O sim de Maria e o nascimento de Jesus - Diácono Walmir Cardoso (2)

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Narrativas da infância?

Por que a dúvida? Apesar de comumente conhecidas desta forma, tal afirmação é imprecisa e, muitas vezes inadequada. Vamos descobrir o por quê?
Apenas DOIS textos nos trazem informações sobre a infância de Jesus (Mt 2 e Lc 2.1-40). A “adolescência” de Jesus aparece em somente em Lc 2.41-52.
O uso do termo narrativa, é questionável porque as breves passagens, como por exemplo Mt 2.13-23, por serem incompletas em sua estrutura ou até mesmo concisas, justificam tal classificação?

As narrativas da infância x desenvolvimento dos Evangelhos

Ao olharmos os textos de Lc e Mt, somos levados a compreender que era da intenção do evangelista escrever os textos de forma cronológica. Entretanto, não foi bem assim...
Os textos mais antigos a respeito de Jesus tratavam de sua morte e ressurreição (At 2.23,32; At 3.14-15; 4.10;10.39-40). Era desta forma que os discípulos conseguiam entender quem Jesus era, de fato.
Além disso, tudo o que Jesus disse e fez dominava o interesse dos pregadores cristãos, até como uma forma de apresentar uma coerência sobre estes e a ressurreição (1Cor 7.10).
1 Corinthians 7:10 AVM
10 Aos casados mando que a mulher não se separe do marido.
Como nenhum dos evangelistas foram testemunhas oculares de Jesus, a formação dos Evangelhos seguiu uma forma lógica e não cronológica. Por ex: o Evangelho mais antigo é o de Marcos (60 dC), o qual inicia (Mc 1.1) e termina (Mc 16.1-8) sem citar qualquer informação sobre o nascimento de Jesus e omite o nome de José.
A razão é simples: Marcos estava preocupado em proclamar o querigma, isto é, aquilo de mais essencial sobre Jesus e pouco se preocupou com o ensinamento (Didaqué).
Surge então a pergunta: O que levou Mateus e Lucas, evangelhos mais tardios (80dC) a escreverem sobre a infância de Jesus?

Primeira razão: a curiosidade.

Imagine ouvir sobre um homem que morreu e ressuscitou, o qual era chamado de Filho de Deus? Como ele nasceu? Quais as circunstâncias? Se ele é Deus, como nasceu homem? Estas e outras perguntas certamente faziam parte do imaginário daqueles que ouviam as pregações sobre Jesus.

Segunda razão: a apologética

A defesa da fé em Jesus motivou os evangelistas a escrever sobre a sua infância. Ao olharmos Lc 1.41-44, veremos Lucas fazendo uma defesa da superioridade de Jesus sobre João Batista, quando este o reconhece antes mesmo de nascer.
Luke 1:41–44 AVM
41 Ora, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. 42 E exclamou em alta voz: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. 43 Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor? 44 Pois assim que a voz de tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio.
A contenda contra os docetistas no cristianismo tardio surge como uma resposta àqueles que negavam a humanidade de Jesus. A tese mais aceita, no entanto, está presente em Jo 7.41-42;52, que narra o nascimento de Jesus em Belém. No judaísmo antigo, não era possível imaginar que o Messias pudesse nascer na Galileia.

Terceira razão: um Messias ilegítimo

Se abrirmos nossa bíblia em Jo 8.55, Jesus responde a tese de que seria um filho ilegítimo (Jo 8.41). De onde vem essa ideia?
John 8:55 AVM
55 e, contudo, não o conheceis. Eu, porém, o conheço e, se dissesse que não o conheço, seria mentiroso como vós. Mas conheço-o e guardo a sua palavra.
John 8:41 AVM
41 Vós fazeis as obras de vosso pai”. Retrucaram-lhe eles: “Nós não somos filhos da fornicação; temos um só pai: Deus”.
Tanto Mt quanto Lc atribuem ao Espírito Santo a paternidade de Jesus. Logo, Maria ficou grávida antes de morar com José (Mt 1.20-21). Ao contrário de Lc (Lc 1.27;34), a gravidez virginal de Maria não é destacada porque, para ele, o nascimento do menino é o cumprimento da profecia. Para os adversários de Jesus, no entanto, era uma prova de sua ilegitimidade.

