Êxodo 20.8-11

Série expositiva no Livro do Êxodo  •  Sermon  •  Submitted   •  Presented
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O autor divino/humano registra a ordenação do Dia do SENHOR, como marco relacional e instrumento da benção divina sobre seu povo.

Notes
Transcript
"São estes os nomes..." (Êx 1.1).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
A partir das considerações anteriores, referentes aos três primeiros mandamentos, é perceptível que há uma conexão entre os mesmos, de maneira que, ao chegar ao terceiro, o SENHOR explicitou o foco íntimo/subjetivo (i.e. as afeições religiosas do coração) da iniciativa que os filhos de Israel teriam em relação a guarda das ordenanças promulgadas. Essa conexão é então ampliada à luz da quarta ordenança que encerra a primeira tábua da Lei, que toca as ordenanças relacionadas pessoalmente ao SENHOR.
A centralidade do SENHOR como o único Deus, a ser adorado da forma como ele mesmo prescreveu, tendo seu nome carregado por seu povo de modo sacro e reverente, preparam o caminho para o apogeu e conclusão dos princípios norteadores do relacionamento direto do povo para com o SENHOR, mediante a proposição do quarto mandamento: a santificação do Dia do SENHOR.
A exemplo do segundo e terceiro mandamentos, o quarto imperativo divino é composto pelo aspecto duplo inerente de exigência e proibição, seguido por uma razão anexa que lhe concede maior peso ou força ordenadora. Entretanto, em relação a esta segunda parte da estrutura do mandamento, uma explicação é concedida a fim de não somente garantir o entendimento da ordem, mas também seu fundamento criacional, permitindo que o povo de Deus contemple que tal princípio remonta ao momento da criação, tendo o SENHOR usado-o para ordená-la e organizá-la (cf. Gn 2.1-3).
Naquele momento, isto é, no texto de Gênesis capítulo 2, Moisés registra o estabelecimento da relação pactual do SENHOR com o primeiro homem (e com sua mulher, respectivamente). Entretanto, a narrativa introdutória a esse episódio, é a declaração autoral de que o SENHOR, tendo concluído a obra da criação, estabelece o sétimo dia como o "Dia do "שַׁבָּת"" (transl. "Shabbath"), ou, o Dia do Descanso, no qual, sua benção e santificação o separam dos outros dias como sendo o momento em que todo o trabalho do homem cessaria, a fim de que, em adoração ao SENHOR, publicasse sua submissão, e portanto, de toda a criação sob sua gerência, ao SENHOR.
Ao reafirmar esse princípio, o SENHOR conecta os filhos de Israel (bem como a todo o seu povo em todos os tempos) àquele contexto, conduzindo-os à percepção de que fazem parte da linhagem divina (iniciada em Adão) encarregada de estabelecer o senhorio de Deus sobre toda a criação, mediante a observação de seis dias de trabalho, que deveriam dedicar à glória de Deus, por um no qual cessariam tais atividades, em nome da consagração de suas vidas ao SENHOR na assembleia solene, onde cultuariam a Deus.
Com isso, a ordem "lembra-te do dia de Sábado..." emite a compreensão de que tal dia não estava sendo instituído naquele momento, e sim, que já fazia parte da ordem criacional que estabelece o reconhecimento de Deus como o SENHOR sobre toda a criação, sendo este dia o momento em que seu povo o adorará e o proclamará como tal, dedicando-se exclusivamente a ele.
Em face disso, o texto de Êxodo 20.8-11 enfatiza como tese central a comunicação dos termos da aliança divina: Os Dez Mandamentos - o quarto mandamento: O Dia do SENHOR.
Elucidação
Embora haja uma conexão clara entre os mandamentos anteriores e o quarto, como introduzido, a fim de que seja elucidada a natureza do mandado para a guarda do Dia do SENHOR, inverteremos a ordem até aqui estabelecida, iniciando as considerações a respeito do mandamento a partir das razões anexas, entendendo que, desta feita, a complementação do mandamento não visa apenas dar-lhe maior força ou potencializar o entendimento do povo quanto ao imperativo, e sim, exibir uma correspondência entre o SENHOR e seu povo no que concerne ao desfrute deste dia como marco relacional entre ambos, a partir do princípio criacional estabelecido no momento em que a aliança entre Deus e o primeiro homem foi ratificada.
1. Razão anexa: O princípio criacional do dia do SENHOR como símbolo do senhorio divino sobre o cosmo e da relação pactual com este, por meio do homem.
Como aludido, no momento em que procurou estabelecer a importância da observação dos princípios ordenados nos três primeiros mandamentos, sobretudo em relação ao segundo e ao terceiro, o SENHOR (segundo o registro mosaico do Êxodo) exibiu seu zelo em que seu povo os guardasse com a devida atenção, prometendo vingar-se ou executar justiça sobre os que ignorassem as ordens (e.g. “…visito a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração dos que me aborrecem”), e abençoar os que os cumprissem (cf. “e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me ama e guardam os meus mandamentos”.), ou que tratassem com irreverência e de modo blasfemo tudo o que fora concedido por ele mesmo como elemento referencial de si (e.g. “… o SENHOR não terá por inocente o que tomar seu nome em vão”).
Nada obstante, ao publicar o quarto mandamento, esse tom zeloso dá lugar à uma abordagem elucidativa, guiando a atenção dos filhos de Israel à perpetuidade do mandamento e ao seu lugar na ordem da criação, tecendo assim uma compreensão estrutural (e portanto, inexorável) do mandamento.
