarem como uma preparação para o “Dia do Senhor”, se eles não irão vê-lo, uma vez que terão sido arrebatados antes da Tribulação?
Em 1 Tessalonicenses 5.6, Paulo exorta os crentes a vigiarem e viverem piedosamente em um contexto do “Dia do Senhor” assim como Pedro faz em 2 Pedro 3.14-15, onde a experiência do “Dia do Senhor” está claramente no fim do Milênio (porque os antigos céus e terra serão destruídos e substituídos por novos). Nestas passagens, há exortações instruindo os verdadeiros crentes a viverem vidas piedosas tendo em vista o futuro juízo de Deus sobre os incrédulos.
3. A passagem de Mateus 24.37-42, onde as pessoas são tiradas da terra, não ensina um arrebatamento pós-tribulacional?
3. A passagem de Mateus 24.37-42, onde as pessoas são tiradas da terra, não ensina um arrebatamento pós-tribulacional?
Na verdade, Mateus 24.37-42 ensina exatamente o contrário. Primeiro, ensina que Noé e a sua família foram deixados vivos enquanto o mundo inteiro foi retirado em morte e juízo. Esta é exatamente a sequência a ser esperada na manifestação da glória de Cristo como ensinado na Parábola do Joio (Mt 13.24-43), na Parábola da Rede (Mt 13.47-50), e no juízo das “ovelhas e bodes” das nações (Mt 25.31-46). Em cada um destes casos, na manifestação da glória, os incrédulos são retirados em juízo, e os crentes justos permanecem.
4. Um arrebatamento pré-tribulacional não resulta em duas segundas vindas de Cristo, ao passo que as Escrituras ensinam que há apenas uma segunda vinda?
4. Um arrebatamento pré-tribulacional não resulta em duas segundas vindas de Cristo, ao passo que as Escrituras ensinam que há apenas uma segunda vinda?
De modo nenhum. Independentemente da posição de arrebatamento defendida, a segunda vinda de Cristo é um único evento que ocorre em duas partes – Cristo vindo nos ares para arrebatar a Igreja e Cristo vindo à terra para subjugar o mundo e estabelecer o seu reino.
5. Se o pré-tribulacionismo é verdadeiro, por que Apocalipse 4-19 não menciona a Igreja no céu?
5. Se o pré-tribulacionismo é verdadeiro, por que Apocalipse 4-19 não menciona a Igreja no céu?
É verdade que a palavra grega para “igreja” (ekklêsia) não é usada em relação à Igreja no céu em Apocalipse 4-19. No entanto, isto não significa que a Igreja esteja invisível. Ela aparece no céu pelo menos duas vezes. Em Apocalipse 4-5, os 24 anciãos simbolizam a Igreja. A frase “vós, santos apóstolos e profetas”, em Apocalipse 18.20, claramente refere-se à Igreja no céu. Apocalipse 19 também retrata a Igreja (a noiva de Cristo) no céu antes do seu retorno triunfal. Que cenário de arrebatamento, nesses textos, melhor representa a Igreja no céu neste tempo? Um arrebatamento pré-tribulacional.
6. Por que Apocalipse se dirige à Igreja se a Igreja não passará pelo período de Tribulação em virtude do arrebatamento?
6. Por que Apocalipse se dirige à Igreja se a Igreja não passará pelo período de Tribulação em virtude do arrebatamento?
No AT, Deus advertia Israel com frequência quanto ao juízo iminente, embora as gerações que receberam a profecia não fossem passar por ele. Tanto Paulo (1Ts 5.6 ) como Pedro (2Pe 3.14-15 ) exortaram os seus leitores a uma vida piedosa referindo-se ao juízo futuro que os seus leitores não testemunhariam. João seguiu o mesmo padrão em Apocalipse. Ele alertou a Igreja quanto aos juízos futuros de Deus para que os crentes advertissem adequadamente o mundo perdido em relação ao juízo por vir.
7. A trombeta mencionada em 1 Tessalonicenses 4.16 e 1 Coríntios 15.52 é a mesma de Joel 2.1,
Mateus 24.31 e Apocalipse 11.15?
7. A trombeta mencionada em 1 Tessalonicenses 4.16 e 1 Coríntios 15.52 é a mesma de Joel 2.1,
Mateus 24.31 e Apocalipse 11.15?
Um estudo cuidadoso dos quase cem usos de “trombeta” ou “trombetas” no AT alerta rapidamente o estudante da Bíblia para não equiparar as trombetas em quaisquer conjunto de textos sem uma grande evidência contextual que venha a corroborar esta interpretação. Por exemplo, trombetas são usadas para avisar (Jr 6.1), para adoração e louvor (2 Cr 20.28; Sl 81.3; 150.3; Is 27.13), para vitória (1 Sm 13.3), para lembrar (2 Sm 2.28; 18.16), para alegrar-se (2
Sm 6.15), para pronunciamentos (2 Sm 20.1; 1 Reis 1.34; 2 Rs 9.13), e para dispersão (2 Sm 20.22), para mencionar algumas.
