A VISÃO DO CORDEIRO DE DEUS

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Leitura bíblica: Apocalipse 5 “Então vi na mão direita daquele que está assentado no trono um livro em forma de rolo, escrito de ambos os lados e selado com sete selos. Vi um anjo poderoso, proclamando em alta voz: “Quem é digno de romper os selos e de abrir o livro?” Mas não havia ninguém, nem no céu nem na terra nem debaixo da terra, que pudesse abrir o livro, ou sequer olhar para ele. Eu chorava muito, porque não se encontrou ninguém que fosse digno de abrir o livro e de olhar para ele. Então um dos anciãos me disse: “Não chore! Eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos”. Depois vi um Cordeiro, que parecia ter estado morto, em pé, no centro do trono, cercado pelos quatro seres viventes e pelos anciãos. Ele tinha sete chifres e sete olhos, que são os sete espíritos de Deus enviados a toda a terra. Ele se aproximou e recebeu o livro da mão direita daquele que estava assentado no trono. Ao recebê-lo, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram…”
Apocalipse 5 (NVI)
Então vi na mão direita daquele que está assentado no trono um livro em forma de rolo, escrito de ambos os lados e selado com sete selos. Vi um anjo poderoso, proclamando em alta voz: “Quem é digno de romper os selos e de abrir o livro?” Mas não havia ninguém, nem no céu nem na terra nem debaixo da terra, que pudesse abrir o livro, ou sequer olhar para ele. Eu chorava muito, porque não se encontrou ninguém que fosse digno de abrir o livro e de olhar para ele. Então um dos anciãos me disse: “Não chore! Eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos”.
Depois vi um Cordeiro, que parecia ter estado morto, em pé, no centro do trono, cercado pelos quatro seres viventes e pelos anciãos. Ele tinha sete chifres e sete olhos, que são os sete espíritos de Deus enviados a toda a terra. Ele se aproximou e recebeu o livro da mão direita daquele que estava assentado no trono. Ao recebê-lo, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro. Cada um deles tinha uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos; e eles cantavam um cântico novo:
“Tu és digno de receber o livro
e de abrir os seus selos,
pois foste morto,
e com teu sangue compraste para Deus
gente de toda tribo, língua, povo e nação.
Tu os constituíste reino
e sacerdotes
para o nosso Deus,
e eles reinarão sobre a terra”.
Então olhei e ouvi a voz de muitos anjos, milhares de milhares e milhões de milhões. Eles rodeavam o trono, bem como os seres viventes e os anciãos, e cantavam em alta voz:
“Digno é o Cordeiro
que foi morto
de receber poder, riqueza, sabedoria, força,
honra, glória e louvor!”
Depois ouvi todas as criaturas existentes no céu, na terra, debaixo da terra e no mar, e tudo o que neles há, que diziam:
“Àquele que está assentado
no trono
e ao Cordeiro
sejam o louvor, a honra,
a glória e o poder,
para todo o sempre!”
Os quatro seres viventes disseram: “Amém”, e os anciãos prostraram-se e o adoraram.
INTRODUÇÃO
1. Segunda aula do módulo escatológico. Como vimos no início desta série, nossa perspectiva futurista, à luz de Apocalipse 1.19, difere muito das demais: preterista, historicista, idealista e eclética. Os capítulos 4 e 5, que revelam como será o Céu logo após o Arrebatamento da Igreja, "constituem o centro do resto do livro do Apocalipse e fornecem a tela de fundo contra a qual devemos interpretar todas as visões que seguem" (BROOKS, p. 85). Os capítulos seguintes (6-22) abordam, sobretudo, o que se dará na Terra, antes da Manifestação do Senhor em poder e glória, bem como depois desta, com o Milênio etc.
2. Apocalipse 5. A descrição do trono de Deus, iniciada no capítulo anterior, continua no capítulo 5, mas a ênfase agora recai sobre o Cordeiro de Deus no trono e o livro selado com sete selos. "No capítulo 4 a adoração é prestada a Deus como Criador de todas as coisas. Os tão decantados evolucionistas não têm vez ali! Aqui, no capítulo 5, a adoração é prestada a Cristo como Redentor (vv. 9,10)" (GILBERTO, p. 119).
