(Êxodo 30:1-10; 34-38) O Altar do Incenso e da Oração

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A experiência dos Sacerdotes no Tabernáculo era completamente sensorial. Havia muitas coisas pra ver: luzes, cores, utensílios, cortinas; coisas pra ouvir como os sinos das túnicas; e havia também coisas pra cheirar: os sacrifícios do altar no átrio, e do lado de dentro, no Santo Lugar, o incenso, muito cheiroso, com o cheio da fumaça que subia do altar de ouro.
O altar de ouro do incenso foi a última peça da tenda. Só depois da Arca da aliança, da mesa dos pães da proposição e do Candelabro, foi intalado o altar de ouro do incenso. Como ele era?
Êxodo 30.1–5 “Farás também um altar para queimares nele o incenso; de madeira de acácia o farás. Terá um côvado de comprimento, e um de largura (será quadrado), e dois de altura; os chifres formarão uma só peça com ele. De ouro puro o cobrirás, a parte superior, as paredes ao redor e os chifres; e lhe farás uma bordadura de ouro ao redor. Também lhe farás duas argolas de ouro debaixo da bordadura; de ambos os lados as farás; nelas, se meterão os varais para se levar o altar. De madeira de acácia farás os varais e os cobrirás de ouro.”
Tinha mais ou menos 45 por 45 centímetros e 90 centímetros de altura. Como os outros utensílios da tenda, era feito de madeira de acácia coberto de ouro puro. Como o altar de bronze no átrio, o altar do incenso era quadrado e tinha um chifre em cada ponta. E como as outras peças, também foi planejado para ser transportado. Tinha argolas nos seus lados para o encaixe das varas. E onde o altar ficava?
Êxodo 30.6 “Porás o altar defronte do véu que está diante da arca do Testemunho, diante do propiciatório que está sobre o Testemunho, onde me avistarei contigo.”
Portanto, o altar do incenso ficava no centro do Santo Lugar, entre a mesa do pão da propiciação e o candelabro de ouro. Ficava próximo ao véu que separava o Santo Lugar do Santo dos Santos. Em outras palavras, ficava diretamente em frente à arca da aliança, o trono real de Deus na terra. Havia uma cortina grossa que separava o altar do incenso da presença de Deus, mas o altar estava voltado naquela direção. Ficava próximo ao propiciatório – tão próximo que, apesar de ficar no Santo Lugar, nos dias de Salomão ele era chamado “o altar que estava diante do Santo dos Santos” (1Rs 6.22; cf. Hb 9.3-4).
Só o Sumo Sacerdote podia entrar no Santo dos Santos, onde ficava a Arca da aliança, e isso uma vez ao ano. Mas os Sacerdotes, que só podiam ir até o Santo Lugar, quando ficavam diante do Altar do Incenso, ficavam na direção da Arca, diante da Face de Deus. E o que eles faziam ali?
Êxodo 30.7–9 “Arão queimará sobre ele o incenso aromático; cada manhã, quando preparar as lâmpadas, o queimará. Quando, ao crepúsculo da tarde, acender as lâmpadas, o queimará; será incenso contínuo perante o Senhor, pelas vossas gerações. Não oferecereis sobre ele incenso estranho, nem holocausto, nem ofertas de manjares; nem tampouco derramareis libações sobre ele.”
Queimar incenso no altar de ouro fazia parte da rotina diária dos sacerdotes. Toda manhã, eles cuidavam do candelabro de ouro, aparavam os pavios e completavam o óleo. Ao mesmo tempo, queimavam incenso perfumado no altar. Essa rotina se repetia ao cair da noite, quando os sacerdotes acendiam suas lâmpadas e faziam outro sacrifício de incenso. Isso era parte perpétua da adoração sacerdotal, algo que os sacerdotes faziam manhã após manhã e noite após noite, de geração em geração.
Era apenas para incenso. E o incenso só poderia ser feito de uma maneira, e aquele só podia ser usado ali e em mais nenhum outro lugar.
Êxodo 30.34–38 “Disse mais o Senhor a Moisés: Toma substâncias odoríferas, estoraque, ônica e gálbano; estes arômatas com incenso puro, cada um de igual peso; e disto farás incenso, perfume segundo a arte do perfumista, temperado com sal, puro e santo. Uma parte dele reduzirás a pó e o porás diante do Testemunho na tenda da congregação, onde me avistarei contigo; será para vós outros santíssimo. Porém o incenso que fareis, segundo a composição deste, não o fareis para vós mesmos; santo será para o Senhor. Quem fizer tal como este para o cheirar será eliminado do seu povo.”
Pra que você entenda a santidade desse rito, desse incenso, basta lembra da história de Nadabe e Abiú. Foi aqui, oferecendo fogo estranho nesse altar, que ele foram fuminados.
Significado
Tela de proteção
Mas qual era o significado dessas coisas?
