Exposições em Gálatas - Sermão 6: Não torne vão o Evangelho

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Transcript

Introdução

Uma das grandes habilidades do ser humano é esquecer-se das bençãos maravilhosas que recebe de Deus, quase como alguém que sofre de algum tipo de amnésia recorrente. Facilmente desvalorizamos essas maravilhas em virtude de outros fascínios que venham a tentar a concupiscência de nossa carne. Isso em si, já é um gigantesco problema para a vida espiritual de qualquer cristão, entretanto, esse problema escala a níveis assustadores quando toca na maior das bençãos já direcionadas aos filhos de Deus: o Evangelho.
Talvez não exista maior artimanha do inimigo do que intentar contra os cristãos levando-os a desvalorizar ou tornar vã essa maravilhosa benção, o evangelho de Cristo, porque quando obtém sucesso em sua empreitada, leva-os a tornarem vã a obra do Pai, a obra do Filho e e a obra do Espírito Santo em suas vidas. Mas como ele faz isso? A resposta é simples: pelo mesmo método que sempre utilizou para com os nossos pais, pela mentira, pelo engano, pala subversão da palavra divina que tira Deus do centro e coloca o homem nesta posição; que substitui a vontade de Deus pelo desejo do homem; que torna Deus o problema e o homem a solução, ao tratar a vontade de Deus como um conjunto de desafios que Deus coloca no caminho do homem e que este deve ser capaz de cumpri-los; que prega que somos escravos, quando, na verdade, somos livres.
Quando refletimos sobre isso, percebemos que estamos rodeados por esses ataques quase constantemente. O mundo à nossa volta tenta, constantemente, nos fascinar essas mentiras do inimigo e nos afastar do Evangelho de Cristo.

Contexto imediato

Até então, vimos que Paulo tem defendido esse maravilhoso evangelho de fora diligente com um propósito muito claro: restaurar os cristãos da igreja da Galácia que estavam se sujeitando a um evangelho diluído em ordenanças humanas. Nos capítulos 1 e 2, Paulo exortou os gálatas a se firmarem no único evangelho, de modo a defendê-lo das mentiras do inimigo, e usou o seu próprio exemplo de conversão, aperfeiçoamento, sofrimentos e capacitação dadas por Deus em seu ministério de proclamação do evangelho aos gentios, dentre os quais eles mesmos estavam inseridos.
O apóstolo conclui o capítulo 2 com o cerne da exortação aqueles irmãos, que já havia sido direcionada ao próprio apóstolo Pedro em outro momento: o homem só alcança a sua justiça mediante a fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus. Essa fé é que nos leva conhecer a Cristo como Filho de Deus, conssentir com seus mandamentos e confiar que a sua obra foi suficiente para consumar a nossa justiça. A obra da justificação humana em nada pertence ao homem, mas pertence a Deus. Cristo nos justificou ao se submeter, na cruz, a condenação exigida pela Lei de todos aqueles que nEle creem. No sacrifício de Cristo, Ele cravou na cruz a nossa carne adâmica, dominada pelo pecado, para ressucitarmos junto com Ele como novas criaturas, de modo que não é mais Adão que vive em nós, mas o próprio Cristo vive em nossa carne. Nós já não buscamos viver a Lei por medo, como método, mas buscamos viver a Lei porque faz parte da nossa nova natureza sentir prazer na vontade de Deus.
É então, que Paulo conclui o contexto imediato do nosso sermão declarando que aqueles que tentam justificar a si mesmos, anulam a graça da obra de Deus na Pessoa de Cristo e tornam vã a sua morte. Dominados pelo engano do pecado, se colocam na posição de deuses de si mesmos e como dissessem em seus subsconscientes: “Cristo não precisava ter sido condenado, eu sou capaz de pagar esse dívida”. É exatamente sobre isso que Paulo iniciará o capítulo 3 acusando e exortando os gálatas de estarem vivendo e ele o faz com uma série de 5 perguntas retóricas.

Divisão do texto

Gálatas 3.1 - Primeira pergunta: É vã a Cruz de Cristo?
Gálatas 3.2 - Segunda pergunta: É vã a Regeneração?
Gálatas 3.3 - Terceira pergunta: É vão o Aperfeiçoamento?
Gálatas 3.4 - Quarta pergunta: É vão o Sofrimento?
Gálatas 3.5 - Quinta pergunta: É vã a Capacitação?

