E quanto a Israel?

Graça Soberana  •  Sermon  •  Submitted   •  Presented
0 ratings
· 3 views
Notes
Transcript
Romans 9:1–13 ARA
1 Digo a verdade em Cristo, não minto, testemunhando comigo, no Espírito Santo, a minha própria consciência: 2 tenho grande tristeza e incessante dor no coração; 3 porque eu mesmo desejaria ser anátema, separado de Cristo, por amor de meus irmãos, meus compatriotas, segundo a carne. 4 São israelitas. Pertence-lhes a adoção e também a glória, as alianças, a legislação, o culto e as promessas; 5 deles são os patriarcas, e também deles descende o Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre. Amém! 6 E não pensemos que a palavra de Deus haja falhado, porque nem todos os de Israel são, de fato, israelitas; 7 nem por serem descendentes de Abraão são todos seus filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência. 8 Isto é, estes filhos de Deus não são propriamente os da carne, mas devem ser considerados como descendência os filhos da promessa. 9 Porque a palavra da promessa é esta: Por esse tempo, virei, e Sara terá um filho. 10 E não ela somente, mas também Rebeca, ao conceber de um só, Isaque, nosso pai. 11 E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama), 12 já fora dito a ela: O mais velho será servo do mais moço. 13 Como está escrito: Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú.
Meus irmãos, aqueles que veem o jornal têm acompanhado mais um conflito entre Israel e Palestina. E sempre que tais conflitos vêm à tona, perguntas sobre Israel são levantadas. Muitos perguntam, por exemplo, se as profecias bíblicas sobre Israel estão, de alguma maneira, se cumprindo. Se ainda há profecias que dizem respeito ao Israel étnico, que de alguma maneira se cumprem no estado de Israel. Muito por causa de uma influência da teologia dispensacionalista, os evangélicos acabam tendo uma certa simpatia pelo estado de Israel, até mesmo de forma acrítica. Isso porque existe uma certa confusão a respeito de qual é o lugar de Israel na história da redenção.
Tal confusão não é de hoje. Pelo contrário, ela é a razão pela qual Paulo se dedicou nos capítulos 9 a a trazer a tona a questão do papel de Israel na história da redenção. Paulo nos mostrou nos capítulos 1 a 8 que a salvação é pela fé em Jesus, pela graça e não pela lei. E sabemos que os judeus confiavam na lei e na sua etnia para a sua salvação. Além disso, a maioria dos judeus não creu em Jesus Cristo. O fato é que os judeus, como povo, acabaram a maior parte deles de fora do reino de Deus. O Messias veio até eles, mas eles falharam em segui-lo. Eles tinham as profecias e obedeciam boa parte da lei durante o período intertestamentário, mas ainda assim falharam em reconhecer o próprio Cristo que veio a eles. E assim, ficaram de fora do Reino.
Diante disso, alguém poderia perguntar: mas e as promessas de salvação feita aos israelitas e aos judeus? A promessa de Deus falhou? Elas foram revogadas? Os israelitas estão excluídos para sempre do reino? Ainda há salvação para Israel? Qual o lugar de Israel na história da redenção? Alguns judeus, mais agitados diante da exposição tão enfática do evangelho que Paulo fez ao longo da carta aos romanos, talvez digam ainda: Será que Deus é justo em fazer assim? Será que Deus é justo ao excluir Israel e salvar gentios pela graça?
Talvez para nós essa questão seja um tanto teórica. Afinal, é bem provável que eu e você conheçamos poucos judeus. Nós acompanhamos de longe a guerra da nação-estado de Israel contra o Hamas. Contudo, para os leitores de Paulo, membros de uma igreja que era em metade judaica, esse assunto era bem pessoal. Afinal, se tratava do seu povo de sangue. O próprio Paulo era judeu. Mas talvez nós possamos nos identificar: alguns de nós temos familiares e amigos que cresceram na igreja e desfrutaram de muitos dos privilégios de estar junto do povo de Deus, mas que agora se afastaram e rejeitam o evangelho. E talvez nos perguntemos: há esperança para eles? Será que tudo foi perdido?