Primeiro, esse altar no ajuda a entender aquela relação que a gente fez lá no início do Tabernáculo com o Monte Sinai. O Sinai também funcionava como um Templo, que era dividido em três partes, o pé do monte, onde ficou o povo, o meio do monte, onde ficaram os sacerdotes e anciãos, e o cume do monte, onde foi Moisés, como Sumo Sacerdote. Assim era o Tabernáculo com suas três fases: o átrio, o Santo Lugar e o Santo dos Santos.
Michael Morales diz: “Quando Moisés subiu ao Sinai, a “nuvem” cobria o monte, e depois de seis dias o SENHOR chamou Moisés de dentro da nuvem e lemos que Moisés entrou no meio da nuvem e subiu o monte (Êx 24:15-18). Entendida corretamente, a glória de Deus é manifestada pelo fogo. Provavelmente, então, devemos entender a nuvem coom sendo um véu cobrindo a glória de Deus, o que explica como a nuvem era vista de dia, m as apenas o fogo era visto à noite (através da nuvem). Por tanto esconder quanto revelar, a nuvem é um símbolo poderoso da presença divina. É porque não se pode ver Deus e viver que a nuvem é uma tela protetora, um escudo, para aquele que sobe até a presença divina.
Vemos essa função também no Altar do Incenso, primeiramente, por causa da sua localização dentro do Tabernáculo: “diante da Arca do Tetemunho”. Aí, o incenso do altar partilha a sua fragrância em conjunto com o véu, cobrindo o local de encontro da Presença Divina. Em segundo lugar, nas instruções para que apenas o Sumo Sacerdote tenha permissão para entrar no Santo dos Santos no Dia da Expiação anual, ele deve levar um incensário cheio de brasas do fogo do Altar, juntamente com um punhado de incenso aromático bem moído, e criar assim uma “nuvem de incenso” para cobrir o propiciatório - o local de encontro onde Deus aparece - “para que não morra” (Levítico 16.12–13 “Tomará também, de sobre o altar, o incensário cheio de brasas de fogo, diante do Senhor, e dois punhados de incenso aromático bem moído e o trará para dentro do véu. Porá o incenso sobre o fogo, perante o Senhor, para que a nuvem do incenso cubra o propiciatório, que está sobre o Testemunho, para que não morra”). O véu da cortina claramente deve ser substituído pelo véu da nuvem do incenso, para que Arão, mesmo como sumo sacerdote consagrade de Israel - não veja a face de Deus e morra. Assim, a necessidade de Arão da nuvem dentro do Santo dos Santos corresponde exatamente à necessidade de Moisés da nuvem no cume do monte Sinai.
Altar de Oração
O altar do Incenso era um altar de oração. Era o altar em que o sacerdote se colocava “perante o Senhor” (Lv 16:18). Onde o sacerdote se colocava em oração dentro da Tenda. Em diversas bíblicas podemos compreender como o cheiro e a fumaça do incenso representam também as orações do povo de Deus.
Salmo 141.1–2 “Senhor, a ti clamo, dá-te pressa em me acudir; inclina os ouvidos à minha voz, quando te invoco. Suba à tua presença a minha oração, como incenso, e seja o erguer de minhas mãos como oferenda vespertina.”
Lucas 1.8–11 “Ora, aconteceu que, exercendo ele diante de Deus o sacerdócio na ordem do seu turno, coube-lhe por sorte, segundo o costume sacerdotal, entrar no santuário do Senhor para queimar o incenso; e, durante esse tempo, toda a multidão do povo permanecia da parte de fora, orando. E eis que lhe apareceu um anjo do Senhor, em pé, à direita do altar do incenso.”
Zacarias estava de plantão no templo. Pela providência de Deus, coube a ele queimar o incenso no altar de ouro. Enquanto Zacarias se preparava para fazer sua oferta, uma multidão se reuniu do lado de fora para orar. Isso acontecia todos os dias no templo, de manhã e no fim da tarde. Ao mesmo tempo em que o incenso era ofertado no Santo Lugar, o povo se encontrava do lado de fora, no átrio, para orar. O sacerdote também orava. Sabemos disso porque, quando o anjo apareceu a Zacarias, ele disse: “Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida” (v. 13a). A hora de ofertar incenso era uma hora de interceder. Enquanto o povo orava e enquanto o sacerdote orava pelo povo, o incenso simbolizava suas orações, que subiam ao trono de Deus.
Apocalipse 5.8 “e, quando tomou o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um deles uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos,”
Apocalipse 8.3–4 “Veio outro anjo e ficou de pé junto ao altar, com um incensário de ouro, e foi-lhe dado muito incenso para oferecê-lo com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro que se acha diante do trono; e da mão do anjo subiu à presença de Deus a fumaça do incenso, com as orações dos santos.”
Por que Deus pode ouvir nossas orações?
Antes que o incenso pudesse ser ofertado, algo muito importante precisava acontecer: o pecado precisava ser expiado. O altar de incenso – aquele doce altar de oração – precisava ser consagrado com sangue sacrificial. Deus disse a Moisés:
Êxodo 30.10 “Uma vez no ano, Arão fará expiação sobre os chifres do altar com o sangue da oferta pelo pecado; uma vez no ano, fará expiação sobre ele, pelas vossas gerações; santíssimo é ao Senhor.”