Primeira pergunta: É vã a Cruz de Cristo? (Gálatas 3.1)

Gálatas 3.1 (ARA)
Ó gálatas insensatos! Quem vos fascinou a vós outros, ante cujos olhos foi Jesus Cristo exposto como crucificado?
A primeira pergunta retórica de Paulo aos gálatas inicia com uma conhecida e contundente afirmação: “Ó gálatas insensatos!”. Em nenhuma outra epístola Paulo utiliza de tanto rigor com seus leitores, nem mesmo em outros contextos de acusações contra pecados absurdos dentro da igreja, o que mostra a gravidade do pecado que estava sendo cometido ali. O termo utilizado aqui para “insensatos” denota alguém initeligível, de tamanha tolice como alguém que possui o entendimento obscurecido por algum nível de cegueira. Essa é exatamente a mesma afirmação que Jesus lança sobre seus discípulos no caminho de Emaús:
Lucas 24.13–27 (ARA)
Naquele mesmo dia, dois deles estavam de caminho para uma aldeia chamada Emaús, distante de Jerusalém sessenta estádios. E iam conversando a respeito de todas as coisas sucedidas. Aconteceu que, enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e ia com eles. Os seus olhos, porém, estavam como que impedidos de o reconhecer. Então, lhes perguntou Jesus: Que é isso que vos preocupa e de que ides tratando à medida que caminhais? E eles pararam entristecidos. Um, porém, chamado Cleopas, respondeu, dizendo: És o único, porventura, que, tendo estado em Jerusalém, ignoras as ocorrências destes últimos dias? Ele lhes perguntou: Quais? E explicaram: O que aconteceu a Jesus, o Nazareno, que era varão profeta, poderoso em obras e palavras, diante de Deus e de todo o povo, e como os principais sacerdotes e as nossas autoridades o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel; mas, depois de tudo isto, é já este o terceiro dia desde que tais coisas sucederam. É verdade também que algumas mulheres, das que conosco estavam, nos surpreenderam, tendo ido de madrugada ao túmulo; e, não achando o corpo de Jesus, voltaram dizendo terem tido uma visão de anjos, os quais afirmam que ele vive. De fato, alguns dos nossos foram ao sepulcro e verificaram a exatidão do que disseram as mulheres; mas não o viram. Então, lhes disse Jesus: Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram! Porventura, não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória? E, começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras.
Aqueles discípulos haviam recebido o Evangelho e recebido o testemunho, mas os seus olhos estavam impedidos de reconhecer a Cristo e seus entendimentos obscurecidos de crer nEle, de modo que retrocediam em seu caminho por não confirar na obra redentora de Cristo. Eles eram insensatos e os gálatas seguiam o mesmo caminho de insensatez. Paulo explica que os gálatas estavam sendo fascinados por aqueles que pregavam um falso evangelho de modo a retrocederem no caminho da fé na obra redentora de Cristo em suas vidas.
O termo para “fascinar” remete a alguém que lança sobre outra pessoa algum tipo de feitiço danoso por motivo de avareza ou inveja. Os falsos profetas que atacavam a igreja da Galácia observavam a liberdade que eles viviam pela fé em Cristo Jesus, ao viver a vontade de Deus por sua nova natureza e não por ordenanças humanas, e, guiados pela insensatez do seu próprio pecado avarento e invejoso, lançavam sobre aqueles irmãos seus falsos ensinos de “aparência de sabedoria e culto de si mesmo e falsa humildade” (Cl 2.20-23).
Entretanto, o peso do rigor que Paulo direciona aos gálatas, possui a mesma natureza de rigor com a qual Cristo direciona aos seus discípulos no caminho de Emaús. Paulo declara que já havia exposto Cristo como crucificado diante dos olhos dos irmãos da Galácia. O termo para “exposto” era utilizado na antiguidade para anúncios e decretos públicos e oficiais do imperador, sejam relacionados a novas leis ou mesmo a mensagens de vitórias militares, geralmente ministradas por corredores. A mensagem deveria ser ministrada por eles de forma vívida, completa e com todo nível de autoridade, como sendo o próprio imperador que a ministrasse.
Paulo era um desses corredores. Ele havia recebido a revelação do próprio Rei dos Reis quanto à vitória em meio à maior guerra já travada no universo, ao derrotar a morte e o pecado na sua cruz e ressurreição; a batalha que todos os seres humanos travavam sem êxito desde Adão, Jesus Cristo, o Filho de Deus, travou e venceu, estendendo graciosamente essa vitória a todos aqueles que nEle creem.
Paulo havia ministrado essa mensagem oficial do Rei dos Reis diante dos gálatas de forma diligente e vívida, como alguém que pinta um quadro de uma épica batalha e o coloca em exposição, de modo que, mesmo não sendo testemunhas históricas da crucificação de Cristo, os gálatas eram testemunhas dela pela fé. Eles tinham diante de seus olhos da fé vislumbrado a vitória de Cristo, o pagamento da dívida requisitada pela Lei, mas estavam retrocedendo na fé, como os discípulos de Cristo no caminho de Emaús. Eles tinham diante deles o Cristo crucificado, mas estavam virando os rostos para algo que chamava mais sua atenção. Eles estavam tornando vã, sem valor, menosprezando a cruz de Cristo.
Ó meus irmãos, qual o tamanho de tão grande insensatez? Testemunhar a vitória da maior guerra já travada e não desfrutar de seus benefícios, como alguém que, sendo prisioneiro de guerra, recebe um mensageiro que abre o cárcere lhe dá a notícia da vitória, mas os demais prisioneiros lhe dizem que a guerra não acabou e ele prefere mais acreditar na mensagem de aprisionamento dos prisioneiros, do que na mensage de liberdade do Rei.
Qualquer pessoa, coisa ou ensinamento que venha a nos encantar nesse mundo e cegar os nossos entendimentos a desviar os olhos da cruz de Cristo, nos leva a tornar vão o Evangelho e retroceder na fé. A cruz de Cristo nos justifica e nos leva a liberdade para a santidade, ao vivermos a vontade do Pai por amor, enquanto qualquer forma de nos autojustificarmos menospreza a morte de Cristo e nos aprisiona para o pecado.