As trombetas em Joel e no NT são usadas para vários propósitos distintos. A trombeta de Joel
2.1 é uma trombeta de alarme avisando que o Dia do Senhor está próximo (cf. Jr 6.1). A trombeta de 1 Tessalonicenses 4.17 e 1 Coríntios 15.52 anuncia a aproximação do rei (cf. Sl 47.5). A trombeta de Mateus 24.31 é de convocação, para reunir (veja Êx 19.16; Ne 4.20; Jl 2.15). A trombeta de Apocalipse 11.15 anuncia vitória (cf. 1 Sm 13.3). As Escrituras não oferecem nenhuma razão que leve a equiparar a trombeta do arrebatamento com quaisquer destas outras trombetas. Portanto, estes textos não podem ser usados para determinar o tempo ou a hora do arrebatamento.
Uma das principais características do arrebatamento é que este será repentino, inesperado e surpreendente. “Daquele Dia e hora ninguém sabe”, de forma que devemos viver “apercebidos [...] porque o Filho do Homem há de vir à hora em que não penseis” (Mt 24-36,44). Somente um arrebatamento pré-tribulacional preserva um retorno iminente (“a qualquer momento” ) de Cristo. Ao longo das eras, os crentes têm entendido o arrebatamento como iminente. Nada poderia motivar mais a busca de uma vida santa do que saber que Jesus pode vir a qualquer momento.
HISTÓRIA DO ARREBATAMENTO
HISTÓRIA DO ARREBATAMENTO
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Os críticos do arrebatamento pré-tribulacional frequentemente citam a falta de base histórica desta visão. Por vários anos, os oponentes da posição do arrebatamento pré-tribulacional têm argumentado que este foi inventado por John Darby, em meados dos anos de 1800, e que jamais foi mencionado antes disso. Argumentos como este geralmente alegam que, pelo fato de o ensino ter menos de duzentos anos, ele não pode ser bíblico, ou os crentes teriam defendido este ponto de vista muitos anos antes. Em última análise, a verdade bíblica deve ser determinada pelo claro ensino das Escrituras, e não pelo modo como o ensino tem sido visto ao longo da história. No entanto, uma quantidade substancial de evidências revela uma crença no arrebatamento pré-tribulacional muito antes de John Darby.
Os patriarcas da Igreja Primitiva
Os patriarcas da Igreja Primitiva
Os documentos mais antigos da Igreja Primitiva (incluindo o cânon do NT) refletem um claro pré- milenialismo. Mas uma discussão menor cerca a relação do arrebatamento com a Tribulação. Os pré- tribulacionistas apontam para a clara crença da Igreja Primitiva na iminência como sinal de que o pré- tribulacionismo era defendido por pelo menos alguns daqueles que viveram nos tempos mais antigos.
Como era típico em todas as áreas da teologia da Igreja Primitiva, os pontos de vista iniciais de profecia não estavam desenvolvidos e às vezes eram contraditórios, contendo um campo fértil para desenvolvimento de vários e diversos pontos de vista teológicos. Encontrar um pré-tribulacionismo claro “soletrado” pelos patriarcas da Igreja Primitiva é difícil, mas alguns elementos pré-tribulacionais são nítidos. Quando sistematizados com os seus outros pontos de vista proféticos, estes elementos contradizem o pós-tribulacionismo e apóiam o pré-tribulacionismo. Por exemplo, os patriarcas apostólicos ensinavam claramente a característica pré-tribulacional da iminência da volta do Senhor Jesus Cristo.
Um exame superficial dos patriarcas da Igreja Primitiva revela que eles eram predominantemente pré- milenialistas ou quiliastas. Existem claros exemplos nos escritos de Barnabé (100-105), Papias (60-130), Justino Mártir (110-165), Irineu (120-202), Tertuliano (145-220), Hipólito (185-236), Cipriano (200-250), e Lactâncio (260-330). Os patriarcas da Igreja Primitiva esperavam fervorosamente que a Igreja estivesse sofrendo e sendo perseguida quando o Senhor voltasse. No entanto, eles também acreditavam no retorno iminente de Cristo, que é uma característica central do pensamento pré-tribulacional. Esta falta de precisão tem levado a um debate entre os estudiosos quanto a como interpretar os escritos dos patriarcas da Igreja Primitiva.
Expressões de iminência abundam nos patriarcas apostólicos. Clemente de Roma (90-100), Inácio de Antioquia (98-117), O Didaquê [A instrução dos doze apóstolos] (100-160), A Epístola de Barnabé (117- 138), e O Pastor de Hermas (96-150) – todos falam da iminência. Suas afirmações têm abundância de exortações para “vigiar”, “esperar”, e “estar preparado” para a vinda do Senhor em breve. Além disso, O Pastor de Hermas (1.4.2) fala de escapar da Tribulação:
“Vós escapastes da Grande Tribulação em virtude da vossa fé, e porque não duvidastes na presença de tal Besta. Ide, portanto, e contai aos eleitos do Senhor os seus atos poderosos, e dizei a eles que esta Besta é um tipo da Grande Tribulação que está se aproximando. Se então vos preparardes, e vos arrependerdes de todo o vosso coração, e vos converterdes ao Senhor, será possível escapardes dela; sim, se o vosso coração for puro e imaculado, e passardes o resto dos dias das vossas vidas servindo ao Senhor irrepreensivelmente.”