O nascimento de Jesus segundo O Evangelho de São Mateus

O início do Evangelho de Mt se dá com uma profissão de fé (Mt 1.1). Qual a razão desta dupla designação?
Matthew 1:1 AVM
1 Genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão.
Mateus destaca a ascendência judaica de Jesus, enfatizando que ele é o filho de Abraão e o filho de Davi. Jesus é, por nascimento, um membro do povo escolhido do Senhor, nascido da semente de Abraão, o pai da fé, e aquele em quem todas as nações serão abençoadas.
Ele é igualmente um membro da casa real de Davi, de cuja descendência virá um reino eterno. Assim, Jesus é colocado dentro da tradição viva do relacionamento de aliança do Senhor com seu povo e, portanto, seu Deus, por direito de nascimento, é o único Senhor Deus de Abraão, Isaque e Jacó.
Além disso, a promessa que o Senhor fez a Davi (2Sm 7.12-13), de que de sua semente brotaria um reino eterno, agora converge para Jesus. Mateus, em sua genealogia, une Jesus a todo o tecido da revelação do Antigo Testamento.
2 Samuel 7:12–13 AVM
12 Quando chegar o fim de teus dias e repousares com os teus pais, então suscitarei depois de ti a tua posteridade, aquele que sairá de tuas entranhas e firmarei o seu reino. 13 Ele me construirá um templo e firmarei para sempre o seu trono real.
Em Jesus, o Antigo e o Novo Testamento estão integral e permanentemente entrelaçados.

Um breve estudo sobre a genealogia de São Mateus

Mateus traça a linhagem de Jesus (Mt 1.2-16), por meio do uso da palavra "gerou" - "Abraão foi o pai de (gerou) Isaque, e Isaque foi o pai (gerou) Jacó... etc."
Entretanto, quando a genealogia finalmente chega a José, ela diz: "Jacó foi o pai (gerou) José, marido de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado Cristo". Com Jacó, a geração termina. José é o último a ser gerado, e ele não gera ninguém.
Esse é o ponto doutrinário ou teológico deste Evangelho. A importância de José, ao contrário de todos os que o precederam, não se encontra em sua geração, mas em seu fato de ser o marido de Maria.
Qual o objetivo do evangelista? Confirmar que Jesus possui a linhagem abraâmica e davídica, com o casamento entre José e Maria.
A importância de Maria não está no fato de ela ter concebido um filho de José, mas precisamente no fato de ela ser a mãe de Jesus, que não é de José.
Jesus é importante porque ele é o Cristo. Evidente nessa sequência final da genealogia de Jesus é a obra do Espírito Santo.

O nascimento de Jesus segundo São Lucas

Preocupado em garantir a historicidade de sua narrativa, privando-a assim de qualquer interpretação mitológica, Lucas coloca o nascimento de Jesus em seu contexto histórico, geográfico e judaico.
José e Maria eram judeus durante o reinado de César Augusto, que havia convocado um censo (Lc 2.1-20). Assim, José "subiu da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judéia, à cidade de Davi, chamada Belém, por ser da casa e linhagem de Davi, para ser inscrito com Maria, sua prometida, que estava grávida".
Assim, a criança humana que nasceria seria registrada como súdita do Império Romano e colocada no cenário da história mundial, o que implica que o nascimento de Jesus é de importância histórica universal.
Essa ênfase tripla (cidade, casa, linhagem), ecoando as profecias de Gabriel e Zacarias, traz consigo uma expectativa de cumprimento da promessa de Deus a Davi: ele levantaria um descendente cujo reinado seria eterno.
Portanto, a narrativa não olha apenas para o nascimento iminente de Jesus da linhagem real de Davi, mas também para seu cumprimento escatológico, quando Jesus, o novo Davi, reinar para sempre em glória.
Logo em seguida, Lucas conta sobre o nascimento. (Lc 2.6-7) O relato simples e conciso de Lucas sobre o nascimento de Jesus é, aparentemente, desprovido de importância teológica. No entanto, a narrativa de Lucas tem consequências doutrinárias.
A ausência de qualquer aspecto extraordinário em seu nascimento ressalta a autenticidade da humanidade de Jesus. Jesus nasceu como qualquer outro ser humano, e é esse fato que, por sua vez, acentua a autenticidade da Encarnação, pois aquele que nasce de maneira verdadeiramente humana não é outro senão o Filho de Deus, o Filho do Altíssimo.
Isso exige que Maria tenha dado à luz seu filho de maneira natural, como qualquer outra mãe humana faria.
Negar que Maria deu à luz seu filho de forma natural removeria todo o significado inteligível do conceito de "dar à luz" e, assim, a privaria de sua graça suprema e honra singular - o fundamento de todas as suas outras graças e honras - o fato de ser a Mãe de Deus.
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