A fé de um oficial - em tratamento
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A FÉ DE UM OFICIAL
A FÉ DE UM OFICIAL
Dirigiu-se, de novo, a Caná da Galiléia, onde da água fizera vinho.Ora, havia um oficial do rei,cujo filho estava doente em Cafarnaum.
Tendo ouvido dizer que Jesus viera da Judéia para a Galiléia, foi ter com ele e lhe rogou que descesse para curar seu filho, que estava à morte.
Então, Jesus lhe disse: Se, porventura, não virdes sinais e prodígios, de modo nenhum crereis.
Rogou-lhe o oficial: Senhor, desce, antes que meu filho morra.
Vai, disse-lhe Jesus; teu filho vive. O homem creu na palavra de Jesus e partiu.
Já ele descia, quando os seus servos lhe vieram ao encontro, anunciando-lhe que o seu filho vivia.
Então, indagou deles a que hora o seu filho se sentira melhor. Informaram: Ontem, à hora sétima a febre o deixou.
Com isto, reconheceu o pai ser aquela precisamente a hora em que Jesus lhe dissera: Teu filho vive; e creu ele e toda a sua casa.
Esta narrativa ilustra o surgimento e o progresso da fé na alma. Devemos chegar às coisas reais e fazer das coisas de Deus fatos manifestos a nós. Não apenas ouvir sobre este oficial de Cafarnaum ou qualquer outro, mas ver em nossa própria alma a mesma obra de graça operada nestas pessoas. O mesmo Cristo vivo está aqui, e precisamos da sua ajuda tanto quanto aquele oficial necessitou. Que possamos buscá-lo como ele o buscou e encontrá-lo como ele o encontrou! Deste modo, o Espírito Santo, que inspira a narrativa que está diante de nós, será visto a escrevendo novamente, não sobre as páginas de um livro, mas sobre as tábuas de carne (2Co 3.3) do nosso coração.
Observemos, então, logo no começo, que, antes de tudo, foi um problema que levou esse nobre a Jesus. Não tivesse sofrido ele uma provação, certamente teria continuado a viver um tanto distante de Deus. Contudo, a tristeza chegou à sua casa e agitou com sua vida.
A forma de provação que visitou este oficial foi a doença de seu filho. O filho que ele certamente muito amava caíra enfermo, de cama, com uma febre mortal. O pai, ao que parece, é pessoa extremamente bondosa e afetuosa. Seus servos mostram sentir grande apreço por ele e estar interessados na melhor solução para a aflição doméstica que o entristece. É possível ver isso com a ansiedade eles vão encontrá-lo para lhe contar da recuperação de seu filho.
O coração do pai está gravemente triste e ferido porque seu filho querido se acha prestes a morrer. Entendemos que já tentado, remédios e tratamentos então conhecidos, chamado, médicos que poderiam ser encontrados perto de Cafarnaum.
Tendo ouvido, sobre a volta de Jesus, que em Caná da Galileia havia transformado a água em vinho e fizera outras obras poderosas em Jerusalém, ele o procura, e traz consigo grande petição e carrega uma enorme esperança.
É possível que nunca tivesse pensado em procurar Jesus, não fosse por causa de seu filho. Com que frequência acontece que os filhos, embora não sejam anjos, são usados por Deus.
Foi isso o que aconteceu com este homem, o oficial do rei. Foi levado a Jesus pela ansiedade por seu filho. A provação foi a ocasião, o prefácio, para a obra da graça divina na vida do oficial.
Vamos olhar para a parte salvadora, a saber, a fé que nasceu no coração daquele homem.
Vamos primeiramente averiguar a fagulha da fé;
Depois, o calor da fé — muitas vezes encoberto e abafado, mostrando mais fumo do que fogo;
e em terceiro lugar, analisaremos a chama da fé;
Por fim, em quarto lugar, o incendiar da fé, quando a fé finalmente inflama o homem, queimando toda a sua natureza e se espalhando por todos em derredor — e creu ele e toda a sua casa (Jo 4.53). Vamos procurar, então, caminhar em análise e meditação.