As palavras usadas no anexo da ordem, remetem a atenção dos filhos de Israel ao que fora registrado por Moisés em Gênesis 2.1-3. Naquele texto, segundo já comentado, o autor afunila sua narrativa que passa da descrição do modo como o SENHOR criou todas as coisas, clarificando assim que a origem do mundo vinha do Deus Todo-poderosos que revelara-se aos patriarcas (incluindo Noé e o próprio Adão, como genitores da linhagem dos filhos de Israel), à criação do próprio ser humano, e de como naquele momento a aliança fora tecida com este.
A cláusula introdutória a esta segunda parte do relato da criação é exatamente o estabelecimento de um dia especial em seis (totalizando sete), descrevendo o modus operandi divino através do qual trouxe à existência todas as coisas:
Gênesis 2.1–3 ARA
Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o seu exército. E, havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera.
A interposição desta explicação entre o relato mais geral da criação do cosmo e do homem, vincula os dois polos sob um mesmo princípio: o Dia do SENHOR fora criado para o homem (cf. Mc 2.23-27), a fim de que por meio deste, o ser humano proclamasse a conclusão perfeita da obra do SENHOR, e com isso, o senhorio deste sobre si e sobre todo o cosmo. O homem também trabalharia, assim como Deus, durante seis dias, mas, ao sétimo, deveria cessar sua obra, a fim de contemplar aquele que todas as coisas criou perfeitamente, mantendo uma relação com Deus, por intermédio do pacto ratificado pelo próprio Soberano com ele.
Nesse sentido, a razão anexa ao quarto mandamento estabelece um parâmetro de imitação: o homem copia o que fez o SENHOR, relacionando-se com ele, e no homem, toda a criação seria representada, de modo que, todo o cosmo rememora a grandeza do SENHOR e a maravilha de seu poder criador.
Israel, ao observar esse mandamento, estaria perpetuando aquilo que, como princípio estrutural, está em vigor desde a fundação do mundo: o Todo-poderoso é honrado quando, num dia em seis, todas as cosias são submetidas à seus pés, mediante a adoração de seu povo.
Como explica Joseph Pipa, Deus
(…) instituiu o Shabbath tanto pelo seu próprio exemplo como pelas palavras da instituição. Inicialmente, ele estabeleceu o princípio da guarda do Shabbath descansando, ele próprio, no sétimo dia. (…) Ao descansar no sétimo dia da criação, o próprio Deus estabeleceu o princípio e a prática da observância do Shabbath (PIPA, O Dia do Senhor (Portuguese Edition) (pp. 34-35). Edição do Kindle).
Essa ênfase “mimética” do mandamento é reiterada na resposta à pergunta 120 do CMW. Ao descrever todas as razões que compõem o mandamento, os scholars de Westminster ratificaram que
As razões anexas ao quarto mandamento, para lhe dar maior força, são tiradas da equidade dele, concedendo-nos Deus seis dias de cada sete para os nossos trabalhos, e reservando um só para si, nestas palavras: “Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra”; de Deus reclamar uma propriedade especial sobre esse dia: “O sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus”; do exemplo de Deus, que “em seis dias, fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há, e, ao sétimo dia, descansou”; e da bênção que Deus conferiu a esse dia, não somente santificando-o para ser um dia para o seu serviço, mas também determinando-o para ser um meio de bênção para nós em santificá-lo: “por isso, o SENHOR abençoou o dia de sábado e o santificou”.
Diante disso, a percepção clara tanto da descrição da elaboração da estrutura criacional do Dia do SENHOR em Gênesis, quanto sua ratificação na forma de mandamento em Êxodo, estabelecem um padrão a ser seguido pelo povo de Deus. Por que os filhos de Israel deveriam guardar o Dia do SENHOR? De acordo com as razões jungidas ao mandamento, por que o próprio Deus, pessoalmente, cessou e completou sua obra criadora, de maneira a fixar o sétimo dia como sendo o momento em que contemplaria sua criação, desfrutando de um relacionamento com ela através do homem que traria a existência na sequência.
De todos os mandamentos, o quarto é o único que conta com uma exemplificação direta da ação divina. Deus mesmo age condizentemente com a ordem que entregaria ao homem, não como que nivelando-se com este, mas exibindo o aspecto relacional e ordenador vinculado à guarda do Dia do SENHOR que o homem deveria respeitar, a fim de desfrutar de toda a benção da aliança contida na experimentação desse momento tão especial da semana.
Se o próprio SENHOR cessou sua obra, o homem também deveria fazê-lo, e, se assim fez Deus para de vivenciar uma comunhão íntima com sua criação representada no homem, o povo de Deus não deveria dar as costas à própria estrutura da realidade cosmológica arquitetada, devendo respeitar o shabbath e receber a benção reservada por Deus para este dia.
Não menos importante que a estrutura criacional mimética do Dia do SENHOR, a reclamação da propriedade de Deus sobre ele, a já mencionada benção imbuída a este dia, e a graça divina que nos concede outros seis dias para que glorifiquemos seu nome usufruindo do fruto do nosso trabalho, estabelecem, segundo coloca o CMW, o quadro geral que sustenta a natureza das razões anexas ao quarto mandamento.
Israel, respeitando e guardando o Dia do SENHOR, declararia o senhorio divino (como supra citado) e experimentaria a graça de Deus em conceder que seus filhos desfrutem da criação, recebendo a administração do favor do Altíssimo de repousar em sua sábia providência, pois, cessando um dia em sete, não deixariam de ser cuidados pelo SENHOR; muito pelo contrário, apenas estariam atestando que não sustentam-se pela força do próprio braço ou por seus próprios esforços, mas pela boa dádiva do SENHOR, o qual sendo adorado neste dia, lhes provaria seu amor e fidelidade, mediante a edificação espiritual e direção necessárias, para que por mais uma semana, vejam-se capazes de trabalhar e administrar seu tempo para a glória de Deus e seu bem.