Meus irmãos, o fato é que Israel falhou. Mas há duas lições que podemos aprender com o fracasso de Israel.

Um povo privilegiado pode falhar (v. 1-5)

A primeira lição que aprendemos aqui é que um povo privilegiado pode falhar. Privilégio não garante salvação. Os israelitas tiveram toda a revelação, todo o privilégio que você possa imaginar, e mesmo assim fracassaram em seu relacionamento com Deus.
Veja, o texto começa com um profundo lamento de Paulo. E ele faz um grande esforço apra mostrar que seu lamento é sincero. Ele diz: "digo a verdade em Cristo". Isto é, ele tem um relacionamento tão profundo com aquele que é o Filho de Deus e que agora vive nele que, na presença da sua santidade, é impossível mentir. Paulo também diz: "testemunhando comigo, no Espírito Santo". Isto é, o Espírito que vive nele o constrange e é mais uma garantia de que ele falará a verdade. E ele ainda diz: "a minha própria consciência". Isto é, aquela parte dentro de nós que aponta o que é correto e o que é errado. Paulo não está traindo a sua consciência, ele está falando a verdade.
E qual é a verdade que Paulo diz? "Tenho grande tristeza e incessante dor no coração". Ele lamenta. Ele está profundamente consternado. E a razão do seu lamento é o fato de que, diante de toda a exposição do evangelho que ele fez ao longo da carta, a maioria dos seus compatriotas judeus ficaram de fora do evangelho. Nós vimos em Rm 2 que os judeus estão perdidos por causa da sua confiança nas obras e no seu privilégio como nação. Mas a salvação é pela graça mediante a fé, e não por obras ou por etnia. E boa parte dos judeus rejeitaram a fé no Messias e, assim, ficaram de fora do Reino.
Paulo lamenta a tal ponto que diz que "desejaria ser anátema, separado de Cristo, por amor de seus irmãos". Veja, aqui Paulo não está dizendo literalmente que ele ora para que Deus o rejeite e salve os israelitas no lugar dele. O verbo "desejaria" está no subjuntivo, expressando uma hipótese. Lembre-se que ele acabou de declarar, Em Rm 8.39, que nada "poderá separar-nos do amor de Cristo". Logo, trata-se de algo impossível, já que Cristo o salvou. O que Paulo está demosntrando aqui é que ele faria qualquer coisa, se isso pudese trazer os seus irmãos de sangue a Cristo.
Meus irmãos, essa disposição de Paulo nos lembra a atitude de uma figura importante do Antigo Testamento: a do próprio Moisés. Lembre-se lá de Êxodo 32, quando o povo de Israel pecou contra o Senhor. Eles fizeram para si um bezerro de ouro. Então a ira do Senhor se levantou contra eles. Moisés decidiu então ir a falar com o Senhor e disse: "perdoa-lhes o pecado; ou, se não, risca-me, peço-te, do livro que escreveste" (Ex 32.32).
Exodus 32:32 ARA
32 Agora, pois, perdoa-lhe o pecado; ou, se não, risca-me, peço-te, do livro que escreveste.
Moisés se dispôs a ser um substituto pelo seu povo, prefigurando o próprio Cristo, que morreu pelo seu povo. E aqui vemos Paulo fazendo o mesmo. Um judeu que lesse o texto de Paulo imediatamente entenderia a referência. Paulo realmente ama o seu povo judeu.
Mas por que Paulo se esforça tanto para mostrar isso? Por que ele quer tanto demonstrar esse lamento pelo seu povo? Pense na história de Paulo. Ele era um judeu, fariseu, membro do sinédrio. Mas então teve o encontro com Jesus no caminho de Damasco, e a partir daí tornou-se um cristão, e posteriormente, um missionário para os gentios. Paulo se esforçava para ver o evangelho avançando entre os gregos, romanos e macedônios. E ele defendia que os gentios fossem reconhecidos como legítimos membros do povo da aliança pelos judeus. Agora, pense num judeu que assistiu a tudo isso, e que talvez pudesse pensar que Paulo tornou-se um partidário dos gentios, um anti-judeu. Talvez Paulo tenha renegado suas origens e não se importa mais com seus compatriotas. Então Paulo deixa claro que ele deseja ver seu povo convertido e servindo a Cristo.