I. Quero que você descubra cuidadosamente em si mesmo a fagulha da fé, propondo-se: “Vou procurar e ver se tenho essa fagulha de fé; e, se a encontrar, lhe dar a devida importância, a fim de que o Espírito Santo possa soprar suavemente sobre ela e a transformar em algo mais permanente e poderoso”. A fé desse oficial apoiou-se, em um primeiro momento, inteiramente no relato de outros. Ele vivia em Cafarnaum, perto do litoral. Entre relatos e notícias que então por ali se espalhavam, era provavelmente comum o comentário de que estava de volta à Galileia um grande profeta, realizador de grandes maravilhas. O próprio oficial nunca vira Jesus, nem talvez antes tivesse dado maior atenção a falarem dele, mas então acreditou no relatório dos outros e achou bem agir assim, pois eram pessoas de credibilidade. Muitos como ele se encontram, hoje, nos estágios iniciais da fé: ouviram amigos dizer que o Senhor Jesus recebe os pecadores, perdoa os pecados, tranquiliza a consciência, muda a natureza das pessoas, ouve as nossas orações e sustenta o seu povo sob provação. Ouviram essas coisas de pessoas a quem consideram ou estimam, sendo, portanto, pessoas nas quais acreditam. Você pode estar dizendo a si mesmo: “Sim, não tenho dúvida de que tudo isso é verdadeiro. Só fico pensando se pode ser verdadeiro para mim. Estou passando por sério problema esta manhã: será que o Senhor Jesus poderá me ajudar? Sinto uma pressão muito grande em meu espírito agora: será que a oração poderá me aliviar?” Na verdade, você não poderia dizer que sabe que Jesus vai abençoá-lo com base em qualquer coisa que você mesmo já tenha visto sobre ele. Mas você pode deduzir que ele fará isso com base no que seus amigos lhe têm contado. A fé, frequentemente, começa assim. As pessoas acreditam no relatório feito por pessoas conhecidas delas, que experimentaram o poder do amor divino e, em um primeiro momento, acreditam — tal como aconteceu aos samaritanos por causa do relatório daquela mulher do poço de Jacó a respeito de Jesus. Mais tarde, irão crer por terem ouvido, visto, provado e tocado por si mesmos; mas o início foi bom. Essa fé que surge com base no relatório de outras pessoas é uma fagulha de fogo verdadeiro. Cuide bem dela. Que Deus lhe dê a graça de orar sobre essa fagulha, para que venha a aumentar e se transformar em uma chama! Observe que essa fé era tão pequena que se referia tão somente à cura de seu filho doente. O oficial não sabia que precisava de cura também para seu próprio coração. Não tinha ideia de sua própria ignorância a respeito de Jesus, de sua cegueira com relação ao Messias que ali estava. Provavelmente nada sabia quanto a precisar nascer de novo nem compreendia que o Salvador lhe poderia dar luz e vida eterna. Não possuía maior conhecimento do poder espiritual do Salvador e, por isso, sua fé tinha um alcance muito restrito. O que parece que ele realmente acreditava era que, se o Senhor Jesus fosse a sua casa, poderia impedir seu filho de morrer de febre. Mas, ao chegar ali, dispondo apenas da restrita fé que possuía, imediatamente fez uso dela. Amigo, você pode ainda não saber quão grande é o Senhor e que coisas maravilhosas ele faz por todos aqueles que nele põem a sua confiança. Contudo, está dizendo para si mesmo: “Sem dúvida, ele pode me ajudar esta manhã em minha provação e me livrar da minha dificuldade hoje”. Tudo bem. Use a fé que você tem. Ponha diante do Senhor sua provação neste exato momento. Permita-me encorajá-lo a agir assim. Se você ainda não pode vir a ele em busca das coisas espirituais, pode, por ora, começar pelas tristezas e provações deste mundo. Se não puder vir a ele em busca de uma bênção eterna, poderá se achegar a ele em busca de um favor passageiro. Ele está pronto a ouvi-lo. Mesmo que sua oração possa envolver apenas coisas do mundo e não passar de uma oração meramente comum, ainda assim faça essa oração, pois ele dá até o alimento aos filhos dos corvos quando clamam (Sl 147.9), e tenho certeza de que estes não fazem orações espirituais; tudo o que os corvinhos podem pedir se resume a vermes e insetos, mas, ainda assim, Deus os ouve e os alimenta. Você, como ser humano, mesmo que só possa orar neste momento pedindo uma simples misericórdia comum, ou uma das menores bênçãos, pode fazê-lo com convicção e confiança, se tiver alguma fé no Senhor da graça. Em que pese ser esta fé apenas uma fagulha, não deve apagá-la, nem o Senhor Jesus deseja fazer isso, pois ele prometeu que não apagará o pavio que fumega (Is 42.3). Qualquer desejo que você pretenda levar a Jesus, com qualquer que seja o grau de fé que você possua, deixe-o manifestar-se, ao vir aos pés do mestre. A fé do oficial era tão frágil que ele limitou o poder de Jesus à presença física deste. Ele rogou: Senhor, desce [a Cafarnaum] antes que meu filho morra (Jo 4.49). Acreditava ser necessário o Senhor Jesus entrar no quarto onde estava seu filho para dar uma ordem à febre e ela então iria embora. Desconhecia que poderia o Senhor operar milagre até a grande distância. Não sabia que a palavra do Senhor poderia agir independentemente de sua presença física. Mesmo assim, melhor era ter essa fé limitada do que nenhuma. Filho de Deus, você comete pecado quando limita o Santo de Israel. Contudo, se aquele que busca o Senhor limita sua ação por causa de ignorância e de fraqueza na fé, isso é bastante desculpável. O Senhor Jesus aceita isso de maneira graciosa, eliminando essa questão com amorosa advertência. No entanto, ser fraco na fé para o iniciante não é a mesma coisa que é, para você, que já desfruta de longa experiência da bondade de Deus, passar a desconfiar dele. Portanto, repito àquele junto a quem o Senhor está começando a operar: se você não tem fé além daquela que pode dizer simplesmente “o Senhor Jesus me curaria e responderia ao meu clamor se estivesse aqui”, é melhor ter tal fé do que ser descrente. Sua fé, na verdade, limita o Senhor grandemente, como que o encerra em um lugar fechado. Não pode esperar, portanto, que ele faça obras poderosas para você. Ele virá até você e o abençoará, de acordo com a medida de sua fé. Todavia, por ser também uma característica de sua graça soberana, pode até mesmo fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos (Ef 3.20). Assim, trate sua fé como uma criança: alimente-a até que possa se colocar em pé sozinha; estenda sua mão para ajudá-la até que seus primeiros passos trôpegos possam se firmar. Não podemos culpar um bebê pelo fato de ainda não poder correr ou pular, mas devemos, sim, cuidar dele e ajudá-lo até obter uma força maior, que há de