A Perfeição do Antigo Testamento

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Salmos 19.7-14 Para ler e meditar durante a semana
D – Sl 19.1-6 – Revelação de Deus na criação; S – Sl 119.9-16 – Guardar puro o coração; T – Ne 8.1-12 – Corações quebrantados; Q – 2Tm 3.14-17 – Suficiência do Antigo Testamento; Q – 1Co 15.1-4 – As Escrituras e Jesus Cristo; S – Jo 5.30-39 – As Escrituras e Jesus Cristo; S – Sl 119.105-112 – O amor pelas Escrituras
INTRODUÇÃO
Neste novo trimestre dedicaremos a nossa atenção ao estudo introdutório do Antigo Testamento, um estudo preliminar a respeito de um dos testamentos da Escritura. O nosso objetivo é uma maior compreensão dos diversos gêneros literários, das seções e dos livros que compõem o AT.
Para tanto, iniciaremos com um exame da segunda parte do salmo 19. Quando Davi escreveu essas palavras, era ao Antigo Testamento que ele se referia ao usar o termo “lei”. O puritano Matthew Poole, por exemplo, afirma que “lei” aqui significa “a doutrina entregue por Deus à sua igreja, seja por meio de Moisés ou pelos outros profetas e homens santos que vieram depois de Moisés”.1
Nas palavras do salmo 19, portanto, nós encontramos as razões pelas quais é tão importante que nos dediquemos ao estudo do AT. Sempre que encontrarmos “lei” no texto, apliquemos o seu significado a todas as Escrituras hebraicas.
I. O ANTIGO TESTAMENTO É PERFEITO E FIEL
Nós encontramos perfeição no AT. O sentido aqui é de completude, integridade, e a ideia, conforme João Calvino arrazoa é que, “se uma pessoa é devidamente instruída na lei de Deus, ela não carece de nada que seja indispensável à perfeita sabedoria”.2 O que a lei provoca na alma do crente? Davi diz: “A lei do Senhor é perfeita e restaura a alma”. Restaurar significa “fazer voltar atrás”, “converter”. A ideia é a de “provocar arrependimento”. O estudo do Antigo Testamento nos lembra de que ainda somos sujeitos ao pecado, somos confrontados por causa dos nossos pecados e convocados por Deus ao arrependimento.
O AT é fiel e seu fruto é a sabedoria. Nele nós encontramos o testemunho do Senhor contra o pecado. Nele nós vemos o Senhor se colocando contra a idolatria, o falso culto, a irreverência, o desprezo pelo dia de descanso e a todo tipo de pecado. O testemunho do Senhor contra todos esses pecados é fiel, claro, resoluto, infalível e incontestável. Não há quem seja capaz de retrucar, de responder ao que diz a lei. Pelo estudo do Antigo Testamento adquirimos sabedoria. Todos nós somos símplices, isto é, necessitados de sabedoria (Tg 1.5). Onde a sabedoria divina pode ser encontrada? No testemunho dado por Deus no Antigo Testamento. Pense, por exemplo, nas muitas ocasiões em que você fez algo e, posteriormente, lendo o Antigo Testamento, tomou conhecimento de que pecou contra aquele que tanto o amou e isso lhe compungiu o coração e lhe levou a resolver firmemente em seu coração a não mais cometer tal loucura.
II. O ANTIGO TESTAMENTO É RETO E PURO
No verso 8, Davi faz mais duas declarações perfeitamente aplicáveis ao Antigo Testamento.