Paulo tem um coração missionário. Ele está disposto a ir aos lugares mais profundos para salvar seus irmãos. Hoje existem missionários dispostos a ir onde há perseguição e miséria para trazer povos a Cristo. Paulo é um desses missionários, que foi tantas vezes açoitado e expulso de cidades. E aqui ele mostra que ele está disposto a fazer o mesmo por aqueles que são da sua etnia. E se para salvar alguém eu tiver de morrer? Que seja, vamos lá. Enquanto isso muitos deixam de se declarar cristão na escola porque tem vergonha. Devemos aprender um pouco com o espírito missionário de Paulo.
Mas há mais uma razão pela qual Paulo lamenta profundamente a incredulidade dos judeus. É o fato de que eles são um povo tremendamente privilegiado. Eles foram um povo muito abençoado por Deus. Eles têm um lugar importante na história da redenção e isso é inegável.
Os judeus são israelitas (v. 4). Ok, talvez você pense, não é a mesma coisa? Não, não é. Israel é o nome que é dado ao povo de Deus, ao povo da aliança, aos filhos de Jacó que receberam a promessa e a revelação de Deus. É um nome que remete às suas vantagens e bênçãos como povo de Deus. Já "judeu" tem a ver com a unidade política nacional daquela época. Os judeus são os filhos de Judá, que depois da divisão que aconteceu no tempo de Roboão, tornou-se um estado independente e que, agora, era submetido ao império romano. Ou seja, Paulo está enfatizando com esse nome, "israelitas", os privilégios que aquele povo recebeu ao longo da história.
Paulo continua: "pertence-lhes a adoção", isto é, eles são o povo que Deus adotou e tomou para si como seus filhos. Embora essa adoção não seja tão plena ainda como aquela que nós temos em Cristo, o Senhor tinha uma relação especial com Israel. "E também a glória". Pense em quantas vezes o Senhor não manifestou sua presença e sua glória, como nuvem de fogo, como a fumaça que enchia o templo, a arca da aliança, os santos dos santos.
"As alianças". Deus fez alianças com Abraão, Moisés, Davi, e com essa aliança temos as promessas de uma terra, uma grande descendência e um Rei eterno. "A legislação", isto é, a lei. Israel era distinto de outras nações porque eles tinham os preceitos de Deus que lhes revelava a sua vontade.
"O culto". Somente em Jerusalém você poderia adorar a Deus propriamente. Em todo o mundo não havia adoração verdadeira, apenas entre os israelitas. "E as promessas". Aquele povo ouviu dos profetas todas as promessas que diziam respeito à salvação e restauração futura por meio de um Messias. "Deles são os patriarcas". Abraão, Isaque, Jacó, Moisés, Davi, Salomão, Ezequias, Josias, e tantos outros homens de profunda piedade e devoção eram desse povo.
"Também deles descende o Cristo". De todos os privilégios, o próprio Verbo andou entre eles. Jesus se encarnou e nasceu como um judeu, um descendente de Davi. Quando Paulo diz "segundo a carne", enfatiza que Cristo, em sua natureza humana, era um descendente natural dos judeus. Ele tinha sangue judeu nas veias. Mas esse mesmo Cristo era de uma só substância com o Pai. Ele é o Deus bendito e eterno. Que privilégio maior esse povo poderia ter que o próprio Verbo encarnar entre eles?
Contudo, tais privilégios só tornam ainda mais razão de lamento o fato de esse povo no final ter permanecido em sua incredulidade e terem rejeitado Messias.
Meus irmãos, Israel tem um papel importante na história da redenção? É claro que tem. É o povo que Deus formou para trazer a sua revelação. É o povo que Deus preparou, a quem ele deu as leis e anunciou as promessas. É o povo que tinha os sacrifícios, as cerimônias, as festas, tudo que apontava para a obra que o Messias viria realizar. É o povo que tinha os profetas. Não podemos negar o fato de que esse povo teve um papel indispensável, insubstituível, na história de Deus.