É impressionante como essa cerimônia específica estava associada e fundamentada na expiação do pecado. Era porque o pecado era perdoado que as orações eram ouvidas. O
Ryken: A oferta pelo pecado era o sacrifício de sangue de um animal para expiar o pecado. Uma vez ao ano – no Dia da Expiação – essa oferta era feita por todo o povo de Deus no grande altar de bronze, no átrio. Quando o animal era sacrificado, seu sangue era cuidadosamente coletado numa bacia e levado para dentro do tabernáculo. Parte do sangue era aspergida sobre o trono da misericórdia, no Santo dos Santos, mas parte era aspergida também no altar do incenso. O livro de Levítico explica como isso era feito. Primeiro o sumo sacerdote aspergia o sangue no trono da misericórdia, mostrando que os pecados de Israel estavam pagos. “Então”, Deus disse, “sairá ao altar, que está perante o Senhor, e fará expiação por ele. Tomará do sangue do novilho e do sangue do bode e o porá sobre os chifres do altar, ao redor. Do sangue aspergirá, com o dedo, sete vezes sobre o altar, e o purificará, e o santificará das impurezas dos filhos de Israel” (16.18-19). Esse ato mostrava que nem mesmo nossas orações são aceitáveis a Deus se nossos pecados não forem perdoados. Para que o altar pudesse ser usado para orações, ele precisava ser consagrado com sangue sacrificial. Isso demonstra que o fundamento do acesso a Deus por meio da oração era o sangue que expiava o pecado.
É interessante que o Altar do Incenso é chamado de altar, como o Altar de bronze no átrio, onde eram oferecidos os sacrifícios. Isso estabelece uma conexão entre o Altar do Incenso e o Altar dos Sacrifícios.
Havia, então, uma semelhança em sua forma. Além disso, os dois eram usados na mesma hora do dia. Lembre-se que os sacerdotes ofereciam incenso ao amanhecer e ao anoitecer. E outra coisa importante acontecia ao mesmo tempo, tanto de manhã quanto de noite: os sacerdotes ofereciam um carneiro sacrificial no átrio. Esses rituais religiosos diários eram sincronizados. Portanto, havia uma conexão íntima entre os dois altares, tanto em sua forma quanto em sua função. A conexão entre os dois altares servia como lembrete diário de que a vida de oração depende de um sacrifício pelo pecado. O que nos garante um lugar diante do trono da graça de Deus é o sangue expiatório que foi derramado por nosso pecado. É por isso que Deus ouve nossas orações.
Ainda mais significativo é você saber que você não somente pode orar porque um sacrifício foi oferecido em seu lugar, mas esse mesmo sacrifício também ora por você. Jesus Cristo é o nosso Sumo Sacerdote e fiel intercessor de seu povo. Quando Jesus morreu ele estava abrindo o caminho pra que você se achegasse a Deus, ou seja, pra que você pudesse orar:
Hebreus 10.19–20 “Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne,”
Isso explica porque nós oramos “em nome de Jesus”. E depois de morrer e abrir o caminho, Cristo está diante do Pai levando nossas orações até ele e intercedendo por nós.
Hebreus 7.25 “Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles.”
Hebreus 9.24 “Porque Cristo não entrou em santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para comparecer, agora, por nós, diante de Deus;”
Veja o privilégio que foi conquistado pra você. Você entende o preço que foi pago pra que você pudesse orar? Entende o privilegio que é estar diante da face do Deus vivo, no Santo dos Santos? Como podemos desprezar uma vida de oração? Como podemos não orar todos os dias? Como podemos contentar com uma vida superficial de oração?
1Tessalonicenses 5.16–18 “Regozijai-vos sempre. Orai sem cessar. Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.”
Lloyd Jones, um ministro presbiteriano do século 20, que abandou a carreira médica para se tornar pastor, e fez muito pelo reino de Deus, sendo um dos pregadores mais conhecidos daquele século, escritos prolífico, numa entrevista perguntaram a ele o que ele teria feito diferente, ou o que ele se arrepende de ter feito, e ele respondeu: Eu gostaria de ter orado mais. Precisamos orar mais.
Um hino de John Newton começa com um convite para orar, baseado naquilo que os sacerdotes costumavam fazer no tabernáculo:
Aproxima-te, minha alma, do trono da misericórdia Onde Jesus responde as orações; Lá, prostra-te humildemente aos seus pés, Pois lá ninguém perece.
Mas o que nos dá o direito de ir a Deus em oração? Apenas a expiação que Jesus fez por nossos pecados ao morrer na cruz. Assim, Newton encerra louvando a Cristo por sua obra salvadora:
Ó amor milagroso! Sangrou e morreu, Carregou a cruz e a vergonha, Para que pecadores culpados como eu Pudéssemos invocar teu nome gracioso!
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