Segunda pergunta: É vã a Regeneração? (Gálatas 3.2)

Gálatas 3.2 (ARA)
Quero apenas saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé?
Paulo passa então para sua segunda pergunta retórica e, se a pergunta anterior possuía um caráter acusativo, esta agora possui um caráter reflexivo. O objetivo do apóstolo aqui é que os gálatas reflitam sobre o ínicio de suas vidas na fé, o pontapé inicial para tudo.
Interessante é que Paulo associa esse momento inicial da conversão ao recebimento do Espírito. Ele não coloca em cheque ou manifesta alguma dúvida sobre se eles receberam ou não o Espírito, nem mesmo a pergunta retórica se refere a se receberam ou não, mas deixa claro que eles haviam recebido o Espírito, a reflexão aqui é: o que levou eles a receberem o Espírito Santo?
Quando olhamos para os relatos de Atos, vemos que “receber o Espírito” era a marca e testemunho de que os gentios estavam sendo salvos e chamados a compor o povo santo e escolhido de Deus:
Atos dos Apóstolos 10.44–48 (ARA)
Ainda Pedro falava estas coisas quando caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. E os fiéis que eram da circuncisão, que vieram com Pedro, admiraram-se, porque também sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo; pois os ouviam falando em línguas e engrandecendo a Deus. Então, perguntou Pedro: Porventura, pode alguém recusar a água, para que não sejam batizados estes que, assim como nós, receberam o Espírito Santo? E ordenou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo. Então, lhe pediram que permanecesse com eles por alguns dias.
Paulo está deixando bem claro aqui que, à semelhança dos gentios que ouviram a pregação de Pedro, aqueles irmãos da galácia haviam recebido o Espírito Santo de Deus e isso os havia habilitado a serem batizados em nome de Jesus Cristo, marcando que a partir de então era regenerados, não mais eles viviam, mas Cristo vivia em suas carnes. Não mais eram dominados pelas desejos pecaminosos de outrora, mas viviam a vontade de Deus segundo o Espírito Santo que neles habitava. Haviam sido submetidos ao caminho inverso do anunciado em Gênesis 6.3:
Gênesis 6.3 (ARA)
Então, disse o Senhor: O meu Espírito não agirá para sempre no homem, pois este é carnal; e os seus dias serão cento e vinte anos.
Qual a origem de viverem tamanha regeneração? Receberam o Espírito de Deus porque suas boas obras chegaram ao trono de Deus e deles alcançaram favor ou o receberam pela pregação da fé, ou seja, do Evangelho de Cristo? A distinção inerente a esta pergunta é clara: receber o Espírito pela obras da lei foca no agir, coloca o indivíduo no controle da salvação e da regeneração, em uma posição ativa, ele vai até a salvação; enquanto receber o Espírito pela pregação do evangelho, foca no ouvir, coloca o indivíduo fora do controle da salvação e da regeneração, em uma posição totalmente passiva, não é ele quem vai à salvação, mas Deus direciona a salvação até ele pelos ministros de sua palavra. A pergunta aqui é: qual opção, desta simples pergunta retórica se assemelha mais com a mensagem de Deus e qual se assemelha mais com a mensagem de Satanás?
Aqui, sucede que eles um efeito dominó: eles estavam tornando vã a mensagem da cruz de Cristo quando deixavam se fascinar pela mensagem enganosa dos falsos profetas, como consequência, tornavam vã a obra de regeneração em suas vidas, pois a conversão e regeneração que vem do Espírito só é possível mediante a fé em Cristo que vem pela pregação do seu evangelho:
Romanos 10.13–17 (ARA)
Porque:
Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.
Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito:
Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas!
Mas nem todos obedeceram ao evangelho; pois Isaías diz:
Senhor, quem acreditou na nossa pregação?
E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo.