Contudo, como veremos, as promessas de Deus não se cumprem no Israel étnico, mas no Israel espiritual, no povo de Deus que é formado por judeus e gentios, na igreja. Meus irmãos, isso não quer dizer que menosprezamos os judeus. De jeito nenhum. Isso não quer dizer que não temos compaixão e desejo de ver os israelitas, mesmo esses de hoje, rendidos aos pés do Senhor Jesus. Jesus era judeu. Os apóstolos também. Havia uma igreja forte em Jerusalém, mas que desapareceu após a destruição em 70 d.C. Devemos reconhecer a importância que eles tiveram.
Contudo, eles perderam tal privilégio por causa de sua incredulidade. E que isso seja uma lição para nós. Privilégio não garante salvação. Nascer na igreja não garante salvação. Ser de uma família de presbiterianos de quarta geração não garante salvação. Fazer parte de uma denominação histórica, com pessoas piedosas no passado, com uma rica confessionalidade, mas que não é mais vivida nem preservada, não garante salvação.
Meus irmãos, olhem, por exemplo, para a história da igreja mãe da IPB, da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América. É uma denominação onde passaram homens piedosos como Charles Hodge. Ela plantou igrejas pelo mundo inteiro. Ela formou teólogos brilhantes. Ela enviou o missionário Ashbel Green Simonton, dentre outros, ao Brasil. Contudo, em algum momento muitos de seus pastores abandonaram a confessionalidade e começaram, por causa da sua incredulidade, a questionar doutrinas como a Trindade e a ressurreição de Cristo. Então eles fizeram uma declaração, a Declaração de Auburn, na qual defendiam que cada pastor pudesse crer e pregar o que quisesse sobre tais temas. Eles removeram o evangelho do cerne de sua teologia e, assim, toda a herança foi jogada no lixo.
Meus irmãos, não podemos confiar em nada mais para a nossa salvação, a não ser os méritos de Cristo que conquistamos pela fé. Os judeus falharam por preferirem confiar em suas obras, em seu sistema religioso, em sua etnia, em sua herança histórica, cultural, étnica. Mas nada disso iria salvá-los. Talvez você conheça pessoas que não deixam a sua religião idólatra por causa da tradição familiar. Preferem confiar em sua tradição, ainda que errada, do que seguir o que a Bíblia diz.
Ou pessoas que não têm compromisso com Cristo mas que cresceram na igreja, tem pais cristãos, e permanecem tranquilos por conta de sua história e de seu passado, mas a sua confiança não está em Cristo. Talvez você tenha um belo passado. Talvez você tenha tido muitas bênçãos. Uma boa família, uma boa trajetória. Mas sem Cristo, você não tem nada.

A palavra de Deus não falha (v. 6-13)

Então a primeira lição é esta: privilégio não salva. Um povo privilegiado pode falhar em colocar sua confiança no evangelho. E a segunda lição é que a palavra de Deus não falha. Nós falhamos, Deus não.
A questão que Paulo responde aqui é esta: se Deus fez promessas a Israel, mas no final eles foram excluídos, isso quer dizer que a palavra de Deus falhou? E as alianças? E as garantias? E as profecias quanto ao futuro de Israel? Deus abandonou o seu povo?
Paulo responde: "não pensemos que a Palavra de Deus haja falhado". Aqui é enfático: nem passe pela sua cabeça tal ideia. A palavra de Deus é infalível. O que ele decretou, irá cumprir. Mas e quanto a Israel? Paulo então afirma uma ideia que ele já vem preparando nos capítulos anteriores: nem todo os de Israel são, de fato, israelitas. Isto é, a aliança, as promessas, que Deus fez a Israel não são para o Israel étnico, mas para o verdadeiro Israel, o Israel espiritual, o povo eleito de Deus.
Veja que Paulo já tem preparado o seu leitor para essa verdade. Em Rm 4.12, Paulo afirma que os verdadeiros herdeiros de Abraão são aqueles que
Romanos 4.12 (ARA)
12 […] andam nas pisadas da fé que teve Abraão, nosso pai, antes de ser circuncidado.