I. O LIVRO SELADO E O ANJO FORTE (vv. 1-4)
1. Versículo 1. "E vi na destra do que estava assentado sobre o trono um livro escrito por dentro e por fora, selado com sete selos". Como vimos na aula anterior, João não viu o Senhor "como ele é" (1 Jo 3.1-3), mas descreve o que lhe foi revelado por meio símbolos. Depois do trono, ele descreve também um rolo de manuscrito (gr. biblíon) que está na mão direita do que está assentado nesse trono. Toda a História "está na mão de Deus. Pode-se achar um quadro mais simples e sublime da soberania total de Deus sobre a história do que este rolo em sua mão? Não importa a força do mal, não importa a ferocidade com que os poderes satânicos perseguem o povo de Deus na terra, a história ainda está na mão de Deus" (LADD, p. 63).
a) Livro selado com sete selos.Como selo tem a ver com garantia e chancela, para realçar a marca do seu dono, tudo o que está prescrito nesse livro de Deus ocorrerá. "Essa marca mostrava aprovação, identificação, confirmação, autenticação, assegurando posse e legitimidade" (HORTON, p. 81). Há muitas interpretações sobre esse livro selado. Chamam-no de livro da nova aliança ou da redenção; dizem que se trata de um título de propriedade da terra, uma certidão de divórcio (o Cordeiro se divorcia do Israel infiel) ou de um registro dos pecados da humanidade. Como veremos, a partir do capítulo 6, nesse livro (um rolo de pergaminho) estão contidos os pormenores do período tribulacional, apresentados de modo sequencial mediante sete selos, sete trombetas e sete taças, mas também um testamento.
b) Como eram os livros selados?Nos tempos bíblicos, os livros eram feitos de pele de ovelha polida e preparada para a escrita (pergaminhos) ou "de tiras de papiro estendidas, extremidade sobre extremidade, e coladas para formar uma tira mais longa que pudesse ser enrolada como um rolo manuscrito. [...] Os rolos em que se podia escrever dos dois lados eram chamados de 'opistográficos'" (OSBORNE, p. 277). Quando se tratava de documentos, como escritura de propriedade, "os selos eram colocados aos poucos, à medida que se enrolava o livro, os selos eram colocados na extremidade do rolo. Por fim se aplicava um último selo ao longo da borda final do rolo, selando o livro todo. Quando se abria o primeiro selo, uma parte do rolo podia ser vista e examinada, e assim até o último" (GILBERTO, p. 120).
c) O que esse livro representa?Que esse livro selado, escrito por dentro e por fora (cf. Ez 2.10), contém os acontecimentos da Tribulação não há dúvida, porém é mais que isso. Ele é um testamento, o único documento no mundo do século I selado com sete selos. Esse "rolo selado com sete selos retrata a herança dos crentes, que reinarão com Cristo no mundo que está por vir, ou seja, o reino de mil anos sobre a terra, reino que Cristo estabelece em sua Segunda Vinda (Ap 20.4-6; cf. Hb 2.5). O rolo deve ser aberto para o Filho receber sua herança do Pai, e os sete selos são julgamentos. À medida que lemos mais adiante no livro do Apocalipse, vemos que o sétimo selo contém as sete trombetas, e a sétima trombeta contém os sete julgamentos finais, os flagelos. Depois que o rolo é totalmente aberto, Jesus toma o trono. O reino agora é dEle" (HITCHCOCK, p. 114-115).
