Curso Pan Antigo Testamento II
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· 8 viewsCurso de Panorama do Antigo Testamento ministrado na igreja Batista Geração
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Aula 1 | Salmos de lamento e de louvor
Aula 1 | Salmos de lamento e de louvor
O livro de Salmos é muito parecido com os hinários usados hoje em dia, no sentido de que é uma coletânea de cânticos e orações escritos por várias pessoas, no decorrer de um longo período. Descreve a resposta em forma de louvor dos adoradores ao se darem conta do poder e do amor de Deus; expressa a esperança do homem, firmado nas promessas divinas; e relata o seu clamor a Deus, para que o Senhor os resgate e os livre das tribulações cotidianas. Essa coletânea de cânticos é usada pelos cristãos em seu período devocional, bem como nos cultos públicos de adoração.
Os salmos eram entoados no templo - “Entrai por suas portas com ações de graças e nos seus átrios, com hinos de louvor...” (S1 100.4)-e também pela igreja primitiva -“... aconselhai-vos mutuamente [...]com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração”(Cl 3.16). Quando um salmo era entoado -“Grande é o SENHOR..."(S1 48) -, o cantor testificava a grandeza de Deus, o ouvinte ficava ciente de como o Senhor tinha agido na vida de outras pessoas, e todos os demais eram estimulados a confiar no poder divino. Os salmos estão repletos de expressões de temor e angústia, em momentos de perseguição, bem como de expressões de confiança e amor, quando o autor experimenta a proteção de Deus. Essas orações descrevem o relacionamento pessoal e íntimo que pode existir entre o Senhor e cada um de nós.
Muitos salmos foram musicados. Por isso, o salmo 4 é introduzido com a expressão: “Salmo de Davi ao mestre de canto (para ser executado),com instrumentos de cordas”. O salmo 5 traz a seguinte introdução: “Ao mestre de canto, para flautas". O salmo 3 contém a palavra selá, ao final dos versículos 2, 4 e 8 (constante da versão de Almeida Revista e Corrigida).Esse vocábulo significa “erguer”. Não sabemos com certeza se é uma marcação para que seja aumentado o volume do som dos instrumentos ou a indicação de algum tipo de interlúdio musical. Vários salmos incentivam o ato de cantar (S1 95.1, 2; 96.1, 2; 98.1, 4-6), e outros preveem acompanhamento instrumental enquanto as pessoas entoam seus louvores a Deus (S1 98.5,6;108.1,2;150.3-5).
Os salmos estão divididos em cinco grupos ou livros (1-41; 42-72;73-89;90-106;107-150). Essa ordem obedece à divisão quíntupla do Pentateuco e talvez represente o processo de reunião dessas músicas e orações para formar o hinário de Israel. A maioria dos salmos dos dois primeiros livros é de autoria de Davi (3-41; 51-71), enquanto muitos salmos do terceiro livro foram escritos por Asafe (73-83). Os cânticos de romagem (120-134) e os salmos de aleluia (146-150) foram colocados juntos no quinto livro. Isso sugere que os primeiros dois livros podem ter sido compilados por Davi, o terceiro e o quarto, por Salomão ou Ezequias, e o quinto, por Esdras.
O salmo de louvor mais antigo é atribuído a Moisés - Êx 15. Mas este não figura no livro de Salmos. A partir de um exame dos cabeçalhos dos hinos, podemos perceber que Moisés escreveu um deles (S1 90), que setenta e dois cânticos são de autoria de Davi, dois, da autoria de Salomão, e que um grande número foi composto por cantores levitas, como Asafe, Hemã, Etā e Corá (1Cr 15.16-24; 25.1-8). Davi selecionou esses levitas para cantar e tocar instrumentos musicais nos cultos de adoração no templo. Alguns salmos foram compostos enquanto o povo de Israel estava no exílio, próximo aos rios da Babilônia (Sl 137). No Novo Testamento, Pedro afirma que Davi escreveu os salmos 16 e 110 (At 2.25-35), e o autor de Hebreus declara que ele também foi compôs o salmo 95 (Hb 4.7).
CONTEXTO HISTÓRICO
CONTEXTO HISTÓRICO
Muitos dos salmos estão relacionados a dois momentos da história - a experiência original do autor (Davi assentado em uma colina, cuidando dos rebanhos) e uma canção sendo entoada no templo, em Jerusalém, num dia de festa. Alguns títulos subentendem a situação original que levou o autor a compor o cântico. O salmo 3 está relacionado à ocasião em que Davi precisou fugir de seu filho rebelde, Absalāo (v. 2Sm 13.34-18.33).O salmo 18retrata perfeitamente a ocasião em que Davi fugia de Saul (2Sm 21-22).O salmo 30 celebra a dedicação do local onde a casa de Deus seria construída (2Sm 24), e o salmo 51 é a oração de Davi, que reconhece e se arrepende do seu pecado com Bate-Seba (2Sm 11-12).
Outros salmos não trazem, em seu cabeçalho, nenhuma informação histórica a respeito do autor, mas, ao longo do texto, apresentam dados que o identificam. O salmo 45 está relacionado a um casamento, enquanto Salmos 27.1-3 descreve o autor cercado por pessoas más, adversários e um grande número de inimigos.
O povo que entoava essas canções, muitos anos depois, em reuniões no templo ou na igreja primitiva, nem sempre conhecia a situação em que o autor se encontrava ao escrever o salmo. No entanto, identificava-se com os sentimentos de desespero relatados nesses cânticos, porque haviam experimentado emoções semelhantes em sua vida. Outros salmos foram escritos primeiramente para louvar a Deus, no templo ou em dias de festa. Esses salmos frequentemente fazem referência a problemas gerais ou a motivos de alegria, comuns a pessoas de qualquer cultura.
CATEGORIAS DOS SALMOS
CATEGORIAS DOS SALMOS
Podemos dividir os salmos em vários grupos com tópicos, estrutura ou emprego semelhantes. Há os salmos messiânicos (2; 110), salmos de sabedoria (1; 73), salmos reais (96-99), canções de Sião (46; 48) e salmos históricos (105; 106). No próximo capítulo, estudaremos os vários tipos de salmos. Agora, enfocaremos apenas os dois mais populares: o salmo de lamento e o hino de louvor.
SALMOS DE LAMENTO
SALMOS DE LAMENTO
Por várias razões, o povo de Israel lamentava e clamava a Deus, pedindo a ajuda divina. Alguns salmos descrevem a situação em que o autor pessoalmente se encontrava, ou o estado de espírito que reinava em toda a nação, diante do ataque de algum inimigo. Uma cidade podia buscar a proteção de Deus quando um exército adversário marchava contra ela (Sl 44.4-16),ou um indivíduo, como Davi, podia lamentar sua situação como, por exemplo, quando Saul o encurralara em uma caverna no deserto da Judeia (S1 142).Podia ser que, em algum tempo, o povo erguesse um lamento e confessasse os seus pecados (S1 51; 130), ou que lamentasse uma grave doença (S1 6),ou o fato de haver sido acusado injustamente de praticar o mal (S1 7; 17; 120).
Quando o povo lamentava, normalmente fazia acompanhar esse lamento de choro, jejum, vestidos de saco e cinzas (v. J1 2.12-17).Seus pedidos não eram apenas orações casuais em busca das bênçãos de Deus. Eram orações sérias e sinceras. Na época em que os salmos foram escritos e eram cantados no templo, não se dispunha do que a medicina moderna pode oferecer hoje; não existia um exército ou uma força policial para preservar a lei e a ordem; as pessoas não tinham dinheiro para se defender de acusações falsas. Sua única esperança eram a misericórdia e a proteção divinas. O livro de Salmos contém seis ou sete lamentos comunitários e cerca de cinquenta lamentos pessoais.
A maioria dos salmos de lamento tem a mesma estrutura geral (nossas orações tendem a seguir modelos semelhantes), embora haja uma grande margem para a expressão pessoal dentro desses modelos.' A estrutura de um salmo de lamento geralmente envolve:
1. Invocaçāo, clamor pela ajuda de Deus.-Essa parte é geralmente bastante curta. No salmo 13, a invocação ou clamor consiste da frase: “Até quando, SENHOR? Esquecer-te-ás de mim para sempre?". A invocação é o reconhecimento de que aquele que lamenta está se voltando para Deus em busca de ajuda. Verdadeiramente, o Senhor é a única fonte de força para quem está enfrentando dificuldades.
2. Lamento ou queixa.- Nessa parte do salmo, o adorador descreve seu problema. Geralmente, apresentam-se sob três aspectos: o adorador sente como se Deus não o estivesse protegendo, como se seus inimigos o estivessem perseguindo, ou como se ele estivesse envolto em tristeza. Em Salmos 13.1, 2, por exemplo, o adorador queixa-se para Deus: “Até quando ocultarás de mim o rosto?”;lastima a situação em que se encontra: “Até quando estarei eu relutando dentro em minha alma, com tristeza no coração cada dia?”; manifesta a sua dor com relação aos inimigos: “Até quando se erguerá contra mim o meu inimigo?".
Essas reclamações são expressões sinceras do seu sentimento. O adorador não esconde sua tristeza e seu desapontamento(Deus já sabe o que está se passando dentro dele). Embora não culpe o Senhor, ele crê que Deus pode solucionar seus problemas. Expressa suas reclamações porque acredita que, quando Deus ouvir suas orações, a situação mudará.