São os que creem, esses são a descendência de Abraão. Agora, Paulo torna isso ainda mais claro: existe sim um Israel étnico, um povo, uma raça. Mas há um Israel espiritual, a quem realmente é destinado o cumprimento da promessa de Deus. Existem aqueles que fizeram parte de um povo visível de Deus, o povo de Israel. Mas há aqueles indivíduos que realmente têm uma união espiritual com Cristo, e que herdam as promessas da salvação. Esse é o verdadeiro Israel.
Irmãos, temos de diferenciar o que é o Israel étnico do Israel espiritual. Há uma nação, um povo, uma etnia que se chama Israel. Eles foram dispersados pelo mundo após a destruição de Jerusalém. Eles foram vítimas do holocausto. Eles formaram um novo estado localizado no Oriente Médio. Esse é o Israel étnico, os judeus. Deus tem planos para os judeus? Certamente. Pois a intenção, o propósito de Deus, é formar um povo composto por judeus e gentios. Então é da vontade de Deus que judeus sejam evangelizados e creiam em Jesus.
Contudo, as promessas de bênção, de salvação, de uma rica herança, de ser luz para os povos, de habitação de Deus em seu meio, não são para o Israel como etnia, mas sim para o Israel espirutual, que hoje se manifesta na igreja. A igreja é o Israel de Deus (Gl 6.16), o povo que é unido espiritualmente com Cristo e que goza das bênçãos da salvação. As profecias do Antigo Testamento se cumprem espiritualmente no Israel espiritual (Gl 4.29).
Galatians 6:16 ARA
16 E, a todos quantos andarem de conformidade com esta regra, paz e misericórdia sejam sobre eles e sobre o Israel de Deus.
Galatians 4:29 ARA
29 Como, porém, outrora, o que nascera segundo a carne perseguia ao que nasceu segundo o Espírito, assim também agora.
Então Paulo traz duas evidências para comprovar o seu ponto. A primeira evidência está no caso dos filhos de Abraão. Sabemos que Abraão teve dois filhos de sangue, Isaque e Ismael. Mas Deus prometeu uma descendência a Abraão, e essa descendência, essa semente, vem de Isaque, não de Ismael. "Em Isaque será chamada a tua descendência" (Gn 21.12). Ismael era filho legítimo, de sangue, com todos os direitos. Mas Isaque era o herdeiro da promessa. É dele que vem a santa semente, o cumprimento da promessa de Deus. O que é que define quem é descendência de Abraão? É o sangue? Não, mas o próprio Deus é quem escolhe o herdeiro de sua promessa.
E isso se evidencia também no caso dos filhos de Isaque e Rebeca, Esaú e Jacó. Rebeca concebeu de um só, isto é, ela teve de Isaque dois filhos numa só gravidez, uma gravidez de gêmeos. Nós vemos essa história lá em Gênesis 25. E antes mesmos dos filhos nascerem, antes de eles praticarem qualquer coisa, antes de eles crerem ou de realizarem qualquer obra, Deus já havia decidido e dito à Rebeca: "O mais velho será servo do mais moço" (Gn 25.23).
Isso se cumpre na história de Esaú e Jacó. Nós vemos que Esaú era o mais velho, mas Jacó recebeu a bênção de Isaque, e com ele Deus fez uma aliança, e mudou o seu nome para Israel, e o povo de Israel são os seus filhos. E isso se cumpre também na descendência de Esaú e Jacó. No v. 13, Paulo faz uma citação de Malaquias 1.2-3. Ali o texto diz respeito aos filhos de Esaú, aos edomitas. Os edomitas eram descendentes de Esaú e, portanto, de Isaque e Abraão. Contudo, Deus não os escolheu, apesar do seu laço de sangue.
Mas se não é o sangue, não é a descendência natural, qual o critério para fazer parte do Israel de Deus? No v. 11 Paulo deixa já nos diz o que ele irá explicar ao longo de todo o capítulo: é o propósito de Deus quanto a eleição. É Deus quem escolhe quem fará parte do seu povo. É Deus que, antes da fundação do mundo, na eternidade passada, escolheu aqueles a quem irá regenerar, justificar, santificar e glorificar (Rm 8.29-30).
