O chamado Soberano de Jesus a Levi
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Introdução
Introdução
Quero iniciar minhas palavras com as palavras do pastor Jonh MacArthur, que diz:
Uma das coisas que sempre gosto de fazer é pensar biblicamente, olhar o contexto das Escrituras, porque algumas vezes, a maneira como o mundo atual ver as coisas podem ser muito diferentes do mundo antigo. E às vezes temos que examinar o contexto da realidade do passado, fazer o contraste com a realidade atual, para nos ajudar a voltar à mentalidade bíblica. Deixe-me abordar dessa forma.
Vamos imaginar, para fins de ilustração, que o Senhor Jesus, o Filho de Deus, o Salvador, o Messias tenha vindo ao mundo em nosso tempo. Ele veio para ser um sacrifício pelo pecado. Ele teria sido morto pela razão oposta da que Ele foi morto há 2.000 anos atrás.
No primeiro século, em Israel, Ele foi rejeitado, Ele foi desprezado, odiado e assassinado. E o motivo? Ele não foi considerado religioso o suficiente. Esse foi o motivo. Pelos padrões dos líderes religiosos judeus, predominantemente os fariseus, Ele não era santo o suficiente, se é que eles O consideravam santo em alguma medida.
Ele não era justo o suficiente, se é que eles O consideravam justo. Ele não era exigente o suficiente, não era legalista o suficiente, não estava condenando o suficiente. Ele não era intolerante o suficiente. Ele não era crítico o suficiente. Ele não era separatista o suficiente. Enfim, Ele era inferior a uma visão de mundo predominantemente religiosa.
Se Jesus viesse hoje, Ele seria considerado muito exigente, legalista, condenador, intolerante, crítico e separatista. E nossa geração iria matá-Lo por isso. Exatamente o oposto. Duas perspectivas diferentes, duas sociedades diferentes em dois tempos diferentes. Nossa cultura é altamente secular e extremamente imoral. A cultura da época em que Jesus veio ao mundo era altamente religiosa e extremamente moral.
A cultura atual rejeita Jesus por entender que Ele condena pessoas “boas”. Mas, no contexto do primeiro século, eles O odiaram por perdoar as pessoas más. Os líderes judeus, logo no início do ministério de nosso Senhor, começaram a desenvolver um ódio mortal por Ele. O motivo foi exatamente o que acabei de dizer: Ele não era santo o suficiente. Na verdade, Ele era tão profano aos olhos daqueles líderes religiosos, que eles concluíram que Ele fazia o que fez movido pelo poder de Satanás.
Eles condensaram esse ponto de vista em um mantra. Eles O chamavam, com desprezo, de “amigo dos pecadores”. Isso era o pior que podiam dizer sobre Ele. Esse foi o título mais desdenhoso que eles poderiam inventar. Amigo, na verdade, de cobradores de impostos e pecadores. Vamos ler isso em Mateus 11:19 e Lucas 7:34.
Por que eles concluíram isso? Porque Ele parecia muito acolhedor com as pessoas que eram pecadoras. Ele parecia muito confortável com as pessoas que os líderes judeus consideravam ser o povo de Satanás. E assim, em sua hipocrisia, aqueles religiosos criaram um título para Jesus, a fim de evidenciar o total desprezo que tinham por Ele: “amigo dos pecadores”. Para eles, Jesus não poderia ser o Messias, já que em sua avaliação Ele tinha um padrão de justiça inferior ao deles.
A glória do evangelho não é que Deus dá a salvação às pessoas que a merecem, ou que Ele dá a salvação às pessoas que a alcançam, ou às pessoas que são boas ou justas o suficiente, ou santas o suficiente, mas Ele dá a salvação aos ímpios, aos injustos que creem em Cristo e se arrependem. Esse é o escândalo da graça que escandaliza todos os sistemas de salvação pelas obras existentes. É a diferença entre o verdadeiro evangelho e todas as outras religiões.
No Capítulo 5 de Romanos, versículo 6, lemos: “Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios.” Ele não morreu pelos piedosos, Ele morreu pelos ímpios. Ele justifica o ímpio. Este é o evangelho.
A história, versículos 1 a 12 de Marcos 2, relata a autoridade de Jesus para perdoar pecados. Agora, a próxima história (13-17), relata quais os pecados que Ele perdoa. E Ele perdoa os pecados daqueles que são pecadores confessos e arrependidos. Ele não veio chamar justos, mas pecadores. Portanto, a essência de crer em Cristo é crer, antes de tudo, que você é um pecador, sem esperança, e não pode ser salvo por nenhuma de suas próprias obras.