Ao contrário da época em que foram escritos os salmos, hoje, na maioria das vezes, não passamos muito tempo descrevendo nossos problemas ou dizendo a Deus como nos sentimos em relação às dificuldades que estamos enfrentando. Esses salmos nos incentivam a ser sinceros para com o Senhor, contando-lhe exatamente o que vai em nosso coração, sem nos esconder por detrás de uma fachada de religiosidade.
3. Petição ou busca de ajuda divina.-Nessa parte do salmo de lamento, geralmente o adorador pede que Deus ouça a sua oração e aja, trazendo salvação ou libertação de seus problemas. Em Salmos 13.3,4, a petição é: “Atenta para mim, responde-me, SENHOR, Deus meu! Ilumina-me os olhos, para que eu não durma o sono da morte; para que não diga o meu inimigo: Prevaleci contra ele...”. Às vezes, uma petição é acompanhada do rogo para que Deus livre a pessoa da morte, perdoe pecados ou derrote inimigos. Esse pedido é o reconhecimento de que somos incapazes de solucionar todos os problemas da vida com nossa própria força. Ao clamarmos pela ajuda divina, declaramos nossa dependência de Deus e, pela fé, descansamos em seus braços poderosos.
4. Confissão de fé ou declaração de confiança. - Embora os cristãos possam enfrentar muitos problemas e, por vezes, se sentir desanimados, a oração de lamento não tem como objetivo levar o adorador ao desespero ou à depressão. Uma vez que a petição tenha sido feita, a atenção deve ser voltada para Deus, a solução do problema, em vez de enfocar a dificuldade que está sendo vivida. A declaração de confiança é uma expressão de fé, um antecipar o futuro, para a consumação da petição. Em Salmos 13.5, o salmista declara: “No tocante a mim, confio na tua graça; regozije-se o meu coração na tua salvação”. Porque acreditamos que podemos confiar em Deus, somos levados a crer que a salvação divina nos trará grande alegria.
5. Voto de louvor. Muitos salmos de lamento terminam com a declaração de que o adorador cantará louvores a Deus quando a sua oração for respondida. Em Salmos 13.6, o autor promete: “Cantarei ao SENHOR, porquanto me tem feito muito bem”. O salmo que se iniciou como um lamento termina com uma nota de esperança e vitória, com a expectativa de glorificar a Deus e proclamar sua graça a outros, por meio de canções.
Alguns salmos de lamento não contêm em sua estrutura todas as partes comuns a esse modelo. Outros podem conter duas partes de petição ou uma declaração dupla de confiança. Cada oração é uma expressão individual, construída a partir de uma série de passagens um tanto singulares. As pessoas eram diferentes, as situações em que se encontravam também o eram, e a sensação de esperança ou de desespero variava com a seriedade do problema que enfrentavam.
Ler os salmos de lamento regularmente, ou basear neles nossas orações, ajuda-nos a orar de maneira poderosa e sincera. Deus se preocupa com nossos problemas. O escritor da carta aos Hebreus declara que Jesus está adestra de Deus Pai, no céu, aguardando ansiosamente para interceder por nós (4.14-16). A oração é um testemunho da importância de manter um diálogo pessoal com Deus, de nossa confiança no poder transformador da oração e de nosso desejo de experimentar a alegria de ver nossas orações sendo respondidas.
SALMOS DE LOUVOR
SALMOS DE LOUVOR
Outro grande grupo de salmos é chamado de hinos de louvor. Eles se enquadram em várias subcategorias, de acordo com a estrutura, o tópico ou o motivo do louvor a Deus. Alguns hinos declaram o apreço ao Senhor, por ele ter respondido ao lamento do adorador (ao final do lamento, o autor geralmente promete louvar a Deus, em gratidão pela resposta recebida). O salmo 9 está incluído nesse tipo de hino de louvor: narrativo ou declarativo. O adorador louva a Deus (9.1-3, 7-11, 14) porque o Senhor destruiu seus inimigos(9.4-6,12,13,15,16).
O segundo grupo de hinos era entoado à medida que os peregrinos ou adoradores regulares iam ao templo. Eram os cânticos de romagem. Esses salmos fazem referência à alegria de ver a cidade de Jerusalém e de estar na casa de Deus para adorá-lo(S1 122).
O grupo mais extenso de hinos proclama a glória de Deus e lista uma série de motivos por que devemos louvar ao Senhor. A estrutura desses hinos de louvor é bastante simples:3
1. Uma convocação para louvar a Deus
2. Motivos para louvar a Deus
Esse modelo pode ser repetido parcial ou totalmente dentro dessa fórmula simples. O salmo 100 é um hino bastante conhecido. Ele segue esse modelo. Começa com uma convocação para adorar a Deus (v.1 e 2):“Celebrai com júbilo ao SENHOR, todas as terras. Servi ao SENHOR com alegria, apresentai-vos diante dele com cântico”. O versículo 3 apresenta um motivo para adorar a Deus: “Sabei que o SENHOR é Deus; foi ele quem nos fez, e dele somos; somos o seu povo e rebanho do seu pastoreio”. O modelo repete-se com uma nova conclamação ao louvor no versículo seguinte:
“Entrai por suas portas com ações de graças e nos seus átrios, com hinos de louvor; rendei-lhe graças e bendizei-lhe o nome”. E, no quinto versículo, um segundo motivo para adorar a Deus: “Porque o SENHOR é bom, a sua misericórdia dura para sempre, e, de geração em geração, a sua fidelidade”.
Embora o modelo segundo o qual foi composto seja bastante simples, e apesar de ele ser bem sucinto, esse salmo contém uma grande dose de teologia. O adorador está reconhecendo a importância de ir à casa de Deus para adorar e louvar o Senhor. Isso não retrata um mero hábito, algo que deve ser respeitado e cumprido por uma questão de obediência aos pais. Os crentes entendem a razão pela qual Deus está sendo louvado. Eles experimentaram a graça divina e têm muitos motivos de gratidão. Deus nos criou, nos considera seu povo especial e supre nossas necessidades. O Senhor é bom para conosco, demonstra o seu amor, vez após vez; ele se mostra fiel de muitas maneiras e é digno de ser louvado.
Às vezes, os hinos de louvor declarativos enfatizam o convite para louvar a Deus, como em Salmos 148.1-5a, 7-13a. Esse salmo contém apenas duas partes bem curtas (5b-6 e 13b-14) que apresentam um motivo por que devemos adorar a Deus. Outros hinos contêm conclamações bastante sucintas para o louvor (147.1a, 7, 12), mas uma longa lista de motivos pelos quais devemos louvar (147.1b-6, 8-11, 13-20). Esses hinos cumprem um dos principais propósitos de Deus ao fazer o homem: desfrutar a comunhão com o Senhor e glorificá-lo.
Como as viagens eram difíceis naquela época, as pessoas que moravam muito longe de Jerusalém podiam ir até o templo e adorar a Deus apenas algumas vezes por ano. Não é de admirar que ficassem entusiasmadas por terem condições de estar na casa de Deus novamente. Quando o adorador se unia às massas para cantar a glória do Senhor, sentia-se inspirado. À medida que todos cantavam os hinos, lembravam-se das muitas razões que tinham para louvar a Deus. Ele havia sido bom para com eles (dando-lhes boas colheitas e abundância de alimentos). Havia se mantido fiel a eles (ao atender uma oração ou cumprir uma promessa). O amor de Deus era bastante evidente (ao dar-lhes boa saúde ou permitir o nascimento de mais um membro da família). As pessoas não desconheciam nem menosprezavam a graça de Deus. Elas a festejavam como uma forma de glorificá-lo e incentivar outros a confiar no Senhor.
VALOR TEOLÓGICO DOS SALMOS
VALOR TEOLÓGICO DOS SALMOS
1. Em períodos de dificuldade, os crentes podem levar seus fardos a Deus, pois ele sempre ouve as orações dos que se aproximam dele e os consola.
2.Uma oração por ajuda divina não deve apenas enfocar nosso problema ou nossa necessidade. Deve, também, exaltar a capacidade de Deus de responder às orações. Deve, ainda, renovar o nosso compromisso de confiar nele e confirmar o nosso desejo de glorificá-lo por sua graça e bondade.
3. A casa de Deus é um lugar de louvor e de ação de graças. A alegria do Senhor deve encher o coração e os lábios daqueles a quem Deus abençoa.
4. Devemos louvar a Deus porque ele nos criou, porque somos seu povo e porque ele supre as nossas necessidades.
PERGUNTAS E RECAPITULAÇÃO
PERGUNTAS E RECAPITULAÇÃO
1.O que podemos aprender a respeito de um salmo, a partir de seu cabeçalho?
2.Quais as diferenças e as semelhanças entre o livro de Salmos e os hinários usados nas igrejas hoje?
3. Qual é a estrutura comum dos salmos de lamento? Como essa estrutura incentiva o adorador a superar o medo e o desânimo que as dificuldades da vida instilam em nós?
4. Faça uma lista com alguns motivos pelos quais devemos louvar a Deus e que estão inseridos nos salmos de louvor de números 33,111,135 e 145.
5. Tente escrever e recitar uma oração de lamento simples baseada em um problema que você esteja enfrentando (empregando a estrutura apresentada neste capítulo). Componha, também, um hino de louvor básico que declare suas razões pessoais para louvar a Deus. Se o leitor tem habilidade musical, talvez possa acrescentar uma melodia ao seu hino de louvor.