chegar ao devido tempo. Nosso Senhor Jesus Cristo merece a maior fé que possa vir de cada um de nós. Não o entristeça com suspeitas em relação à sua capacidade. Dê a ele a fé que você tem e peça por ter mais e mais. Embora fosse apenas uma fagulha, aquela fé no Senhor Jesus Cristo influenciou o oficial do rei. Foi sua fé que o levou a empreender uma considerável jornada para encontrar o Senhor. Deixando Cafarnaum, ele subiu as colinas de Caná para fazer seu pedido a Jesus. Ele o fez pessoalmente. Isto é ainda mais notável se considerarmos que se tratava de um homem importante. Não sei se seria Cuza, procurador de Herodes (Lc 8.3). Embora isso seja irrelevante, não se sabe de outra família nobre a serviço de Cristo durante sua jornada terrena: a esposa desse procurador de Herodes era uma das mulheres que seguiam nosso Senhor na Palestina e o serviam com seus bens. Outro alto funcionário real ainda, citado no Novo Testamento, é Manaém, colaço de Herodes (At 13.1). O oficial do rei que buscou Jesus poderia ter sido um desses homens. De todo modo, nobres eram aves raras junto a Cristo e na igreja naqueles dias, assim como esperamos, certamente, ouvir mais sobre outras pessoas como essas em nossos dias. Não podemos, porém, nos precipitar na conclusão de que aquele oficial possa ter sido um deles. Mas o fato é que, normalmente, um alto funcionário real não pensaria em fazer ele mesmo uma viagem dessas para resolver um problema, tendo servos diligentes a seu dispor. Contudo, esse oficial foi pessoalmente a Cristo para implorar-lhe que viesse curar seu filho. Sendo então a sua fé fraca sob certo aspecto, mas forte o suficiente para levá-lo a Cristo e dirigir-se pessoalmente a ele em humilde súplica, é, sem dúvida, uma fé bastante aceitável. Se a sua fé leva você a orar e implorar a nosso Senhor de todo o seu coração, então a sua fé é do tipo correto; se o leva a rogar a Cristo que tenha misericórdia de você, é uma fé que pode levar à salvação de sua alma. Pode ainda ser pequena como um grão de mostarda, mas sua qualidade de insistente e importuna mostra que existe nela uma crença autêntica, que é uma semente de mostarda verdadeira e que o seu pé de planta irá crescer. Caro amigo, você já começou a orar, neste momento, por causa de suas mágoas e tristezas? Pode ser que, neste exato instante, no silêncio aparente de sua alma, você esteja ardorosamente clamando: “Deus, salva-me hoje! Eu vim a Londres para ver outras coisas e entrei por acaso neste lugar, esta manhã. Que este possa ser o dia no qual eu seja liberto do meu problema e possa ser salvo!” Se a sua fé leva você a orar a Cristo, ela é filha legítima da graça, pois a fé verdadeira sempre clama ao Senhor. Se a sua fé o leva a se apegar a Jesus com resolução, dizendo não te deixarei ir, se me não abençoares (Gn 32.26), pode ser uma fé pequena, mas é fé real e verdadeira. Foi gerada em sua alma pelo Espírito de Deus e trará para você uma bênção poderosa. Você há de ser salvo por esta fé, para o seu próprio bem e para glória do nosso Senhor. Observemos, ainda, que a fé daquele homem ensinou-o a rogar da maneira certa. Perceba que ele implorou a Jesus que descesse a Cafarnaum e curasse seu filho, pois estava à beira da morte. Não realçou nenhum mérito seu, mas, sim, advogou a precariedade do caso. Não argumentou que o menino era de família nobre — o que, aliás, teria sido muito ruim de usar para com Jesus. Também não enfatizou que era uma criança querida — este seria um argumento muito pobre. Mas frisou somente que o menino estava à beira da morte. A natureza extrema do caso era a razão para a urgência: a criança estava às portas do desenlace, e, portanto, seu pai implorava que a porta da misericórdia fosse aberta. Meu amigo, quando você é ensinado pela graça a orar e pedir corretamente, passa a realçar na oração aquelas circunstâncias que justificam sua condição de perigo e sua ansiedade, e não o que faria você parecer ser melhor ou mais justo. Lembre-se de como Davi orou. Senhor, disse ele, perdoa a minha iniquidade, pois é grande (Sl 25.11). Essa é a súplica corretamente evangélica. A maioria dos homens provavelmente teria dito: “Senhor, perdoa minha iniquidade, pois ela é desculpável e de modo algum chega perto da crueldade dos outros homens”. Davi sabia das coisas. Seu clamor é: “Perdoa a minha iniquidade, pois é grande”. Apresente a Deus, pobre pecador, a grandeza de sua necessidade, o horror de sua iniquidade e de sua carência. Assuma e mostre que você está realmente à beira da morte, que o assunto pelo qual você está pedindo é, de fato, questão de vida ou morte. Este será o argumento sincero e correto para comover o coração de Deus, de infinita compaixão. Qualquer respingo de falsa bondade sua que seu orgulho possa tentar convencer você a jogar no quadro irá manchá-lo por inteiro. Carregue nas cores escuras três vezes mais. Peça a Deus em função da misericórdia dele, pois é este atributo de Deus o único argumento ao qual você deve recorrer enquanto for um pecador não perdoado. Você não pode nem deve pedir que o Senhor o abençoe em razão de qualquer problema ou qualquer mérito que tenha, pois você não tem nenhum direito a recompensa por qualquer coisa assim. Será sábio de sua parte, isso sim, se rogar a Deus por suas carências e necessidades. Clame assim: “Ó Deus, tem misericórdia de mim, pois eu preciso de misericórdia!” Faça como o oficial, ao contar o caso do seu filho: “Ele está prestes a morrer”. Esta é a chave que abre a porta da misericórdia. Meu caro ouvinte não convertido, você está me entendendo? Existe em você algum desejo, em qualquer escala, de vir ao Senhor Jesus Cristo, ainda que seja simplesmente por causa de um problema temporal que o esteja afligindo demais? O cavalo não gosta, e com razão, de receber golpes de espora para começar a correr — isso fere o seu corpo, pois é suficientemente afiado e cravado em sua pele em um nível tão profundo que deverá senti-lo. Obedeça a Jesus, para que não haja necessidade de ser ferido com o aguilhão que o obrigue tomar a iniciativa. Se você é um dos escolhidos do Senhor, verá que quanto mais cedo o fizer, melhor será para você. Venha imediatamente. Não sejais como o cavalo, nem como a mula, que não têm entendimento (Sl 32.9). Venha a Jesus enquanto ele o convida gentilmente. Embora você possa ter uma fé tão frágil que pareça às vezes mais descrença do que fé, achegue-se a ele. Venha como está, olhe para o Senhor e ore, pois nesta oração está sua esperança, ou melhor, sua certeza de descanso. O grande coração de Jesus sentirá sua oração e lhe dirá: “Vá em paz”.