No entanto, ninguém, pode produzir uma afirmação clara de escatologia patrística a respeito do arrebatamento. Mas podemos concluir o seguinte:
a) Eles esperavam uma vinda literal de Cristo seguida de um reino de mil anos literal;
b) Eles acreditavam na vinda iminente de Cristo com ocasionais inferências pré-tribulacionais;
c) Eles estavam sendo perseguidos pelo governo romano, mas não equipararam isto com a futura ira tribulacional.
Larry Crutchfield corretamente conclui: “Esta opinião dos patriarcas sobre a iminência, e, nos escritos de alguns, referências a escapar do tempo da Tribulação, constitui o que pode ser definido, para citar Erickson, ‘sementes das quais a doutrina do arrebatamento pré-tribulacional poderia se desenvolver [...]’. Se não fosse pelo enfraquecimento da exegese sadia, trazida pelo alegorismo alexandriano e mais tarde por Agostinho, questiona-se que tipo de produto estas sementes poderiam ter gerado – muito antes de J.N. Darby e do século XIX.”77
A Igreja Medieval
A Igreja Medieval
O período entre Agostinho e a Renascença foi amplamente dominado pelo “entendimento que Agostinho possuía da Igreja, e a sua espiritualização do Milênio como o reinado de Cristo nos santos”. Havia apenas “discussões esporádicas aqui e ali de um Milênio futuro e literal”,78 tomando os exemplos do pré-tribulacionismo muito raros. No entanto, uma pesquisa histórica cuidadosa revelou muitas afirmações pré-tribulacionais há muito negligenciadas.
Efrém de Nisíbis (306-373)
Efrém de Nisíbis (306-373)
Efrém era um escritor extremamente importante e prolífico. Também conhecido como Pseudo-Efrém, ele foi um grande teólogo da antiga Igreja Oriental (Bizantina).
O seu importante sermão “Nos Últimos Dias, o Anticristo e o Fim do Mundo” (c. 373) declara: “Todos os santos e eleitos de Deus serão reunidos antes da Tribulação que está por vir, e serão levados ao Senhor, para que em nenhum momento possam ver a confusão que domina o mundo por causa dos nossos pecados”.
Neste sermão, Pseudo-Efrém desenvolve uma elaborada escatologia bíblica, incluindo uma distinção entre o arrebatamento e a segunda vinda de Cristo. Ela descreve o Arrebatamento Iminente, seguido por uma Grande Tribulação de três anos e meio de duração sob o governo do Anticristo, seguido pela vinda de Cristo, a derrota do Anticristo, e o estado eterno. O seu ponto de vista inclui um parêntesis entre o cumprimento da sexagésima nona e a septuagésima semana de Daniel (Dn 9.24-27). Pseudo-Efrém descreve o arrebatamento como “iminente” e precedendo a Tribulação.
Codex Amiatinus (690-716)
Codex Amiatinus (690-716)
Este manuscrito latino significativo da Inglaterra foi comissionado por Abbot Ceolfrid, dos mosteiros de Jarrow e Wearmouth em Northumberland. No título do Salmo 22 (Salmo 23 na Vulgata), aparece o seguinte: “Salmo de Davi, a voz da Igreja depois de ser arrebatada”. A frase latina post raptismum contém um verbo da raiz rapio, significando “capturar, ou sair correndo”. Este título não é transportado a partir da Vulgata de Jerônimo e assim é provavelmente o produto do mosteiro Jarrow. Embora não conclusivo e ainda necessitando de um estudo adicional, parece que o Codex Amiatinus apresenta um outro exemplo de pensamento pré-tribulacional na Idade Média.
Irmão Dolcino (1307)
Irmão Dolcino (1307)
Um estudo recente do texto do século XIV, A História do Irmão Dolcino, composto em 1316 por uma fonte anônima, revela outra importante passagem pré-tribulacional. Como líder dos Irmãos Apostólicos no norte da Itália, o Irmão Dolcino conduziu o seu povo através de tempos de tremenda perseguição papal. Uma pessoa deste grupo escreveu as seguintes palavras espantosas: “O Anticristo estava entrando neste mundo dentro dos limites do dito período de três anos e meio; e depois de sua vinda, então ele [Dolcino] e seus seguidores seriam transferidos para o Paraíso, no qual estão Enoque e Elias. E desse modo seriam preservados ilesos da perseguição do Anticristo.”
Assim, o escritor desta História acreditava que Dolcino e seus seguidores seriam transferidos para o paraíso, expressando esta crença com a palavra latina transferrentur, ou “trasladação”, um sinônimo de arrebatamento. Dolcino e seus seguidores se retiraram para as montanhas do norte da Itália para aguardarem a sua remoção por ocasião do aparecimento do Anticristo.
Acredita-se que as seitas como os Albigenses, Lombardos, e os Waldenses foram atraídos para o pré- milenialismo, mas pouco se conhece dos detalhes de suas crenças desde que os católicos destruíram as suas obras, quando foram encontradas.