2. Aspecto positivo (exigência) do quarto mandamento.
Retornando ao fluxo didático-expositivo tal como proposto na presente análise dos Dez Mandamentos, a exigência divina da guarda e santificação do Dia do SENHOR, repousa, como já mencionado, na reclamação divina de propriedade e exclusividade quanto a este momento que ele mesmo santificou para relacionar-se com seu povo de maneira direta através do culto.
A ordenança sabática estrutura-se em dois imperativos (um principal e outro auxiliar). Conforme colocado nos versículos 9 e 10, a lembrança do Dia do SENHOR ocorreria mediante a observação de que os filhos de Israel em “seis dias trabalhar[ão] e far[ão] toda a [s]ua obra”, isto é, segundo a argumentação tecida no ponto anterior, a estrutura criacional ordenadora, proporciona ao povo de Deus uma divisão agradável (a Deus) do tempo, de modo que seu povo cumpra sua demanda de exploração e governo da criação, desfrutando dos esforços para isso empreendidos. Entretanto, como continua o versículo 10, “o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus”, ou, noutras palavras, uma forma específica de administração desse dia é requerida, tendo em vista que, de forma especial e para um fim específico, Deus o reclama para si.
Como preceitua a pergunta 116 do CMW:

Pergunta 116. O que é exigido no quarto mandamento?

Resposta: O quarto mandamento exige que todos os homens santifiquem ou guardem santos para Deus todos os tempos especificados, que Deus designou em sua Palavra, expressamente um dia inteiro em cada sete; que era o sétimo dia desde o princípio do mundo até a ressurreição de Cristo, e o primeiro dia da semana desde então até ao dia de hoje, e há de assim continuar até ao fim do mundo; o qual é o sábado cristão, e que no Novo Testamento é chamado o Dia do Senhor (domingo).

Embora apresente a dedicação requerida por Deus para a guarda do Dia do SENHOR, a pergunta 116 discorre predominantemente sobre a transição deste dia do último dia da semana (sábado) para o primeiro (domingo), por ocasião da ressurreição de Cristo, que inaugura a Nova Aliança, asseverando assim a perpetuidade da observância desse mandamento para todo o povo de Deus hoje, isto é, a igreja de Cristo (incluindo judeus e gentios).
Em que pese isso, a pergunta 117, retoma o foco prático quanto ao que é exigido no mandamento, prescrevendo o modo como tal mandamento será respeitado:

Pergunta 117. Como há de ser santificado o sábado ou Dia do Senhor?

Resposta: O sábado, ou Dia do Senhor, há de ser santificado por um santo descanso por todo esse dia, não somente de tudo quanto é sempre pecaminoso, mas até de todas as ocupações e recreios seculares que são permitidos em outros dias; e em fazê-lo o nosso deleite, passando todo o tempo (exceto aquela parte que se deve empregar em obras de necessidade e misericórdia) nos exercícios públicos e particulares do culto de Deus. Para este fim havemos de preparar o nosso coração, e, com toda a previsão, diligência e moderação, dispor e convenientemente arranjar os nossos negócios seculares, para que sejamos mais livres e mais prontos para os deveres desse dia.

A resposta do Catecismo elabora a observância do Dia do SENHOR a partir de um esquema triplo, composto por “sub-imperativos” que são inferidos do que é ordenado por Deus, quais sejam: a) Intensificação na luta contra o pecado e cessação de obras seculares; b) Deleite e prazer neste dia como algo a ser desenvolvido, e não apenas sentido; e por fim, c) preparação e organização para melhor desfrute deste dia.
A) Intensificação na luta contra o pecado e cessação de obras seculares/ordinárias.
Embora o termo “santificar” (cf. vv. 8,11) utilizado no mandamento refira-se tanto a separação deste dia dos demais como especial e dedicado ao SENHOR, e a ação divina em destacá-lo no momento em que concluiu sua obra criadora, o arcabouço geral do termo também direciona a compreensão do leitor à um aspecto de pureza no afastamento do pecado, como parte integrante da ordenança divina.
Se ao povo de Israel está ordenado o cumprimento dos Dez Mandamentos, como diretrizes que os guiarão à postura fiel à sua eleição como nação santa (cf. 19.6), muito mais precisariam fazer no dia em que encontrar-se-iam com o próprio Deus, e que dedicariam como sendo o marco de sua submissão ao SENHOR, cessando inclusive suas obras ordinárias, que é a segunda ênfase deste sub-ponto, do entendimento do CMW quanto ao mandamento.
As ocupações lícitas que o povo de Deus empreende ao longo da semana, como trabalho e recreações, também deveriam ser suspensas; não por serem pecaminosas ou conterem algum aspecto negativo em si, mas pela necessidade de que aquele dia fosse verdadeiramente usado como instrumento para manutenção do foco do coração humano em relação a Deus e sua adoração.
Todas as atividades corriqueiras, com excessão daquelas axiomaticamente necessárias (como por exemplo, obras de misericórdia (e.g. visita a doentes, ajudas humanitárias, etc)), não deveriam ser realizadas, para que toda a atenção do povo de Deus fosse fixada somente no SENHOR; mesmo lazeres e distrações precisariam ser interrompidas, a fim de que o coração dos filhos de Deus entendesse que seu prazer verdadeiramente inicia-se com a contemplação do Deus Todo-poderoso, e partir disso, ao longo da semana, na experimentação daquilo que, sendo lícito, pode trazer alegria e gozo.