II. Vimos à fé, assim, ainda em fagulha. Vamos agora nos voltar para o calor da fé, lutando para manter-se e gradualmente aumentando. Vejamos de que maneira tal centelha começa a fumegar, a soltar fumaça e, desse modo, a indicar a presença de um fogo interior. A fé daquele homem era verdadeira desde o momento em que partiu de Cafarnaum. É muito importante frisarmos isso. Ele veio a se colocar diante do Salvador resolvido a não se afastar dele. Sua única esperança para a vida de seu filho estava naquele grande profeta de Nazaré, e, portanto, não pretendia deixá-lo até que seu pedido fosse atendido. Num primeiro momento, não obteve a resposta que queria, mas perseverou e continuou pedindo. Isso mostra que sua fé tinha força e vitalidade em si. Não se tratava simplesmente de um capricho, de um impulso repentino, mas, sim, da convicção real do poder de Jesus em curar. Quanta misericórdia precisaria ser concedida se fosse uma fé falsa! Melhor, na verdade, é ter pouca fé, mas fé real, do que possuir um grande credo mas não dar ao Senhor Jesus o genuíno crédito. Diga-me, meu ouvinte: você tem fé prática no Senhor Jesus? A fé daquele homem, que se manteve autêntica, por mais que ele houvesse andado, poderia ser, no entanto, limitada ou impedida pelo seu desejo inicial de ver sinais e maravilhas. Nosso Senhor, então, gentilmente o repreende: Se não virdes sinais e prodígios, de modo algum crereis (Jo 4.48). Sei que muitos de vocês creem que Jesus pode salvar, mas muitos de vocês, também, estabelecem em sua mente como acham que ele o deva fazer. Alguns costumam ler biografias religiosas em que tomam conhecimento de que determinada pessoa foi levada ao desespero, teve pensamentos horríveis e assim por diante; daí colocam na cabeça que devem ter horrores similares, caso contrário estarão perdidos. Estabelecem isso como uma espécie de programação de que devam ser salvos dessa maneira ou não serão salvos de modo algum. Está certo? Isso é sábio? Por acaso é você que deve ditar as regras ao Senhor? Pode também acontecer que você tenha lido ou ouvido falar que certas pessoas importantes se converteram por meio de sonhos singulares ou mediante notáveis movimentos da providência; e, então, diz a si mesmo: “Alguma coisa singular assim deverá acontecer comigo também; do contrário, não poderei crer no Senhor Jesus”. Sob esse aspecto, você erra da mesma maneira que o oficial. Ele esperava que o Salvador descesse até sua casa e realizasse algum ato peculiar de seu ofício profético. Na verdade, esse oficial é a nítida reprodução, no Novo Testamento, de Naamã, do Antigo Testamento. Você se lembra de que Naamã se queixa do comportamento do profeta? Eis o que ele diz que esperava: Certamente ele sairá a ter comigo, pôr-se-á em pé, invocará o nome do Senhor seu Deus, passará a sua mão sobre o lugar, e curará o leproso (2Rs 5.11). Naamã já tinha tudo planejado em sua própria mente e preparou-se para uma performance bastante apropriada e artística por parte de Eliseu. Ele, simplesmente, não estava pronto a receber uma solução tão simples e trivial quando o profeta mandou lhe dizer apenas: Vai, lava-te sete vezes no Jordão (2Rs 5.10). Era lugar comum demais, demasiadamente destituído de qualquer ritual. Em razão de suas preconcepções mentais, muitas pessoas, se pudessem, forçariam o próprio Senhor de misericórdia a agir desse ou daquele modo para salvá-las. Mas nosso Senhor não se presta a ser colocado debaixo desse tipo de constrangimento — e por que deveria fazer isso? Salva a quem quiser e da maneira que desejar. Seu evangelho não diz “sofra muitos horrores e desesperos para então viver”, mas, sim, creia no Senhor Jesus Cristo e você será salvo (At 16.31). Ele chega a muitos e os chama, efetivamente, por meio do suave sussurro de seu amor; e aqueles que simplesmente confiam nele entram imediatamente em seu descanso. Sem exagerados sentimentos tocantes, terríveis ou de arrebatado êxtase, os que nele creem exercem tranquilamente a sua confiança infantil no Senhor crucificado e nele encontram vida eterna. Por que não poderia ser assim com você? Por que deveria você se excluir desse excelente conforto, estabelecendo um programa e exigindo que o Espírito, que é livre, tivesse de dar atenção às suas normas? Deixe de lado seus preconceitos tolos! Deixe que o Senhor o salve como ele bem desejar. Há uma coisa, porém, a ser dita em relação à fé daquele oficial: ela foi capaz de merecer do Senhor a devida atenção e repreensão. Pense no mestre advertindo gentilmente aquele pobre pai angustiado Se não virdes sinais e prodígios, de modo algum crereis (Jo 4.48). Isso era tristemente verdadeiro, embora possa parecer até por demais sincero. Oh, os queridos lábios de Jesus: são sempre como lírios, derramando doce e perfumada mirra! A mirra, não sei se você sabe, é amarga ao sabor, e havia como que uma ligeira e aparente amargura nessa frase dita ao oficial. Contudo, não levou aquele pai a desistir de sua busca, dando as costas e dizendo: “Ele me tratou friamente”. Pelo contrário, ele aceitou a reprimenda suave e deve ter pensado consigo mesmo: “Sim; mas a quem poderia ir?” Assim, não foi embora. Ficou na mesma condição da mulher cananeia a quem os lábios do Senhor derramaram certamente pungente porção de mirra, dizendo: Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos (Mt 15.26); e, no entanto, nessa mirra ela encontraria doce fragrância, com que iria perfumar sua oração, ao responder com sinceridade e fé: Sim, Senhor, mas até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos (Mt 15.27). Aquele homem respondeu ao Senhor com insistência ainda maior. Ele não iria embora, não. Ó meu querido coração, tenha uma tamanha fé como essa em Cristo que, ainda que ele tenha de amavelmente repreendê-lo, jamais se afaste dele! Jesus é a nossa única esperança; portanto, nunca se afaste você do Senhor. Faça como John Bunyan, que disse: “Fui levado a tamanhas dificuldades que, por necessidade, devo ir a Jesus. Se ele me encontrasse com uma espada desembainhada em sua mão, eu rapidamente me jogaria debaixo do fio de sua espada em vez de me afastar dele, pois consideraria que ele era minha última esperança”. Ó minha alma, aconteça o que acontecer, apegue-se ao Senhor! Vejamos, agora, quão apaixonadamente aquele homem fez seu pedido. Ele clamou: Senhor, desce antes que meu filho morra, como se estivesse dizendo: “Ó Senhor, não questiones minha fé agora. Peço-te que não penses nada de mim, mas que cures meu filho querido, ou ele vai morrer! Ele já estava prestes a morrer quando eu saí de minha casa; apressa-te em salvá-lo!” Sua fé era limitada, pois, ao pedir que Cristo desça, mostra pensar ser essencial que o Senhor tenha de fazer a jornada até Cafarnaum para realizar a cura. Contudo, perceba quão intenso, quão ávido e perseverante foi o seu pedido. Se sua fé não tinha fôlego, possuía, pelo menos, excesso de força. Meu caro amigo ansioso, mire-se neste exemplo colocado diante de nós. Ore e ore sempre; mantenha-se firme e resista; peça e clame de novo; não desista, até que o Senhor de amor lhe conceda sua resposta de paz.
III. Chegamos agora a um estágio mais avançado. Olhemos para a chama da fé. A fagulha transformou-se em fogo ainda encoberto, e agora o fogo se manifesta em chama viva. Observe o que Jesus respondeu àquele que lhe estava rogando: Vai, o teu filho vive. O homem, então, realmente creu; e seguiu seu caminho. Perceba que ele acreditou na palavra de Jesus, acima de todo o seu preconceito anterior. Antes, acreditava que Jesus só poderia curar seu filho se descesse até Cafarnaum; agora crê em Jesus, embora o Senhor permaneça onde está e simplesmente lhe diga uma simples palavra. Neste exato instante, amigo, você crê na simples palavra do Senhor Jesus Cristo? Confia inteiramente nele, sem fazer nenhuma exigência quanto a como acha que ele deveria salvá-lo? Já tirou de sua mente convicções obscuras e sonhos de viver sensações estranhas? Vai deixar de pensar tolices agora? Está disposto a acreditar em Jesus Cristo como ele é revelado nas Escrituras? Crê que ele pode e é capaz de salvá-lo neste momento, tendo por base simplesmente sua fé e confiança? Já ouviu falar sobre a paixão e morte de Cristo na cruz em favor do culpado? Já não ouviu dizer que toda forma de pecado e iniquidade dos homens será perdoada nos que crerem nele? Não sabe que aquele que nele crê terá a vida eterna? Está disposto a parar de pensar ou dizer coisas sem sentido, tais como “desça e salve-me”, ou “faça-me sentir isso, e eu então acreditarei no Senhor”? Pode crer nele agora, apesar de todos os seus pensamentos anteriores, suas pretensões e seus desejos, simplesmente declarando “eu confio minha alma a Cristo, crendo que ele pode me salvar”? Você será salvo, então, tão certamente quanto a sua fé e a sua confiança em Cristo. A próxima coisa que aquele homem fez para provar a sinceridade de sua fé foi obedecer a Cristo imediatamente. Jesus lhe disse: Vai — ou seja, “podes ir para casa” — o teu filho vive (Jo 4.50). Não tivesse acreditado nesta palavra, o homem teria permanecido ali e continuado a insistir em sua petição, em busca de um sinal favorável. Contudo, como creu, ficou satisfeito com a palavra do Senhor e tomou seu caminho de volta, sem dizer mais nada. Teu filho vive foi o suficiente para ele. Muitos de vocês, ao ouvir a pregação do evangelho, alegam: “Você está nos dizendo para crermos em Cristo; mas nós estamos orando”. Não é bem isso o que o evangelho recomenda que você faça. Por acaso estão me dizendo também “continuarei a ler a minha Bíblia e a buscar os meios de graça”? Não são estes os preceitos do Salvador. Você não está satisfeito com a palavra de Deus? Por que então não receber esta palavra e ir para casa? Se crê em Cristo, você há de tomar seu caminho de regresso em paz; irá crer que ele o salvou e agirá sabendo que isso é verdade. Você irá se regozijar no fato de que é salvo. Não vai permanecer sofismando, questionando e procurando seguir todo tipo de experiências e sentimentos religiosos; simplesmente, irá declarar: “O Senhor me disse para eu crer nele, e eu cri. Jesus Cristo diz ‘quem crê em mim tem a vida eterna’, e eu creio nele; portanto, tenho a vida eterna. Posso não estar sentindo nenhuma emoção peculiar, mas tenho, sim, a vida eterna. Quer eu possa sentir minha salvação quer não, eu sei que estou salvo. Está escrito: Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os confins da terra (Is 45.22). Senhor, eu olhei para ti, e sou salvo. Minha razão para crer é ter sido o Senhor quem disse isso. Fiz o que o Senhor me ordena e sei que o Senhor cumpre sempre sua promessa”. Este