A exclusividade do Evangelho
Notes
Transcript
Marcos 2:18-22
Introdução
Introdução
Esse texto nos ensina que o evangelho do Senhor Jesus Cristo, que é o coração e a alma do Cristianismo, é absolutamente único. É distinto, exclusivo e absolutamente único. O evangelho de Jesus Cristo não pode ser misturado. É incompatível com todas e quaisquer outras ideias ou crenças religiosas. Não há mistura.
O evangelho do Senhor Jesus Cristo é absolutamente único, incomparável e exclusivo. E isso precisa ser afirmado com muita força em nossos dias, porque vivemos em uma época que exalta a diversidade de crenças e a individualidade, dizendo que todos devem ter suas próprias crenças religiosas como se todas fossem verdadeiras.
O cristianismo é contrário a tudo isso. A Escritura é muito clara que existe um Deus e somente um Deus, existe um Senhor e somente um Senhor, existe uma revelação inspirada, a Bíblia, e é a única revelação dada por Deus. Existe apenas uma interpretação exata e correta da Bíblia e, portanto, na Bíblia há apenas um plano de salvação. Qualquer sugestão que altere ou misture essas verdades singulares corromperá o Evangelho, o que produz resultados condenatórios. A passagem de Marcos fornece uma declaração clara e inequívoca da exclusividade do evangelho e sua incompatibilidade com qualquer outra coisa.
Nos versículos 13 a 17 de Marcos 2, Jesus chamou Mateus Levi para ser Seu discípulo. Foi uma afronta às expectativas dos fariseus e escribas. Eles jamais receberiam alguém como um coletor de impostos, que sequer podiam frequentar uma sinagoga, muitos menos ir ao templo de Jerusalém. A religião de obras deles foi afrontada quando Jesus chamou o pior dos piores, o mais baixo dos baixos, para ser um apóstolo.
E Jesus fez isso publicamente. Então, os líderes judaicos concluíram que Jesus proclamava uma religião satânica e, a assim, buscaram Sua morte. Eles foram os primeiros a dizer que não há compatibilidade entre o Judaísmo e a mensagem de Jesus Cristo. Era uma mensagem estranha e destrutiva para a religião deles. E, nesse ponto específico, eles estavam certos.
Não há compatibilidade entre Cristianismo bíblico e a forma apóstata de Judaísmo que existia então, e continuou a existir até hoje. A verdadeira religião do Antigo Testamento foi cumprida em Cristo. O Judaísmo que rejeitou a Cristo é uma religião falsa. Eles sabiam que Jesus era tão adversário para eles que a única maneira de lidar com Ele era matando-O.
O incidente no qual Jesus afirma a exclusividade do evangelho, imediatamente após o chamado de Mateus, está registrado em Marcos 2:18 a 22, Mateus 9:14 a 17 e Lucas 5:33 a 39. Aconteceu logo após Jesus ter declarado que tinha autoridade para perdoar pecados. Jesus deixou muito claro que o que Ele estava pregando era completamente oposto ao que os fariseus estavam pregando. Os fariseus pregavam que o homem deve obter a justiça por seus próprios esforços.
De que o texto trata?
Tudo começa com uma acusação crítica. Parece uma pergunta. É realmente um tipo de afirmação crítica, retórica e inquisitiva. Versículo 18: “Por que motivo jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, mas os teus discípulos não jejuam?”. As perguntas dos escribas e fariseus a Jesus geralmente estavam relacionadas a acusações de violações de suas leis e tradições.
A pergunta, na verdade, era uma crítica severa. Eles estavam indagando: “Por que Jesus anda tão contrário à religião atual? Quem Ele pensa que é? Por que Ele ignora a separação exigida dos pecadores? Por que Ele ignora o jejum exigido?”. Lucas registra a pergunta deles:
Os discípulos de João e bem assim os dos fariseus frequentemente jejuam e fazem orações; os teus, entretanto, comem e bebem. (Lucas 5:33)
A verdade é que havia apenas um jejum que o Antigo Testamento exigia. Está em Levítico 16:29 a 31. Era exigido que no Dia da Expiação (Yom Kippur), eles jejuassem. Na verdade, está escrito naquele texto: “Você deve humilhar sua alma” ou “afligir sua alma”. E a palavra hebraica usada ali é comumente usada para conter ou abster-se de comer. Esse é o único jejum exigido.
Há muitas ocasiões no Velho Testamento em que as pessoas jejuavam voluntariamente, com aflição e coração quebrantado. Por exemplo, Ester 4, Isaías 58, 1 Reis 21 e Joel 1. E até à época de Jesus, as pessoas jejuavam voluntariamente para orar, como as pessoas fazem até agora. Os cristãos o fazem quando se exercitam sobre algo que cativa seu coração a tal ponto que não têm interesse em comer.
Mas na história judaica, você pode encontrar jejuns de um, três dias, sete dias e de vinte e um dias. Você pode encontrar até jejuns de 40 dias, como Êxodo 34, Deuteronômio 9 e 1 Reis 19, e foi isso que Jesus fez. Ele estava jejuando por 40 dias quando foi tentado no deserto. Portanto, existem exemplos de jejuns voluntários.
