Influenciados pelo Espírito - Parte 1

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Gálatas 5.16–21 “Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne. Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer. Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais sob a lei. Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam.”

Introdução

No capítulo anterior, vimos como o apóstolo Paulo exorta os crentes da Galácia a não se renderem ao ensino dos falsos mestres judaizantes. Caso eles se deixassem circuncidar por aqueles agitadores, estariam se submetendo à escravidão da Lei e abandonando a doutrina da justificação pela graça, mediante a fé em Cristo. Depois de denunciar as más intenções daqueles mercenários, Paulo exorta seus irmãos a que sejam servos uns dos outros pelo amor, o que somente seria possível se eles andassem pelo Espírito Santo, não pela doutrina judaizante.
Nessa passagem, Paulo aborda os conflitos internos que ocorriam na igreja dos gálatas. Ao que parece, havia brigas e disputas entre eles, a ponto de o apóstolo mencionar com ironia “se mordeis e devorais uns aos outros, cuidado para não vos destruirdes mutuamente” (GL 5.15). Essas brigas aparentemente eram resultado da influência nefasta dos agitadores judaizantes e do legalismo ensinado por eles (GL 5.26). Paulo aponta para o amor como a solução; amor que cumpre a Lei (GL 5.13–15) e que é fruto do Espírito (GL 5.16–26).
Ele acaba de introduzir um importante assunto, a liberdade cristã, e faz questão de diferenciar ela da libertinagem, o uso da liberdade para dar ocasião à carne, ele deixa claro que o amor é o limite da liberdade, como orientação principal para evitar tal comportamento ele descreve, a partir do verso 16, como deve ser o comportamento cristão que vive a verdadeira liberdade em Cristo, aquela que faz com que ele seja influenciado pelo Espírito Santo, influenciado por Jesus.
A vida cristã é uma experiência gloriosa de liberdade espiritual, mas é também um chamado para a guerra espiritual. Não somos livres para fazer o que bem quisermos, mas devemos viver para Deus. Enquanto estivermos na terra, teremos de lutar contra o poder da nossa antiga natureza humana, que Paulo chama de carne. Essa natureza é muito poderosa e mancha tudo o que fazemos, de modo que até nossas boas obras são corrompidas de alguma maneira.
Não podemos viver para Deus por conta própria, mas precisamos da presença e da proteção do Espírito Santo em cada momento. Continuaremos a pecar e a errar em nossas boas intenções, mas Deus nos perdoará se pertencermos a ele, reconhecermos nossos erros e buscarmos o poder do seu Espírito para viver uma vida nova. Nossa busca constante deve ser que o Espírito Santo continue a nos influenciar, que Deus, na pessoa do seu filho Jesus, tome as rédeas de nossas vidas e nos governe, nos guie por seus caminhos santos e nos ajude a lutar contra nossa natureza pecaminosa.

