Aula 13 - Apocalipse
Panorâma do Novo Testamento • Sermon • Submitted • Presented
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Como o livro do profeta Daniel no Antigo Testamento, este livro faz parte da literatura apocalíptica, que denota a ação de "desvendar" ou "descobrir". Isto quer dizer que o livro se propõe a revelar algo que esteve oculto, coberto ou escondido anteriormente. Várias características dos escritos apocalípticos são dignas de nota.
Geralmente são registrados em períodos de tribulação e sofrimento
Podemos notar isso tanto em Daniel como em Apocalipse. Naquele, os dias do cativeiro babilônio são descritos vividamente. Em Apocalipse, a questão central é o início do conflito entre o império romano e a igreja.
Transmitem sua mensagem por meio de sinais, símbolos, sonhos e visões
Em Apocalipse 1.1, João revela que sua mensagem foi "enviada e notificada", isto é, foi transmitida pelo uso de "sinais" ou figuras do mundo real, tendo significados espirituais. Dentro de quatro grandes visões, João apresenta os principais assuntos de sua mensagem.
Trazem a Promessa do triunfo final do bem sobre o mal
Pela chegada do reino de Deus, juntamente com o Senhor celestial (cf. "REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES", Ap 19.16), que será o soberano governante sobre a criação, todas as coisas serão sujeitadas à vontade de Deus (cf. Dn 2.44, Ap 11.15).
Apesar de muitos considerarem Apocalipse estranho e de mau agouro e, por esse motivo, geralmente negligenciarem sua leitura, esse é o único livro do Novo Testamento com uma promessa de bênção para "aqueles que leem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas" (Ap 1.3; cf. JS 1.7, 8). Além disso, o livro se encerra com várias advertências para todos aqueles que acrescentarem ou retirarem algo do conteúdo dessa profecia (Ap 22,18, 19). Acima de tudo, devemos enfatizar que este livro é, de acordo com a declaração que ele próprio apresenta, a "Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos" (Ap 1.1), Com tão importante caráter, seu conteúdo é digno de um estudo diligente por parte dos cristãos.
Contexto
Ao ler Apocalipse, vemos de imediato que a perseguição e as provações já estavam ameaçando a igreja. Havia evidências de problemas sérios, tanto dentro quanto fora dela. A congregação de Éfeso foi elogiada por sua firmeza e pela capacidade de discernir os homens malignos (Ap 2.2); a igreja de Esmirna passaria por dez dias de tribulação (Ap 2.10); em Pérgamo, Antipas foi martirizado (Ap 2.13); "grande tribulação" sobreviria a Tiatira (Ap 2.22); e a Igreja em Filadélfia recebeu a promessa da proteção do Senhor na hora em que passava por grande provação (Ap 3.10).
A composição de Apocalipse ocorreu por volta de 90-95 d.C. Durante o primeiro século, os imperadores romanos, desde Augusto até Domiciano, controlaram o mundo. Todos os perseguidores romanos antes dos dias do imperador Décio (250 d.C.) atuavam em âmbito local. Em certas localidades, os cristãos começaram a sentir a oposição oficial, no ano 64 d.C., e, novamente, ao que parece, durante o reinado de Domiciano. O exílio de João em Patmos é apenas um exemplo das tribulações que se passaram e das que hão de vir, mencionadas em Apocalipse (Ap 1.9).
Seria esse o destino da igreja para sempre? Será que Satanás e seus agentes malignos alcançariam a vitória? O livro oferece uma resposta decisiva. O dragão será lançado do céu (Ap 12.9), e os santos o derrotarão (Ap 12.11). Por fim, o dragão e seus seguidores serão lançados no "lago de fogo" (Ap 19.20; 20.10). Assim, Deus se tornará o governante supremo, e a igreja será estabelecida para sempre "como noiva adornada para o seu esposo" (Ap 21.2). Acontecerá exatamente como disse o Senhor Jesus: " as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mt 16.18).
Métodos de interpretação
Antes de tentarmos analisar os detalhes do livro, é necessário estabelecer alguns métodos de abordagem do texto. Os estudiosos da Bíblia reconhecem quatro métodos básicos.
Método preterista
Essa abordagem afirma que os eventos em Apocalipse ocorreram no primeiro século; portanto, já faz tempo que se cumpriram. Ela se utiliza de uma perspectiva passada. De acordo com essa abordagem, não existe nenhum aspecto profético ou futuro na narrativa. De acordo com o método preterista, o cenário das visões era o conflito existente entre a igreja e Roma, na era apostólica (isto é, até 100 d.C.).