é o modo de pensar em Cristo Jesus. O Senhor merece ser respeitado por sua palavra e ser crido por sua sinceridade verdadeira. A fé do oficial está agora verdadeiramente inflamada. Ele crê não mais com base apenas no que lhe disseram os outros, mas ante a palavra do próprio Jesus. Não espera mais por um sinal, mas, sim, ouve a palavra e, sob essa palavra, põe em Cristo a sua confiança. Jesus lhe disse: Vai, o teu filho vive (Jo 4.50), e ele segue seu caminho de volta, ao encontro de seu filho vivo. Ó alma que busca a Deus, que o Espírito Santo possa trazê-la a esse estado imediatamente; que você possa dizer agora: “Ó Senhor, eu não vou esperar mais por qualquer tipo de sentimento, evidência ou sinal, mas, ante a palavra que o teu sangue selou, eu confio eternamente; aceito a tua promessa e, uma vez que creio, seguirei o meu caminho em paz”. Com relação à fé desse homem em tal estágio, sou levado a dizer, no entanto, que ele ainda carecia de alguma coisa. Foi excelente para ele chegar a esse ponto, mas precisava ir mais além. Esperava certamente menos do que deveria ter esperado, e eis por que, quando seus servos lhe deram a notícia de que seu filho querido vivia, perguntou-lhes quando começara a melhorar. O oficial foi tomado então de indizível alegria quando lhe responderam que, na verdade, ele não havia propriamente começado a melhorar, mas, sim, que à sétima hora a febre simplesmente o deixara de imediato. Pode-se perceber, então, que o oficial esperava uma restauração gradativa do filho. Contava com o curso normal da natureza — mas aqui estava uma obra milagrosa. Recebera muito mais do que podia imaginar. Quão pouco conhecemos Cristo e quão pouco cremos nele, mesmo quando realmente nele confiamos! Medimos a sua riqueza infindável não em função dessa riqueza, mas de nossas carteiras vazias. Nem sempre a fé que salva está plenamente desenvolvida. Existe espaço para que creiamos mais, para que esperemos mais do nosso bendito Senhor. Que possamos fazer isso! Devo mencionar, no entanto, uma coisa edificante aqui. O pai viajou de volta, na verdade, com a despreocupação própria da fé. Vejam bem por quê. Ele tinha estado a cerca de quarenta a cinquenta quilômetros de Cafarnaum, e não tenho dúvida de que o bom homem iniciou sua viagem de regresso tão logo o mestre lhe disse: Vai. Deve ter ido imediatamente, em obediência a tal ordem, e seria de se julgar que percorresse rapidamente o caminho para casa. Lemos, então, que os servos saíram-lhe, ou vieram-lhe, ao encontro. Teriam eles começado a ir ao seu encontro tão logo o filho foi curado? Se assim ocorreu, devem tê-lo encontrado no caminho. Era uma subida. Digamos, portanto, que eles tenham andado uns quinze quilômetros, restando assim 25 a 35 quilômetros para o oficial haver viajado até ali. Os servos disseram: Ontem à hora sétima a febre o deixou (Jo 4.52). A hora sétima era equivalente a uma da tarde e o dia era “ontem”. Sabemos que o dia se encerrava com o pôr do sol, e alguém dificilmente falaria de “ontem” sem uma noite entre dois dias. Teria ele levado quinze a dezesseis horas para cumprir aquela parte da jornada? Se foi assim, ele não viajou com velocidade excessiva. É bem verdade que quarenta quilômetros seria, na época, uma jornada de praticamente um dia inteiro para um camelo, pois no Oriente as estradas eram então muito ruins. Contudo, ainda me parece que o pai, feliz, caminhou com a tranquilidade de um crente, em vez de com a pressa de um pai ansioso. Sua passagem pelas estradas e por entre os vilarejos foi moderada, sem alterar seu passo normal, porque não estava sequer preocupado, agora que sua mente descansava em sua fé. Ele se sentiu bastante seguro de que seu filho estava bem, e, portanto, a febre da ansiedade deixou o pai, do mesmo modo que a febre havia deixado o filho. Mentes ansiosas, mesmo quando creem, estão sempre com pressa de ver; mas esse bom homem estava tão seguro que não permitiria que o amor paternal o fizesse agir como se a sombra de uma dúvida ainda permanecesse. Está escrito: Aquele que crer não se apressará (Is 28.16). Isso se cumpriu literalmente naquele homem. Seguiu sua viagem no mesmo estilo em que um rei, por exemplo, viajaria com seu cortejo, e, assim, pode-se constatar que sua mente, de fato, estava tranquila em relação ao seu filho. Gosto dessa tranquilidade que consagra a fé e se encaixa perfeitamente em uma crença sólida. Espero que todos vocês, ao crescerem em Jesus Cristo, creiam assim, por inteiro. Deem a ele não meia fé, mas uma fé completa. Seja em relação a um filho, seja em relação a si mesmo, creia com sinceridade. Diga para si mesmo: “antes seja Deus verdadeiro, e todo homem mentiroso (Rm 3.4). Nessa simples palavra, minha alma descansa. Descansa no Senhor, e espera nele (Sl 37.7). Que outra coisa senão uma maravilhosa alegria enche todo o meu espírito? Deus disse: Aquele que crê tem a vida eterna (Jo 6.47), e, portanto, eu tenho a vida eterna. E se eu não me levantar e dançar de alegria? Ainda assim, permanecerei calmo e cantarei no profundo de minha alma, porque Deus visitou o seu servo que crê. Esperarei até que grandes alegrias cheguem a mim e, enquanto isso confiarei e nada temerei”. Está me acompanhando em tudo isso, caro ouvinte? Está pronto, então, a exercer uma substancial e tranquila confiança em Jesus?