Francis Gumerlock é o indivíduo que defende a opinião sobre o arrebatamento do Irmão Dolcino. Gumerlock escreveu: “Os dolcinitas defendiam uma teoria de arrebatamento pré-tribulacional semelhante à mesma teoria no dispensacionalismo moderno.”79
A importância dessas antigas afirmações é que elas claramente contradizem aqueles que têm tentado dizer que as afirmações sobre o arrebatamento não existiram antes de 1830. Gumerlock acredita que esta é uma afirmação do arrebatamento pré-tribulacional, e ele conclui: “Este parágrafo de A História do Irmão Dolcino indica que no norte da Itália, no início do século XIV, um ensino muito semelhante ao pré- tribulacionismo moderno estava sendo pregado. Respondendo às condições políticas e eclesiásticas angustiantes, Dolcino travou especulações detalhadas sobre escatologia e acreditava que a vinda do Anticristo era iminente. Ele também acreditava que o meio pelo qual Deus protegeria o seu povo da perseguição do Anticristo seria através de um traslado dos santos para o paraíso.”80
A era da Reforma
A era da Reforma
Depois de mais de mil anos de supressão, o pré-milenialismo começou a ser revivido como resultado de pelo menos quatro fatores. Primeiro, os Reformadores voltaram para os patriarcas bíblicos e apostólicos. Isto os expôs a um pré-milenialismo ortodoxo. Especialmente significativo foi o reaparecimento do texto completo de Contra Heresias, de Irineu (incluindo os últimos cinco capítulos), que adota um futurismo consistente e lança a septuagésima semana de Daniel no futuro.
Segundo, eles repudiavam boa parte da alegorização que dominava a hermenêutica medieval adotando uma abordagem mais literal, especialmente na área da exegese gramatical e histórica.
Terceiro, muitos dos protestantes entraram em contato com os judeus e aprenderam hebraico, o que os levou a perguntar se as passagens que falam da nação de Israel deveriam ser tomadas histórica ou alegoricamente na tradição da Idade Média.
Quarto, começando no final do século XV, a tradução da Bíblia nas línguas nativas do povo, pela primeira vez desde os dias da Igreja Primitiva, produziu uma explosão de leitura bíblica pelo público em geral. Isto resultou em um conhecimento geral da Bíblia, especialmente do AT, pela primeira vez na história da Igreja. Visto que o AT fala primeiramente de Israel, levou apenas algumas décadas para as pessoas começarem a pensar em Israel e em seu futuro. Isto também contribuiu para um reavivamento do pré-milenialismo.
Joseph Mede (1586-1638)
Joseph Mede (1586-1638)
é considerado o pai do pré-milenialismo inglês, tendo escrito Clavis Apocalyptica (Chave do Apocalipse) em 1627, em que “ele tentou construir um esboço do Apocalipse baseado somente em considerações internas. Nesta interpretação, ele defendeu o pré-mileniallsmo de um modo tão erudito que esta obra continuou a influenciar a interpretação escatológica por séculos”81
Increase Mather (1639-1723)
Increase Mather (1639-1723)
, presidente do Harvard College (1685), foi um importante puritano americano. No que diz respeito à futura vinda de Cristo, ele escreveu que os santos “seriam apanhados nos ares” com antecedência, desse modo escapando da batalha final.
Outros começaram a falar do arrebatamento. Paul Benware observa: “O Reformador francês Peter Jurieu, em seu livro Approaching Deliverance of the Church [Livramento Futuro da Igreja] (1687), ensinou que Cristo viria nos ares para arrebatar os santos e voltaria para o céu antes da batalha do Armagedom. Ele falou de um arrebatamento secreto antes da sua vinda em glória e do juízo no Armagedom. Ambos os comentários de Philip Doddridge sobre o NT (1738) e de John Gill sobre o NT (1748) usaram o termo arrebatamento e falaram deste como iminente. Fica claro que estes homens acreditavam que esta vinda precederá a descida de Cristo à terra e o tempo do juízo. James Macknight (1763) e Thomas Scott (1792) ensinaram que os justos serão transportados para o céu, onde estarão seguros até que o tempo do juízo termine.”82
Morgan Edwards (1722-1795)
Morgan Edwards (1722-1795)
A mais clara referência (se não a mais desenvolvida) pré-Darby, de um arrebatamento pré-tribulacional vem de Morgan Edwards (1722-1795), que via um arrebatamento distinto ocorrer três anos e meio antes do início do Milênio. Edwards foi um pregador, evangelista, historiador e educador batista que fundou a Rhode Island College (Brown University). Durante os seus dias de estudante no Seminário Batista Bristol na Inglaterra (1742-1744), ele escreveu uma dissertação sobre a profecia bíblica. A dissertação foi publicada na Filadélfia, em 1788, como Dois Exercícios Acadêmicos sobre Assuntos que Levam os Seguintes Títulos: Milênio, Últimas Novidades. Edwards escreveu: “A distância entre a primeira e a segunda ressurreição será de pouco mais de mil anos [...] devido ao fato de que os santos mortos serão ressuscitados, e os vivos transformados na ‘manifestação’ ou ‘aparecimento’ de Cristo ‘nos ares’ (1Ts 4.17 ).”
