Deus é justo ao escolher pessoas?

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Romans 9:14–23 NAA
14 Que diremos, então? Que Deus é injusto? De modo nenhum! 15 Pois ele diz a Moisés: “Terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e terei compaixão de quem eu tiver compaixão.” 16 Assim, pois, isto não depende de quem quer ou de quem corre, mas de Deus, que tem misericórdia. 17 Porque a Escritura diz a Faraó: “Foi para isto mesmo que eu o levantei, para mostrar em você o meu poder e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra.” 18 Logo, Deus tem misericórdia de quem quer e também endurece a quem ele quer. 19 Mas você vai me dizer: “Por que Deus ainda se queixa? Pois quem pode resistir à sua vontade?” 20 Mas quem é você, caro amigo, para discutir com Deus? Será que o objeto pode perguntar a quem o fez: “Por que você me fez assim?” 21 Será que o oleiro não tem direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro para desonra? 22 Que diremos, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos de ira, preparados para a destruição, 23 a fim de que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que de antemão preparou para glória?
Irmãos, estamos estudando Romanos 9, e esse é o capítulo na Bíblia que mais trata da doutrina da eleição. Essa doutrina deixa muita gente de cabelo em pé. Joel Beeke certa vez disse que essa doutrina é fácil de entender, mas difícil de engolir. Porque ela é clara na Escritura. Romanos 9, Efésios 1, dentre outros textos, a expõe claramente. E essa doutrina afirma que Deus escolheu aqueles a quem ele salvaria antes da fundação do mundo. Como Paulo afirma claramente:
2 Thessalonians 2:13–14 NAA
13 Mas devemos sempre dar graças a Deus por vocês, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus os escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade. 14 Foi para isso que também Deus os chamou mediante o nosso evangelho, para que vocês alcancem a glória de nosso Senhor Jesus Cristo.
Jesus também expôs essa doutrina, em textos como Jo 5.21; 6.65; 10.27; 15.16:
John 5:21 NAA
21 Pois assim como o Pai ressuscita e vivifica os mortos, assim também o Filho vivifica aqueles a quem quer.
John 6:65 NAA
65 E prosseguiu: — Por causa disto é que falei para vocês que ninguém poderá vir a mim, se não lhe for concedido pelo Pai.
John 10:27 ARA
27 As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem.
John 15:16 NAA
16 Não foram vocês que me escolheram; pelo contrário, eu os escolhi e os designei para que vão e deem fruto, e o fruto de vocês permaneça, a fim de que tudo o que pedirem ao Pai em meu nome, ele lhes conceda.
Que a Bíblia afirma tal doutrina, isso é inegável. É preciso muito malabarismo para negar o que a Bíblia nos traz tão claramente. Grandes teólogos da história como Agostinho, Tomás de Aquino, Martinho Lutero, João Calvino, dentre outros, creram na doutrina da eleição. De modo que não gastarei muito tempo aqui para refutar as interpretações tortas que alguns fazem deste texto na tentativa de negar essa verdade tão clara. Se alguém tiver dúvidas quanto a isso, pode me procurar depois.
Mas nos atentemos ao propósito deste texto. Paulo já afirmou aqui o cerne da doutrina da eleição. Isto é, que as bênçãos da salvação são destinadas não ao povo de Israel étnico, mas ao povo eleito, a igreja, formada por judeus e gentios. É o que Paulo ensinou nos versículos 1 a 13. Quem recebe as bênçãos da salvação? Os eleitos. Eles são alvo da misericórdia de Deus.
Mas essa afirmação de Paulo levanta imediatamente diversos questionamentos. Alguém poderia dizer: isso é justo? Outro poderia questionar: isso não anularia a nossa responsabilidade? Tais questões não são apenas abstratas. Elas lidam diretamente com a questão do caráter de Deus e com a realidade do pecado. Muitas pessoas nutrem dúvidas em seus corações por causa de dúvidas assim. E Paulo lida sinceramente com tais questões. Deus é justo ao eleger pessoas? Sim. Por quê? Por duas razões.

Porque ao eleger, Deus está exercendo a sua livre misericórdia (v. 14-18)

A primeira razão pela qual Deus é justo ao eleger pessoas é porque, ao eleger, ele exerce a sua livre misericórdia (v. 14-18). Em outras palavras: a salvação não é uma questão de justiça; afinal, pela justiça, poderíamos ser todos condenados. É uma questão de misericórdia, que ele exerce livremente.