2. Versículos 2-4. "E vi um anjo forte, bradando com grande voz: Quem é digno de abrir o livro e de desatar os seus selos? E ninguém no céu, nem na terra, nem debaixo da terra, podia abrir o livro, nem olhar para ele. E eu chorava muito, porque ninguém fora achado digno de abrir o livro, nem de o ler, nem de olhar para ele".
a) Quem é o anjo forte?Como a identidade deste não é mencionada, os teólogos têm feito especulações. Alguns sugerem que seja o arcanjo Miguel, já que ele "é sempre designado para missão especial (cf. Dn 12.1; Jd v. 9; Ap 12.7)" (SILVA, p. 75). Outros creem que esse anjo forte seja Gabriel, "cujo nome é frequentemente usado para significar 'homem de Deus', mas que também significa 'força de Deus' ou 'poderoso de Deus'. Gabriel fora o anjo que havia ordenado a Daniel que selasse o livro (Dn 12.4)" (HORTON, p. 83).
b) O desafio do anjo forte.Este formula uma pergunta de grande importância, um desafio, em alta voz: "Quem é digno de abrir o livro e de desatar os seus selos?" Esse anjo poderoso "deu um grito tão alto que o universo inteiro pôde ouvir. Mas não causou resposta alguma. Eis a impotência absoluta de qualquer ser criado, ou grupo de seres criados para governar o mundo ou trazer à tona o reino eterno de Deus! O desafio foi feito. [...] Mas ninguém no céu pode ajudar (nem mesmo os anhos que sempre estiveram diante do trono de Deus); ninguém na terra tem poder para fazer algo [...]; e ninguém debaixo da terra" (BROOKS, p. 86-87).
c) Por que João chorava muito?Como não havia ninguém digno de abrir o livro nem olhar para ele, claro está que não é a habilidade de abrir o livro que está em jogo, "mas a habilidade baseada no merecimento. Isso ficará especialmente claro nas duas primeiras das canções seguintes nos versículos 9 e 11, onde cada uma começa com a aclamação 'digno'. Assim, o que faz João chorar tão profundamente é sua consciência instintiva tanto da importância do rolo quanto do fato de que 'ninguém' mais na multidão celestial é 'digno' no sentido de que somente o Cordeiro poderia ser" (FEE, p. 100).
II. O CORDEIRO DE DEUS NO TRONO (vv. 5-8)
1. Versículos 5-6. "E disse-me um dos anciãos: Não chores; eis aqui o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi, que venceu, para abrir o livro e desatar os seus sete selos. E olhei, e eis que estava no meio do trono e dos quatro animais viventes e entre os anciãos um Cordeiro, como havendo sido morto, e tinha sete pontas e sete olhos, que são os sete espíritos de Deus enviados a toda a terra".
a) João é consolado por um ancião.Esse apóstolo chorava muito, mas um dos 24 anciãos lhe disse: "Não chores". Nós vemos a Igreja desprezada e o cristianismo em declínio. Nós vemos nossa cultura se afastando das normas bíblicas. Entretanto, a mensagem, aqui, é clara: Não chore! O Cordeiro de Deus venceu e está no trono!
b) Por que somente Jesus pode abrir o livro?
Ele é o Leão da tribo de Judá. Temos aqui uma alusão a Gênesis 49.9,10. Sabemos, à luz da literatura judaica contemporânea, que "a referência em Gênesis não é a um Messias humilde e sofredor, mas a um que brande o cetro como um rei que governa" (LADD, p. 64). "O leão invariavelmente se apresenta como um símbolo de força. Ele é o rei dos animais do campo e, portanto, um símbolo adequado de poder conquistador" (BROOKS, p. 87).
Ele é a Raiz de Davi. Trata-se de uma alusão a Isaías 11.1-10: "brotará um rebento do tronco de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará. [...] E acontecerá naquele dia que a raiz de Jessé, a qual estará posta por estandarte dos povos, será buscada pelos gentios; e o lugar do seu repouso será glorioso". Sendo Jesus o herdeiro do trono davídico, o rebento ou o renovo que brotou de Davi, em Apocalipse vemos uma atualização da profecia, pois o filho de Jessé substitui o nome do seu pai. Daí Jesus ser a raiz de Davi. Isso é significativo, pois no versículo 2 da profecia de Isaías 11 se menciona o sétuplo Paráclito, que repousa sobre o Messias, isto é, "os sete espíritos de Deus enviados a toda a terra".