O CHAMADO DE LEVI
Jesus chamou a Levi, filho de Alfeu, para ser seu discípulo (2.14). Esse Levi trabalhava em uma coletoria e era um publicano (Lc 5.27). Também era chamado de Mateus (Mt 9.9).
“E tornou a sair para o mar…“. Ele saiu novamente à beira-mar, pois fazia isso muito frequentemente. Muito de Seu ensino era ao ar livre, inclusive porque não havia como confinar a multidão em uma casa.
As pessoas iam ter com Ele, e Ele as estava ensinava.
Chegando ao verso 14, lemos:
“Quando ia passando, viu a Levi, filho de Alfeu, sentado na coletoria e disse-lhe: Segue-me! Ele se levantou e o seguiu.”
O que Jesus faz, parece algo comum, mas não é, na verdade é algo chocante.
Nenhum rabi que se prezasse, de qualquer tipo, gostaria de ter algo a ver com um coletor de impostos. Seria, literalmente, a maior mancha na carreira de alguém ter um seguidor ou ser íntimo de um cobrador de impostos, pois esses eram os piores dos piores, a escória da sociedade humana em Israel.
Esses coletores de impostos ganharam fama de inimigos e traidores do povo, pois além de estarem a serviço de Roma, também extorquiam o povo, cobrando mais que o estipulado, enriquecendo-se, assim, de forma desonesta. Dessa forma passaram a ser odiados pelo povo. Um judeu que aceitasse tal ofício era expulso da sinagoga e envergonhava a família e amigos. Um fariseu que se tornasse coletor era execrado e sua esposa poderia divorciar-se dele. Um coletor de impostos era visto como alguém que amava mais o dinheiro que a reputação. Certamente Levi era um homem odiado por seus contemporâneos.
Se por acaso algum cobrador de impostos se tornasse seguidor de um rabi, com certeza o rabi faria tudo o que pudesse para se livrar dele. Mas, Jesus era diferente. Jesus quebrou todos os estereótipos. Ao voltar para Cafarnaum, passou pelo primeiro posto de cobrança de impostos.
Os romanos dominaram aquela parte do mundo. Eles, literalmente, governaram distribuindo força e poder na terra de Israel, nomeando governadores que eram submissos ao governo de Roma. Esses governantes eram chamados de reis, como o caso de Herodes Antipas e Filipe, mas eram apenas fantoches de Roma, não tinham poder e autoridade próprios. Esses reis-fantoches se submetiam a Roma, a fim de sustentar sua posição. Eram aliados do Império Romano e recolhiam impostos em nome do Império.
Agora, sentado naquela barraca de cobrança de impostos estava um homem chamado Levi. Ele recebeu esse nome, obviamente, em homenagem a um dos filhos de Jacó, nascido de Lia. Então, ele era judeu, obviamente, o que significa que havia vendido sua alma aos romanos por dinheiro.
Os romanos eram idólatras, eram odiados pelos judeus. Eram gentios, impuros. Os judeus os desprezavam. Havia, ainda, um ódio generalizado por Herodes Antipas, porque ele também não era judeu. E ali estava Levi, alguém que vendeu sua alma para aqueles gentios impuros, para extorquir dinheiro dos judeus. Se você fosse um cobrador de impostos naquela cultura, você seria considerado o pior dos piores.
Jesus disse a Levi: “Siga-me.” Foi só isso. Quer dizer, não houve qualquer explicação. Foi o mesmo que vimos no capítulo 1, versículos 16 a 20, quando Jesus disse: “Sigam-me, eu farei de vocês pescadores de homens, e eles deixaram suas redes, O seguiram.” Depois, Jesus veio a Tiago e João e fez a mesma coisa. Apenas este “siga-me”, e eles largaram tudo, eles O seguiram.
Agora, esse foi um comando explícito, e foi obedecido imediatamente. O comando pressupõe algo: que Jesus conhecia seu coração, certo? João 2:25, “E não necessitava de que alguém testificasse do homem, porque ele bem sabia o que havia no homem.” Isso é onisciência. Ele sabia o que estava no coração de Mateus.
Agora, lembre-se de que Cafarnaum era a base do ministério de Jesus. Mateus era um residente bem conhecido em Cafarnaum. Ele ouviu Jesus pregar. Ele estava bem ciente de Seu poder, de Sua mensagem. Ele encontrou um lugar em Seu coração. Ele foi um arrependido pela obra de Deus. Ele foi um crente pela obra de Deus. Ele tinha um coração que o Senhor mudou. Jesus sabia disso. Essa é uma ilustração de onisciência. E Jesus diz: “Siga-me”.