Veja, Paulo começa com a questão retórica, que alguém poderia fazer diante de sua exposição da doutrina da eleição: “Há injustiça da parte de Deus?”. A Bíblia afirma que em Deus não há injustiça (Dt 32.4). Mas um leitor, talvez um judeu, poderia questionar se a eleição é coerente com o caráter revelado de Deus. Pois pode parecer que Deus está fazendo acepção de pessoas, o que ele mesmo condena (Dt 10.17). E pode parecer que Deus se esqueceu da aliança que fez com Israel, como já discutido nos versos anteriores. Em outras palavras: a eleição é incoerente com o caráter justo de Deus?
Paulo responde enfaticamente: “De modo nenhum!”. Não há nenhuma injustiça em Deus no fato de ele ter um povo eleito. Nisto não há nenhuma incoerência com o seu caráter.
Então Paulo nos traz duas evidências para reforçar sua afirmação. Primeiro, ele nos traz uma citação de Ex 33.19 no v. 15:
Romans 9:15 NAA
15 Pois ele diz a Moisés: “Terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e terei compaixão de quem eu tiver compaixão.”
Aqui é quando Moisés roga a Deus que lhe mostre a sua glória. E o Senhor atende o seu pedido. E qual a razão pela qual Deus se revela a Moisés? Ele mesmo diz:
Exodus 33:17–19 NAA
17 O Senhor disse a Moisés: — Farei também isto que você falou, porque você alcançou favor diante de mim, e eu o conheço pelo nome. 18 Então Moisés disse: — Peço que me mostres a tua glória. 19 O Senhor respondeu: — Farei passar toda a minha bondade diante de você e lhe proclamarei o nome do Senhor; terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei de quem eu me compadecer.
Deus olhou para Moisés com graça. Ele conhece Moisés. Não por algo que Moisés tenha feito ou conquistado, mas por sua livre graça. Ele tem misericórdia de quem quer.
E assim nós vemos em toda a história de Israel. Por que Deus escolheu Abraão? Ele escolheu um homem e lhe prometeu uma grande descendência e muitas bênçãos. Quem era Abraão? Um caldeu, um pagão, um cidadão de Ur. E quem era Jacó? Um bebê escolhido no ventre, que se torna um enganador. E Judá? E Davi? Todos homens pecadores, todos sem mérito algum. Deus simplesmente os escolheu, sem nada que o atraísse.
Isto se aplica ao povo de Israel. Por que Israel? Por que não Edom? Ou Moabe? Ou os filisteus? Por que Deus quis. Isso se aplica ao povo, no coletivo, bem como a indivíduos.
E assim, Paulo diz, “não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia”. Ou seja, não é por nossa escolha. Nem pelo nosso esforço. É claro que em algum momento você decidiu professar a sua fé e juntar-se à igreja. Mas isso já era um resultado do que Deus operou em seu coração. E é claro que, uma vez salvos, corremos, nos esforçamos, para obedecer a Deus. Essa metáfora da corrida aparece na Bíblia mais de uma vez (1Co 9.26; Fp 3.14; Hb 12.1). Correr faz parte da vida cristã. Contudo, ela é uma resposta ao que Deus fez. Não é pela sua corrida, por seu esforço na santificação, que você será salvo. É tão somente por causa da livre misericórdia de Deus, que ele exerceu antes mesmo que você existisse.
Meus irmãos, há quem pense que a doutrina da eleição produz orgulho no coração do crente. Pelo contrário, ela deve produzir humildade. Até quem se acha melhor que os outros por ter compreendido tal doutrina tem que baixar a bola. Você não é melhor por ter compreendido o processo de salvação. Não é pelo seu conhecimento, pela sua boa doutrina, pela sua obediência e conformidade com usos e costumes. É pela graça, somente. Você não fez nada para contribuir com a sua salvação. A única coisa que você fez foi pecar. A única coisa para a qual você contribuiu foi para a sua condenação. A salvação pertence a Deus.