Ele é o Cordeiro que venceu. Que paradoxo! Um ancião anuncia que o Leão venceu, mas, quando João olha, vê no meio do trono, entre os quatro seres e os 24 anciãos, um Cordeiro! "Nada poderia ser mais incompreensível. Em vez das poderosas bestas do poder imperial, temos um cordeiro. Em vez de um general vitorioso, temos alguém que foi morto. Em vez de poder, glória e sabedoria do império, temos a fraqueza, a vergonha e a loucura da cruz (1 Co 1.18-2.5). Mas foram a insensatez e a fraqueza da cruz que venceram. O Rei reina a partir da cruz. O Cordeiro tem toda a força (simbolizada por sete chifres) e todo o conhecimento (sete olhos), e está totalmente presente (os sete Espíritos ou Espírito sétuplo)" (CHESTER, p. 66). Sim, Jesus venceu na cruz (Jo 19.30; Hb 2.14,15; Cl 2.14,15; Ap 1.18)!
Conclusão. Somente o Cordeiro de Deus derramou o seu precioso sangue e ressuscitou segundo as Escrituras (Jo 1.29; 1 Pe 1.18,19; 1 Co 15.1,2). Por isso, "tem as qualificações justas compradas pelo seu sangue para consumar essa redenção ao dar início ao estágio final da história. Somente Ele é o Deus-Homem, o Redentor, o Juiz e aquEle que ressuscitou" (MORGAN, p. 60). Sem a pessoa de Jesus Cristo e sua obra de redenção, "a história é um enigma. Desde Agostinho e seu livro 'Cidade de Deus', durante séculos uma visão cristã da história influenciou o pensamento ocidental, vendo nela um objetivo divino inseparável da palavra redentora de Cristo" (LADD, p. 63).
c) Jesus está mesmo no trono?
João viu o Cordeiro no no meio do trono. Jesus é descrito, em outras passagens, como assentado à destra do Pai ou com Ele (Cl 3.1,2; Ap 3.21), onde também está o sétuplo Espírito (5.6). Mas, aqui, João vê "um Cordeiro, que parecia ter estado morto, de pé, no centro do trono" (NAA). "Cristo, embora morto, é ressuscitado e vive" (VINCENT, 2013, p. 407). Ele está "ocupando assim seu lugar de direito diante do trono junto com 'o Espírito sétuplo', que daqui em diante, e com razão, aparece apenas na terra. E porque Ele agora não está apenas 'de pé no centro', mas Ele próprio se tornou o centro de tudo, o Cordeiro também é descrito como cercado pelos quatro seres viventes e pelos anciãos" (FEE, p. 102). Isso significa, sobretudo, que o Deus trino está e estará sempre no controle da História.
Existe um trono compartilhado? A pergunta recorrente é a seguinte: "Se Deus Pai está no trono, e Jesus está assentado à destra do Pai, quantos tronos há no Céu?" Observe que a Trindade não são três Deuses (triteísmo), e sim tripessoalidade. Por isso, existe esse compartilhamento. Deus Filho e Deus Pai são um (Jo 10.30); vemos em Apocalipse que, "com o Pai, Jesus compartilha (simbolicamente) os cabelos brancos (indicando antiguidade; 1.14), o nome (1.17), o domínio (1.5,6), e que Ele se juntou ao seu Pai no trono divino (3.21). Mais adiante em Apocalipse, João se refere ao trono como sendo 'o trono de Deus e do Cordeiro' (22.1,3), à fonte da salvação como sendo tanto Deus como o Cordeiro (7.10), e à ira divina como sendo a ira de Deus e do Cordeiro (6.16,17). Além disso, Deus e o Cordeiro formam juntos o templo e a luz da Nova Jerusalém (21.22,23)" (GORMAN, p. 143-144).
d) Outras características do Cordeiro. O Leão é o Cordeiro! "Essa é a forma celestial de representar as duas vindas de Cristo. Nosso Senhor veio, na primeira vez, como um Cordeiro a ser sacrificado pelo pecado, mas retornará como um Leão que dominará e reinará" (MORGAN, p. 59).
Estava no meio dos quatro seres. O número quatro, aqui, diz respeito à totalidade de anjos de categorias especiais (querubins, serafins etc.). E o que João viu foi uma representação dessas categorias especiais de anjos que adorarão a Deus juntamente com a Igreja glorificada (24 anciãos) e uma multidão de anjos.