• Ele acredita que passarão mais de mil anos entre as ressurreições;
• Ele associa a primeira ressurreição com o arrebatamento de 1 Tessalonicenses 4.17;
• Ele associa o encontro dos crentes com Cristo nos ares com João 14.2;
• Ele vê os crentes desaparecendo no céu durante o período da Tribulação.
Não há dúvida de que Morgan Edwards era um pré-tribulacionista, aproximadamente cem anos antes de Darby.
A Igreja Moderna
A Igreja Moderna
Quando o futurismo começou a substituir o historicismo dentro dos círculos pré-mileniais nos anos de 1820, os proponentes modernos do pré-tribulacionismo dispensacional entraram em cena. Por volta de 1818, William Witherby elaborou um trabalho que tinha virtualmente todas as características do futurismo moderno.
John Nelson Darby (1800-1882)
John Nelson Darby (1800-1882)
John Nelson Darby (1800-1882) afirma ter entendido pela primeira vez o seu ponto de vista do arrebatamento, como resultado de um estudo bíblico pessoal feito durante um período de convalescença na casa de sua irmã, ocorrido de dezembro de 1826 a janeiro de 1827. Foi ele quem popularizou a versão moderna da doutrina de um arrebatamento pré-tribulacional.
Movimento Brethren (“Irmãos”)
Movimento Brethren (“Irmãos”)
A doutrina do arrebatamento espalhou-se pelo mundo através do Movimento Brethren (“Irmãos”), do qual Darby era associado. Parece que através dos seus escritos, ou através das visitas pessoais à América do Norte, esta versão de pré-tribulacionismo propagou-se, chegando a todos os evangélicos americanos. Dois antigos proponentes deste ponto de vista incluem o presbiteriano James H. Brookes (1830-1897) e o batista J. R. Graves (1820-1889).
A posição pré-tribulacional se espalhou através da influência da era da Conferência Bíblica Niagara (NY, 1878-1909), e recebeu uma ampla exposição nas populares publicações proféticas The Truth, Our Hope, The Watchword, e Maranatha. Ela também foi divulgada no livro de William Backstone chamado Jesus is Coming (1909), na popular Scofield Reference Bible (1909) de C. I. Scofield, e outras obras.
Proeminente professores bíblicos pré-tribulacionais articularam a posição no circuito da conferência bíblica nos séculos XIX e XX, incluindo Arno C. Gaebelein (1861-1945), A. J. Gordon (1836-1895), James M. Cray (1851-1935), R. A. Torrey (1856-1928), Harry Ironside (1876-1951), John F. Strombeck (1881-1959), Lewis Sperry Chafer (1871-1952), Alva J. McClain (1888-1968), Charles Lee Feinberg (1909-1995), J. Dwight Pentecost, John F. Walvoord (1910-2002), Charles Ryrie, e Tim LaHaye.
Durante os últimos 120 anos, várias escolas, faculdades e diversos seminários foram estabelecidos expondo o pré-tribulacionismo dispensacional. Estes incluem: Moody Bible Institute, Biola University, Philadelphia Biblical University, Dallas Theological Seminary, Grace Theological Seminary, Liberty University, Bob Jones University, Master’s College and Seminary, e outros. O pré-tribulacionismo também é uma grande posição doutrinária em muitas igrejas batistas, presbiterianas, pentecostais, e bíblicas independentes. Na frente popular, nada tem feito mais para promover a posição do arrebatamento pré-tribulacional do que a obra Late Great Planet Earth (1970) de Hal Lindsay e a série de 12 volumes Left Behind (1995-2004) de Tim LaHaye e Jerry Jenkins.
ARREBATAMENTO PARCIAL
ARREBATAMENTO PARCIAL
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Alguns comentaristas da Bíblia já sugeriram que o arrebatamento, mencionado em 1Tessalonicenses 4.16-17 e 1Coríntios 15.51-52 ,será apenas parcial e não incluirá todos os que crêem.
16 Porque o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; 17 depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor.
51 Eis que vou lhes revelar um mistério: nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados 52 num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados.
Argumentam que a participação no arrebatamento não se baseia na salvação, mas que se trata de algo condicional, baseado na conduta da pessoa.
Esta teoria se apóia em passagens do NT que enfatizam a vigilância e a obediência (Mt 25.1-13; 1Ts 5.4-8; Hb 9.28). De acordo com esta visão, apenas parte da Igreja é arrebatada. A parte remanescente fica para enfrentar a Tribulação, parcialmente ou no todo. Tais textos bíblicos na verdade diferenciam os crentes genuínos, que são arrebatados, daqueles que apenas professam o cristianismo, que são deixados para trás. Textos relacionados à segunda vinda de Cristo são com frequência utilizados erroneamente para respaldar a teoria do arrebatamento parcial.