A. Eis a primeira: “Os preceitos do Senhor são retos e alegram o coração”.
O termo traduzido como “preceitos” fala de todas as responsabilidades atribuídas pelo Senhor ao seu povo, todos os mandamentos dados ao povo da aliança. Esses preceitos são caracterizados pela retidão. Compare o que o salmista Davi declara aqui a respeito da lei do Senhor com as imaginações do nosso próprio coração. Elas são corruptas, desvirtuadas. O nosso coração nos faz pensar que determinados caminhos terminarão em vida e em felicidade, quando na verdade o fim será a morte (Pv 16.25). Salomão também fala daqueles “que deixam as veredas da retidão, para andarem pelos caminhos das trevas” (Pv 2.13). O reformador João Calvino afirmou que “a vida de um homem não pode ser corretamente ordenada a menos que seja moldada segundo a lei de Deus, e que sem isso ele não pode fazer outra coisa senão vaguear por labirintos e por trilhos tortuosos”.3
Quando a pessoa reconhece a retidão dos preceitos do Senhor e os segue, o resultado é a alegria invadindo o coração, um enorme regozijo tomando conta do seu interior. “A verdade que torna o coração reto em seguida dá alegria ao coração”, afirmou Spurgeon.4
B. A segunda declaração do verso 8 diz: “o mandamento do Senhor é puro e ilumina os olhos”.
Os mandamentos do Senhor possuem como característica distintiva a pureza. O adjetivo “puro” traz o sentido de algo imaculado, sem qualquer mistura, purgado de qualquer impureza, sem nenhum traço de imperfeição. Provérbios 30.5 declara que “toda palavra de Deus é pura”. O Antigo Testamento está livre de qualquer mistura das invenções dos homens, da escória da doutrina corrompida, livre de toda palha e impureza. E por isso ele é usado por Deus para promover no seu povo a pureza no coração, na conversação e em toda a vida. Há um princípio interessante afirmado por Salomão, em Eclesiastes 10.1: “Qual a mosca morta faz o unguento do perfumador exalar mau cheiro, assim é para a sabedoria e a honra um pouco de estultícia”. Da mesma forma, o menor traço de qualquer pensamento meramente humano, desassistido e desassociado da inspiração divina, seria suficiente para tornar impuro não apenas o Antigo Testamento, mas toda a Palavra de Deus, uma vez que, como afirma Calvino, “tudo quanto o homem engendra para si não passa de mera imundícia e refugo, corrompendo a pureza da vida”.5 Na ode que escreveu à lei do Senhor no salmo 119, o salmista volta a afirmar essa verdade, ao declarar que a única forma de um jovem guardar puro o seu caminho é observando-o segundo a santa Palavra de Deus (v.9). No mesmo salmo, Davi compara a Palavra do Senhor, em sua inteireza, a uma luz, a uma lâmpada que ilumina nosso caminho. Fora da Palavra, fora da lei do Senhor, só existem trevas. É por isso que o Antigo Testamento “ilumina os olhos”.
III. O ANTIGO TESTAMENTO É CLARO E VERDADEIRO
No versículo 9 encontramos o último par de declarações de Davi à Palavra de Deus. Primeiro, ele diz: “O temor do Senhor é límpido e permanece para sempre”. A referência agora é ao efeito pretendido pela lei do Senhor no coração do crente, ou, de maneira mais simples, ao modo como devemos nos colocar diante de Deus para servi-lo. Davi faz uso de um adjetivo raro para descrever o temor do Senhor como eticamente puro. A ideia é que o que Deus nos diz na sua lei é tão claro, tão límpido, tão brilhante, que não há lugar para qualquer indiferença frente àquilo que a santa lei de Deus coloca diante de nós. O objetivo é que temamos a Deus, que nos aproximemos dele com intrepidez, é verdade, mas também com um santo temor. E esse ponto é muito interessante, pois frequentemente o temor está associado ao culto prestado a Deus. No Antigo Testamento encontramos inúmeros princípios acerca de como devemos cultuar ao Senhor.
Tudo o que o Senhor nos ensina em sua Palavra, desde o Antigo Testamento, a respeito da maneira como devemos nos aproximar dele no culto, permanece para sempre. Tudo o que o Senhor nos ordenou a respeito do modo como adorá-lo permanece e não temos a permissão para acrescentar nada e de nada retirar. Não podemos, portanto, adorar a Deus sob nenhuma imagem visível, não podemos substituir a pregação por formas dramatizadas, não podemos colocar a pregação nas mãos de pessoas que não foram comissionadas pelo grande Rei para fazer isso, não podemos apresentar diante dele fogo estranho, o que ele não nos ordenou (Lv 10.1-3). É preciso temer a Deus, e isso significa atarmos o nosso coração aos seus mandamentos e deles jamais nos apartarmos.