Estava entre os 24 anciãos. O termo "ancião" (gr. presbyteros), como já vimos, em nenhum lugar do Novo Testamento diz respeito a anjos. Nesse caso, os 24 anciãos representam a Igreja de Deus redimida de todos os tempos, já que os doze patriarcas e os doze apóstolos terão, respectivamente, seus nomes inscritos nos portões e na fundação da Nova Jerusalém (Ap 21.12-14).
Tinha "sete pontas e sete olhos".Literalmente, "sete chifres e sete olhos" (gr. kérata heptá kai ophthalmous heptá). Os primeiros se referem à plenitude do poder (onipotência) do Senhor Jesus, pois o chifre é um símbolo comum de força (Dt 33.17; Sl 18.2; 112.9). Quanto aos sete olhos, o próprio texto diz que "são os sete espíritos de Deus enviados a toda a terra". Esta expressão alude ao sétuplo Paráclito que habita sobre o Messias (Is 11.1,2; cf. Zc 4.10). "O céu é o ponto de vista a partir do qual é possível observar todas as coisas. O Cordeiro no trono é descrito [...] como tendo 'sete olhos' [...]. Sete é uma imagem de plenitude. Os sete olhos, portanto, representam uma visão completa. Jesus detém o panorama total. Ele não perde nada. Ele entende todas as coisas" (CHESTER, p. 67). Como os olhos de Cristo são como chama de fogo (Ap 1.14), e os sete espíritos ardem como tochas de fogo diante do trono de Deus (4.5), temos aqui a menção simbólica do relacionamento entre o Cordeiro o outro Paráclito (cf. Jo 14.18,26).
2. Versículos 7-8. "E veio, e tomou o livro da destra do que estava assentado no trono. E, havendo tomado o livro, os quatro animais e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo todos eles harpas e salvas de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos".
a) O Cordeiro tomou o livro da mão de Deus.Isso significa que o Pai entregou o livro selado ao Filho. João já antecipa isto no prólogo do livro, quando afirma: "Revelação de Jesus Cristo, a qual Deus lhe deu, para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer" (1.1).
b) Os 4 seres e os 24 anciãos se prostraram. Os primeiros não representam anjos comuns, pois são distinguidos da multidão angelical (Ap 5.11; 7.11). Eles são os que, sem cessar, dizem: "Santo, Santo, Santo" (4.8). Já os 24 anciãos estão sentados em tronos, vestidos de branco e com coroas na cabeça, o que o Senhor tinha acabado de prometer às suas igrejas (v. 4; 3.21; 2.10; 3.4,5,11). Os dois grupos agora se prostram diante do Cordeiro de Deus!
c) Harpas e salvas de ouro. De acordo com o livro de Salmos, harpas (ou liras) são usadas no culto e no canto (33.2; 98.5; 147.7). Em Apocalipse, "harpa" (gr. kithara, "cítara"; parecida com alaúde ou violão) é um instrumento que acompanha a música celestial (14.2; 15.2). As orações dos santos não caem no esquecimento, mas sobem diante de Deus como incenso (Sl 141.2). "Enquanto nossas orações não são respondidas, estão sob cuidados especiais. Não são esquecidas" (GILBERTO, p. 120-121). A palavra "salva" (gr. phiale) alude a "um vaso largo e chato usado para líquidos efervescentes, às vezes, como urna incineradora, para bebidas ou derramar libações" (VINCENT, 2013, p. 408).
d) Quem são os santos? O termo "santos", em Apocalipse, tem sido alvo de debates entre pré-tribulacionistas e pós-tribulacionistas. Aqui, sem dúvida, aplica-se aos santos (a Igreja). E podemos concordar com os pós-tribulacionistas, quando dizem: "Neste versículo, 'santos' parece indicar todo o povo de Deus na terra que orou pela vinda do Reino de Deus; e os primeiros destes santos devem ser os crentes que constituem a Igreja" (LADD, p. 69). Entretanto, é o contexto que designa a exata aplicação desse termo. Entre os capítulos 6 e 18, é evidente que "santos" se refere aos mártires da Tribulação (11.18; 13.7,10; 16.6; 17.6; 18.20,24; cf. 6.9,10; 7.14), visto que a Igreja já terá sido arrebatada. Em 19.8, esse mesmo termo diz respeito à Igreja glorificada.