Terceira pergunta: É vão o Aperfeiçoamento? (Gálatas 3.3)

Gálatas 3.3 (ARA)
Sois assim insensatos que, tendo começado no Espírito, estejais, agora, vos aperfeiçoando na carne?
Aqui, Paulo inicia sua terceira pergunta, mas tamanha era a insensatez dos gálatas que ele não utiliza nenhuma conclusão das duas perguntas retóricas anteriores como argumento para a terceira; ele não espera que tenha sido suficiente o que foi questionado até aqui, sabe que precisa ser mais contundente, mas, para isso, ele usa duas constatações já utilizadas anteriormente: os gálatas eram insensatos, mas também haviam recebido o Espírito.
O interessante é que Paulo faz, dentre as 5 perguntas retóricas, 2 perguntas acusativas e 3 perguntas reflexivas. A insensatez gálata está evocada nas duas perguntas acusativas, quando Paulo reconhece a irracionalidade deles ao retrocederem na fé da obra divina, antes com relação a trocarem o evangelho de Cristo pelo fascínio de ensinamentos enganosos disfarçados de sabedoria e humildade; agora por estarem trocando o aperfeiçoamento do espírito pelo aperfeiçoamento da carne.
Iniciando pela constatação já realizada na pergunta anterior, Paulo considera novamente que os gálatas haviam começado sua vida cristã pelo recebimento do Espírito Santo, de modo que haviam testificado disso diante dele e de todos, mas algo absurdo estava acontecendo: ao invés de continuarem frutificando pelo Espírito de Deus, agora, tendo recebido o falso evangelho, eles estavam buscando aperfeiçoar-se na carne, ou como definido na tradução NVI, aperfeiçoar-se “pelo esforço próprio”.
O termo “aperfeiçoar” significa ser ou tornar-se perfeito, o que implica que os gálatas estavam tentando por seus próprios esforços, pela sua própria carne, em vão, consumar a obra que havia sido iniciada pelo próprio Deus e que só compete a Ele consumá-la até ao Dia de Cristo Jesus:
Filipenses 1.6 (ARA)
Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus.
Nossa perfeição será consumada até ao Dia de Cristo Jesus pela obra de aperfeiçoamento que o Espírito Santo executa em todos aqueles que receberam o Evangelho de Cristo e creem nEle. Isso não é uma possibilidade, é uma certeza! Aqueles que buscam a perfeição pelas obras da Lei, pelos seus próprios esforços, tornam vã e desvalorizam a obra de aperfeiçoamento do Espírito Santo, declarando que desejam desligar-se da graça de Deus e, com isso, evocam para si a responsabilidade de cumprir toda a Lei, como está escrito:
Gálatas 5.2–5 (ARA)
Eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará. De novo, testifico a todo homem que se deixa circuncidar que está obrigado a guardar toda a lei. De Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes. Porque nós, pelo Espírito, aguardamos a esperança da justiça que provém da fé.