IV. Até aqui, a fé daquele homem cresceu. Agora, veremos o incendiar da fé. Enquanto ainda ia para casa, já sabemos, seus servos foram ao seu encontro trazendo boas-novas. Da quietude de sua fé, em que se encontrava, o oficial tornou-se radiantemente alegre ao lhe anunciarem que o filho vivia. A mensagem atingiu aquele homem como um eco da palavra de Jesus. “Eu já ouvi isso”, lembrou-se então, “ontem, à sétima hora, quando Jesus me disse o teu filho vive. Outro dia agora surge e, veja, meus servos já me saúdam com a mesma palavra, o teu filho vive”. A confirmação do milagre deve tê-lo deixado atônito. Com frequência, noto que, durante a pregação da Palavra, algumas sentenças atingem vocês, como se as próprias palavras estivessem abençoadas por Deus. As pessoas vêm depois me dizer: “O senhor falou exatamente a mesma coisa sobre o que estávamos conversando quando vínhamos para cá. O senhor descreveu a nossa situação, até mesmo os nossos pensamentos, e mencionou certas expressões que foram usadas em nossas conversas. Certamente Deus estava falando por meio do senhor”. Sim, e isso acontece com muita constância. As próprias palavras de Cristo encontram muito eco na boca de seus servos comissionados. A providência do Senhor controla tanto as palavras quanto os feitos, fazendo que os homens digam as palavras corretas sem que, por vezes, saibam na hora exatamente por que as estão dizendo. Deus é assim tão graciosamente onipresente que todas as coisas o revelam quando devam fazê-lo. Naquele momento, a fé do oficial foi confirmada pela resposta às suas orações. Essa sua experiência foi uma ajuda à sua fé. Ele passa a crer de modo mais seguro do que antes. Comprova a verdade da palavra do Senhor e, assim, o conhece e é levado a crer que ele é Senhor e Deus. A fé de um pecador que se achega a Cristo é uma; a fé do homem que já se achegou a Cristo e obteve a bênção é outra, diferente e mais forte. A primeira, uma fé mais simples, é a que salva, mas a fé posterior é a que traz conforto, alegria e força ao espírito. “Minha oração foi ouvida”, deve ter dito o oficial, depois, a seus servos. Com a resposta à sua pergunta, sua fé foi sustentada em cada detalhe. Ele deve ter exclamado: “Contem-me tudo sobre isso; quando aconteceu?” Quando eles responderam “ontem à hora sétima a febre o deixou”, o oficial se lembrou daquele exato momento em que, nas colinas de Caná, o Senhor Jesus Cristo lhe dissera: Vai, o teu filho vive (Jo 4.50). Quanto mais ele pensava sobre isso, mais maravilhoso o episódio a ele se tornava. Todos os detalhes eram singularmente confirmadores de sua confiança e geraram nele, sem dúvida, uma fé mais forte, mais robusta. Irmãos, quantas confirmações alguns de nós já tivemos! Os que duvidam tentam argumentar conosco sobre a simplicidade do evangelho e querem disputar conosco em seu próprio terreno, o do mero raciocínio especulativo. Isso, meus prezados, não é muito justo para nós. Nosso terreno próprio é de tipo bastante diverso. Não somente não somos estranhos em assuntos referentes à nossa fé, como somos aficionados dela; e nos vemos obrigados a dar vazão a algo de nossa experiência pessoal quanto à fidelidade do Senhor, nosso Deus, a nós. Trazemos geralmente conosco milhares de doces lembranças de detalhes felizes, muitos até que nem cabe contar. Não que eles sejam propriamente “porcos”, mas são pérolas que não ousaríamos lançar à toa para eles. Temos muita coisa guardada e que não podemos relatar, pois são, para nós, coisas por demais sagradas. Assim, não somos capazes de usar determinados motivos, que para o nosso próprio coração seriam mais que convincentes. Temos, porém, outros argumentos, além dos que escolhemos, para apresentar em discussão a campo aberto. Não se surpreenda, no entanto, se parecermos obstinados; você não faz ideia de quão intensamente nos sentimos seguros. Não há como nos dissuadirem de nossa consciência; não podem tirar o nosso olhar de nossa mira. Sabemos e temos certeza do que dizemos, pois vimos, ouvimos, provamos e tocamos a boa palavra do Senhor. Certas coisas estão tão entremeadas com a nossa vida que ficamos como que atracados a elas. “Coincidência”, poderão dizer. Muito bem. Digam o que quiserem. Para nós, são coisas inteiramente diferentes do que o são para eles. Nossa alma tem repetido muitas vezes: Isto é o dedo de Deus (Êx 8.19). Um homem que foi tirado de um problema muito sério não pode se esquecer do seu libertador. Dirão: “Você teve sorte de sair daquela situação”. A mim, isso me parece um comentário muito frio! Se tivessem estado onde estive e experimentado o que experimentei, teriam de reconhecer que o Senhor estendeu sua mão e salvou este seu servo. Teriam a mesma convicção solene que eu tenho de que Deus estava ali, desenvolvendo a salvação. Sei que não posso criar essa convicção em você simplesmente por lhe contar minha história. Se você está determinado a não crer, não irá aceitar o meu testemunho; vai achar