III. CULTO CRISTOCÊNTRICO NO CÉU (vv. 9-14)
1. Versículos 9-10. "E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue nos compraste para Deus de toda a tribo, e língua, e povo, e nação; e para o nosso Deus nos fizeste reis e sacerdotes; e reinaremos sobre a terra".
a) Um novo cântico.Enquanto os quatro seres dizem sem parar (de dia e de noite): "Santo, Santo, Santo" (Ap 4.8), os 24 anciãos entoam um cântico novo. Apocalipse menciona várias coisas novas: novo nome para os vencedores (2.17; 3.12); nova Jerusalém (21.2; 3.12); novo Céu e nova Terra (21.2); tudo novo (v. 5). Por que o cântico é novo? Porque jamais foi cantado. "É novo porque qualquer cântico da Igreja aqui na terra, pelo seu sentido ligado à nossa peregrinação e lutas terrenas, não poderá ser cantado lá" (GILBERTO, p. 121).
b) Os 24 anciãos e a obra redentora. Os pós-tribulacionistas têm tido a tarefa inglória de provar que os 24 anciãos representam uma categoria angelical, e não a Igreja. Mas têm sido insistentes: "Os anciãos estão entoando louvores ao Cordeiro pela redenção da Igreja, não por sua própria redenção" (LADD, p. 71). Na verdade, além de todas as características que ligam os 24 anciãos à Igreja glorificada, cada manuscrito grego conhecido confirma o texto da ACF (Almeida Corrigida Fiel), exceto um, muito antigo, de qualidade inferior (Códice A).
Os críticos do pré-tribulacionismo reconhecem a sua dificuldade.Como o advogado de um acusado de crime grave, os amilenistas e pós-tribulacionistas tentam enfraquecer ou relativizar as provas textuais em favor da identificação dos anciãos com a Igreja glorificada. Para eles, ainda "que não exista um grande número de evidências de manuscritos a favor de 'compraste para Deus' [...], Metzger [...] está provavelmente correto ao afirmar que a leitura mais curta explica melhor a mais longa" (OSBORNE, p. 299).
O que diz o Texto Majorirário. A maioria esmagadora dos manuscritos gregos (Texto Majoritário) inclui o pronome "nos" na frase em apreço: egórasas to Theo hemás, "nos compraste para Deus". "Calamitosamente, a maioria das versões omitem o pronome 'nos', deixando o verbo transitivo 'comprar' sem objeto" (PICKERING, p. 522). A despeito desse debate no campo da crítica textual, as características dos 24 anciãos são suficientes para demonstrar que eles representam a Igreja glorificada no Céu.
c) A Igreja é um reino de sacerdotes. A verdade de que o Cordeiro foi morto para nos fazer reino e sacerdotes já foi antecipada no prólogo de Apocalipse (1.6) e será repetida no fim desse livro, numa referência aos mártires que hão de ressuscitar (20.6). Sabemos que o termo "rei", mais precisamente, só pode ser aplicado ao Senhor. Por isso, "reis" (gr. basileian), aqui, refere-se a "um reino" do qual Jesus é o Rei. Quanto a nós, já estamos reinando com Ele (Rm 5.17; 1 Co 4.8; Ap 3.11). O termo "reino" é coletivo; alude aos súditos do Reino de Cristo, os quais têm o privilégio de participar desse reinado. Mas "sacerdotes" indica a posição de cada um dos servos do Senhor comprados pelo sangue do Cordeiro. Somos um sacerdócio real, o qual é universal (1 Pe 2.4,5).