As bases da teoria do arrebatamento parcial
As bases da teoria do arrebatamento parcial
O arrebatamento pode ocorrer a qualquer momento e incluirá todos os crentes (1Ts 4.13-17). Nossa fidelidade a Cristo e nossa obediência à sua Palavra são, sem dúvida, determinantes para a nossa recompensa. As Escrituras, porém, não falam, em nenhum momento, que alguns crentes poderiam correr o risco de perder alguma parte da sua salvação (1Co 3.15).
Algumas pessoas aceitam a teoria do arrebatamento parcial por crerem que o pecado e a desobediência impossibilitam a ida do cristão para os braços de Cristo, de modo que seria necessária a punição da Tribulação. Ao explicar esta visão, Waugh escreveu: “Pois não são poucos – alguns são aplicados e piedosos estudantes da Bíblia – os que crêem na trasladação de apenas uma parte expectante e preparada dos crentes. Eles acreditam que, a partir de Lucas 21.36, pode-se facilmente concluir que aqueles que não ‘vigiarem’ não poderão ‘escapar de todas estas coisas que têm de suceder’. Não serão, portanto, achados dignos de ‘estar em pé diante do Filho do Homem’. De passagens como Filipenses 3.20; Tito 2.12-13; 2 Timóteo 4.8 e Hebreus 9.28, eles apreendem que serão arrebatados apenas os que tiverem ‘esperado’, ‘buscado’ e ‘amado sua vinda’.”84
Um dos principais problemas com esta visão é que ela necessariamente nega parte do valor da morte de Cristo na cruz. Segundo esses teólogos, as boas obras do cristão dão a ele uma boa posição junto a Deus, tornando-o qualificado para o arrebatamento. Alguns defensores de tal posição baseiam-se na visão wesleyana de que a santificação plena é necessária para que a pessoa seja levada no arrebatamento.
Redenção, no entanto, significa em essência que Cristo pagou completamente o preço pelos nossos pecados. Como todos os pecados foram punidos e remidos, Deus não voltará a punir os cristãos, deixando-os de fora do arrebatamento.
Os defensores do arrebatamento parcial recorrem a ainda outras passagens para comprovar sua visão (Mt 25.1-13; Ef 2.21-22, 5.27,30; 1 Co 15.23). Quando, porém, estudamos estes textos em seu contexto, verificamos que não respaldam a visão de um arrebatamento parcial. Após estudar os textos que fundamentam o arrebatamento parcial, Dawson escreveu: “Essas passagens claramente demonstram que cada membro da Igreja, o corpo de Cristo, que tenha verdadeiramente nascido de novo será arrebatado na ocasião do retorno do Senhor.”85
Os problemas da visão de um arrebatamento parcial
Os problemas da visão de um arrebatamento parcial
A teoria do arrebatamento parcial não consegue ser convincente por inúmeros outros motivos. Em primeiro lugar, 1 Coríntios 15.51 diz que “todos” seremos transformados. Em segundo lugar, um arrebatamento parcial logicamente exigiria que, em paralelo, houvesse uma ressurreição parcial, que não é ensinada em nenhuma parte das Escrituras. Em terceiro lugar, um arrebatamento parcial reduziria e praticamente eliminaria a necessidade do Tribunal de Cristo. Em quarto lugar, criaria um tipo de “purgatório” na terra para os crentes que fossem deixados. Em quinto, o arrebatamento parcial não é ensinado em nenhuma parte das Escrituras. O arrebatamento da Igreja será total, pleno e completo, não parcial.
Dwight Pentecost opôs-se ao arrebatamento parcial pelo fato de este estar fundamentado nos seguintes “mal-entendidos”:
a) O arrebatamento parcial fundamenta-se em uma compreensão errônea do valor da morte de Cristo, mormente quanto ao seu valor para livrar o pecador da condenação e tomá-lo aceitável a Deus;
b) Os defensores do arrebatamento parcial são obrigados a negar a doutrina neotestamentária da unidade do corpo de Cristo;
c) Na defesa dessa visão, é preciso repudiar a completude da ressurreição dos crentes no arrebatamento;
d) Os partidários do arrebatamento parcial confundem os ensinos das Escrituras quanto às recompensas;
e) Um defensor do arrebatamento parcial não consegue enxergar as diferenças entre a lei e a graça;
f) Um defensor do arrebatamento parcial tem necessariamente de negar a distinção entre Israel e a Igreja;
g) Aqueles que crêem em um arrebatamento parcial colocam parte da Igreja fiel na Tribulação.
Muitos desses, com sinceridade, acreditam que é necessário exortar os outros crentes a preparar-se para o arrebatamento, e não apenas confiar que serão arrebatados independentemente de como vivam. Este cuidado é certamente necessário, mas não tem nada a ver com a determinação de quem será ou não arrebatado. Uma solução definitiva para esta questão requer uma correta compreensão da doutrina da salvação e uma exegese das passagens bíblicas acerca do arrebatamento.