Aula 2 | Salmos com temas especiais
Aula 2 | Salmos com temas especiais
Além dos salmos de lamento e dos hinos de louvor que examina-mos no capítulo anterior, há vários outros tipos de salmos que enfatizam temas especiais e apresentam uma estrutura ou relaçāo singular com o cotidiano dos israelitas. Entre eles estão os salmos históricos,imprecatórios, de confissão e penitência, de sabedoria, reais e messiânicos.Embora sejam em menor número, esses cânticos contêm muitos conceitos teológicos importantes e revelam aspectos significativos da maneira como Israel adorava a Deus.
SALMOS HISTÓRICOS
SALMOS HISTÓRICOS
Os salmos históricos são diferentes dos demais, pelo fato de não mencionarem um fato específico na vida do adorador. Em vez disso, esses salmos fazem uma retrospectiva da história de Israel, lembrando os ouvintes dos pecados da nação, louvam a Deus por seus feitos graciosos em favor do povo e incentivam as pessoas a confiarem no Senhor, porque ele lhes tem sido fiel.
O salmo 78 traz uma lista dos atos miraculosos de Deus. Os pais contavam esses feitos aos filhos de maneira que as gerações futuras também confiassem no Senhor, não se esquecessem de sua graça nem de seus man-damentos e não fossem rebeldes como seus antepassados (78.5-8). A primeira parte do hino (78.9-20) apresenta uma retrospectiva dos milagres divinos no Egito, fala da travessia do mar Vermelho, da coluna de nuvem que guiou Israel através do deserto, da água que brotou da rocha e da rebeldia dos israelitas quando não tinham água nem carne.
A segunda parte(78.21-39) registra a ira de Deus diante da incredulidade do povo, mas também relata a provisão graciosa do maná (o pão dos anjos) e das codornizes. Esse parágrafo termina com um retorno ao tema da ira de Deus diante da rebelião e da infidelidade do povo, mesmo depois de o Senhor haver suprido suas necessidades físicas.
A terceira parte (78.40-53) destaca o fato de que o povo que pere-grinava no deserto se esqueceu de como Deus demonstrara seu poder por meio de cada uma das pragas no Egito.
A quarta parte (78.54-72) faz um resumo da entrada de Israel na Terra Prometida e da derrota dos cananeus. Entretanto, fala também da tendência do povo de adorar imagens de escultura. Por causa da persistência dos israelitas em pecar, Deus abandonou o tabernáculo em Siló e rejeitou as tribos do norte. Entretanto, o Senhor permaneceu fiel a Judá, escolheu Davi como rei e o instruiu para construir um templo em Jerusalém. Ao longo desse período,Deus guiou a nação e cuidou do povo a quem amava. Esse salmo e seus temas são semelhantes a outros salmos históricos (S1 105; 106; 135).
SALMOS IMPRECATÓRIOS
SALMOS IMPRECATÓRIOS
Alguns salmos contêm maldições ou imprecações contra os inimigos do povo de Deus. Algumas dessas maldições ocupam uma pequena parte de um lamento (S1 139.19-22), enquanto outras constituem a maior porção do cântico (S1 35; 69; 109). Esses salmos causam certo desconforto a alguns cristãos porque parecem retratar uma atitude vingativa, exatamente o oposto da ordenança feita por Jesus de amarmos nossos inimigos (Mt 5.44). Hápessoas que acreditam que essas declarações são malignas, impróprias para um cristão, reproduzindo uma parte negativa da ética da antiga dispensação. Entretanto, uma análise cuidadosa dessas expressões de justa indignação demonstra que elas não são motivadas por desejo pecaminoso ou vingativo.
As maldições constantes em Salmos 109.6-20 revelam que os ímpios mentiram e levantaram acusações falsas contra o justo (109.2-5). O autor pede que Deus julgue os ímpios, tire-lhes a vida, deixe seus filhos órfãos,prive-os de suas propriedades e apague sua memória da terra. O próprio
Deus afirmou ser essa a maneira como recompensaria os maus por suas atitudes pecaminosas (109.6-20).
Em outra ocasião, Davi clama a Deus que mate os ímpios porque levantaram a voz contra o Senhor e estão tomando seunome em vão. Davi odeia aqueles que odeiam a Deus; ele realmente os detesta (S1 139.19-22).No entanto, Davi não está dando vazão a uma vingança pessoal, porque, no versículo seguinte, ele pede que Deus o sonde e veja se há algum pensamento mal ou vingativo em seu coração (139,23,24). Fica claro que Davi se identifica muto com a ira de Deus pelo pécado, o qual ele não suporta mais. Davi deseja que Deus aniquile esse mal.
O desconforto que os cristãos modernos sentem ao ler essas orações pode ser um indício da tendência atual de amenizar a seriedade do pecado.Paulo entregou à morte e a Satanás o cidadão coríntio reincidente no pecar (1Co 5) e também amaldiçoou quem quer que pregasse outro evangelho que não fosse o de Cristo (G1 1.6-10). Provavelmente,Davi e Paulo tinham maior compreensão da ira de Deus contra o pecado do que muitos imaginam.Afinal de contas, as Escrituras indicam que o Senhor enviará algumas pessoas para o inferno por causa de seus pecados. Tanto o Antigo como o Novo Testamento nos incentivam a amar o próximo (Lv 19.18; Mt 19.19),alertam contra a vingança (Dt 32.35; Hb 10.30) e ensinam a odiar e fugir do pecado, porque Deus também o odeia.
SALMOS DE CONFISSÃO E DE PENITÊNCIA
SALMOS DE CONFISSÃO E DE PENITÊNCIA
Uma característica fundamental daqueles que amam a Deus é a aversāo que têm ao pecado, o desejo de evitar atitudes ou atos pecaminosos e a disposição de confessar seu pecado para que possam receber o perdão divino.Embora o Dia da Expiação fosse um dia de humilhação e de penitência nacional de maneira que o povo fosse purificado de seus pecados (Lv 16),os crentes do Antigo Testamento podiam reconhecer suas falhas e receber o perdão de Deus a qualquer momento. O ato de confessá-las estava intima-mente associado com a apresentação de um sacrifício no templo. Devemos enfatizar,porém, que a oferta de sacrifícios não era a parte mais importante do culto. O que Deus buscava em primeiro lugar era um espírito quebrantado, um coração arrependido (S1 51,16, 17).
Muitos afirmam que as orações de confissão dos salmos 51 e 32 estão relacionadas ao relacionamento sexual pecaminoso de Davi com Bate-Seba (note o cabeçalho do salmo 51). Nesse cântico, Davi roga a graça e a compaixão de Deus. Ele deseja que o Senhor apague seus pecados e o purifique de suas iniquidades (51.1, 2). Davi reconhece que um relacionamento sexual extraconjugal é pecaminoso, que fez algo vil aos olhos de Deus e merece julgamento (51.3, 4). Entretanto, Davi está se afastando de um estilo de vida maligno e pedindo que Deus o purifique, o lave completamente e crie nele um coração puro (51.7-10). Davi anseia que o Senhor não se esqueça dele por causa de seus pecados; ele quer que Deus restaure a alegria em sua vida para compartilhar o que aprendeu com outros e alertá-los a não cometerem o mesmo erro (51.11-13). Assim que Deus o perdoa (isso porque Davi possuía um coração humilde, não porque tivesse cumprido algum ritual de sacrifício),Davi louva ao Senhor e canta de alegria (51.14-17).
O salmo 32 é uma ilustração do ensino de Davi a outros, a partir de sua experiência. Primeiro, ele tentou esconder seu pecado e recusou-se a reconhecê-lo como tal. Mas isso lhe pesou na consciência, e ele passou noites insones (32.3, 4). Por fim, Davi confessou seu pecado e deixou de tentar esconder sua culpa. Então, Deus o perdoou graciosamente (32.4,5),e ele desfrutou da bênção de ter seus pecados removidos (32.1, 2). Por causa dessa experiência, Davi instrui o povo de Israel a orar em busca de perdão tão logo tenha cometido qualquer pecado (32.6),em vez de se mostrar obstinado como uma mula(32.9).
A reincidência no pecado e a ausência de arrependimento nos causam muita tristeza. Mas a confissão de falhas e a confiança de que Deus nos perdoará promovem grande alegria (32.10, 11).Com certeza,o alerta de Davi sobre a importância de se confessarem os pecados está em harmonia com a mensagem do Novo Testamento.Lá encontramos a garantia de que, “Se confessarmos os nossos pecados, ele [Deus] é fiel e justo para perdoar...”(1Jo 1.9).
SALMOS DE SABEDORIA
SALMOS DE SABEDORIA
Embora seja um tanto difícil identificar um salmo de sabedoria, a maioria dos estudiosos concorda que existe um grupo deles que reflete os ensinamentos dos livros de sabedoria (S1 1; 37; 73; 112; 127; 128). A semelhança dos temas (prosperidade e destruição, o justo e o insensato, o sofrimento do justo) e as declarações proverbiais sugerem que os salmistas liam os escritos de sabedoria e acreditavam que seu ensinamento poderia ser usado para instruir e incentivar o povo de Israel.
O salmo 1 compara a vida do justo (1.1-3) com a do ímpio (1.4,5).Quem é abençoado por Deus não busca conselho de pessoas ímpias, não demonstra as mesmas atitudes dos pecadores e não participa de escárnios diante de questões espirituais. Em vez disso, dedica parte do dia à leitura e estudo da Palavra de Deus. Como consequência, Deus o faz prosperar (1.1-3). Os ímpios não agem como os justos; portanto, não permanecerão quando o Senhor lançar seu julgamento sobre eles (1.4, 5). A comparação final contrasta o cuidado de Deus com os justos e o castigo daqueles que não têm Deus (1.6).