Quarta pergunta: É vão o Sofrimento? (Gálatas 3.4)

Gálatas 3.4 (ARA)
Terá sido em vão que tantas coisas sofrestes? Se, na verdade, foram em vão.
A quarta pergunta retórica de Paulo progride para a próxima área da vida de todo cristão e que os gálatas já haviam provado de modo considerável: o sofrimento. A igreja de Cristo sempre fora perseguida, desde seus primórdios. Quando lemos o livro de Atos, vemos constantemente homens se levantando para perseguir e levantar perseguições a Paulo e àqueles que pregavam o evangelho de Cristo. Certamente, com os gálatas, que viviam e pregavam o evangelho de Cristo pregado por Paulo, não havia sido diferente. O Evangelho que os gálatas receberam fora acompanhado de sofrimentos, que segundo Paulo, não foram poucos, mas muitos sofrimentos.
O apóstolo apela aqui para que os gálatas reflitam se todos os sofrimentos que haviam padecido após haverem recebido o Evangelho de Cristo havia sido em vão. A questão aqui é acerca do propósito dos sofrimentos; quando Paulo coloca diante daqueles irmãos a possibilidade de os sofrimentos terem sido em vão ou não, ele está deixando claro que os sofrimentos que eles padeceram, em si, possuem propósito, possuem um fim, a reflexão é na verdade se esse fim foi alcançado ou não.
À luz desse entendimento, percebemos que o que o apóstolo está questionando agora tem uma profunda relação com o seu terceiro questionamento. Aperfeiçoamento e sofrimentos possuem uma relação de forte interdependência. Vemos isso de forma clara e explícita pela pena de Tiago:
Tiago 1.2–4 (ARA)
Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes.
E, também, pela pena de Pedro:
1Pedro 4.13 (ARA)
pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois coparticipantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando.
Por consequência dessa relação interdependente entre aperfeiçoamento e sofrimentos, temos que se os gálatas tornavam vã a obra de aperfeiçoamento que o Espírito iniciara em suas vidas, ao buscar aperfeiçoar a si mesmo pelos esforços próprios, consequentemente, tornavam vãos os sofrimentos que haviam padecido até então, a saber, de alcançar o propósito de serem coparticipantes dos sofrimentos de Cristo e se conformarem à sua semelhança.
Esse é o único questionamento, dentre os cinco, para o qual Paulo direciona um inconformismo em não acreditar. Ele declara “Se, na verdade, foram em vão”, ou como a tradução NTLH nos indica, “Não é possível!”. Esse inconformismo se dá pelo fato de que o apóstolo ainda possui expectativas na restauração daqueles irmãos, afinal, tudo que escrevera até então tem por fim defender o evangelho de Cristo e restaurá-los na fé.

Quinta pergunta: É vã a Capacitação? (Gálatas 3.5)