Os fariseus, porém, foram além disso e criaram um dia de jejum duas vezes por semana: segunda e quinta. E você se lembra quando em Lucas 18: 11-12, o fariseu foi ao templo para orar, ele disse: “Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana…”. Essa era a receita deles
Não há essa exigência no Velho Testamento. Eles tinham comportamentos para exibir justiça publicamente, para que todos vissem: dar suas esmolas, orar e jejuar. Eram feitos para ostentar publicamente, era algo muito hipócrita. Jesus abordou a hipocrisia deles no Sermão da Montanha: Mateus 6. 1-18.
Em Isaías 58, o Senhor acusa a religião falsa expressa no jejum.
Isaias 58:3-6
Eles eram realmente bons nisso há muito tempo. O jejum era parte de sua exibição superficial e hipócrita. Mas para eles, era sua religião. E então, os discípulos de João, juntamente com os fariseus, vêm e dizem: “Todos nós fazemos isso, mas os seus discípulos não jejuam. Você está completamente errado em relação a nossa religião”. O ritual vazio é sempre o inimigo da verdadeira piedade.
Bem, a acusação crítica merece uma resposta corretiva, e Jesus faz exatamente isso. Jesus faz a verdadeira interpretação sobre a ação dos discípulos em não jejuarem.
Respondeu-lhes Jesus: Podem, porventura, jejuar os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles? Durante o tempo em que estiver presente o noivo, não podem jejuar. Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo; e, nesse tempo, jejuarão. (Marcos 2:19-20)
Todo mundo entenderia isso. Você não jejua em um casamento. O casamento é uma celebração. Não é um momento de luto. Havia até regras rabínicas antigas proibindo os convidados do casamento de jejuar. Por quê? Porque essas pessoas eram tão hipócritas que queriam mostrar sua espiritualidade até mesmo em um casamento e diziam: “Bem, sinto muito, não posso comer, estou jejuando.”
Os fariseus e os escribas jejuavam para exibir sua religiosidade, e os discípulos de João também faziam parte disso. Não havia verdadeiro quebrantamento por causa de seus pecados e não havia uma verdadeira devoção que afastava o desejo de comer qualquer coisa.
Jesus está simplesmente dizendo: “O Messias está aqui, este não é um momento para jejuar”. A Escritura estava se cumprindo diante deles. O jejum dos fariseus e dos discípulos de João Batista é que estava fora do lugar, completamente fora de contato com o propósito de Deus e o que Deus estava fazendo, completamente fora de contato com a realidade de que o Messias estava lá.
Seu sistema religioso estava totalmente falido. Eles buscavam um relacionamento com Deus por meio de suas próprias obras. Eles estavam apegados a uma falsa religião, e como Jesus não a defendia, eles consideraram que Ele, o Messias, procedia de Satanás. Eles não podiam enxergar a verdade, a vida, o único caminho, o Messias, o Filho de Deus e o Salvador que estava diante de seus olhos.
Jesus lhes diz: “Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo; e, nesse tempo, jejuarão” (Marcos 2:20). É uma declaração impressionante. Haverá um tempo no futuro em que a alegria do casamento terminará. Para simplificar, o noivo será levado embora.
Ele será levado embora, Ele será morto em nosso lugar. Essa é, então, a primeira referência de Jesus à Sua morte, no evangelho de Marcos. Quando isso acontecer, eles irão jejuar.
Chegaria um momento em que Ele seria levado e, assim, eles jejuariam. Mas ainda não era essa hora. Não era hora de jejuar.
O Judaísmo, em seu nível mais devoto e hipócrita, dizendo reverenciar o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, é completamente desconectado de Deus. É totalmente estranho ao propósito de Deus e ao evangelho.
E então, para deixar claro para eles como esses dois sistemas eram diferentes, Jesus faz analogias esclarecedoras:
Marcos 2
“Ninguém costura um remendo de pano novo em roupa velha; porque o remendo novo tira um pedaço da roupa velha, e o buraco fica ainda maior.”
Qualquer pessoa que lava qualquer coisa que seja feita de um tecido natural, seja linho, algodão ou lã, entende que essas fibras encolhem. Não existiam produtos sintéticos no mundo antigo. Você não pode misturar um remendo novo, nunca molhado, com um pedaço de pano velho.
O que Jesus quis dizer? Os rituais e cerimônias do judaísmo apóstata são uma vestimenta imprestável, e você não pode remendar seus buracos com pedaços do evangelho. Não é compatível.
Jesus não veio com uma mensagem para consertar o antigo sistema, mas substitui-lo por completo. Ele trouxe a mensagem de arrependimento e perdão pela graça que não pode ser misturado com o antigo judaísmo de tradição e obras de justiça própria, ou com qualquer outra religião.
É importante saber que a velha vestimenta não se refere à santa Lei de Deus e ao Antigo Testamento, ela se refere a religião do judaísmo apóstata. O evangelho não pode ser costurado para remendar os buracos de algo imprestável.