O salmo 73 é um tanto semelhante ao livro de Jó. Ambos debatem a difícil questão do motivo de o justo sofrer e tantos ímpios aparentemente prosperarem (73.3-12). Quando parece inútil manter-se puro, ou quando pensamos que nossas tribulações não têm sentido, o salmista lembra aos crentes o final dos ímpios, mostrando que o seu fim não será de alegria (73.13-19). Em períodos de provação, devemos descansar na promessa de que Deus estará conosco (73.23), ter certeza de que receberemos a recompensa (73.24), esquecer os anseios terrenos e nos apegar a Deus,em busca de fortalecimento (73.25-28).
SALMOS REAIS
SALMOS REAIS
Neste grupo de salmos estão os cânticos a respeito de um rei terreno ou canções de sua autoria, bem como hinos sobre o reinado de Deus. No primeiro grupo encontram-se os salmos 20, 21, 45, 72, 89 e 132. Neles,o salmista clama a Deus que proteja o rei ungido de Jerusalém e lhe conceda vitória contra seus inimigos (S1 20). Em resposta à libertação que Deus lhe dá, o rei está feliz, confia em Deus e o louva (S1 21). Um cântico que provavelmente foi usado no casamento de um dos reis de Israel está registrado no salmo 45 e em outros dois salmos que dizem respeito à aliança de Deus com o rei Davi (v. 2Sm 7.1-16) - a saber, salmos 89 e 132.
Igual ou maior importância têm os salmos que celebram o governo soberano do próprio Deus (S1 47; 93; 96-99). Estes nãosão cânticos de coroação que acompanhavam as festividades de outono nas quais Deus era conclamado rei, como alguns já sugeriram,4
Na teocracia estabelecida quando Israel se tornou povo de Deus, todos compreendiam que o Senhor era o seu governante e rei. Por isso, Gideão recusou-se a assumir o trono (Jz 8,23), Um homem que se tornasse rei correria o risco de ser tentado a liderar a nação com suas próprias forças, em vez de permitir que Deus fosse o monarca supremo (1Sm 8.4-7; 12.12-15).
O grande rei a ser temido é o próprio Deus (S1 47.2). Ele reina sobre todas as nações da terra e merece ser louvado (47.6, 7). Ele é adorado porque é rei sobre todos os deuses (95.3; 97.9), porque julgará as nações (96.9-13)e porque governa a terra com poder e justiça (99.4). Ele é santo e o monarca todo-poderoso. Portanto, deve ser adorado como Mestre, Senhor e Rei de nossa vida.
SALMOS MESSIÂNICOS
SALMOS MESSIÂNICOS
Há vários problemas associados à interpretação dos salmos messiânicos. Algumas pessoas mostram-se bastante céticas para com as profecias messiânicas e negam que esses salmos sejam predições a respeito da vinda de Jesus. Acreditam que tais passagens refiram-se a Davi ou a algum outro indivíduo que tenha vivido nos tempos veterotestamentários.Outros aceitam as provas do Novo Testamento de que esses salmos falam de Jesus, mas acrescentam informações às passagens do Antigo Testamento que foram compreendidas somente quando do advento do Messias.
Parece-nos que o ideal é encontrar um meio-termo entre esses extremos. Quem interpreta o texto deve aceitar o testemunho neotes-tamentário de que essas passagens dizem respeito a Jesus, o Messias.Todavia,é necessário explicar esses salmos messiânicos com base no que foi revelado a Davi, e não a partir da informação entregue centenas de anos depois,quando os evangelhos foram escritos. Uma vez que os salmos davídicos não mencionam o nascimento virginal de Jesus (esse detalhe foi revelado cerca de 250 anos depois, por Isaías - Is 7.14), somos levados a concluir que Davi não tinha conhecimento disso.
Os salmos 2 e 110 são messiânicos e preveem que Deus estabeleceráseu Filho ungido como Rei de Sião (2.6). Ele governará toda a terra, e todos os povos se submeterão a ele ou serão destruídos (2.8-12). Essa profecia diz respeito à segunda vinda de Cristo, quando ele voltar em poder para governar a terra e instaurar seu reino definitivo. O salmo 110revela que o rei messiânico, queera o Senhor de Davi, um dia se assentaráà destra de Deus e governará toda a terra.
Alguns comentaristas discordam da maneira de interpretar alguns salmos que aparentemente não são messiânicos no Antigo Testamento,mas que aparecem citados no Novo como tais. Eles acreditam na existência de um duplo cumprimento, enquanto outros teólogos são da opinião de que há um cumprimento tipológico. Em qualquer dos casos, é importante que o estudante primeiro tente descobrir o que as passagens significavam para Davi e seus compatriotas israelitas.
VALOR TEOLÓGICO DESSES SALMOS
VALOR TEOLÓGICO DESSES SALMOS
1. Deus participa de maneira soberana da direção da vida do crente.
2. Apesar da pecaminosidade da raça humana, Deus oferece seu perdão gratuitamente àqueles que se arrependem.
3. Deus odeia o pecado e julgará o pecador.
4. Os preceitos divinos a respeito da vida estão revelados nas Escrituras.O justo desejará evitar atitudes pecaminosas e seguirá o caminho estipulado por Deus.
5. Deus é o Rei de toda a terra. Ele reina com todo poder e com justiça perfeita. No final, derrotará os poderes terrenos e todos o louvarão.
6. No final dos tempos, Deus enviará o Messias, que agora está assentado à destra de Deus, para derrotar as forças do mal definitivamente e governar sobre toda a terra.
PERGUNTAS PARA RECAPITULAÇÃO
PERGUNTAS PARA RECAPITULAÇÃO
1.Por que é importante ler e cantar os grandes atos da graça de Deus edo julgamento divino?
2. Qual o momento adequado para uma oração imprecatória? Que atitudes o cristão deve demonstrar ou evitar quando fizer uma oração desse tipo?
Aula 3 | Livros de sabedoria
Aula 3 | Livros de sabedoria
Provavelmente, o contexto cultural dos livros de sabedoria seja mais importante que o período histórico em que eles foram escritos,pois os conceitos neles apresentados não estão vinculados a uma época em particular. Esses livros tratam das questões básicas da vida (sabedoria e insensatez, sofrimento, educação de filhos, vaidade da vida sem Deus,necessidade de temer a Deus), com as quais sempre temos de lidar.Alguns escritos de sabedoria são construtivos (Provérbios),porque oferecem diretrizes sobre como viver de maneira bem-sucedida dentro da estrutura social e da ordem moral determinada por Deus. Outros escritos de sabedoria levantam questões a respeito da habilidade do ser humano para compreender plenamente a ordem social e moral existente em sua época e a maneira de agir nesse contexto (Eclesiastes e Jó). Ambos os enfoques mostram reconhecer que Deus dirige o mundo e que um relacionamento correto com ele produz a verdadeira sabedoria.
A literatura de sabedoria era popular no Egito (Ex 7.11; 1Rs 4.30;Is 19.11, 12), na Babilônia (Dn 1.20; 4,6, 7) e em Edom(Ob 8;Jó 2.11).Portanto, não é de surpreender que encontremos uma parte da Bíblia dedicada à sabedoria.1 Aparentemente, o sábio Jó era da cidade edomita de Uz (1.1). Salomão, Jó e escritores pagãos demonstravam a sabedoria que provinha naturalmente de seu conhecimento humano limitado a respeito da vida, porque Deus se revela a todas as pessoas por meio da natureza e da consciência (Rm 1;2).
A sabedoria inclui a compreensão apropriada dos preceitos culturais e morais, bem como o relacionamento correto entre a humanidade e os poderes espirituais atuantes no mundo. Obviamente, a “sabedoria” dos deuses pagãos estava em desacordo com a sabedoria de Deus, e não era tão poderosa quanto esta (Ex 7-9; Dn 2-5;1Co 1.18-2.16).
A literatura bíblica de sabedoria é também singular quando comparada aos livros de Moisés ou com os profetas, porque a sabedoria não está ligada diretamente à aliança de Deus com Israel. Em vez disso,aqueles escritos lidam com a questão do governo justo e ordenado do Senhor em toda a terra.
JÓ
JÓ
Deus é justo?
Embora Jó tivesse muitos filhos e fosse um criador de rebanhos bastante rico como alguns dos patriarcas mencionados em Gênesis, esse estilo de vida ainda era comum durante a época em que viveu Davi, bem como em áreas remotas do antigo Oriente Próximo até o século 19 ou 20 de nossa era. Uma vez que a literatura de sabedoria em Israel estava associada à vida nos dias de Salomão e Ezequias (1Rs 3.3-14; 10.6, 7, 23-25;Pv 1.1;25.1;Ec 1.1),muitos acreditam que o livo de Jó tenha sido escrito nesse período.