ARREBATAMENTO PRÉ-IRA
ARREBATAMENTO PRÉ-IRA
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A teoria do arrebatamento pré-ira ensina que o Dia do Senhor, o tempo da ira divina sobre a terra, terá início em algum momento durante a segunda metade da septuagésima semana de Daniel, e que o arrebatamento da Igreja o precederá imediatamente.87 De acordo com esta opinião, o Dia do Senhor será introduzido pelas perturbações cósmicas associadas ao sexto selo do juízo e terá início com a abertura do sétimo selo. A Igreja sofrerá perseguição pelo Anticristo durante os primeiros 63 meses da septuagésima semana de Daniel, embora proponentes deste ponto de vista afirmem que a presença desta perseguição não invalida a bem-aventurada esperança (Tt 2.13). Na verdade, os selos são a garantia da segurança eterna para os crentes que sofrerem o martírio durante este período de 63 meses. O Anticristo pode ferir os seus corpos, mas não as suas almas, do mesmo modo que Satanás tratou a Jó.88 Este período de 63 meses é um tempo da ira do homem, que deve ser distinto dos 21 meses finais da Tribulação, nos quais o mundo experimentará a ira de Deus, ou o Dia do Senhor.
De acordo com os proponentes originais deste ponto de vista, o termo arrebatamento pré-ira distingue esta opinião das outras posições sobre o arrebatamento, afirmando que a Igreja será salva das mãos do Anticristo antes da ira de Deus ser derramada sobre a terra. Esta opinião diverge das outras no que diz respeito ao tempo exato do evento do arrebatamento e das definições dos eventos que levam à segunda vinda de Cristo.
A perspectiva pré-ira teve o seu início em uma série de discussões entre Marvin Rosenthal e Robert Van Kampen em 1986. Em 1990, Rosenthal apresentou o seu livro, The Pre-Wrath Rapture of the Church, como um novo entendimento do arrependimento, da Tributação e da segunda vinda de Cristo. Em 1992, Van Kampen publicou a obra The Sign, em que ele tentou harmonizar as passagens do tempo do fim em ambos os Testamentos, e em 1997 ele lançou a obra The Rapture Question Answered como outro argumento para a posição pré-ira.
Os que defendem o arrebatamento pré-ira ensinam que a Igreja entrará no período de sete anos que precede o retomo físico de Cristo à terra (a septuagésima semana de Daniel) e enfrentará a tribulação deste período e o próprio Anticristo. Esta septuagésima semana de Daniel (Dn 9.24-27) contém três características principais: O princípio das dores, a Grande Tribulação, e o Dia do Senhor.
O princípio das dores
O princípio das dores
A primeira metade da septuagésima semana de Daniel (3 anos e meio) é iniciada quando o Anticristo firma um concerto para proteger Israel (Dn 9.27). Durante este período, ocorrem a abertura dos primeiros quatro selos (Ap 6.1-8) e a apostasia (2Ts 2.3-4 ). Também haverá guerras e rumores de guerras, nação se levantará contra nação, falsos messias aparecerão, e fomes, terremotos e pestes ocorrerão em vários lugares (Mt 24.4-8).
A Grande Tribulação
A Grande Tribulação
No meio da septuagésima semana de Daniel, o Anticristo usará Jerusalém como seu posto de comando em sua artimanha para proteger Israel (Dn 11.42-45). Ele erigirá uma estátua a si mesmo no Templo (2 Ts 2.3-4), e os judeus se darão conta do seu verdadeiro caráter e identidade. Este evento é conhecido como “abominação desoladora” (Dn 9.27; 11.31; Mt 24.15) e dará início ao período de perseguição tão severa que levou o próprio Cristo a dizer: “E, se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria; mas, por causa dos escolhidos, serão abreviados aqueles dias” (Mt 24.22). Este é um tempo da ira do homem contra o homem, quando Satanás dará poder ao Anticristo para tentar extinguir os escolhidos de Deus (Ap 12.12-17). A abertura do quinto selo dá início à Grande Tribulação, e o sexto selo a findará (Ap 6.9-17).
O Dia do Senhor
O Dia do Senhor
Esta é a expressão final da ira de Deus, resultando no juízo divino. Durante o sexto selo, os homens fogem para escapar desta ira. O Dia do Senhor começa com o sétimo selo. Anjos tocam trombetas anunciando a ira de Deus e derramam taças de ira sobre a terra dando início aos resultantes juízos das trombetas. Os que defendem o arrebatamento pré-ira vêem nesta atividade angelical uma distinção entre a ira do homem contra o homem, na abertura dos selos, e a ira de Deus contra a injustiça, nos juízos das trombetas e das taças. Quando o sétimo selo é aberto, os juízos das trombetas e das taças são progressivamente liberados, abrangendo um amplo derramamento da ira de Deus.
De acordo com aqueles que defendem o arrebatamento pré-ira, o arrebatamento ocorre na abertura do sétimo selo em conjunto com o som da última trombeta (1 Co 15.51-52). Assim, o sétimo selo dá início tanto ao arrebatamento da Igreja como ao Dia do Senhor. Esta vinda de Cristo é um evento único, e ocorre 21 meses depois da abominação da desolação (que ocorre no meio da septuagésima semana de Daniel). Durante os próximos 21 meses, os juízos das trombetas e das taças são executados e Cristo permanece continuamente na terra.