Davi afirma ainda: “os juízos do Senhor são verdadeiros e todos igualmente, justos”. O sexto termo usado por Davi para descrever a lei do Senhor, “juízos”, enfatiza o exercício do governo do Senhor sobre todas as coisas, o modo como o Senhor ministra a justiça em todas as coisas. O Senhor declara no Antigo Testamento o que é justo. A justiça é definida nos termos de Deus, não nos termos do homem. No livro do profeta Miquéias, por exemplo, o Senhor afirma que ele já nos declarou o que é justo. Seu governo é exercido em perfeita harmonia com aquilo que ele declara na sua santa lei.
📷CONCLUSÃO
Por aquilo que é, por todas as suas qualidades intrínsecas e por todos os seus efeitos na alma e no coração do crente, a nossa reação ao Antigo Testamento deve ser declarar junto com o salmista Davi, quando falou sobre os juízos do Senhor: “São mais desejáveis do que ouro, mais do que muito ouro depurado; e são mais doces do que o mel e o destilar dos favos” (v. 10). O mesmo tipo de amor e de reverência pelo Antigo Testamento foi manifestado por Jesus, durante a sua estada aqui. Tudo o que ele ensinou e tudo o que fez tem o seu fundamento nas Escrituras do Antigo Testamento, razão pela qual ele testemunhou aos seus ouvintes: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim” (Jo 5.39). Após a sua ressurreição, em duas ocasiões distintas, porém relacionadas, ele tratou de mostrar aos seus discípulos como todo o Antigo Testamento testemunhava acerca dele (Lc 24.27,44).
Falando a Timóteo, o apóstolo Paulo também discorre sobre a perfeição do Antigo Testamento: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm 3.16-17).
📷APLICAÇÃO
Como você enxerga o Antigo Testamento? Apenas como uma coleção arcaica de histórias das quais podemos extrair uns poucos princípios morais para a nossa vida? Ou como a perfeita, fiel, pura, justa e verdadeira Palavra de Deus?
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QUESTIONÁRIO (Responda em um caderno)
1. O que significa a afirmação “O Antigo Testamento é perfeito e fiel”?
2. Como a lei do Antigo Testamento provoca arrependimento na alma do crente?
3. Quais são os pecados contra os quais o Senhor se coloca no Antigo Testamento?
4. Como o estudo do Antigo Testamento pode levar a sabedoria?
5. O que significa dizer que os preceitos do Senhor são retos e alegram o coração?
6. Como os mandamentos do Senhor são caracterizados pela pureza?
7. Como o Antigo Testamento pode iluminar os olhos?
8. O que significa a afirmação “O temor do Senhor é límpido e permanece para sempre”?
9. Como devemos nos colocar diante de Deus para servi-lo, de acordo com o Antigo Testamento?
10. O que Davi quer dizer quando afirma que “os juízos do Senhor são verdadeiros e todos igualmente, justos”?
NOTAS
1 POOLE, Matthew, A Commentary on the Holy Bible: Psalms-Malachi, Vol. 2, Hendrickson Publishers, p. 29. 2 CALVINO, João, Salmos. Vol. 1, Edições Paracletos, p. 424. 3 Ibid, p. 426. 4 SPURGEON, Charles, Os Tesouros de Davi, Vol. 1, CPAD, p. 360. 5 CALVINO, João, Ibid, p. 427.
O ANTIGO TESTAMENTO É CRISTÃO
Há um sentido em que podemos chamar o Antigo Testamento de pré-cristão, mas estamos falando cronologicamente, ou seja, estamos dizendo que o Antigo Testamento existia antes do surgimento do Cristianismo. Mas essa descrição nada diz sobre seu caráter. Poderíamos também chamar o fundamento de uma casa de pré-casa, mas, em todo o tempo, sabemos que esse fundamento é parte integrante da casa. Da mesma forma, poderíamos dizer que o Antigo Testamento é pré-cristão, mas sabemos, o tempo todo, que sua essência não é pré-cristã e sim cristã. “Cristão” descreve o caráter do Antigo Testamento, sua natureza.