Esboço de Jó
Esboço de Jó
A motivação de Jó para servir a Deus 1-3
Jó era culpado ou Deus estava sendo injusto? 4-27
Onde encontramos a sabedoria 28
Jó declara sua inocência 29-31
Eliú defende a justiça de Deus 32-37
Deus revela seu poder e sua sabedoria 38.1-42.6
A restauração de Jó 42.7-17
O autor do livro de Jó revela informações concernentes às lutas espirituais invisíveis que ocorrem neste mundo. Já que alguns desses fatos são um mistério para a humanidade, é impossível compreender perfeitamente a razão por que Deus permite que certas coisas aconteçam. Isso demonstra que nosso relacionamento com o Senhor não pode se basear apenas na razão.Embora os escritos de sabedoria incentivem a análise da vida de maneira racional, eles reconhecem as limitações da sabedoria humana e conclamam as pessoas a temer a Deus e a depositar nele a fé.📷
A motivação de Jó para servir a Deus
A motivação de Jó para servir a Deus
Jó era um homem justo, temente a Deus e que se desviava do mal (1.1, 8; 2.3). Entretanto, o adversário de Deus e do homem levantou a suspeita de que Jó reverenciava o Senhor apenas porque este o havia abençoado com muitos filhos e grandes riquezas. Deus permitiu que Satanás testasse Jó, tirando-lhe os nove filhos e privando-o de suas posses. Todavia,Jó permaneceu fiel porque acreditava que Deus, que nos concede bênçãos generosamente, também tem o direito de tirá-las (1.20-22). Na segunda provação, Deus permitiu que Satanás lançasse sobre Jó uma terrível doença de pele. Ainda assim ele não culpou a Deus, embora sua esposa houvesse sugerido que ele amaldiçoasse o Senhor e morresse(2.9,10).
Jó era culpado ou Deus estava sendo injusto?
Jó era culpado ou Deus estava sendo injusto?
Três amigos de Jó vieram confortá-lo e consolá-lo. Após um período inicial de lamento e silêncio, os três apresentam suas opiniões por meio de discursos alternados. Entretanto, em alguns trechos, o orador não responde diretamente às acusações do indivíduo que se pronunciara anteriormente. Essa série de discursos inicia com Jó lamentando-se por ter nascido e manifestando seu desejo de morrer (3.1-26).
Elifaz,o temanita (proveniente de uma cidade edomita), responde com três discursos (4; 5; 15; 22). No primeiro, ele incentiva Jó à ser forte,porque ele já havia dado alento a outras pessoas com conselhos semelhantes.Jó deve colocar sua confiança em Deus, que cuida dos inocentes e julga os maus(4.3,6-9).Quando alguém peca, deve se sentir feliz se Deus o reprovar.Essa é a maneira pela qual o Senhor age para redimir os que estão em pecado (5.17-20). Essa foi a doutrina teológica básica usada por Elifaz e seus dois amigos ao longo de toda a conversa com Jó.
Elifaz ridicularizou as palavras vã de Jó (15.1-6) porque este rejeitou a sabedoria tradicional e declarou que possuía um conhecimento secreto vindo de Deus (15.7-13). Elifaz sabia que o Senhor julga os maus (15.18-35);portanto, repreendeu Jó porque este afirmou ser inocente (20.1-20).Ele estimula Jó a se arrepender para que Deus lhe restaure a vida (22.21-30).
Bildade responde a Jó três vezes (8; 18; 26), usando um.argumento teológico semelhante ao de Elifaz. No entanto, percebe-se que ele se mostra menos simpático. Deus é justo e não perverte sua justiça; se Jó o buscasse e se arrependesse, Deus o restauraria (8.3-7, 20). Jó deve aceitar a sabedoria tradicional, porque os ímpios que se esquecem de Deus são como uma planta sem água (8.8-15), mas os justos são semelhantes a uma planta regada (8.16-20). O destino dos maus é enfrentar problemas e, no final,a morte(18.5-21).
Em seus dois discursos (11; 20), Zofar mostra-se bastante cáustico e indiferente diante das provações físicas e mentais de Jó. Ele despreza friamente a declaração de inocência de seu amigo. Para ele, essa declaração de Jó soava como vanglória (11.3, 4). Ele pensava que Jó não havia compreendido os caminhos de Deus. Se ele se arrependesse, o Senhor o restauraria (11.7-15). Zofar rejeita completamente as observações de Jó de que, às vezes, Deus não julga os ímpios (20.4-29).
Em meio a esses discursos, Jó lamenta a angústia que tem experi-mentado devido ao seu sofrimento (7.3-8), questiona a razão por que Deus o está submetendo a todo esse mal (7.11-19) e rejeita o conselho de seus inú-teis consoladores (6.14-27). Jó queria provar sua inocência diante de Deus,mas era-lhe impossível levar o Senhor a um tribunal (9.1,2, 14-16).Como ele poderia demonstrar que, às vezes, Deus trata os maus e os justos da mesma maneira (9.22)? Infelizmente, não havia juiz que pudesse examinar esse caso ou estabelecer um veredicto com respeito ao tratamento que Jó estava rece-bendo (9.33-35). Ele odiava sua doença de tal maneira (10.1-7) que decidiu prosseguir com seus planos de “processar”a Deus (13.1-19).
Primeiramente,Jó rejeita o conselho tradicional de seus amigos, porque a sabedoria e o poder verdadeiros pertencem a Deus (12.1-6,13-25).A partir desse momento, ele se dirige diretamente ao Senhor. Afirma que Deus destruíra sua vida enquanto ele estava em paz, atacou-o por todos os lados e fez dele seu inimigo (16.7-17). Jó clama por uma testemunha ou advogado nos céus que possa avaliar sua situação (16.18-22), porque seus amigos não podiam lhe oferecer consolo. Com certeza os justos ficariam revoltados ao perceber a maneira como seus amigos e Deus o estavam tratando (17.1-10;19.1-12). As pessoas o viam como um pária da sociedade, e sua família, seu servos e seus companheiros o desprezavam (19.13-22). Sua esperança era que houvesse um registro eterno daqueles fatos, de maneira que, ao final, o seu Redentor pudesse justificá-lo (19.23-27).
O cerne do argumento de Jó era o fato de que Deus nem sempre abençoa o justo e julga o ímpio, como seus amigos declararam. Isso porque Jó percebia que muitos homens maus levavam uma vida feliz e próspera (21.7-34;24.1-17). Jó queria que Deus explicasse a maneira com que aplicava a justiça por meio de um processo legal e dissesse a Jó por que razão ele, apesar de inocente, estava sofrendo. Apesar de o poder e' a sabedoria de Deus serem muitas vezes incompreensíveis ao ser humano (26.5-14), Jódemandava uma explicação. Ele era inocente (27.1-6) e, apesar disso,estava sendo julgado. Ele precisava de algo que viesse a'pôr abaixo o ponto de vista tradicional de que Deus julga apenas os ímpios, pois isso implicava em que Jó estava sendo contado entre eles (27.7-23).
Onde se encontra a sabedoria
Onde se encontra a sabedoria
O autor do livro de Jó inseriu um poema sucinto a respeito da dificuldade de encontrar a sabedoria.3 Embora pessoas achem pedras e metais preciosos nas profundezas da terra, onde está a sabedoria? Ela é o bem mais valioso, mas está oculto à humanidade. Com certeza, Deus é a única fonte verdadeira de sabedoria.
Jó declara sua inocência
Jó declara sua inocência
O diálogo entre Jó e seus amigos termina em frustração para todos. Jó apresenta um resumo final de seus argumentos para encerrar seu argumento.Antes, ele havia sido abençoado por Deus e fora um homem honrado e respeitado na sociedade (29.1-25). Agora, porém, era ridicularizado entre os seus contemporâneos e sofria os ataques de Deus (30.1-31). Ainda assim, ele não tem culpa da longa lista de pecados - grandes e pequenos-, dos quais é acusado (31.1-40). Jó requer que Deus lhe diga como isso pode ser justo.
Eliú defende a justiça de Deus
Eliú defende a justiça de Deus
Embora Eliú não tenha sido apresentado no início do diálogo, ele agora se pronuncia para justificar as atitudes de Deus e refutar as afirmações de Jó. Após uma longa introdução na qual defende seu direito de falar (32.6-22), Eliú rejeita a declaração de Jó de que Deus nunca responde aos questionamentos do ser humano. Deus fala por intermédio de visões, de doenças e de um mediador que livrará aqueles que se arrependerem de seus pecados (33.13-28). Ao reafirmar a justiça divina, Eliú nega a declaraçāo de Jó de que o Senhor não estava sendo correto por tratar todos igualmente (34-35). Por último, ele descreve vários aspectos no mundo natural que demonstram o governo soberano de Deus. Alguns desses fatos vão além da compreensão humana. Por isso é inconcebível que qualquer pessoa questione o que Deus faz(36;37).
Deus revela seu poder e sua sabedoria
Deus revela seu poder e sua sabedoria
Finalmente, Deus responde a Jó em dois discursos. Primeiro, ele o desafia a ensinar-lhe a respeito das medidas da terra. Foi Deus quem criou e controla o mar, a luz, o mundo subterrâneo e o clima, mediante o seu poder e a sua sabedoria (38.1-38). Ele também compreende os hábitos do leão, do cervo, do boi, do avestruz, do cavalo e das aves de rapina, e domina sobre eles (38.39-39.30). Poderia Jó encontrar algum defeito em Deus? Não. Ele permanece silente diante do poder e da sabedoria do Senhor(40.1-5).
Em seu segundo discurso, Deus desafia seu acusador a ensinar-lhe a respeito da justiça (40.6-14). Todavia, Jó não tem poder ou conhecimento,nem sequer para levar a juízo animais como Leviatã e Beemote. Portanto,como pode ter a presunção de ensinar a Deus, que os criou(40.15-41.34)?Em resposta, Jó admite ter reclamado a respeito de coisas que não conhecia.Agora seus olhos haviam sido abertos para o mistério dos caminhos gloriosos de Deus, e ele se humilha (42.1-5).
A restauração de Jó
A restauração de Jó
Deus demonstrou ainda que os três amigos de Jó estavam errados e que Jó estava correto. Ele não estava sofrendo por ter cometido um grande mal. Os três confessaram seu erro e Jó orou por eles. Então o Senhor concedeu a Jó mais filhos e o abençoou com grandes riquezas.