Então Paulo nos traz uma segunda evidência. Ele cita Ex 9.16 no v. 17:
Romans 9:17 NAA
17 Porque a Escritura diz a Faraó: “Foi para isto mesmo que eu o levantei, para mostrar em você o meu poder e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra.”
Novamente, estamos na história do Êxodo. Foi Deus quem levantou Faraó como um inimigo de Israel, sempre se opondo à sua libertação. Deus o manteve com o propósito de que ele fosse vencido, e assim o seu poder fosse anunciado pelas nações. Foi Deus quem endureceu o coração de Faraó, de modo que ele não deixava o povo ir. O livro de Êxodo afirma isso diversas vezes (Ex 4.21; 7.3; 9.12; 14.4; 14.17).
Exodus 4:21 NAA
21 O Senhor disse a Moisés: — Quando você voltar ao Egito, trate de fazer diante de Faraó todos os milagres que pus em sua mão. Mas eu vou endurecer o coração de Faraó, para que não deixe o povo ir.
Deus endureceu o coração de Faraó. Isto é, Deus o abandonou em sua própria teimosia. De toda a massa caída de pecadores, Deus escolheu aqueles que fariam parte do seu povo, que seriam chamados pelo Espírito mediante a pregação do evangelho e creriam em Jesus. E todo o restante, Deus os deixou seguirem seu caminho de rebelião, e os abandonou em seus próprios pensamentos e vícios, como Paulo nos mostrou em Romanos 1.18-32.
Aqui temos duas verdades complementares. Deus tem misericórdia de quem ele quer. E ele endurece quem ele quer. Alguns, ouvindo o evangelho, crerão porque foram regenerados pelo Espírito. Outros, rejeitarão, por terem o coração endurecido. A semente, que é a Palavra de Deus, ora cai em terra boa, ora cai em terra cheia de espinhos ou de pedras. Novamente, a salvação é pela livre escolha de Deus.
E, novamente, meus irmãos, tal doutrina deve nos levar à humildade. Pois veja, qual a diferença entre nós e Faraó? Podemos ler Êxodo e pensar: “Esse Faraó é meio burrinho. Pois claramente Deus estava com os israelitas. Veja os sinais. Mas ele insiste em se opor à vontade de Deus.” Mas sabe qual a diferença entre nós e Faraó? A graça de Deus. Pois sem a graça, nós também seguimos o pecado de modo obsessivo. Sem a graça, também insistimos no caminho que nos leva a mais pecado e condenação. Sem a graça, nós seríamos Faraó, preferindo manter seus privilégios enquanto escraviza um povo inteiro.
Aliás, você deixaria de comprar roupas de um determinado lugar se soubesse que elas foram fabricadas em condições análogas à escravidão? Ou o chocolate produzido por crianças escravizadas na África? Pense um pouco.
Todos nós, por causa do pecado, estávamos na mesma situação de Faraó. A uns Deus resolveu salvar, e a outros ele endureceu ainda mais. Não há diferença, contudo, entre nós e o pior dos pecadores, a não ser a graça. Isso, novamente, deve gerar em nós humildade. Somos imerecedores, apenas.
Irmãos, Deus é injusto ao escolher pessoas? De modo algum. Toda a humanidade, representada por Adão no Éden, pecou. Todos nós nos rebelamos contra Deus. Todos nós somos corrompidos desde o nosso coração. Deus poderia mandar todo mundo para o inferno, e seria muito justo.
Mas ele escolheu salvar alguns. Então não devemos nos preocupar de ele ter salvo uns e outros não. Devemos nos espantar de ele ter resolvido salvar alguns.
A pergunta que devemos fazer diante da eleição não é se Deus é justo. A pergunta certa é: por que eu? Eis a pergunta que devemos fazer todos os dias. Por que eu, pecador? A doutrina da eleição deve nos levar a esse maravilhamento, a esse espanto: ele escolheu salvar a este pecador indigno. Quem sou eu para questionar a sua justiça?

Porque ao eleger, Deus está trazendo glória a si mesmo (v. 19-23)

Mas há uma outra razão pela qual a eleição é justa: Deus faz tudo para a sua glória. Ao escolher pessoas, ele está trazendo glória a si mesmo (v. 19-23). Ele criou o mundo para a sua glória. O mundo é dele. Ele o criou para si mesmo, porque a sua alegria, a alegria da Trindade, é a própria glória na obra da redenção.