E então, Jesus dá a eles outra ilustração, essencialmente apontando a mesma conclusão.
Marcos 2
22 Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres. Mas põe-se vinho novo em odres novos.
Eles matavam uma cabra, pegavam sua pele, usavam o pescoço como bico, costuravam os lugares onde estavam as pernas e quaisquer aberturas e então teriam uma grande bolsa de pele de cabra, couro fresco, e eles enchiam com vinho novo.
Eles o deixariam lá por um tempo e a amargura da borra iria para o fundo, e eles derramavam o vinho que estava em uma pele em outra pele nova. E eles continuariam despejando e despejando. E cada vez que eles derramavam, mais resíduos seriam eliminados, e permaneciam no fundo. Com isso, eles fariam vinagre e coisas assim.
Mas, eventualmente, eles obteriam um vinho claro, sem resíduos. Esse era o processo. Era muito importante que essas películas estivessem macias e que pudessem conter o vinho. As peles velhas, várias vezes reutilizadas, tornavam-se frágeis e, se fossem usadas novamente com vinho novo, romperiam e tudo estaria perdido.
Nosso Senhor está dizendo que você não pode derramar o evangelho cristão em odres velhos, quebradiços, rachados e inúteis do Judaísmo. O vinho novo do evangelho é incompatível com o judaísmo ou com qualquer outra religião. Se você está procurando ser justificado pelo que faz, você está separado de Cristo. O evangelho da graça é o único meio de salvação, e é incompatível com os sistemas religiosos.
Não há como misturar Jesus com qualquer religião. Jesus disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14:6). O evangelho é exclusivo. Não há salvação em nenhum nome (Atos 4:12), além de Cristo. O evangelho não é compatível com o Judaísmo, nem com qualquer outra manifestação religiosa, inclusive com as falsas formas de Cristianismo.
Nosso Senhor deu uma terceira ilustração, que é registra em Lucas.
Lucas 5
39 E ninguém, tendo bebido o vinho velho, prefere o novo; porque diz: O velho é excelente.
Uau! Quão esclarecedor é isso? Jesus disse que é muito natural que as pessoas continuem com suas antigas e velhas tradições religiosas, pois elas se tornaram profundamente enraizadas em suas vidas. Eles cultivaram tal gosto pela própria religião que, se você lhes oferecer outra coisa, eles não se interessarão por isso. Eles veem a verdade como uma ameaça.
Conclusão e Aplicação
O princípio estabelecido nessa breve parábola reveste-se de suprema importância. Temos aí uma espécie de provérbio que admite várias aplicações. Com frequência, esquecer essa verdade tem causado muitos males à Igreja de Cristo. Os males que têm surgido, resultantes da tentativa de costurar um remendo de pano novo em alguma veste velha, ou de se pôr vinho novo em odres velhos, não têm sido nem poucos nem pequenos.
O que aconteceu às igrejas cristãs da Galácia? Ficou tudo registrado na epístola de Paulo. Naquelas igrejas, havia homens que queriam conciliar o judaísmo com o cristianismo, tanto batizando como circuncidando os convertidos. Eles se esforçaram para manter vivas as leis referentes às cerimônias e às ordenanças, paralelamente ao evangelho de Cristo. Na verdade, eles pensavam ter conseguido pôr “vinho novo em odres velhos”; mas, dessa forma, erraram grandemente.
O que aconteceu às novas igrejas cristãs depois que os apóstolos faleceram? Nós temos isso registrado nas páginas da História da Igreja. Alguns tentaram tornar o evangelho mais aceitável, misturando-o com a filosofia platônica. Outros trabalharam para torná-lo recomendável aos pagãos, mediante o empréstimo de formas, rituais e vestimentas copiados dos templos de falsos deuses. Assim, eles costuraram “remendo novo em veste velha”. Ao fazerem isso, espalharam por toda a parte as sementes de um enorme mal. Pavimentaram o caminho para a completa apostasia romana.
O que acontece a tantos crentes em nossos dias? Basta olharmos ao nosso redor para descobrir. Há milhares de crentes que estão procurando conciliar o servir a Cristo com o servir ao mundo, procurando ter o nome de cristãos e, ao mesmo tempo, buscando viver a vida própria dos ímpios — mantendo a companhia de servos dos prazeres e do pecado, enquanto pretendem ser seguidores do Jesus crucificado. Em suma, estão tentando desfrutar o “vinho novo” ainda sem se desfazer dos “odres velhos”. Algum dia, entretanto, descobrirão que estão tentando fazer aquilo que é impossível.
Esse texto deveria levar-nos a fazer uma profunda sondagem em nossos próprios corações. Certamente, já lemos o que as Escrituras dizem: “Ninguém pode servir a dois senhores […] Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mt 6.24). Ponhamos lado a lado com essas palavras de Mateus as conclusivas palavras de nosso Senhor nesta passagem: “Põe-se vinho novo em odres novos”.