VALOR TEOLÓGICO DE JÓ
VALOR TEOLÓGICO DE JÓ
1. Às vezes, Deus permite que sejamos provados para que demonstremos nossa dedicação a ele e a nossa submissão à sua vontade para nossa vida.
2. É errado concluir que todas as doenças e problemas são consequência do pecado. As vezes, inocentes sofrem e ímpios não são julgados de imediato.
3. Como os seres humanos não conseguem ver tudo que acontece no universo e têm uma compreensão muito limitada dos planos e dos sábios ropósitos de Deus, não devemos questionar sua justiça.
4. Não é possível consolar quem está sofrendo com acusações imaturas.Só a demonstração de compaixão e a oração com súplica diante de Deus vão favorecer essa pessoa.
No Novo Testamento, Tiago nos faz lembrar da paciência de Jó,durante seu longo período de sofrimento e nos incentiva a esperar fielmente até que Deus manifeste sua compaixão.
Os planos divinos - misteriosos, porém, sábios - que revelam a maneira como ele governa o mundo, estão presentes em várias passagens do Novo Testamento. Jesus disse a seus discípulos que certo cego que o procurou em busca de cura estava naquela condição não porque ele ou seus pais houvessem pecado. A aflição daquele homem não era uma punição; ele nascera cego para que Deus pudesse manifestar o seu poder por intermédio de Jesus (Jo 9.1-3).
ECLESIASTES
ECLESIASTES
Distinção entre a vaidade e o que é bom
As repetidas afirmações a respeito da vaidade da vida debaixo do sol geralmente estimulam reações negativas com relação ao valor do livro de Eclesiastes. Seu conteúdo aparenta ser pessimista, fatalista, cínico e sem muito significado espiritual. Entretanto, esse ponto de vista faz esquecer as inúmeras declarações presentes no livro,a respeito do que é bom e prazeroso para o ser humano. Devemos temer a Deus e nos lembrar de que todas as coisas boas que temos são dádivas divinas. Por causa dessas duas ênfases (o que é vaidade e o que é bom) é apropriado encarar o autor como um indi-víduo realista,que reconhecia que a vida é cheia de frustrações e situações vãs. No entanto, ele também reconhece que há alguns valores que concedem sentido à vida e estimula seus leitores a serem sábios para reconhecer o que é importante e o que é inútil.
Esboço de Eclesiastes
Esboço de Eclesiastes
A experiência revela a vaidade na vida 1.1-6.12
- A mesmice é vã 1.1-11
- O esforço e a dedicação apenas estimulam a vaidade 1.12-2.26
- Ninguém consegue compreender completamente a vida ou Deus 3.1-4.16
- A futilidade da hipocrisia e das riquezas 5.1-6.12
A experiência demonstra o que é bom 7.1-12.7
- O que é bom e sábio 7.1-29
- É bom desfrutar a vda 8.1-9.9
- Trabalhe,seja sábio e evite a insensatez 9.10-10.20
- Lembre-se do seu Criador e tema a Deus 11.1-12.7
O pregador e mestre foi rei em Jerusalém e filho de Davi (1.1, 12).Salomão é o único que se enquadra nessa descrição. Será que esse livro foi escrito a respeito dele ou ele próprio se conscientizou da insignificância de sua vida? Alguns sugerem que Salomão pode ter se arrependido de suas atitudes pecaminosas (1Rs 11.1-11) quando estava prestes a morrer. Mas a Bíblia não menciona que ele tenha experimentado um avivamento ao final de seus dias.
A experiência revela a vaidade da vida
A experiência revela a vaidade da vida
Que vantagem as pessoas obtêm de todo o seu trabalho? Os seres humanos lucram o mesmo que o sol, que está sempre se levantando e se pondo, voltando sempre para o mesmo lugar. Somos como o vento ou a água que nunca terminam suas tarefas. Todo trabalho parece ser vão.
Esforçar-se constantemente para buscar sabedoria não é a resposta.Fazer isso apenas aumentaria o nosso sofrimento (1.12-18). Esforçar-se para alcançar os prazeres do vinho, das riquezas, de maior número de servos, ouro ou bela música não traz satisfação duradoura (2.1-11).Embora seja melhor ser sábio, tanto o sábio como o tolo morrem, e logo são esquecidos. A vida e todo o nosso trabalho, às vezes, parecem fúteis,porque talvez nossos filhos venham a desperdiçar tudo aquilo que conse-guimos acumular. O melhor a fazer é gozar do que Deus nos der. Ele concede sabedoria e alegria para as pessoas boas, mas privará o tolo de desfrutar o pouco que ele tem (2.24-26).
É sinal de sabedoria reconhecer que existe um tempo certo para tudo na vida - paz e guerra, nascimento e morte(3.1-8).Deus estabeleceu tudo isso secretamente para que as pessoas o temam. Embora não consigamos compreender plenamente o plano de Deus, devemos nos regozijar, trabalhar bastante e encarar a vida como uma dádiva graciosa do Senhor (3.9-15). A existência pode parecer injusta, às vezes, mas nós não conseguimos julgá-la melhor do que os animais. Deus vai ávaliar todos os atos da humanidade,mas principalmente os feitos daqueles que oprimem outras pessoas, ou daqueles que são egoístas, viciados em trabalho, extremamente competitivos ou intransigentes (4.1-16). Essas características estimulam a vaidade, e não a sabedoria.
Adorar a Deus fingidamente é atitude vã, porque o Senhor sabe tudo o que fazemos. Deus deseja apenas que o temamos (5.1-7). Depender das riquezas também é futilidade, porque elas não podem nos satisfazer e não nos acompanharão quando morrermos (5.10-6.9). É melhor desfrutar somente aquilo que Deus nos dá. Essas são dádivas divinas, e o Senhor pode nos conceder a capacidade de viver satisfeitos com aquilo quetemos (5.18-6.2).
A experiência demonstra o que é bom
A experiência demonstra o que é bom
Valendo-se de provérbios profundos, o autor de Eclesiastes sugere que é bom meditar a respeito da brevidade da vida, dar ouvidos às pessoas sábias, ser paciente, não desejar reviver os anos passados e satisfazer-nos com o que possuímos (7.1-14). Embora seja difícil compreender por que às vezes o justo sofre, o sábio teme a Deus e escapa de problemas, por evitar posturas extremadas. A sabedoria resulta em forças para resistir às atrações pecaminosas que afetam a todos (7.19,20).
Infelizmente, há poucas pessoas sábias à nossa volta, embora, no princípio, Deus tenha feito o homem justo. A melhor maneira de demons-trar sabedoria é ser leal e obediente às leis e aos governantes (8.1-9),embora seja óbvio que estes nem sempre recompensam os atos dos justos (8.10-14).Apesar de não compreendermos por que Deus permite que coisas assim aconteçam, podemos estar seguros de que nossa vida está nas mãos dele (8.16-9.1). No final, todos morreremos. No entanto, antes que esse dia chegue, é importante que nos sintamos felizes e desfrutemos a vida em família,trabalhemos bastante e cumpramos as nossas responsabilidades,além de encarar a sabedoria como um magnífico recurso que nos garante uma existência agradável (9.2-18). Essa atitude nos ajuda a evitar comporta-mentos tolos, como cair numa cova que cavamos para servir de armadilha para outra pessoa (10.1-20).
Necessitamos viver pela fé (11.1-6), regozijar-nos e pensar em Deus,nosso Criador, antes que fiquemos velhos e morramos (12.1-7). Existe muita vaidade na vida; portanto, quem teme a Deus e obedece a seus mandamentos adquirirá a sabedoria por meio das pessoas que o Bom Pastor coloca em nosso caminho (12.8-14).
VALOR TEOLÓGICO DE ECLESIASTES
VALOR TEOLÓGICO DE ECLESIASTES
1. Aqueles que estão sempre se esforçando para conseguir mais sabedoria,prazeres ou riquezas encontrarão futilidade em vez da verdadeira satisfação.
2. Embora não consigamos compreender plenamente os planos de Deus,ele está no controle de todos os aspectos de nossa vida.
3. Devemos desfrutar a comida, a família e o trabalho que Deus nos concede, pois são bênçãos divinas.
4. Acima de tudo, devemos temer a Deus, obedecer a seus mandamentos,ser sábios e viver de maneira prudente neste mundo mau.
PERGUNTAS PARA RECAPITULAÇÃO
PERGUNTAS PARA RECAPITULAÇÃO
1. Por que sofremos? Apresente algumas respostas, a partir do livro de Jó.
2. Se você não tivesse conhecimento do que está registrado nos capítulos 1 a 3 do livro de Jó, e fosse um dos três amigos que tentaram consolá-lo,o que teria dito a ele?
3.O que Jó aprendeu quando Deus falou com ele (caps. 38-41)? Veja também Jó 40.1-5, 42.1-6.
4. Por que o livro de Eclesiastes compara tantas atividades com o ato de correr atrás do vento?
5. Compare Eclesiastes 2.24-26, 3.12-14, 5.18-20,9.7-10 com as advertências de Paulo em Filipenses 4.11-13, 1Timóteo 6.6-11 e Hebreus 13.5,6.