A segunda questão que Paulo levanta aqui, que um leitor poderia questionar, é a seguinte: se Deus é quem elege os salvos, bem como os ímpios, Deus ainda pode nos julgar? Se Deus elege quem quer, ele tem algum direito de se queixar de nosso pecado?
Veja, essa é a principal objeção que muitos levantam contra a doutrina da eleição. Alguns dizem: se os eleitos são salvos, então quem sabe que é eleito vai pecar à vontade, pois será salvo do mesmo jeito. Isso é uma distorção da doutrina. Pois o eleito é aquele que crê em Jesus e agora deseja viver para Jesus. Quem se entrega ao pecado atesta que não é um eleito de Deus.
Mas outros dizem: se os eleitos são salvos, então não adianta pregar, já que no fim, Deus salvará os eleitos e condenará os demais. Isso também é uma falácia. Deus escolheu os salvos, mas ele também determinou que eles serão salvos mediante a pregação do evangelho. Não sabemos quem são os eleitos (e nem devemos tentar adivinhar). Temos de pregar a todos, sem exceção, e confiar que Deus salvará quem ele quer.
Mas no fundo de todas esses questionamentos, há uma afirmação oculta: "Deus é injusto em proceder assim".
A questão aqui tem a ver com o tema da responsabilidade humana. Se Deus elege e determina o nosso destino, por que somos responsáveis? É possível que alguém tenha dúvidas sinceras com relação a esse tema. Alguém pode dizer: "Certo, entendi que Deus é soberano. E a Bíblia diz que eu sou responsável por proceder corretamente e por responder com fé à sua palavra. Como as duas coisas se conciliam?". Essa seria uma dúvida sincera, e poderíamos ficar um bom tempo tentando entender isso à luz das Escrituras.
Contudo, aqui Paulo não está lidando com uma simples dúvida, mas com alguém que põe em xeque a legitimidade do caráter e da justiça de Deus. Trata-se de alguém que, diante da realidade já comprovada de que Deus elege, diz: "não aceito isso". Não se trata de um questionamento legítimo, mas de um que procede de um espírito rebelde. Há muitas pessoas que rejeitam a doutrina da eleição porque, na verdade, ela fere o seu orgulho. Elas rejeitam porque não aceitam a ideia de que não contribuíram em nada para a sua salvação. Elas querem ter alguma participação. Elas querem acreditar que sua obediência, suas escolhas, sua trajetória, de alguma maneira, levou Deus a salvá-las. E ao serem informadas de que as coisas não são assim, elas questionam a Deus.
Mas antes de responder propriamente a questão, Paulo questiona a prerrogativa do questionador. Ele responde com perguntas que põe em xeque aquele que ousa questionar a justiça divina. Pode o objeto perguntar a quem o fez: por que me fizeste assim? A resposta clara é: não. Não tem o oleiro direito sobre a massa? Ele não pode fazer um vaso para honra (ou seja, para um uso especial) e outro para desonra (ou seja, para um uso comum, supérfluo, para a destruição)? Sim, ele pode. Da mesma maneira, não temos o direito de colocar Deus no banco dos réus. Ele é o Criador e tem direito total sobre a sua criação.
Os adolescentes e jovens já sabem: quando você está na casa dos pais, quem é que faz as regras? Os pais. Por que? Por que é a casa deles, oras. Quer fazer as coisas do seu jeito? Trabalhe, pague seus boletos, tenha sua casa e, pronto, faça as suas regras. Mas enquanto você está na casa dos pais, você obedece. Não é assim? Infelizmente esse conceito tem se perdido. A noção de autoridade tem se perdido.
Nós vivemos no mundo de Deus. É Deus quem faz as regras. É ele quem governa. Temos o direito de questioná-lo?
Boa parte dos problemas que as pessoas tem com a doutrina da eleição é um problema com a questão da autoridade. Esses problemas são resolvidos quando colocamos as coisas em perspectiva. Ele é Deus. Nós não.