B) Desenvolvimento do deleite e prazer no desfrute do Dia do SENHOR.
Retornando a concentrar atenção no foro íntimo da disposição do coração que o povo de Deus deveria ter em guardar o Dia do SENHOR, a prescrição divina também evidencia que, tomando como pressuposto a estrutura criacional do Dia do SENHOR como norma organizadora para toda a vida (como será detalhado a seguir) e exercício da função de domínio e administração da criação, seria também dever dos filhos de Deus santificar esse dia, não com pesar ou enfado no coração, mas buscando deleitar-se nele; e isso não de modo passivo, aguardando que tal prazer brotasse espontaneamente, mas que fosse também uma busca, algo a ser em cada mente anelado, proporcionando um cumprimento integral do mandamento, isto é, em amor e temor.
Antes de as restrições serem encaradas como impedimentos pesarosos e totalitários, o prazer em guardar o Dia do SENHOR deveria ser desejado por cada crente; só assim o mandamento poderia ser realmente cumprido, pois, ainda que houvesse uma abstenção das atividades ordinárias e lazeres, mas não uma vontade ou anseio de realizá-lo com satisfação, o mandamento não alcançaria seu cumprimento ou cumpriria seu objetivo, que é conduzir o povo de Deus à adoração e culto ao SENHOR, com uma disposição positiva do coração.
Segundo já enfatizado, isso deve ser produzido por cada crente, usando os meios necessários para que anseiem por tal momento, o que conduz à última sub-ordem contida no mandamento, segundo o CMW.
C) Preparação e organização da vida para melhor usufruto do Dia do SENHOR.
À luz do entendimento de que a disposição dos dias da semana foi meticulosamente arranjada, de maneira a que os servos de Deus lhe servissem tanto em suas atividades rotineiras de trabalho e exploração dos potenciais da criação, quanto até mesmo em suas recreações, a guarda do Dia do SENHOR deveria fazer com que os filhos de Israel também organizassem seus negócios e demais compromissos, de modo a proporcionar uma melhor experimentação do momento cúltico e relacional com o SENHOR.
O excesso de trabalho ou de distrações; a falta de planejamento ou desorganização do tempo e da agenda, ou ainda a negligência proposital quanto a vida e suas demandas, prejudicam diretamente o usufruto (e portanto, o cumprimento) do quarto mandamento.
A própria existência humana foi concebida com um propósito: que o homem glorifique a Deus, conduzindo também a criação a isso . O tempo, como ferramenta divina dada ao homem na fruição desse alvo, deve ser intencional e sabiamente arranjado de maneira a que o mesmo seja atingido.
Tendo disposto todas as coisas (trabalho e demais obras) em submissão ao serviço do SENHOR, naturalmente o povo de Deus arranjaria os negócios seculares, para que estivesse mais livre e mais pronto para os deveres do Dia do SENHOR, como lhes era exigido.
Unindo esse três aspectos inferidos da ordenança bíblica do quarto mandamento, o CMW dispõe uma compreensão clara do que é exigido no mandamento do SENHOR. O foco não recai apenas numa obrigação mecânica, mas corresponde à declaração enfática de que os filhos de Deus observam essa ordenança divina, em razão de sua condição como salvos e redimidos pelo SENHOR; isto é, libertos de uma condição de escravidão e miséria, que os aprisionava ao senhorio nefasto do pecado (representado no contexto pela escravidão no Egito), mas agora, desfrutam da benção de estarem restaurados à (ou pelo menos no processo de) condição criacional original: glorificar a Deus e alegrar-se nele para sempre.
É essa compreensão final que Moisés transmite aos filhos de Israel, ao repetir o quarto mandamento, por ocasião de sua explicação final ao povo no livro de Deuteronômio:
Deuteronômio 5.12–15 (ARA)
Guarda o dia de sábado, para o santificar, como te ordenou o Senhor, teu Deus. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu boi, nem o teu jumento, nem animal algum teu, nem o estrangeiro das tuas portas para dentro, para que o teu servo e a tua serva descansem como tu; porque te lembrarás que foste servo na terra do Egito e que o Senhor, teu Deus, te tirou dali com mão poderosa e braço estendido; pelo que o Senhor, teu Deus, te ordenou que guardasses o dia de sábado.
A razão anexa de Êxodo 20.11 não está sendo substituída, e sim, explicada à luz da obra redentiva. A santificação divina do Dia do SENHOR, desde seu estabelecimento, apontava para a redenção/salvação que o SENHOR proporcionaria aos seus filhos, trazendo-os de volta ao gozo do relacionamento pactual estabelecido com o ser humano desde o início.
A união desses dois polos históricos-factuais (criação-redenção) empreendidos pelo SENHOR, é exposto na pergunta 121 do CMW. Ao questionar o porquê de o quarto mandamento iniciar-se com o imperativo “lembra-te”, os scholars de Westminster enfatizam que:
A palavra “lembra-te” se acha colocada no princípio do quarto mandamento, em parte pelo grande benefício que há em nos lembrarmos dele, sendo nós assim ajudados em nossa preparação para guardá-lo; e porque, em o guardar, somos ajudados a guardar melhor todos os mais mandamentos, e a continuar em grata recordação dos dois grandes benefícios da criação e da redenção, que contêm em si um breve compêndio da religião; e, em parte, porque somos propensos a esquecer-nos deste mandamento, visto haver menos luz da natureza para ele, e restringir a nossa liberdade natural quanto a coisas permitidas em outros dias; porque este dia vem somente uma vez em cada sete, e muitos negócios seculares intervêm e muitas vezes nos impedem de pensar nesse dia, seja para nos prepararmos, seja para o santificar; e porque Satanás, com os seus instrumentos, se esforça para apagar a glória e até a memória deste dia, para introduzir a irreligião e a impiedade.