talvez que sou uma pessoa iludida, embora não tenha mais capacidade de ser enganado do que qualquer outro. Contudo, não estou interessado nesta hesitação, de se você está inclinado a acreditar ou não. Por mim, sou levado a crer, pois quanto mais cuidadosamente examino minha vida, mais sou convencido de que Deus esteve sempre trabalhando comigo e por mim. Voltando ao oficial do rei, no mesmo instante em que Cristo disse o teu filho vive (Jo 4.50), seu filho realmente viveu. E a mesma palavra que Jesus usou para o pai foi repetida, e assim confirmada, pelos servos que estavam a uns cinquenta quilômetros de distância. O pai sentiu, então, que algo ou alguém mais que humano havia se antecipado em seu caminho. Você ainda se admira disso? Aquele seu filho querido, a quem encontrou curado e sadio, foi argumento dos mais fortes para sua fé. Não haveria como se questionar a fé de um pai feliz, ao qual trouxe tanta alegria. Seu filho estava à beira da morte, sua fé recebeu a palavra do Senhor Jesus, e, então, a febre sumiu. O pai tinha de crer — ou você acha que ele poderia duvidar? Fortalecido então em sua fé por meio da experiência, depois de ter crido na simples palavra de Jesus, o bom homem vê aquela palavra cumprida e crê inteiramente em Jesus. Crê nele em tudo; de corpo e alma; pelo que é e possui. Daquele dia em diante, sem dúvida se torna um discípulo do Senhor Jesus. Ele o segue, e não mais como alguém que apenas cura, não apenas um profeta nem somente seu mestre e Salvador, mas, sim, sobretudo, como seu Senhor e seu Deus. Sua esperança, sua confiança e sua convicção estão fixadas em Jesus como o verdadeiro Messias. O que deve ter-se seguido foi provavelmente tão natural e tão jubiloso que oro para que possa também ser verdadeiro para todos vocês e suas famílias: a família dele, toda, certamente creu. Quando o oficial do rei chega em casa e sua esposa o vê, oh, que deleite brilha nos olhos daquela mulher. “Nosso querido filho está bem”, diz ela, “ele está tão bem como jamais esteve na vida! Ele não precisa ficar mais na cama, nem para recuperar suas forças, depois dessa febre debilitante. A febre se foi totalmente, e ele está perfeitamente bem. Oh, meu querido marido, que Ser maravilhoso deve ser esse que ouviu as nossas orações e que, mesmo a grande distância, falou às palavras que trouxeram saúde ao nosso filho! Eu creio nele, meu marido; eu creio nele”. Estou certo de que ela deve ter-lhe falado dessa maneira. O mesmo processo que estava em ação em seu marido estava sendo realizado nela também. Vamos pensar agora no filho. Ali vem ele, tão alegre, tão feliz. Seu pai lhe conta tudo sobre a febre, sobre ter ido até o maravilhoso profeta de Caná e o que ele disse — teu filho vive. O filho responde: Pai, eu creio em Jesus. Ele é o Filho de Deus. Ninguém duvida de sua fé. Não era velho demais para ser curado; e não é jovem demais para crer. Havia desfrutado de uma experiência pessoal e especial, mais pessoal e especial até do que a vivida por seus pais. Sentiu em si o poder de Jesus, e não é de admirar que haja realmente crido. O pai se torna ainda mais feliz, por constatar que não será um crente solitário em seu lar: ali estão sua esposa e seu filho também confessando sua fé. Todavia, não chegamos ainda ao fim do assunto. Os servos fiéis, ao seu redor, exclamam: “Não podemos deixar de crer em Jesus também, pois vimos seu filho querido doente e o vimos se recuperar. O poder que o curou só pode ser de Deus”. Um a um, eles seguem a fé de seus patrões. “Eu me sentei junto a esse menino querido”, diz a velha babá, “e não dormia, porque temia que, se adormecesse, poderia encontrá-lo morto quando eu acordasse. Cuidei dele o tempo todo; mas, à sétima hora, vi uma profunda mudança vindo sobre ele, e a febre o deixou. Glória a Jesus!”, exclama a velha senhora. “Nunca vi ou ouvi coisa assim! Isso é o dedo de Deus.” Todos os outros servos pensam da mesma maneira. Que casa feliz! Houve então, certamente, um grande batismo logo depois, quando todos confessaram sua fé em Jesus. Não apenas o filho fora curado, mas curada ficou toda a casa. O pai não sabia, no momento em que fora suplicar por seu filho, que ele mesmo precisava ser salvo. A mãe também provavelmente pensava apenas no filho. Agora, a salvação havia chegado a toda aquela família, e a febre do pecado e da descrença se fora, juntamente com a febre do filho. Que o Senhor possa realizar maravilhas como essa em todas as nossas famílias! Se qualquer um de vocês está sofrendo sob o pesado fardo da tristeza, tenho certeza de que há de receber um alívio tão grande que, quando conversar com sua esposa sobre isso, ela também há de crer em Jesus. Que os filhos queridos dos seus cuidados creiam em Jesus enquanto ainda são jovens ou crianças. Que todos aqueles que pertencem ao seu círculo doméstico venham também a pertencer ao nosso divino Senhor! Concede agora o desejo do teu servo, ó Senhor Jesus, para tua glória! Amém.