Aula 4 | Sabedoria didática
Aula 4 | Sabedoria didática
Os títulos dos dois livros que vamos estudar neste capítulo estão relacionados ao período do reinado de Salomão, filho de Davi, rei em Jerusalém por volta de 970-930 a.C. (Pv 1.1; 10.1; 25.1; Ct 1.1;3.7,9,11; 8.11, 12). Quando Salomão chegou ao trono, pediu que Deus lhe desse sabedoria para conduzir a nação e julgar entre o certo e o errado (1Rs 3.6-12).Deus lhe concedeu sabedoria e discernimento extremos,mais do que quaisquer dos monarcas que o antecederam ou que o sucederam.A rainha de Sabá testemunhou a sabedoria de Salomão (1Rs 10.1-8).De acordo com 1Reis 4.32, ele ditou três mil provérbios e compôs 1 005canções. Isso significa que todo o conteúdo do livro de Provérbios e de Cântico dos Cânticosrepresenta uma pequena parte de seus escritos.Ninguém sabe ao certo a extensão que tinha o livro de Provérbios ao final da vida de Salomão, mas em 25.1 indica-se que alguns ditos foram incluídos somente no tempo de Ezequias. As introduções dos capítulos 30 e 31 revelam que os ensinos de Agur e do rei Lemuel também foram acrescentados a essa coletânea. O contexto histórico e a época em que viveram aqueles indivíduos nos são desconhecidos, mas muitos estudiosos supõem que os dois sejam de um período posterior aos dias de Ezequias.
Cântico dos Cânticos contém uma série de canções que também são bastante difíceis de datar. Estas podem ter uma relação distante com os cânticos de casamento usados pelos árabes, centenas de anos depois, na Síria. No entanto, esse detalhe está mais relacionado com o aspecto cultural do que com a data de registro do livro. Poderíamos fazer uma comparação melhor com o cântico de casamento do salmo 45. Como não existe nenhuma prova direta de que as melodias de Cântico dos Cânticos foram entoadas originalmente em uma cerimônia de casamento (a passagem em seguida a 5.1 ocorre após a cerimônia), é mais prudente considerar esses cânticos como poemas de amor em vez de afirmar que tenham sido usados em uma cerimônia de núpcias.' Alguns acreditam que essas canções tenham sido compostas a respeito da união de Salomão com sua noiva sulamita, mas que não são da autoria do rei.
Através dos anos, tem havido bastante controvérsia a respeito do significado desse livro. Muitos acreditam que seja uma alegoria sobre o amor de Deus por Israel ou pela igreja. Já outros o encaram simplesmente como um relato literal do amor conjugal. Na verdade, ele serve a ambos os propósitos - é um relato histórico com dois temas. Em um deles,aprendemos a respeito do amor, do casamento e do sexo; no outro, vemos o grande amor de Deus por seu povo.
Arqueólogos têm descoberto canções curtas e declarações proverbiais entre os escritos dos sumérios, babilônios e egípcios.2 Os cânticos e os ditos proverbiais são comuns entre pessoas menos instruídas. No entanto,os conceitos debatidos nas classes sociais mais elevadas, constantes dessas coletâneas de provérbios, sugerem que eles podem ter sido empregados na educação de jovens que serviam na corte real (Pv 14.35; 22.29; 23.1,20).Obviamente,é provável que aqueles que conheciam esses provérbios tenham transmitido tais princípios a outros indivíduos que não partici-pavam da corte.
PROVÉRBIOS
PROVÉRBIOS
A sabedoria presente no livro de Provérbios aparece distribuída em uma variedade de formas estilísticas: a) declarações antitéticas (que apresentam ideias opostas) - “Os pensamentos do justo são retos, mas os conselhos do perverso, engano” (Pv 12.5); b) comparações com elementos da natureza-“Como água fria para o sedento, tais são as boas-novas vindas de um país remoto” (Pv 25.25); c) comparações que declaram como “melhores” certos modelos de comportamento -“Melhor é morar numa terra deserta do que com a mulher rixosa e iracunda” (Pv 21.19); d) ditos numéricos - “Há três coisas que são maravilhosas demais para mim,sim,há quatro que não entendo...” (Pv 30.18); e) advertências com respeito ao comportamento sábio-“Inclina o ouvido, e ouve as palavras dos sábios, e aplica o coração ao meu conhecimento” (Pv 22.17); f) admoestações contra comportamentos tolos - “Não te fatigues para seres rco; não apliques nisso a tua inteligência" (Pv 23.4).
Embora partes do livro de Provérbios não tenham muita coesão em termos de continuidade de pensamento, ele pode ser dividido em várias unidades.
Esboço de Provérbios
Esboço de Provérbios
O propósito de Provérbios 1.1-6
Instruções para ser sábio 1.7-9.18
Os provérbios de Salomão 📷
Admoestações e advertências 22.17-24.34
Coletânea dos provérbios de Ezequias 25.1-29.27
As palavras de Agur e Lemuel 30.1-31.9
A esposa virtuosa 31.10-31
O livro de Provérbios não traz leis absolutas relacionadas a fatos futuros.Tampouco profetiza sobre as consequências de certos comporta-mentos. O livro baseia-se na experiência de muitas pessoas para instruir os jovens a respeito do que acontece neste mundo. Se determinados traços de caráter e atitudes produzem bons resultados e trazem as bênçãos de Deus, seremos sábios em segui-los. Outros traços de caráter e modelos de comportamento causam problemas e geram fracasso; portanto, o sábio os evitará, de maneira que seu relacionamento com Deus e com as outras pessoas seja justo e reto.
O propósito de Provérbios
O propósito de Provérbios
O propósito de Provérbios é transmitir sabedoria, conhecimento e compreensão aos leitores, estimulá-los a desenvolver um comportamento sábio e a agir com justiça, honestidade, prudência e discrição. Quem desejar que essas características sejam nele reconhecidas deve estudar esse livro com frequência.
Instruções para ser sábio
Instruções para ser sábio
A sabedoria consiste em evitar a companhia de pecadores (1.8-19),a mentira (4.20-27), a imoralidade sexual (5.1-23; 6,20-35; 7.1-27),a preguiça (6.6-11) e o engano (6.12-15). Em vez disso, é preciso temer a Deus (1.7; 2.5; 3.7; 9,10), buscar a sabedoria que o Senhor concede (2.6), confiar em Deus de todo o coração (3.5), aceitar a disciplina divina (3.11, 12),honrar a Deus com seus bens (3.9), ser justo e honesto nos negócios (2.7, 8) e dar liberalmente aos necessitados (3.27,28).Deus criou este mundo segundo a sua sabedoria (3.19), colocou as montanhas em seu lugar, estabeleceu as estrelas e os planetas no céu, determinou os limites do oceano e regozijou-se com o que havia feito (9.22-31). Ele sabe como este mundo funciona e está no controle de tudo. Portanto, o sábio respeitará e colocará em prática seus preceitos de vida.
Os provérbios de Salomão
Os provérbios de Salomão
Embora essa parte inclua menos divisões por tópicos, vários temas são enfatizados repetidas vezes nesses provérbios antitéticos. O controle soberano de Deus sobre os atos dos seres humanos é certo, porque ele cuida dos justos quando estes estão enfrentando problemas (10.3), concede bênçãos e riquezas (10.6,22)e prolonga a vida de uma pessoa (10.27). Os olhos de Deus veem tudo o que fazemos (15.3). Ele até mesmo conhece nossa motivação (16.2;17.3; 21.2); portanto, destruirá a casa do orgulhoso (15.25). Embora façamos planos, é Deus quem responde às nossas orações e guia nossos passos de acordo com seus propósitos (16.1, 4, 9, 33; 19.21). A vitória na guerra vem de Deus (21.31), e ele retribuirá àqueles que praticam o mal (20.22).
O sábio não age como o tolo; ele evita a maldade, a calúnia, a preguiça,o orgulho, o engano, a crueldade e a ira. Teme a Deus e anda em seus caminhos para que sua vida seja longa e abençoada (14.2,26,27;15.16,33; 16.6; 19.23; 22.4). A verdadeira sabedoria faz com que as pessoas vivam em um relacionamento teologicamente correto com Deus e mantenham um convívio social adequado com seus semelhantes.
Admoestações e advertências
Admoestações e advertências
Essa parte, que tem muita semelhança com a obra literária egípcia Sabedoria de Amenemope, é mais parecida com leis do que com provérbios de sabedoria. Muitos parágrafos começam com “Não...”e alertam o leitor contra a opressão do pobre (22.22), a associação com o iracundo e com o colérico (22.24), o esforço despendido na busca de riquezas (23.4), a omissão na disciplina dos filhos (23.13), a inveja dos pecadores (23.17;24.1, 19), e o regozijo diante do fracasso do inimigo (24.17). Na maioria dos casos, vemos por que essas atitudes são consideradas tolas pelo sábio Salomão (22.23 - “... porque o SENHOR defenderá a causa deles e tiraráa vida aos que os despojam”; 24.18 -“ para que o SENHOR não veja isso, e lhe desagrade...").
O sábio confiará em Deus (22.19), desejará seguir o caminho da sabedoria (24.3-7), respeitará as pessoas em posição de autoridade (24.21),demonstrará imparcialidade no julgamento (24.23) e se dedicará ao trabalho (24.30-34).
Coletânea dos provérbios de Ezequias
Coletânea dos provérbios de Ezequias
Os muitos provérbios colecionados por Ezequias e constantes desta seção são muito bem desenvolvidos. “Como maçãs de ouro em salvas de prata,assim é a palavra dita a seu tempo” (25.11). “Se o que te aborrece tiver fome,dá-lhe pão para comer; [...] porque assim amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça"(25.21,22). “Ao insensato responde segundo a sua estultícia, para que não seja ele sábio aos seus próprios olhos" (26.5). “Como o cão que torna ao seu vômito, assim é o insensato que reitera a sua estultícia”(26.11).Estas e muitas outras ricas comparações são uma mina de ouro de conselhos práticos para qualquer pessoa que realmente deseje ser tão sábia quanto Salomão. Os que têm olhos devem ler esses provérbios para receber entendimento.