Se tivermos alguma dúvida sobre o Antigo Testamento ser cristão, devemos lembrar que o Antigo Testamento era a Bíblia que o próprio Jesus Cristo usava. Era também a Bíblia de Paulo e dos outros apóstolos. Paulo tinha em mente o Antigo Testamento quando escreveu: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça” (2Tm 3.16). O Antigo Testamento era a Bíblia dos autores do Novo Testamento. A igreja cristã (judaica) aceitava naturalmente o Antigo Testamento como sua Bíblia: tinha sido deles o tempo todo. Nunca houve dúvida quanto ao Antigo Testamento ser (parte da) Bíblia cristã(32) – até que apareceu Marcião. Então a igreja tornou oficial (382 d.C.)(33) que o Antigo Testamento era Bíblia. Mais tarde, outros credos reiteraram essa posição. Por exemplo, um credo da Reforma lê: “Incluímos nas Escrituras Sagradas os dois volumes, do Antigo e do Novo Testamento... recebemos todos esses (66) livros, e somente estes, como sendo santos e canônicos para a regulamentação, o fundamento e estabelecimento de nossa fé.”(34) E o Concílio Vaticano II declarou: “O plano de salvação, predito pelos autores sagrados e por eles relatado e explicado, é encontrado como verdadeira Palavra de Deus nos livros do Antigo Testamento: esses livros, portanto, escritos por inspiração divina, continuam sendo de valor permanente.”(35)1
Consequentemente, o dilema de como extrair uma mensagem cristã de um livro não cristão ou pré-cristão só existe quando criado por nós mesmos, pois não surge das Escrituras. É claro que, ao nos movermos do Antigo para o Novo Testamento, notamos uma progressão na história redentiva, como também na revelação. Mas a progressão não torna o Antigo Testamento não cristão ou pré-cristão. As águas que dão início a um rio não são “não rio” ou “pré-rio”; são parte essencial do rio que flui em direção à foz. Além do mais, do mesmo modo como o rio flui em frente, ainda que permanece sendo o que sempre foi, a progressão na história redentiva e na revelação ocorre sem desqualificar o passado. Pois a progressão ocorre dentro do contexto mais amplo de continuidade. Jesus, a pessoa que moveu, como ninguém mais, a história redentiva e a revelação, disse em Mateus 5.17: “Não penseis que vim revogar a lei ou os profetas; não vim para revogar, vim para cumprir” – ou seja, revelar seu significado pleno e trazê-la à sua consumação.
O ponto é que não devemos criar uma quebra entre o Antigo e o Novo Testamento e depois correr em volta em busca de alguma espécie de continuidade a fim de trazer uma mensagem cristã. Em vez disso, devemos começar com a continuidade de uma história unificada de redenção que progride da antiga aliança para a nova, e uma Escritura única que consiste em dois Testamentos. O Antigo Testamento e o Novo são, ambos, parte da Bíblia cristã; ambos revelam o mesmo Deus da Aliança; ambos revelam o evangelho da graça de Deus; ambos mostram Deus estendendo a mão para seus filhos desobedientes com a promessa: “Serei vosso Deus, e vós sereis o meu povo”; ambos revelam os atos de redenção de Deus. Com esse fundamento de continuidade firme em nossa mente, estamos preparados para detectar as descontinuidades, pois sabemos que o Deus da Bíblia não é um Deus estático, mas um Deus que vai junto com seu povo através da história, encontrando-os onde eles se encontram, revelando cada vez mais do seu plano de redenção à medida que move a História para frente até a perfeição de seu reino.
NOTA
1 Pregando a Cristo a partir do Antigo Testamento, Sidney Greydanus, Cultura Cristã, pág. 62, segs.
Extraído da Revista Expressão.
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