3. Aspecto negativo (proibição) do quarto mandamento.
Em vista da compreensão das razões anexas e da exigência do quarto mandamento, a leitura da ordenança conduz à conclusão (como confirma o CMW) de que as proibições do mesmo, consistem numa listagem das ações e posturas contrárias ao que foi exigido.
A santificação de um dia em sete, em dedicação total ao SENHOR, requer do povo de Deus a observação da estrutura criacional radicada por Deus no cosmo mediante seu próprio exemplo, e também o direcionamento de toda a atenção e foco dos filhos de Israel ao SENHOR, e à ele somente, entendendo que, naquele dia, relacionar-se-iam com Deus através do culto, e da benção recebida no descanso de todos os afazeres ordinários, lembrando-se de que, vivendo aquele dia, estavam experimentando previamente o que seria usufruído na eternidade, quando da consumação do plano redentivo (final) de Deus.
O tom da ordenança, consiste na demonstração enfática de uma postura ativa no que concerne à sua obediência. A expressão “קַדְּשֹֽׁ֗ו” (trd. “santificar” (cf. vv.8,11)) e seus correlatos semânticos — como por exemplo, o caráter exclusivo do sábado como “do SENHOR, teu Deus” —, nutrem a percepção de que deve haver no coração dos filhos de Israel uma consideração realmente especial para com o Dia do SENHOR, de modo a evitar que o tratem com desprezo ou indiferença.
Ao se levar em conta o que indica a pergunta 119 do CMW, percebe-se esse entendimento, quando a resposta enfatiza a proibição de diversos comportamentos que giram em torno de uma baixa importância direcionada ao mandamento, como segue:
Pergunta 119. Quais são os pecados proibidos no quarto mandamento?
Resposta: Os pecados proibidos no quarto mandamento são: toda omissão dos deveres exigidos, todo cumprimento descuidoso, negligente e sem proveito, e o ficar cansado deles; toda profanação do dia por ociosidade e por fazer aquilo que é em si pecaminoso, e por todas as obras, palavras e pensamentos desnecessários, tocantes às nossas ocupações e recreios seculares.
Os termos destacados sintetizam toda a inclinação pecaminosa proibida relacionada ao Dia do SENHOR. O “cumprimento descuidoso”manifestaria uma baixa estima pelo que realmente significa o Dia do SENHOR e pelas bençãos ministradas por Deus sobre seu povo, mediante a guarda deste imperativo. Por outro lado, o “ficar cansado dele” aponta para um desprezo rebelde contra aquilo que foi estabelecido por Deus como uma norma edificadora para o seu povo; como que indicando uma não aceitação do que fora mandado, sendo o Dia do SENHOR encarado como algo supérfluo, enfadonho, ou ainda, como não proveitoso.
Naturalmente, ao considerarmos a síntese proposta na resposta e no teor do mandamento em si, principalmente tendo em vista todo o contexto do firmamento de uma aliança que garante o desfrute da relação graciosa do povo para com Deus, o que está sendo apontado como pecado proibido é o egocentrismo de um indivíduo em voltar-se para si mesmo, desprezando todo o princípio pactual do qual o quarto mandamento faz parte.
Qualquer integrante do povo de Deus que incorra nos pecados proibidos no quarto mandamento, o faz não em razão de alguma dificuldade encontrada na ordem ou qualquer coisa do gênero, mas sim, por ter, em seu coração, desprezado o SENHOR e ignorado todo o preceito divino elucidado através do mesmo.
Como o senhor da aliança, Deus deseja ser honrado com aquela dedicação que requer, sendo esta também o instrumento por meio do qual o usufruto do Dia do SENHOR será experimentado. Descuido, ociosidade, despreparo, enfado, além das obras expressamente proibidas, manifestam exatamente uma antagonia ao senhorio do Deus Triuno sobre todo o cosmo e sobre seu povo; naturalmente, tal postura não passará despercebida por Aquele que sonda os corações.
Transição
Ao iniciarmos as considerações quanto ao que ordena e proíbe o quarto mandamento a partir de suas razões anexas, somos introduzidos a um fundamento amplíssimo, que proporciona um entendimento profundo quanto ao que o SENHOR deseja que seja experimentado, desfrutado e executado por seus filhos, neste dia que ele reservou e abençoou para ser direta e presencialmente adorado.
Além da própria ordenação cronológica que aponta para a grandeza e sabedoria do SENHOR, o chamado à adoração, através da qual uma benção especial será ministrada sobre o povo de Deus é ratificado, o que por sua vez assegura o destaque deste dia sobre os demais, devendo ser assim apreendido por todos os que compõem a família real e sacerdotal com a qual o SENHOR entrou em aliança.
Complementar a isso, a exigência divina, entendida à luz da tríplice estrutura organizada pelo CMW, que infere do texto todo o arcabouço imperativo direcionado ao povo de Deus em todos os tempos, clarifica a requisição do mandamento, e por sua vez, a proibição examinada condena que qualquer dos filhos de Deus veja-se licenciado a desprezar e se cansar de reter como centro de sua vida e obras, o momento em que descansa à sombra do Onipotente, entregando-se às maquinações rebeldes de seu coração, voltando-se contra o SENHOR e sua Aliança, não atentando aos deveres exigidos no Dia do SENHOR.