Tanto Rosenthal como Van Kampen argumentam que aquele que resiste, mencionado por Paulo em 2 Tessalonicenses 2.7, é Miguel, o arcanjo. O argumento baseia-se no verbo hebraico amad em Daniel 12.1. Rosenthal cita um rabino Judeu francês chamado Rashi que viveu entre 1040 e 1105 como autoridade no uso da palavra hebraica, que significa literalmente “ficar parado”. Ele alega que Miguel, em Daniel 12.1, será colocado de lado ou ficará inativo em sua função especial de guardião de Israel. A inatividade de Miguel constitui a remoção da resistência que atualmente limita a impiedade de Satanás.89
Pré-ira e iminência
Pré-ira e iminência
A doutrina da iminência defende que Cristo pode vir para arrebatar a sua Igreja a qualquer momento. Os crentes na Igreja Primitiva, incluindo o apóstolo Paulo, criam que Cristo poderia vir durante o período de suas vidas (1Ts 1.10, 4.13-15 ; Tt 2.13). A Igreja vê esta doutrina como um incentivo para o ministério e para a vida cristã. Será que isto significa que a volta de Cristo para buscar a Igreja ocorrerá a qualquer momento, sem qualquer sinal, um evento que não será precedido por nenhum evento profetizado e que ainda não foi cumprido? Os que defendem o arrebatamento pré-ira argumentam que Cristo poderia vir em qualquer geração, mas que os sinais anunciarão o tempo geral. Estes sinais incluem: (1) o surgimento do Anticristo, (2) guerras e rumores de guerras, (3) fome, (4) peste, e (5) perturbação cósmica. Os que defendem o arrebatamento pré-ira enfatizam a expectativa dos crentes com relação ao retorno de Cristo em vez de sua iminência. Esta expectativa da volta de Cristo é o catalisador para uma vida santa.
Pré-ira e pré-tribulação
Pré-ira e pré-tribulação
Pelo fato de a teoria pré-ira ser frequentemente descrita por alguns como pré-tribulacional, é importante notar que a teoria na verdade diverge do ponto de vista do arrebatamento pré-tribulacional. Quatro áreas são dignas de nota:
A ira do homem e a ira de Deus
A ira do homem e a ira de Deus
A divisão da pré-ira da septuagésima semana de Daniel em três seções é um esforço arbitrário, torcendo a verdade de que a septuagésima semana de Daniel como um todo é um tempo da ira de Deus. Os pré- tribulacionistas consideram todo o período de sete anos como um tempo da ira de Deus. Apocalipse 6.16- 17 é uma declaração resumida de que os primeiros seis selos contêm a ira do Cordeiro, sob a qual o povo pergunta: “Quem poderá subsistir?” A passagem não diz que o derramamento da ira de Deus ainda está por vir, como alegam os que defendem a pré-ira, mas que a ira já está sendo derramada. Como um cumprimento da promessa de Apocalipse 3.10, a Igreja foi removida da “hora da tentação”, não estando sujeita a esta como um tempo de menor tribulação.
A Segunda Vinda e o Arrebatamento
A Segunda Vinda e o Arrebatamento
Os que defendem o arrebatamento pré-ira encontram o arrebatamento em Mateus 24.40-41 e Lucas 17.20-37. Estas passagens são similares a reconhecidas passagens que falam do arrebatamento (Jo 14.1-3; 1 Co 15.51-53; 1 Ts 4.13-18), porém não descrevem o mesmo evento. No arrebatamento, os crentes se encontram com Cristo nos ares; na segunda vinda, os pés de Cristo tocam o monte das Oliveiras (Zc 14.4). No arrebatamento, os santos no céu não vêm para a terra; na segunda vinda, Cristo lidera os exércitos do céu que virão à terra (Ap 19.11-16). No arrebatamento, os crentes são tirados da terra, porém os descrentes são deixados para que entrem na Tribulação; na segunda vinda, os descrentes são tirados da terra, e os crentes são deixados para que entrem no reino milenial.
Aquele que resiste
Aquele que resiste
O ponto de vista pré-ira defende a ideia bastante inventiva de que Miguel, o arcanjo, é aquele que resiste. Este conceito falha, levando-se em considerado o ministério protetor especial de Miguel em relação a Israel. Os pré-tribulacionistas geralmente vêem o Espírito Santo como aquele que resiste e entendem que ele permanece na terra, mas permite que Satanás cause o mal que prevalece durante o período da Tribulação.
Iminência
Iminência
Os pré-tribulacionistas defendem que o arrebatamento da Igreja é a bem-aventurada esperança (Tt 2.13), para a qual os crentes olham. É um evento que pode ocorrer “a qualquer momento” e não precisa ser precedido por nenhum outro evento profético. Como resultado, ele é um catalisador para uma vida santa e para uma expectativa posterior. Os que defendem o arrebatamento pré-ira vêem pelo menos cinco sinais que devem ocorrer primeiro, e depreciam a ideia de um arrebatamento “a qualquer momento”, referindo- se à expectativa em vez da iminência.
A posição do arrebatamento pré-ira e a posição do arrebatamento pré-tribulacional são claramente distintas, e as Escrituras favorecem o pré-tribulacionismo.