Esse ponto de vista enfatiza a relevância do livro para as igrejas às quais o livro foi escrito (Ap 1,1) mas praticamente não aceita a visão futura da mensagem de João, que apresenta predições específicas de determinados eventos (Ap 1.3, 19; 22.18, 19).
Método histórico
Esse método vê Apocalipse como uma ilustração do conflito entre a igreja e o mundo (estimulado por Satanás), desde o tempo dos apóstolos até o final de nossa era. Tal abordagem reconhece plenamente o relacionamento entre a narrativa e os eventos terrenos. As crises na história mundial — trazidas pelos conquistadores do passado e do presente — são descritas e todas estão destinadas ao fracasso.
A principal falha do método é a dificuldade em equacionar os fatos citados no livro com os acontecimentos históricos. Desacordos sérios e aparentemente irreconciliáveis entre os adeptos desse método lançam dúvidas sobre a validade da abordagem como a única solução interpretativa. No entanto, ela destaca a relação da mensagem de Apocalipse com a história da humanidade.
Método futurista
Com exceção dos capítulos 1 a 3, esse método encara Apocalipse como totalmente futurista, detalhando o drama que será revelado no final dos tempos, no Dia da ira do Senhor e da aparição de Cristo no céu. A abertura do livro — as cartas às sete igrejas (caps. 1—3) — limita-se ao primeiro século e seria um tipo de esboço simbólico, em sete partes, sobre a "história espiritual" da igreja, desde a era apostólica até a segunda vinda de Cristo.
Em vista da linguagem profética do livro (Ap 4.1) e da magnitude dos eventos preditos nos capítulos de 4 a 22, esse método parece fazer mais justiça à interpretação da mensagem do que os demais mencionados anteriormente. No entanto, há o perigo de o livro tornar-se irrelevante para o público original do primeiro século e, de determinada maneira, para qualquer pessoa que viva antes do final dos tempos. Se nos preservarmos contra essa tendência, o método futurista tem grande valor.
Método idealista
Devemos distinguir esse método dos três demais pelo fato de não se ligar à história, ou seja, a eventos reais. Ele lida com realidades espirituais, em vez de lidar com fatos históricos. Enfatizando o conflito entre Deus e Satanás, bem e mal, justiça e pecado, e distanciando-se de uma preocupação com situações históricas específicas, ele assegura ao leitor que as forças do bem alcançarão a vitória.
Certamente a abordagem idealista capta o espírito do livro, mas a total eliminação de um cenário histórico prejudica o ensino bíblico sobre a atuação de Deus entre os homens. Os elementos simbólicos não devem ser a única ênfase. É necessário manter o aspecto preditivo da mensagem.
Nenhuma dessas abordagens à interpretação profética é satisfatória em si mesma. Já se fizeram tentativas de declarar os prós e os contras de todos os métodos, possibilitando aos estudantes extrair as características úteis de cada um deles, e usá-las de maneira sábia em seu próprio aprendizado. Nessa tarefa, como em qualquer outro estudo bíblico, é essencial que tenhamos a direção do Espírito Santo (1Co 2.6-16; Tg 1.5).
Estrutura do livro
Ao analisar Apocalipse com relação à sua estrutura, notamos que, por quatro vezes, João usa uma expressão-chave, dividindo o livro em partes, a partir das quatro visões que teve. A expressão "em espírito" aparece em Ap 1.10; 4.2; 17.3 e em Ap 21.10. Ela era usada no Antigo Testamento com relação aos profetas e diz respeito ao ministério de revelação do Espírito Santo que lhes transmitia a palavra de Deus. A tabela a seguir ajudará o leitor a identificar as visões como aparecem ao longo de Apocalipse:
Ref Local Visão Conteúdo
Ap 1.9—3.22 Patmos Um semelhante a filho de homem Cristo como Senhor em meio as suas igrejas
Ap 4.1—16.21 Céu O trono e o Cordeiro Cisto como Cordeiro; a ira de Deus
Ap 17.1—21.8 Deserto A mulher e a besta Cristo como Rei dos reis e vencedor sobre
seus inimigos
Ap 21.9—22.6 Montanha A Nova Jerusalém Cristo como o noivo com sua noiva na glória
Esboço
O esboço do livro se dá a partir das quatro visões, juntamente com a introdução (Ap 1.1-8) e a conclusão (Ap 22.6-21). Ao longo de toda a narrativa o tema centraliza-se em Cristo.