Uma luta constante - GL 5.16-17

Em contraste com as brigas entre os gálatas, Paulo apresenta a vida no Espírito como o caminho para o amor que cumpre todos os mandamentos e vence a carne: “Mas eu afirmo: Andai pelo Espírito e nunca satisfareis os desejos da carne” (GL 5.16). Aqui e nos versículos seguintes podemos verificar que Paulo associa a doutrina da justificação pela fé ao andar no Espírito e ao fruto do Espírito.
Quem anda no Espírito não satisfaz os desejos da carne, não está sob a Lei, dá o fruto do amor e já foi crucificado com Cristo (GL 5.16,18,22–24). Em contraste, os que vivem debaixo da Lei vivem na carne, que produz suas obras pecaminosas e traz condenação ao final (5.19–21). São dois sistemas opostos, duas maneiras de viver contrárias entre si. A vida no Espírito trará a vida eterna, e a vida debaixo da Lei, a condenação eterna.
Paulo deseja que os gálatas entendam bem o que está em jogo: o legalismo judaizante não era simplesmente outra maneira de interpretar o evangelho de Cristo, mas, sim, uma contradição, uma negação completa dele. Tentar se justificar perante Deus pelas obras da lei faz parte dos “princípios elementares” deste mundo (GL 4.3,9), o qual está caído e destinado à condenação. É viver sob o domínio da carne. Em contraste, ser justificado pela fé em Jesus Cristo é o caminho de Deus, que nos livra do jugo da Lei e pelo Espírito Santo nos livra também do poder da carne sobre nós.
Examinemos mais de perto o que Paulo ensina sobre isso. Ele promete aos gálatas que, se andarem no Espírito, nunca satisfarão a concupiscência da carne (GL 5.16). Essa negativa radical está ancorada no poder do Espírito Santo, o qual os gálatas já tinham recebido quando creram em Jesus (GL 3.2). O Espírito foi enviado, pela graça, ao coração deles, como resultado de terem sido aceitos por Deus como seus filhos (GL 4.6). Se os gálatas andassem debaixo do poder e da orientação do Espírito, teriam força suficiente para resistir aos desejos carnais de sua natureza pecaminosa.
Olhando para as nossas vidas, que são repletas de lutas, diariamente, lutas constantes contra a carne, Paulo deixa claro que se nós formos influenciados pelo Espírito Santo nós teremos plenas condições de vencer essa luta diária, mesmo que esse processo leve algum tempo e por muitas vezes quedas e fracassos se apresentem neste caminho, Deus está ao lado daqueles que perseveram e principalmente em andar com Ele, o Espírito estará conosco nos ajudando em todo esse processo de luta para não ceder às paixões da carne.
Isso era necessário, pois havia neles — assim como há em nós — um conflito constante entre a carne e o Espírito: “Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer” (GL 5.17). Paulo já havia contrastado a carne e o Espírito. Ao se colocarem outra vez debaixo da Lei, os gálatas estavam tentando aperfeiçoar na carne aquilo que haviam começado pelo Espírito (GL 3.3).
O espírito e a carne se opõem um ao outro como dois poderosos senhores que sempre estão em guerra um com o outro. Um deles nos ordena a fazer coisas espirituais; o outro, coisas carnais. Um deles nos diz o que é bom; o outro, o que é mau, e assim por diante. “Carne” significa qualquer coisa no coração que não vive segundo o Espírito Santo.
A carne é aquela parte de uma pessoa que não faz o que Deus quer, mas difere dele. A carne é também nossa natureza humana completa, com seus sentidos superiores e inferiores. O espírito é tudo o que no nosso coração vive pelo Espírito Santo. O espírito é aquela parte de nós que faz o que Deus quer e renasce pelo Espírito Santo para que possa praticar boas obras vivas e espirituais. Quando a carne deseja o que é contrário ao espírito, ela repercute no espírito com seus próprios desejos impuros e atos maus externos, pois é a carne que tenta o espírito a ter pensamentos ímpios e a fazer coisas más.
A luta diária é real e está presente em nossas vidas, mas Paulo nos apresenta uma maneira de sairmos mais vitoriosos dessas lutas diárias, andar no espírito, fazer com que todas as suas vontades, desejos, sonhos, conquistas, tudo o que você é, passe pelo crivo do Espírito Santo, que todas essas coisas possam continuar presentes em nós, mas primeiramente pensando nas coisas do alto, vivendo para Cristo, sendo influenciado por Ele.

Influenciados pelo espírito - GL 5.18

Contudo, se há alguma vitória, ela é do Espírito: “Se sois guiados pelo Espírito, já não estais debaixo da lei” (GL 5.18). Ser guiado pelo Espírito é a mesma coisa que andar no Espírito (GL 5.16). Como já dissemos, os gálatas já haviam recebido o Espírito pela fé em Cristo (GL 3.2; 4.6). Portanto, como filhos de Deus, eles não eram mais escravos. Não estavam mais debaixo da Lei e da condenação que ela traz sobre as obras da carne. Note que, no versículo anterior, o contraste era entre a carne e o Espírito; mas, agora, o contraste é entre a Lei e o Espírito, o que demonstra que, na mente de Paulo, estar debaixo da Lei e viver na carne são a mesma coisa. A vida no Espírito é a única alternativa vitoriosa contra o legalismo e a vida na carne.
Paulo orienta seus ouvintes e nos orienta em como viver livre da condenação do preceito exterior, estar sob a lei significa derrota, escravidão, maldição e impotência espiritual, porque a lei não pode salvar. É o Espírito que nos põe em liberdade (GL 4.29; 5.1,5). A lei exige de nós perfeição e por isso mesmo nos condena, pois não somos perfeitos. Estar sob a lei é estar sob maldição, pois maldito é aquele que não persevera em toda a obra da lei para cumpri-la. Porém, quando somos guiados pelo Espírito, já não estamos debaixo da tutela da lei e, por isso, somos livres.
O Espírito não é apenas um vendedor de mapas para o destino da liberdade; é o próprio guia que nos toma pela mão, nos guia pelo caminho até a glória final. O Espírito é visto como um guia, a quem se espera que o cristão siga.
Se você é guiado pelo Espírito, … não deve nada à lei. Deus, em sua misericórdia, nos perdoa por não fazer o que desejamos fazer no Espírito. Ainda não somos puramente espírito, mas somos guiados pelo Espírito e, portanto, perdoados. o domínio do Espírito é tão poderoso que a lei não pode nos acusar do pecado que há em nós. Cristo, nossa justiça, está além de qualquer crítica e não pode ser acusado pela lei. Enquanto nos agarramos a ele, seremos guiados pelo Espírito e libertos da lei.
Cristo morreu por nós para que possamos nos deixar ser guiados e influenciados pelo espírito santo, para que possamos alcançar a medida de varão perfeito que Deus espera de nós, mesmo que esse objetivo não seja alcançado em sua plenitude aqui, mas a promessa é que um dia cearemos juntamente com Cristo e com Ele já teremos atingido essa maturidade.