Romans 8:29–30 ARA
29 Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. 30 E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.
Deus predestinou livremente os que farão parte do seu povo. E isso preserva o fato de que a salvação é totalmente pela graça. Deus não escolheu com base num critério como raça, talento, habilidade, inteligência, beleza. Deus não escolheu com base em obras ou até mesmo na resposta que eles dariam a evangelho. Trata-se de uma livre escolha de Deus, com base unicamente em sua vontade. Ele escolheu, e os que ele escolheu ele chamou chamados. Eles ouviram o evangelho e foram chamados pelo Espírito, e creram no evangelho, e assim o propósito de Deus prevaleceu.
Meus irmãos, essa é a minha e a sua história. Se você crê no Senhor Jesus, talvez você tenha a impressão de que foi você que o escolheu. De que um dia você tomou uma decisão de segui-lo. Mas saiba que na verdade, se ele não o amasse primeiro, se ele não mudasse o seu coração, se o seu nome não estivesse escrito no livro da vida, você nem iria desejá-lo. Seu coração teve de ser mudado. Deus o amou antes da fundação do mundo. Não com base em sua resposta ou obediência, mas com base unicamente em seu soberano propósito.
Meus irmãos, a palavra de Deus é infalível. As promessas de Deus não falham, elas se cumprem nos eleitos de Deus. O que o Senhor decretou irá se cumprir. Aqueles que o Senhor elegeu serão salvos mediante a pregação do evangelho e responderão com fé.
Talvez em algum momento você já tenha pensado: como é possível que aquela pessoa com uma vida tão regrada, tão exemplar, de bom histórico, boa família, permaneça em incredulidade? E como é possível que aquela pessoa que era um caso perdido, dissoluta, viciada, seja tão repentinamente tomada pelo evangelho e se torne um crente?
É Deus quem forma o seu povo. É ele quem elege, quem chama, quem os ajunta. É Ele quem está formando essa nova comunidade. E não é com base em raça, em etnia, em status social, se é rico ou pobre, se é educado ou simples. É com base unicamente em seu amor incondicional, somente pela graça. Isso nos deixa com algumas perguntas. Algumas responderemos ao longo das próximas mensagens. Mas algumas coisas já podemos refletir já.
Primeiro, qual é a utilidade, o propósito, da doutrina da eleição? Ela não tem como propósito que você tente adivinhar quem é ou não eleito de Deus, ou que você desista de pregar para seus familiares e amigos. Pelo contrário. Não devemos presumir quem são os eleitos de Deus. Os israelitas confiavam em sua etnia e sua história, mas agora sabemos que Deus salva quem ele quer. Devemos pregar a todos, e por meio da pregação do evangelho o Senhor salvará os seus eleitos.
Segundo, essa doutrina não deve nos tornar orgulhosos. Pelo contrário, ela deve nos fazer humildes. Não somos salvos por nossa obediência, por nossa história, nem mesmo por nossa decisão. Somos salvos porque Deus nos escolheu e nos atraiu a si. Não somos melhores que aqueles que rejeitam o evangelho. A única diferença entre eles e nós é que nós fomos alvos do amor de Deus.
Terceiro, talvez você não ache isso justo. Como pode Deus escolher uns e não escolher outros? Como pode pessoas tão boas, tão corretas, não serem salvas por não terem o evangelho? Bem, se você pensa assim, é porque tem feito a pergunta errada. Você precisa aprender a fazer a pergunta certa. E a pergunta certa é: como pode eu, tão pecador, imundo, merecedor do inferno, ter sido salvo? Eu não teria crido no evangelho, eu não teria desejado a Deus, se ele primeiro não tivesse operado no meu coração. Como pode ele não ter me lançado no inferno?
Ao invés de se preocupar com a questão de quem ficou de fora, você deve se maravilhar com o fato de você, que creu no Senhor Jesus, tenha ficado do lado de dentro. Os israelitas ficaram de fora e nós entramos. Isso é graça. Maravilhe-se, alegre-se! Louvado seja o Senhor. Amém.
Related Media
See more
Related Sermons
See more