Dada a inclinação sempre presente do homem em esquecer-se de sua condição de redimido, a reafirmação da vigência do quarto mandamento hoje, é uma necessidade tão patente quanto o era para o antigo Israel. Lembrar-se de que o SENHOR nos chama à sua presença, devendo nós cessar todas as obras e partir ao seu encontro, é algo que, tendo inspirado em nosso coração o regozijo por essa honra, desencadeará o deleite e o ímpeto para nos preparar para tal encontro semanal, até que entremos naquele descanso eterno que nos está reservado (cf. Hb 4.9).
Frente a isso, o texto de Êxodo 20.8-11, evidencia as seguintes considerações a serem apreendidas pela igreja de Cristo:
Aplicações
1. A estrutura criacional elaborada por Deus, que destaca um dia em sete para que o SENHOR seja adorado por seu povo proporcionando a este descanso, tendo ele mesmo agido de acordo com esse princípio, a fim de exemplificar toda a importância pactual e benéfica dele àqueles com quem entrou em aliança, deve ser respeitada e tomada como princípio ordenador para nossa vida.
Novamente, Joseph Pipa, alude que
"O Senhor designou o sétimo dia, o dia em que ele entrou no seu descanso, para ser um modelo semanal para a observância do seu próprio descanso” (Pipa, Joseph. O Dia do Senhor (Portuguese Edition) (pp. 40-41). Edição do Kindle).
Ao concluir sua criação, o SENHOR determinou que um dia fosse separado dos demais, para que nele ele mesmo desfrutasse de uma contemplação prazerosa, que inclusive compartilharia com o homem, num relacionamento pactual que promoveria glória para ele, e repouso e bençãos para o homem.
Assim, a designação divina de um dia de descanso/adoração para o povo de Deus, deve ser o padrão norteador para toda nossa vida, algo que fica ainda mais claro quando olhamos para a transição (que já era prevista desde o Antigo Testamento), inaugurada por Cristo por ocasião de sua ressurreição, do último dia da semana (i.e. sábado) para o primeiro (domingo). Se na Antiga Aliança, o povo de Deus olhava para frente, aguardando o Dia do SENHOR, para que pudesse encerrar sua semana e seus trabalhos na presença de Deus, na Nova Aliança, o povo de Deus já inicia seus dias e demais atividades dentro desse ambiente relacional e abençoador, recebendo do SENHOR a edificação espiritual para que recomece todas as suas obras, sendo favorecidos com graça para que o glorifiquem em tudo.
Precisamos, entretanto, observar quão aterrador e terrível pode ser ignorar esse princípio, a partir das implicações da quebra desse mandamento, à luz dessa razão anexa. Ignorar a estrutura criacional do Dia do SENHOR é violar o fluxo idealizado por Deus para que a vida funcione e transcorra. A sabedoria infinita e perfeita do SENHOR concebeu a separação de um dia de adoração, no qual o homem descansaria, e representado por ele (como já aludido), toda a criação (cf. e.g. “não farás nenhum trabalho nem tu nem o teu animal”).
Perguntamo-nos muitas vezes porque o fruto de nosso trabalho parece não render ou ser suficiente para nosso sustento e subsistência. A causa pode estar exatamente na consideração que temos (ou no caso, que não temos) quanto ao Dia do SENHOR. Desprezamos o Dia do SENHOR achando-o enfadonho, cansativo, ou mesmo que poderíamos aproveitar melhor esse momento, se estivéssemos em nossas casas, o que sabemos que é uma grande mentira, pois se lá estivéssemos, nossa mente estaria imersa novamente nos afazeres que nos aguardam na segunda-feira.
Antes de questionar a Deus porque andamos tão cansados, sem ânimo, ou até porque, apesar de nossos hercúleos esforços, pouco ganho ou desfrute de nosso trabalho é percebido, examinemos nosso coração; será que temos respeitado o princípio criacional do Dia do SENHOR? Se há uma benção reservada para esse dia, o contrário também precisa ser dito e crido, isto é, uma maldição aguarda aquele que, opondo-se ao senhorio de Deus, viola do quarto mandamento.
Jungido a isso, a imagem que passamos ao quebrar o quarto mandamento, deixando de tomá-lo como padrão organizador de nossas vidas, é a de que ou somos superiores ao SENHOR, podendo desobedecer ao princípio que ele mesmo sacramentou, inclusive por seu próprio exemplo, ou que ele não foi tão sábio assim, exigindo que parássemos por um dia inteiro nossas atividades ordinárias, afinal, “há muito o que se fazer, e não temos tempo a perder ” (é o que cogita nosso coração rebelde e pecador, enganando-nos com essa tola e ímpia justificativa, que na verdade, baseia-se em egoísmo e desobediência).
Deus é sábio e bom. Ele nos deu seis para trabalhar, e com o trabalho (que deve sobretudo, glorificá-lo), nos concedeu a graça de podermos usufruir desses esforços. Mas, separou um dia para que seu povo se reunisse e, diante dele, cessasse suas obras ordinárias, contemplando-o, adorando-o e bendizendo-o, a fim de que se relacionassem pactualmente com ele, sendo abençoados a partir da benção reservada pelo SENHOR para este dia.
Apliquemos esse princípio à nossa vida. Que o Dia do SENHOR seja verdadeiramente um marco a partir do qual organizamos toda a nossa vida, negócios, trabalhos e compromissos, para que desfrutemos da benção que o próprio Deus separou e reservou para derramar sobre nós, seu povo.
2. A guarda do Dia do deve redobrar nossa atenção quanto à luta contra o pecado, pois sendo o Dia que deve ser, por nós, santificado, é imperativo que santifiquemos ainda mais a nós mesmos, nesse dia.
Todos os dias são do SENHOR, no sentido de que em todos eles lutamos contra o pecado dentro de nós, para que o senhorio de Deus em Cristo, pelo poder do Espírito, seja publicado através de nossa santificação.