Introdução 1.1-8
Primeira visão — Cristo e as sete igrejas Ap 1.9—3.22
Segunda visão — Cristo e os julgamentos terrenos Ap 4.1—16.21
O trono celestial e o Cordeiro Ap 4.1-5.14
Abertura dos sete selos Ap 6.1—8.5
Toque das sete trombetas Ap 8.6—11.19
As bestas e o conflito Ap 12.1—14.20
Derramamento dos sete cálices Ap 15.1 16.21
Terceira visão —- Cristo e sua vitória Ap 17.1—21.8
A queda da grande Babilônia Ap 17.1—18.24
Alegria no céu Ap 19,1-10
Aparição de Cristo Ap 19.11-16
Derrota da besta Ap 19.17-21
Prisão de Satanás Ap 20.1-3
O milênio Ap 20.4-6
Rebelião final e julgamento Ap 20.7-15
Novo céu e nova terra Ap 21.1-8
Quarta visão — Cristo e sua noiva Ap 21.9—22.5
Conclusão — exortações finais e bênção Ap 22.6-21
De certa maneira, a primeira visão é mais fácil de ser compreendida do que as seguintes. A medida que o Senhor fala a João (Ap 1.9-20) e, então, às sete igrejas (caps. 2, 3), percebemos que a linguagem, dentro do contexto do primeiro século, é relativamente clara. Enfatiza-se a soberania do Cabeça, à medida que ele anda entre os candelabros — as igrejas — e segura as sete estrelas — os mensageiros ou líderes das igrejas — em sua mão direita, lugar de autoridade e honra.
As sete igrejas da Asia, selecionadas dentre um grande número de congregações existentes na época, são analisadas uma a uma pelo Senhor, que relata claramente a condição espiritual de todas elas. Cristo adota um padrão, ao se dirigir a cada uma. No entanto, há duas exceções que devemos notar. Cada igreja, como um todo, recebe elogios, exceto duas delas: Sardes e Laodiceia. E cada uma, como um todo, recebe condenação, exceto duas delas: Esmirna e Filadélfia. Um estudo detalhado de cada carta — dando-se atenção ao ambiente histórico e à localização de cada igreja, além da mensagem entregue a cada uma e o conselho espiritual para os dias presentes — trará muitas recompensas ao leitor.
O ambiente da segunda visão (Ap 4,1—16.21) é a descrição das três séries de julgamentos sobre a terra, cada uma delas consistindo de sete partes. A magnitude dos eventos é espantosa e, quer os interpretemos literalmente, quer de maneira simbólica, impressionam pela fúria da vingança divina contra os pecadores que não se arrependeram (v. Rm 12.19; Hb 10.30, 31).
Ao considerarmos essas três séries de julgamentos, devemos dar atenção ao problema da relação de cada um deles. Em resumo: eles seguem um ao outro (são consecutivos)? Ocorrem dentro do mesmo período de tempo e se encerram ao mesmo tempo (são concorrentes)? Todos acontecem ao mesmo tempo (são simultâneos)? Cada uma dessas três posições tem sido defendida por comentaristas igualmente capazes. Não há para cada uma das posições uma resposta definitiva.
Dentro desse quadro geral, há vários eventos parentéticos. Eles estão presentes em Ap 7.1-8; 7.9-17; 10.1-11; 11.1-13; 12.1-17; 13.1-18; 14.1-5; 14.6-12; 14.13; 14.14-20. Em sua maioria, aparentam ocorrer dentro do mesmo período dos julgamentos, mas concentram-se principalmente sobre indivíduos, tanto humanos quanto angelicais, demonstrando sua relação com o dia da ira de Deus.
A terceira visão (Ap 17.1—21.8) dá atenção especial à vitória de Cristo sobre seus inimigos. Eles são os seguintes, em ordem de ocorrência: a prostituta e a besta da Babilônia; a besta e os falsos profetas com seus seguidores; Satanás e os rebeldes da terra e a humanidade irregenerada. Assim preparase o caminho para os "novos céus e a nova terra". Uma passagem crucial dentro dessa visão é Apocalipse 20.4-6, que descreve o reino milenar de Cristo, quando ele será vingado na terra, o cenário de sua rejeição (v. 1CO 15.25-27). Os santos reinarão com ele (v. 1CO 6.2) e exercerão suas funções como "sacerdotes de Deus e de Cristo" (Ap 20.6).
Por último, na quarta visão (Ap 21.9—22.5), encontramos o relato do surgimento dos "novos céus e da nova terra". A imaculada noiva de Cristo se coloca em vívido contraste com a mulher vestida de escarlate, a prostituta da Babilônia (cap. 17). João descreve a perfeição da Nova Jerusalém, centrada na comunhão imutável entre Deus e seu povo. Com a destruição da morte e a aparição da árvore da vida, a beleza original do Eden retorna (cf. Gn 2). Aquilo que o pecado deturpou agora é restaurado e purificado. Assim, Deus será "tudo em todos" (1CO 15.28). O relato da redenção está completo.