Gálatas 3.5 (ARA)
Aquele, pois, que vos concede o Espírito e que opera milagres entre vós, porventura, o faz pelas obras da lei ou pela pregação da fé?
O apóstolo Paulo então conclui sua série de perguntas retóricas olhando para a última área da vida cristã dos gálatas: a capacitação Espírito. Ele faz mais uma constatação, de que Deus havia “concedido”, ou seja, “equipado” os gálatas com seu Espírito de capacitação, de modo que “operavam”, ou seja, “produziam de forma eficaz” milagres no meio da igreja.
A pergunta é: será que a capacitação do Espírito para fazerem milagres na igreja havia sido dada por Deus em virtude de haverem suas obras impressionado a Deus para que Ele os jugasse justos ou porque eles ouviam e pregavam o evangelho da graça de Cristo? Podemos ver a resposta para isso pelo próprio relato de Atos quanto aos milagres operados por Paulo e Barnabé:
Atos dos Apóstolos 14.1–7 (ARA)
Em Icônio, Paulo e Barnabé entraram juntos na sinagoga judaica e falaram de tal modo, que veio a crer grande multidão, tanto de judeus como de gregos. Mas os judeus incrédulos incitaram e irritaram os ânimos dos gentios contra os irmãos. Entretanto, demoraram-se ali muito tempo, falando ousadamente no Senhor, o qual confirmava a palavra da sua graça, concedendo que, por mão deles, se fizessem sinais e prodígios. Mas dividiu-se o povo da cidade: uns eram pelos judeus; outros, pelos apóstolos. E, como surgisse um tumulto dos gentios e judeus, associados com as suas autoridades, para os ultrajar e apedrejar, sabendo-o eles, fugiram para Listra e Derbe, cidades da Licaônia e circunvizinhança, onde anunciaram o evangelho.
Os dons e maravilhas que aqueles irmãos operavam se davam pela mesma fonte que operava em Paulo e Barnabé, os quais não operavam milagres porque era cumpridores da lei ou por seus próprios esforços, mas pela pregação genuína, diligente e corajosa do Evangelho da Graça de Cristo. A primazia sempre será para a pregação do evangelho, de modo que toda capacitação só tem valor se vivida pela pregação do Evangelho de Cristo. Submeter-se ao falso evangelho das obras tornava vã toda a capacitação que receram até então, de modo que aqueles falsos profetas roubavam todos os dons espirituais com os quais haviam sido equipados da parte de Deus.

Conclusão e aplicações

Irmãos, todos nós que fomos chamados por Cristo, fomos chamados pelo Evangelho da Cruz de Cristo que nos justifica diante de Deus; fomos regenerados quando Ele nos entregou o Seu Espírito Santo para não vivermos mais segundo nossa carne, mas segundo Seu Espírito; estamos sendo aperfeiçoados pelo Seu Espírito Santo que consumará a nossa perfeição no Dia de Cristo Jesus, quando seremos libertos da presença do pecado; somos coparticipantes dos sofrimentos de Cristo, ao proclamarmos o mesmo evangelho por Ele proclamado e que o levara até a cruz; e somos capacitados por Deus pelo Seu Espírito Santo para realizarmos maravilhas pela pregação do evangelho, sendo a mior de todas as maravilhas, levarmos outros a crerem em Cristo e serem salvos pela fé.
Entretanto meus irmãos, todas as perguntas de Paulo se aplicam a cada um de nós nessa noite, sendo que apenas um pequeno e importantíssimo detalhe irá definir se serão perguntas retóricas ou perguntas reflexivas: qual o local que a cruz de Cristo tem ocupado em suas vidas? Você tem permanecido constantemente diante dela, tornando-a o centro de fé e pregação, ou tem se entregue aos fascínios que o mundo coloca diante de você, tornando vão o Evangelho?
Irmãos, o Evangelho de Cristo incomoda o mundo como a luz incomoda as trevas e aqueles que nelas vivem. O mundo que não pode receber esse evangelho por força ou por intelecto, olha com inveja e ódio para toda a graça e liberdade que são direcionadas aos eleitos de Deus e tentam, com todas as forças, fasciná-los com as mentiras de Satanás, buscando menosprezar e tornar vão o evangelho da verdade.
Quando perdemos o foco da cruz de Cristo e a tornamos vã, quando, mesmo enxergando-a vividamente, viramos o rosto para algo que consideramos ter mais valor, quando buscando viver a vida cristã pelos nossos próprios esforços, tornamos vã a pregação da fé, tornamos vã a obra de Deus, que nos concede Seu Espírito, e tornamos vã a obra do Espírito que opera eficazmente em nossas vidas.
Irmãos, cuidado com o que você ouve, cuidado com o que você prega e cuidado com o que você vive. Não torne vão o Evangelho de Cristo! O inimigo prega constantemente que você é moralmente bom e está tudo bem e você deve responder: Cristo foi crucificado e ressucitou; ele te faz pensar que é o melhor e mais digno da presença de Deus dentre todos pelas coisas boas que você faz e você responde: Cristo foi crucificado e ressucitou; ele te faz querer diluir o evangelho para fugir da perseguição e você responde: Cristo foi crucificado e ressucitou; ele te faz querer servir nas posições mais proeminentes para atender sua própria cobiça e você responde: Cristo foi crucificado e ressucitou!
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