Porém, em razão de nosso encontro com o Todo-poderoso no momento do culto, somos ordenados pela palavra, a nos manter sempre mais vigilantes no Dia do SENHOR, a fim de que honremos aquele que nos separou para si mesmo.
O Dia do SENHOR serve como um lembrete de que o universo é propriedade sua, bem como nós, que nele estamos. Por isso, nosso coração, santificado e reservado para Deus, deve intensificar sua luta contra o pecado, no dia que ele mesmo separou para que seu povo, exiba isso.
3. O Dia do SENHOR exige que encerremos (ainda que momentaneamente) nossos afazeres comuns, para que toda nossa atenção e foco estejam voltados apenas para o SENHOR, a fim de que o deleite e a satisfação de nossa vida estejam centrados no próprio Deus, que por sua vez nos faz desfrutar de tudo aquilo que é bom nesse mundo, inclusive o fruto de nosso trabalho e recreações.
Num tempo como o nosso, em que o sinônimo, por exemplo de produtividade, tem sido confundido com um acumulo enorme de atividades e demandas, afirmar a necessidade de cessar nossos afazeres corriqueiros, soa quase como um absurdo.
Nada obstante, a perspectiva mundana quanto a organização do tempo e da vida, passa longe daquele preceito bíblico clarificado no quarto mandamento, pois, além de uma ignorância completa sobre Deus, o homem natural deposita suas expectativas de sustento em si mesmo; por isso, vê-se escravizado pela rotina avassaladora que estabelece seu trabalho como toda e única fonte de sobrevivência.
Ladeado a isso, as crescentes fontes de distrações, também fazem parte das amarras que prendem o homem longe de Deus. A constante busca por dopamina e prazer, ocupa o restante do pouco (e mal administrado) tempo da maioria das pessoas atualmente.
O Dia do SENHOR vem como um bálsamo para o povo de Deus, pois tendo servido-o ao longo de seis dias, iniciam a semana sob os pés daquele de cuja boca sai o nosso sustento.
Como explica Jochem Douma:
O Shabbath claramente expressa a bênção que Yahweh concedeu a Israel. Assim como Deus descansou da obra da Criação, do mesmo modo ele permitiu que Israel descansasse, por haver sido libertado da escravidão do Egito. O dia do Shabbath mostrou quem era Israel: um povo escolhido e libertado por Yahweh, o qual poderia estar seguro de seu providencial sustento para a vida que não dependia de exercício laborioso. […] A guarda do Shabbath era a prova para saber se o povo confiava em si mesmo ou confiava sua vida ao SENHOR. Alguém que quisesse manter o controle de seus próprios afazeres consideraria a interrupção dos negócios durante o dia do Shabbath como se fosse algo penoso. A observância do dia do Shabbath exige fé (DOUMA, 2019, p.144).
Cessar trabalhos e recreações no Dia do SENHOR é uma confissão de fé: professamos que Deus é nosso SENHOR; que nos libertou da escravidão à uma vida distante dele, nos redimindo, e que estamos certos de que, enquanto o adoramos e cultuamos, ele cuida e zela por nós, nutrindo-nos com tudo o que precisamos, sobretudo, com o vigor espiritual para que o sirvamos em mais uma semana de trabalho e demais atividades.
É parando a marcha (às vezes desenfreada de nossas vidas) no dia do SENHOR, que nos prontificamos a gerar em nossos corações o prazer e deleite necessários para que desfrutemos da benção do SENHOR sobre seu Dia. Que resistamos à tentação de desviar nosso foco do nosso Deus nesse dia, entregando-nos às preocupações que nada podem fazer por nós, senão nos submeter à infelicidade de não descansar no Altíssimo.
4. É preciso que tomemos as rédeas de nossas vidas, impedindo que o frenesi mundano, nos impeça de comparecer de corpo e alma diante do SENHOR em seu Dia, arranjando e organizando nossa semana e dias, para que estejamos mais preparados e prontos para desfrutar da benção reservada pelo SENHOR para o Domingo.
Como já reiterado, a cultura social atual nos têm empurrado para uma entropia de vida que sufoca qualquer compromisso mais sério que venhamos a ter. Casamento, filhos, saúde e etc, todas essas são apenas algumas áreas afetadas pela desordem que reina em nossas vidas pela falta de organização de nosso tempo, que por fim, desemboca numa observância (se é que podemos chamar assim) parca e superficial do culto a Deus e consequentemente, do Dia do SENHOR.
A ordenança divina, deixa claro que a passividade no arranjo de nossas demandas e agenda, fere o preceito publicado: “seis dias trabalharás e farás toda a tua obra…”, ou, noutras palavras, o Todo-poderoso ordena que seu povo detenha o controle sobre seus afazeres, inclusive cessando-os quando requerido, para prestação do culto a si.
Repensemos nossa vida. Como temos gastado nosso tempo? O que tem ocupado nossa atenção? Há excesso na dedicação de nosso tempo ao trabalho, de modo que nos vemos reféns dele, não tendo conseguido desfrutar de seus frutos? Se sim, muito provavelmente também não está sendo possível pará-lo por um dia, a fim de que nosso coração descanse no SENHOR.
Se for necessário abrir mão de um padrão de vida ou algumas regalias de que dispomos, para que tenhamos condições de guardar o Dia do SENHOR genuinamente, que assim façamos; não há nada nesse mundo que realmente valha à pena, dissociado daquela benção divina da qual seu povo dispõe cultuando seu nome e proclamando sua glória.