Agora, posso te dizer uma coisa: Mateus deve ter ficado chocado, ele deve ter ficado absolutamente chocado que esse Jesus soubesse o que ele desejava. E a resposta? Mateus O seguiu. Lucas 5:28 diz: “Ele abandonou tudo”.
Uma observação interessante aqui:
Bem, se ele fosse um pescador, sempre haveria a possibilidade de voltar à sua atividade de pesca, caso a história com Jesus não desse certo. Os peixes não iriam desaparecer, certo? Mas, uma vez que Mateus se afastasse de sua franquia fiscal, seus concorrentes tomariam o seu lugar, e não haveria como ele voltar para o seu posto de cobrador de impostos.
Então, quando Lucas acrescenta: “Ele abandonou tudo”, ele quis dizer exatamente isso. Não haveria retorno. Isso é dramático. Sem explicação, o homem abandonou tudo, que para ele sempre foi tudo.
Ele era um homem do mundo. Ele era um homem que não ligava para religião, não ligava para seu lugar na sociedade, não ligava para amizades, para prestígio, honra, ele não se importava com respeito. Tudo o que lhe importava era dinheiro. Ele era o mais grosseiro e ganancioso que você pode imaginar.
Chamar um publicano para ser Seu seguidor foi um ato escandaloso por parte de Jesus, que mostra Seu total desprezo pelas sensibilidades religiosas e sociais. Que rabi que se autodenomina Filho de Deus, Messias, Salvador do mundo, que é santo e justo chamaria para Seu círculo íntimo um cobrador de impostos?
Lembre-se disso: A dinâmica do Reino de Deus é diferente do reino dos homens.
Então, Levi Mateus, o traidor, Levi Mateus, o extorquidor, o ladrão, o proscrito, o pecador ganancioso e abusivo se tornou um discípulo, um apóstolo e um escritor da história de Jesus. Perdeu uma carreira, ganhou a glória eterna. Perdeu posses materiais, ganhou o céu. Perdeu a segurança terrena, ganhou a herança celestial. Ele sabia o que os líderes judeus não sabiam. Sabia que era para homens e mulheres como ele que Jesus tinha vindo para trazer a salvação.
COMUNIDADE DOS PECADORES
Bem, o chamado de Mateus conduz a história para a comunidade de pecadores. Vamos continuar a história, no versículo 15:
“Achando-se Jesus à mesa na casa de Levi, estavam juntamente com ele e com seus discípulos muitos publicanos e pecadores; porque estes eram em grande número e também o seguiam.”
Mateus agora estava cheio de gratidão. Estava emocionado com o que o Senhor fez em sua vida, e deu um banquete.
Aquele foi um banquete para honrar Jesus e ouvi-Lo pregar a história do perdão, e para que Mateus desse seu testemunho a todos os seus amigos. E, é claro, publicanos e pecadores seriam as únicas pessoas que compareceriam a essa festa, porque essas eram as únicas pessoas com quem Mateus poderia se relacionar, por ser um pária. Ele convidou todos eles.
Então, o que temos nessa cena são todos os rejeitados desonrosos e desprezados da Galileia, todos os que faziam parte do mundo dos impostos.
O texto diz que havia coletores de impostos e pecadores – a categoria geral que incluía todos os bandidos, todas as profissões secundárias de crime e prostituição – e todos estavam lá, e havia muitos deles, e eles O estavam seguindo.
Então, lá estava Jesus junto com Seus discípulos, que nessa época eram seis mais Mateus, que tinha sido adicionado ao grupo, e talvez outros seguidores, e muitas dessas outras pessoas – os considerados imundos e pecadores. E a descrição comum é que todos eles O estavam seguindo, porque Ele era amigo dos pecadores. Eles nunca tinham conhecido ninguém assim, não havia ninguém naquela cultura assim. Não havia amigo para os pecadores, exceto outro pecador miserável, que não podia ajudar.
O DESPREZO DOS “JUSTOS”
Bem, o chamado de Mateus na comunidade de pecadores levou, em terceiro lugar, ao desprezo dos que acreditavam na justiça própria. Os fariseus não poderiam deixar isso passar, eles estavam sempre por perto, sempre marcando os passos de Jesus. Você se lembra, é claro, que eles nunca O deixavam sozinho, eles eram absolutamente implacáveis.
E quando os escribas dos fariseus viram que Ele estava comendo com os pecadores e coletores de impostos, eles disseram aos Seus discípulos: “Por que Ele está comendo e bebendo com coletores de impostos e pecadores?”