Meus irmãos, é legítimo ter dúvidas, levantar questões com relação a Deus e sua doutrina? Bem, se isso significa ter dúvidas sinceras sobre aquilo que Deus revela em sua palavra, se for a dúvida de quem crê, mas quer entender melhor, então sim, podemos. O cristão pode ter curiosidade, e isso o leva a buscar conhecimento. "Quero entender melhor essa doutrina da eleição". "Quero compreender melhor a relação entre soberania de Deus e responsabilidade humana". Ótimo! Vá, solucione sua dúvida, busque o conselho de irmãos sábios, leia bons livros de teologia e, principalmente, leia a Escritura.
Contudo, existe aquela dúvida que não procede da fé, mas que procede da incredulidade. A pessoa já não crê e faz perguntas mais para justificar a sua incredulidade. É a dúvida plantada pela serpente: Será que Deus disse isso mesmo? Será que Deus disse a verdade? Será que ele realmente deseja o nosso bem?
Esse tipo de pensamento é típico da filosofia de nosso mundo que põe o homem no centro. Talvez você já tenha ouvido alguma vez a seguinte frase: "Não importa a religião que você siga, o importante é ser feliz". Ou seja, o que importa não é a verdade, não é qual Deus devo adorar. O que importa é o eu. E Deus tem de se dobrar à minha vontade. E se esse Deus não é de acordo com a minha vontade, então não quero. Se Deus não me dá uma vida boa, uma casa boa, um salário bom, um casamento bom, se ele não salva todo mundo, se ele não se dobra à minha agenda ideológica, então não quero. Eu quero um Deus do meu jeito.
Aplicação: Se você pensa assim, tenho algo para lhe dizer: Ponha-se no seu lugar. Ele é Deus. Ele é soberano. Ele é o oleiro e tem autoridade sobre o barro. Ele é quem criou e quem sustenta o universo. Quem é você para determinar alguma coisa para Deus? Quem é você para questionar seus atos, seus decretos, sua sabedoria? Quem é você para dizer: "eu não aceito um Deus assim". Ponha-se no seu lugar. Você é um miserável pecador. Seu único direito é o inferno.
E se Deus quis ter misericórdia de alguns, a única atitude aceitável é correr para Jesus e implorar por sua graça. Pois, como admitiu Pedro, não há outro lugar para ir. Só ele tem as palavras de vida eterna. Deus teve misericórdia de alguns. E ele exerce tal misericórdia salvando pessoas pelos méritos de Cristo. Como responder a isto? Questionando o modo de Deus agir? Não, mas correndo para o único lugar onde Deus determinou que haveria salvação: Jesus.
Então agora Deus responderá propriamente a questão (v. 22-23). Por que Deus endurece a uns e tem misericórdia de outros? Qual o propósito de Deus com tudo isto?
Aqui vemos que há um duplo propósito: manifestar a sua ira e poder e revelar a riqueza de sua glória. Esses são os dois propósitos de Deus. Ele criou o mundo para a sua glória. Ele criou o universo para manifestar os seus atributos. E ele dirige a Criação e dirige a história de maneira que os seus atributos são exibidos e seu nome é exaltado. Essa é a alegria de Deus, da qual ele deseja que participemos: que seu nome seja exaltado. O Pai exalta o Filho. O Filho cumpre a vontade do Pai. O Espírito aponta para o Filho. E toda o universo e a história da redenção é para que a Trindade seja glorificada.
E para isso, Deus quer revelar sua ira e poder. E para isso que Deus preparou de antemão vasos de ira, preparados para a perdição. Dado o contexto, Paulo agora está aplicando aquela imagem dos vasos aos seres humanos. Ele está falando de pessoas que, de antemão, foram destinadas à perdição.
Aqui temos a chamada doutrina da "reprovação". Isto é, se Deus, no seu decreto na eternidade, predestinou alguns para a salvação... logo, o restante daqueles que estão mortos em pecados foram deixados para a perdição. Eles seguirão o seu estado de pecado e impenitência até o dia em que, julgados, sofrerão para sempre o juízo de Deus. E por que Deus faz isso? Para manifestar sua justiça, sua retidão, sua ira contra o pecado. Alguns atributos de Deus são manifestados aqui. Deus é glorificado por meio da punição do ímpio. Deus é glorificado na vitória contra o mal. Assim como a um herói é celebrado em sua vitória sobre o vilão, a vitória do Senhor sobre os seus inimigos é certa e trará glória a ele.