2. Versículos 11-14. "E olhei, e ouvi a voz de muitos anjos ao redor do trono, e dos animais, e dos anciãos; e era o número deles milhões de milhões, e milhares de milhares, que com grande voz diziam: Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e ações de graças. E ouvi a toda a criatura que está no céu, e na terra, e debaixo da terra, e que estão no mar, e a todas as coisas que neles há, dizer: Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre. E os quatro animais diziam: Amém. E os vinte e quatro anciãos prostraram-se, e adoraram ao que vive para todo o sempre".
a) Incontáveis anjos ao redor do trono.Junto com os quatro seres e os 24 anciãos, "milhões de milhões" (gr. myriades myriadon) e "milhares de milhares" (gr. chiliades chiliadon) de anjos adoram o Deus trino. Vemos nesse culto ao Criador e ao Redentor a participação de um quarteto (os quatro seres), de um coro (os 24 anciãos) e de um sem número de coristas. Cristo é "o centro do louvor no céu, recebendo a reverência dos seres viventes e dos anciãos (5.8). Em seguida, esse círculo se amplia, e miríades de anjos se reúnem a essas criaturas e aos anciãos, em uma forma de adoração (5.12), claramente paralela àquela oferecida a Deus [Pai] (4.11). Por fim, o grupo se expande para incluir toda a criação, em uma doxologia dirigida a Deus e ao Cordeiro (5.13)" (BAUCKHAM, p. 75-76).
b) Toda a Criação adora o Deus trino.Esse "cenário completo é uma representação ardente do texto poético de Filipenses 2.6-11, onde aquele que foi obediente até a morte é reconhecido como Senhor, digno de receber os louvores que são devidos apenas a Deus, por todos que estão 'no céu, na terra e debaixo da terra' (v. 10)" (GORMAN, p. 143). Após descrever a adoração junto ao trono, no Céu, João parece mencionar o que ocorrerá momentos antes da descida do Senhor à Terra para instaurar o Milênio, quando haverá, de fato, uma nova ordem mundial. Note que, aqui, esse apóstolo não está vendo, porém ouve a glorificação de toda a Criação: "ouvi a toda a criatura que está no céu, e na terra, e debaixo da terra, e que estão no mar, e a todas as coisas que neles há dizer: Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre". Como indicou Paulo em Romanos 8.21-23, "toda a criação geme pelo dia quando a maldição for retirada e completada nossa redenção. Toda a criação regozijar-se-á quando vir estas coisas começarem a se cumprir" (HORTON, p. 87).
c) Como será a adoração no Céu?
Quanto à forma. Como vimos na aula anterior, no Céu haverá prostração reverente de todos os adoradores (Ap 4.10; 5.14; 7.11; 19.4), e não "adoração extravagante", especialmente por parte da Igreja glorificada: "os vinte e quatro anciãos prostraram-se, e adoraram ao que vive para todo o sempre".
Quanto ao conteúdo. À luz de Apocalipse 4.8,11; 5.9-12; 7.12; 19.1-10, o culto no Céu será cristocêntrico! Note que o Cordeiro é digno de receber sete coisas: poder, riquezas, sabedoria, força, honra, glória e ações de graças. Ele é adorado por quem Ele é: "Leão de Judá, Raiz de Davi e Cordeiro que foi morto (5.5-7). Também é adorado por onde está: Ele está no trono (5.6). De igual forma, Ele é adorado pelo que fez: com o seu sangue nos comprou para Deus e constituiu-nos reino e sacerdotes (5.9,10). Ainda Ele é adorado por aquilo que tem: a adoração de todo o universo (5.11-14)" (LOPES, p. 167).
CONCLUSÃO
A despeito de nosso esforço em explicar as palavras contidas em Apocalipse 5, elas precisam muito mais de afirmação e aclamação do que de interpretação. "Os leitores dessa passagem que não conseguem se unir ao exército celestial estão ouvindo o texto apenas cerebralmente, e não com a alegria pretendida por João, de modo que seus leitores são atraídos para a cena no culto celestial como parte da adoração. De fato, o leitor que falha no presente em entrar no culto celestial, que para eles ainda está por vir, terá perdido o propósito de João por várias léguas" (FEE, p. 104). Portanto, não tente apenas interpretar a cena gloriosa que João viu. Contemple! Adore! Glorifique o Cordeiro de Deus, que nos comprou com o seu precioso sangue, tornando-os reino e sacerdotes!
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