Aos pais e chefes de famílias
Por fim, o próprio CMW direciona uma ressalva aos pais e chefes de famílias, no que concerne à suas responsabilidades de transmitir à sua família esse princípio bíblico da guarda do Dia do SENHOR, como segue na pergunta 118:

Pergunta 118. Por que o mandamento de guardar o Dia do Senhor (Domingo) é mais especialmente dirigido aos chefes de famílias e a outros superiores?

Resposta: O mandamento de guardar o Dia do Senhor (domingo) é dirigido mais especialmente aos chefes de família e a outros superiores, porque estes são obrigados não somente a guardá-lo por si mesmos, mas a fazer que seja observado por todos os que estão sob o seu cuidado; e porque são, às vezes, propensos a impedilos por trabalhos seus.

Ao ordenar Deus que não trabalhe “o servo ou a serva, o boi ou o jumento” está pressuposto o direcionamento da ordem, além de toda a família, àquele que era responsável direto pela gerência da casa, isto é, o marido/pai. Assim, que este resguardasse seu coração de, além de por si mesmo negligenciar o Dia do SENHOR, levasse todos os seus familiares à tal pecado contra Deus, sendo contumaz em contrariar o mandamento, trabalhando ou se distraindo.
O eco do mandamento o aplica todos os chefes de família hoje: que direcionemos nossa casa à ordem, ensinando pelo exemplo e pelo ensino, que o Dia do SENHOR deve ser santificado, cessando todas as obras que não condizem com as atividades de culto, misericórdia e descanso.
5. Lembrar se de que o Dia do SENHOR “é o sábado do SENHOR, teu Deus” consiste também no mantenimento de uma constante vigilância quanto às inclinações do coração humano, que pode buscar voltar-se em egocentrismo para si mesmo, desprezando e se enfadando da guarda do mandamento.
Como já afirmado, as posturas elencadas no CMW, giram em torno de uma autocentralização do homem, que resulta num levante (intencional ou não) contra aquele que é honrado, mais especialmente, no Dia do SENHOR, como rei sobre toda a criação, sendo o único Deus.
Como alguém poderia cumprir descuidosamente uma ordem que lhe remete à algo que considera de suma importância? Ou não aproveitar a execução de uma obrigação que lhe proporciona tantos benefícios? Ou ainda agir de modo a exibir desinteresse e cansaço no cumprimento de um dever que o edifica e o fortalece, para que continue firme em sua missão ao longo de toda a vida? Somente uma resposta é possível: se tal pessoa não considera importante, benéfico ou revigorante o próprio mandamento, definindo como tal qualquer coisa que ela mesma ache superior à ordenança.
Embora o tom pareça hipotético, essa postura pode ser vista na vida de um número maior de crentes do que gostaríamos de admitir que seria possível. Voltados à obtenção do que desejamos, ou no mínimo, acostumados ao ritmo frenético de nossas vidas, ditado por uma mentalidade consumista e materialista, permitimos que o vigor de nossas vidas seja sugado, e o centro de nossa existência gire em todo de nós mesmos, nos abstendo de ansiar e nos alegrar com a aproximação do Dia do SENHOR, o qual, diga-se de passagem, mal percebemos que se achega.
Semana após semana, ignoramos quase que completamente o encontro porvir com o SENHOR, e, quando surpreendidos pela celeridade de sua chegada, nossa mente e coração estão despreparados para experimentar da comunhão com o Deus Triuno, e aquele que deveria ser o momento mais importante de nossa vida nesse mundo, passa a ser visto como uma repetição cansativa e enjoativa do mesmo rito executado sempre.
O problema é que, agindo ou vivendo assim, estamos pecando contra o SENHOR, por um cumprimento descuidoso e por ficarmos cansado do dever que nos fora exigido.
Despertar no Dia do SENHOR deveria encher nosso coração de alegria. Descansar nossa mente de preocupações relacionadas aos trabalhos ordinários e demais obrigações, deveria ser algo deleitoso, pois não estaríamos sendo irresponsáveis ou inconsequentes, mas sim, confiando na boa e sábia providência divina, que nos assegura o cuidado e sustento de que precisamos.
Faz-se necessário chamar pecado de pecado, e no caso, o pecado em questão é a falta de compromisso nosso em reconhecer que Deus deve ser honrado e centralizado em nossa vida, a partir da ordenança externa da guarda do Dia do SENHOR. Tão importante quanto o primeiro mandamento, que concentra Deus no âmago de nosso coração, é o quarto, que determina que o façamos a partir de nossas obras (e.g. culto particular e público, obras de misericórdia e descanso solene).
Conclusão
Desfechando toda a análise do quarto mandamento, a reflexão de Jon Payne sobre o Dia do SENHOR, mostra-se pertinente:
No desdobramento da história da redenção - do Jardim do Éden até agora -, o Sábado Cristão tem sido tanto uma bênção divina como uma obrigação moral. Seu cumprimento final se dará na volta de Cristo, quando todos os eleitos de Deus serão conduzidos para entrarem no eterno Sábado do pecado, oferecendo a perfeita adoração na presença de Deus para sempre e sempre (Hb 4.1-13; Ap 7.9-12). […] Deus ordenou algo belo para seu povo, e na maior parte das vezes o temos visto como uma inconveniência para nossa vida ocupada. Deus nos deu o Dia do Senhor para podermos nos deleitar nele, ao descansarmos de nossos labores ordinários, proporcionando-nos a renovação e revigoramento necessários. Nosso Pai celeste o planejou para nos conceder o descanso adequado e para repor o foco do nosso coração em nossa máxima prioridade, a saber, no próprio Deus (PAYNE, 2016, pp. 96,97).
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