E ele revela as riquezas de sua glória. E para isso ele preparar vasos de misericórdia, de antemão. Isto é, homens, pessoas, destinadas à glória, a exibir a imagem de Deus de forma plena, a serem conformados à gloriosa imagem de Cristo, que desfrutarão da comunhão com Deus e verão a sua glória. A salvação traz glória a Deus. Ninguém, ao ser salvo, diz: "graças a mim! Eu obedeci! Eu cri! Eu perseverei!". Não, a salvação é de Deus. A glória pertence totalmente a ele. Ele é o nosso herói, o nosso salvador, que nos resgatou do mal e nos levou para o seu reino. É para a glória dele que ele o fez. Como ele disse a Israel: "por amor de mim" (Is 37.35; 43.25; 48.11).
Isaiah 43:25 ARA
25 Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim e dos teus pecados não me lembro.
Isaiah 48:11 ARA
11 Por amor de mim, por amor de mim, é que faço isto; porque como seria profanado o meu nome? A minha glória, não a dou a outrem.
Meus irmãos, essa é a doutrina da eleição. Deus, antes da fundação do mundo, teve o propósito de formar um povo para si, do qual ele seria o salvador e justificador. Esse povo iria cair em pecado, mas antes mesmo do mundo existir foi ali decidido que Cristo desceria para ser o substituto e a propiciação pelo pecado daqueles que Deus decidiu salvar. E na eternidade Deus escreveu no livro da vida o nome daqueles que seriam o seu povo. E tudo isso para a sua glória, para revelar sua justiça e misericórdia.
Mas será que essa doutrina é realmente importante? Será que é importante a tal ponto de brigarmos por ela, de termos de defendê-la dos ataques que ela sofre? Será que ela não é uma coisa secundária, algo que podemos abrir mão? Afinal, é meio difícil de entender. E nem todas as perguntas sobre ela foram respondidas. Paulo não faz questão de responder tudo. Ele afirma que Deus é soberano em exercer a sua misericórdia em em glorificar a si mesmo. Pronto. O propósito não é você entender tudo, mas se submeter à autoridade de Deus quanto a essa questão. Então o que muita gente faz é relegar essa doutrina a um segundo plano, como algo pouco importante, que podemos deixar quieto.
Há uma razão pela qual a doutrina da eleição é importante. Ela atribui toda glória a Deus pela salvação. Ela nos livra de qualquer resquício de justiça própria, de mérito, de participação em nossa salvação. E sem isso, a igreja fica sujeita a muitos perigos.
Durante toda a história da igreja, as pessoas foram tentadas a tirar a salvação da esfera da soberania divina e trazê-la para o campo do merecimento humano. Você será salvo se você for batizado, se você fizer a primeira comunhão, se você for confessar com o padre, se você for obediente até o fim, aí toda essa justiça será contabilizada na balança e, parabéns, você é salvo. Se for assim a glória é de quem? Toda sua. Você mereceu.
Uma versão mais evangélica disso diz que é a sua decisão de seguir Jesus e a sua permanência que determinam que você será salvo ou não. Contudo isso também tira a glória de Deus. Pois, sim, devemos responder com fé e perseverança a mensagem da salvação; mas tais atitudes não são a base da salvação. É por pensarem assim que muitos irmãos sinceros vivem oprimidos em suas igrejas, com medo de perder a sua salvação, aterrorizados com a ideia de que a instabilidade de sua fé pode custar-lhes a vida eterna. Antes de amarmos a Deus, ele nos amou primeiro e escreveu nosso nome no livro da vida. Se você confia em Jesus para te salvar, é porque ele escolheu você primeiro como um vaso de misericórdia, como troféu de sua graça, para manifestar a riqueza de sua glória.
E isso, meus irmãos, é libertador. Nos livra das incertezas. Nos livra do legalismo. Quando você pensar em sua salvação e tiver dúvidas se ela é real ou não, lembre-se que ela não está baseada em algo tão instável quanto a nossa decisão ou a nossa fé, mas sim em algo firme como a promessa de Deus. Há lugares em que as pessoas vivem com medo de perderem sua salvação, ou tentando ganhá-la. Mas nós, que estando em Cristo temos a certeza da eleição, podemos descansar no fato de que nosso destino foi decretado na eternidade. Que tal verdade nos console. Que Deus nos abençoe. Amém.
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