Aquilo era um escândalo para eles. Aqueles eram escribas que faziam parte do grupo dos fariseus. Os escribas eram estudiosos, acadêmicos, advogados, e todas as seitas judaicas os possuíam. Os escribas que pertenciam à seita dos fariseus ficaram chocados além das palavras, atordoados. Eles não podiam acreditar. Comer simboliza aceitação, boas-vindas e, mais ainda, amizade. Eles não comeriam com ninguém que fosse pecador.
Eles pensavam: “Como Jesus poderia se reunir com pecadores? Como poderia ser Ele o Messias, o Filho de Deus, o Senhor do céu, o Salvador, quando Ele nem mesmo segue o padrão que estabelecemos?” Isso estava totalmente abaixo do padrão aceitável de Deus em suas mentes.
Lucas diz que eles começaram a resmungar, usando uma palavra grega que tem o sentido de balbuciar sons, resmungar, “gogguzō”. E eles disseram – e esta é uma pergunta retórica – “Por que Ele está comendo e bebendo com coletores de impostos e pecadores?”
Lembre-se, eles tinham moralidade sem santidade, eles podiam ter uma boa aparência, mas não podiam ser bons, eles podiam agir corretamente, mas não podiam ser justos. A pergunta deles pretendeu ser uma repreensão mordaz, uma acusação vingativa e ultrajante a Jesus.
A CONDENAÇÃO FEITA POR JESUS
Assim, o chamado de Mateus, o encontro com pecadores, o desprezo dos líderes religiosos levam, finalmente, a Jesus manifestar uma condenação sobre eles, a qual eles ouviram bem, no versículo 17, quando disse: “Os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento.
Sua resposta à pergunta retórica dos escribas e fariseus (v. 16) é dupla. Primeiro, Jesus faz uma analogia: não são os saudáveis que precisam de médico, mas os enfermos. É uma analogia muito simples. Os médicos procuram os doentes. Quão simples é isso? Jesus é o médico espiritual, Ele é o “iatros” [médico, no grego] espiritual, o curador, e Ele precisa ir até as pessoas que precisam ser curadas.
Aquela acusação proferida pelos escribas e fariseus (v. 16) era algo muito forte e que partiu de seus corações frios. É por isso que Jesus disse: “Vinde a mim, todos vocês que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes aliviarei.”
Mas, em contraste com isso, em Mateus 23, Ele disse que os escribas e fariseus atavam fardos pesados nas costas das pessoas, que elas nem mesmo podiam carregar, e eles não lhes davam nenhuma ajuda. Mas, o apelo de Jesus é: “Venha até Mim, se você é um pecador, e Eu perdoarei seu pecado.” Ele é o Senhor que cura você, conforme identificado em Êxodo 15:26. Ele é o curador da alma, o curador espiritual.
A analogia é óbvia, é como se Jesus estivesse dizendo àqueles escribas e fariseus: “Vocês dizem que essas pessoas são pecadoras. Ora, se elas são pecadoras, se estão doentes com o pecado, precisam de um curador espiritual, precisam de um médico espiritual para perdoar seus pecados.”
A segunda parte da resposta de Jesus àqueles escribas e fariseus é de autoridade, no final do versículo 17: “não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento.” Chamar aí significa chamar para o Reino, chamar para o perdão, chamar à salvação. Jesus estava também dizendo àqueles líderes judeus: “Eu não vim por vocês”
Não é que Jesus não considerasse aqueles escribas e fariseus como pecadores.
Jesus lhes estava dizendo, em outras palavras:
“Ok, vocês são justos, logo, Eu não vim por vocês. E enquanto vocês continuarem pensando que são justos, morrerão em seus pecados, e para onde Eu for, vocês nunca irão. Aceito seu diagnóstico de autojustiça, aceito sua ilusão. Vocês são justos, não precisam de Mim e não posso lhes oferecer nada. Não vim pelos justos, não vim chamar os justos, não posso oferecer nada a eles. Vim chamar pecadores ao arrependimento.”
Oh, como eles O odiavam por isso!
Assim é hoje. A igreja de Jesus Cristo não é feita de pessoas boas, é feita de pessoas más. Não é composta por pessoas que pensam que são justas, mas por pessoas que sabem que não são. Não é composta por pessoas que atingiram um certo grau aceitável para Deus, mas por pessoas que sabem que nunca poderiam chegar a um lugar aceitável diante de Deus.
A igreja não é composta por pessoas que pensam que são boas, mas por pessoas que sabem que são más. Não é formada por pessoas que alcançaram a justiça por conta própria, mas por pessoas que receberam a justiça de Deus como um presente. Este é o evangelho.