Compreendendo as obras da carne - GL 5.19-21

Havendo mencionado a “carne”, Paulo passa a descrever como ela se manifesta na vida daqueles que andam debaixo da Lei, segundo os princípios elementares deste mundo (GL 5.19–21). As “obras da carne” constituem a maneira de viver dos que não herdarão o reino de Deus. É aquilo que as pessoas praticam de acordo com sua natureza pecaminosa. O apóstolo diz que tais obras “são evidentes” (GL 5.19). Os gálatas certamente estavam familiarizados com elas. Eles haviam praticado essas obras antes de serem alcançados pelo evangelho da fé em Jesus Cristo. Assim mesmo, Paulo faz uma relação delas, para que não reste nenhuma dúvida.
Paulo parece agrupar as “obras da carne” em quatro categorias, todas elas praticadas pelos gálatas e que se caracterizavam como sendo as lutas diárias daquele povo:
Pecados sexuais;
Manifestações religiosas erradas;
Pecados referentes ao relacionamento com o próximo;
Atitudes coletivas pecaminosas.
Os pecados sexuais são a imoralidade, a impureza e a indecência (GL 5.19), pecados bastante comuns entre os gentios e tolerados na cultura grega da época. A impureza e a indecência estão mais relacionadas com a mente e o coração, e a imoralidade é a prática desses desejos. Essas atitudes e práticas eram bem conhecidas dos gálatas, que nelas haviam vivido antes de serem alcançados pelo poder transformador do evangelho de Cristo.
A idolatria e a feitiçaria (GL 5.20a) eram manifestações religiosas que caracterizavam a cultura helênica. As mais diversas religiões do mundo daquela época giravam em torno da adoração e do culto de imagens de escultura, bem como da prática de artes mágicas, encantamentos, bruxaria e contato com os mortos. Essas eram as religiões de que os gálatas foram adeptos antes de conhecer o evangelho da graça. Paulo as considera “obras da carne”.
O grupo de pecados referentes ao relacionamento com o próximo é o maior: inimizades, rivalidades, ciúmes, ira, ambição egoísta, discórdias, partidarismo, inveja (GL 5.20–21a). Essas obras da carne descrevem os pecados que caracterizam as relações humanas e que, igualmente, eram bem conhecidas dos gálatas. Pelo que o apóstolo havia escrito pouco antes, “se mordeis e devorais uns aos outros, cuidado para não vos destruirdes mutuamente” (GL 5.15), essas manifestações carnais expressavam bem o clima de conflito interno que as igrejas estavam experimentando por causa das dissensões causadas pelos agitadores judaizantes.
Paulo não está falando de um ato pecaminoso, mas sim do hábito de pecar. Aqueles que praticam o pecado não herdarão o Reino de Deus. Aqueles que vivem na prática do pecado e não se deleitam na santidade nem mesmo encontrariam ambiente no céu.
Andar e ser guiado pelo espírito e por Jesus é ter Ele como nosso influenciador, é lutar contra os desejos da carne, andar em espírito faz com que possamos compreender que precisamos nos aproximar de Deus e que precisamos nos afastar do pecado.
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