As palavras de Agur e Lemuel
As palavras de Agur e Lemuel
O sábio Agur admite não ser capaz de compreender tudo o que Deus faz (30.2-4), mas deseja que o Senhor lhe conceda sabedoria e o afaste do engano (30.8,9). Então, ele apresenta uma série de provérbios numéricos de sabedoria relacionados com o impressionante comportamento de pessoas e animais (30.10-33). O rei Lemuel adverte contra os males de embebedar-se com vinho (31.1-9).
A esposa virtuosa
A esposa virtuosa
O último parágrafo do livro é um poema em forma de acróstico que descreve a virtude, a diligência, as habilidades, a sabedoria, a devoção, a generosidade e a beleza interior deuma mulher sábia e temente ao Senhor.Ela é esposa excelente e maravilhosa dádiva de Deus.
VALOR TEOLÓGICO DE PROVÉRBIOS
VALOR TEOLÓGICO DE PROVÉRBIOS
1. Temer a Deus é o primeiro passo para adquirir sabedoria.
2. Deus criou este mundo e o controla de acordo com seus princípios sábios.
3. Os tolos rejeitam a Deus e seus caminhos, mas o sábio confia nele e desfrutará suas bênçãos.
4. Deus estabeleceu diretrizes para orientar o relacionamento interpessoal dos justos. O sábio as aprenderá e praticará.
CÂNTICO DOS CÂNTICOS
CÂNTICO DOS CÂNTICOS
Não há livro no Antigo Testamento que se assemelhe ao Cântico dos Cânticos. Ele não traz sermões como os textos proféticos, mas apresenta uma série de diálogos entre um homem e uma mulher, um coro entoado pelas filhas de Jerusalém e uma donzela, e diálogos entremeados de sonhos.Pelo fato de o povo de Israel, a aliança e o relacionamento entre Deus e a humanidade não serem os principais assuntos nesse livro, houve muitos debates entre os judeus da Antiguidade com relação à inclusão de Cântico dos Cânticos no cânon das Escrituras.
Já outros se sentiam ofendidos pelo enfoque aparentemente lascivo sobre a beleza do corpo humano. Consequentemente, apresentaram inter-pretações “mais santificadas”, vendo essas descrições como uma simbologia do amor entre Deus e Israel ou, para os cristãos, do amor entre Cristo e a igreja. Isso estimulou interpretações alegóricas exageradas que não têm re-lação com o significado histórico ou gramatical do texto.
Enquanto muitos estudiosos identificam apenas dois personagens principais nessa história de amor, alguns creem que o livro trate de um triângulo amoroso. Salomão estaria tentando conquistar uma bela campo-nesa,mas ela estaria apaixonada por um pastor, um rapaz simples.O drama descreve a tensão que se desenvolve por causa desse conflito de interesses.3Uma vez que a participação do pastor não é explicitada no relato, preferimos rejeitar essa interpretação.
À luz da importante participação do amor no elacionamento entre um homem e uma mulher, não devemos nos surpreender em encontrar um debate bíblico a respeito desse assunto. Muitas outras passagens das Escrituras condenam os relacionamentos sexuais pervertidos do povo de Sodoma e Gomorra (Gn 19), contêm uma longa lista de leis a respeito da pureza e da sexualidade (Lv 15; 18; 20), condenam Davi por seu pecado com Bate-Seba (2Sm 11-12), rejeitam a prostituição praticada nos templos de Baal (1Rs 14.24; 2Rs 23.7) e advertem os jovens a se afastarem das mulheres perversas (Pv7).Nessas canções existe uma descrição positiva do amor e da sexualidade.
Esboço de Cântico dos Cânticos
Esboço de Cântico dos Cânticos
Expressões mútuas de amor 1.1-2.7
O encontro do casal no campo 2.8-3.5
A procissão nupcial e a cerimônia 3.6-5.1
O anelo da noiva por seu amor 5.2-6.9
O noivo assegura-lhe o seu amor 6.1-8.4
Afirmações finais de amor 8.5-14
Uma descrição sucinta dos fatos relacionados a cada episódio tornarámais claro o relato e dará ênfase à necessidade de expressarmos amor pela pessoa amada.
Expressões mútuas de amor
Expressões mútuas de amor
A mulher deseja estar com o rei em seus aposentos (1.2, 3), mas com bastante simplicidade ela não se acha bonita (1.5-7). Salomão diz o quanto ela é bela (1.9, 10,15). Então, ela medita (1.12-14) e expressa sua admiração por Salomão e sua casa (1.16, 17). Ela ainda se vê como uma moça comum,como um simples lírio (2.1), mas o grande Salomão levou-a a se apaixonar profundamente por ele (2.3-6).
O encontro d casal no campo
O encontro d casal no campo
Certo dia, Salomão foi até o vilarejo natal dessa jovem e a encontrou (1.8, 9). É primaverà, e ele a convida para passar algum tempo em sua companhia (2.10-14). Quando ele vai embora, ela sonha com o rei, sai a sua procura à noite e, finalmente, encontra seu amor (3.1-5). Ela não consegue ficar longe dele.
A procissão nupcial e a cerimônia
A procissão nupcial e a cerimônia
Aqui vemos uma descrição grandiosa da procissão nupcial em que o rei é carregado em uma liteira e acompanhado de soldados. Começam os preparativos para o dia do casamento (3.6-11). Salomão elogia a aparência física de sua noiva (4.1-6) e deseja estar a sós com ela para explorar o seu amor e os prazeres sexuais de seu jardim (4.7-15). Ela aceita o amor do rei e ele entra no jardim de amor de sua noiva(4.16-5.1).
O anelo da noiva por seu amor
O anelo da noiva por seu amor
Após o casamento, a noiva sente saudades de seu marido, que se ausentou. Nos sonhos dela, os dois têm de cumprir atividades diferentes e se separam um do outro (5.2-7). Ela está ansiosa para encontrá-lo,mas ele se foi.Tudo que ela pode fazer é entoar uma canção de louvor na qual expressa o profundo amor por seu marido (5.10-16). Por fim, ele retorna para o jardim de amor de sua amada (6:2, 3) e diz o que sente por ela (6.4-9).
O noivo assegura-lhe o seu amor
O noivo assegura-lhe o seu amor
Salomão reafirma à sua esposa sua opinião sobre sua beleza e seu profundo amor por ela (7.1-10). Ela deseja levá-lo para o campo (para longe dos negócios), talvez de volta à suaantiga casa, para que possam desfrutar melhor do amor um pelo outro (7.11-8.3).
Afirmações finais de amor
Afirmações finais de amor
O casal se ausenta, e os dois renovam seu amor próximo à casa dela (8.5, 6). Ela descreve a força do poder do amor e como este é precioso (8.6,7).Embora fosse uma jovem imatura, virgem, que não conhecia homem algum (8.8, 9), ela agora encontrou Salomão e se entrega a ele espontaneamente (8.10-12).
VALOR TEOLÓGICO DE CÂNTICO DOS CÂNTICOS
VALOR TEOLÓGICO DE CÂNTICO DOS CÂNTICOS
1.O amor nos estimula a manifestar nosso apreço pela beleza(interior e exterior) da pessoa amada e resulta em um forte compromisso de devoção e satisfação mútuas.
2. Não se pode forçar ou comprar o amor; ele deve fluir espon-taneamente.
3. A pureza sexual antes do casamento é essencial. De outra maneira,o laço singular do amor conjugal se enfraquece.
PERGUNTAS PARA RECAPITULAÇÃO
PERGUNTAS PARA RECAPITULAÇÃO
1.O que Provérbios 2-7 menciona a respeito do comportamento sexUal extraconjugal?
2. Utilizando-se de uma concordância,procure as seguintes palavras em Provérbios: preguiça/preguiçoso, língua,disciplina, temor. Liste as referências e escreva um parágrafo curto a respeito de cada tema.Compartilhe com outra pessoa o que você aprendeu.
3. Como o temor de Deus afeta a vida cotidiana de uma pessoa?
4.Como podemos definir o amor? Quais são algumas das características do amor citadas em Cântico dos Cânticos?
5.Como o amor humano pode nos ajudar a compreender o amor de Deus por nós? O que deve caracterizar nosso amor por ele?
6. Quais são as muitas interpretações de Cântico dos Cânticos?
AULA 5 | Compreendendo e interpretando os profetas
AULA 5 | Compreendendo e interpretando os profetas
A DIVERSIDADE ENTRE OS PROFETAS
A DIVERSIDADE ENTRE OS PROFETAS
Quando a maioria das pessoas fala a respeito dos profetas, imediata-mente pensa em homens como Isaías ou Daniel, porque eles escreveram alguns dos livros proféticos mais importantes da Bíblia.Sem dúvida, esses homens foram personagens-chave usados por Deus para proclamar a sua Palavra. No entanto, houve muitos outros homens e mulheres em Israel que eram hábeis na transmissão de mensagens proféticas, mas que não escreveram livros (de alguns deles nem sequer sabemos o nome).Moisés enfrentou muitos problemas com o povo de Israel durante a peregrinação no deserto. Por isso, Deus o incentivou a dividir o fardo com setenta anciãos (Nm 11.10-17). Depois que esses homens se consa-graram ao Senhor, Deus derramou seu Espírito sobre eles, que profe-tizaram. Porque profetizaram apenas essa vez, não foram considerados profetas oficiais (11.24,25).
Alguns profetas, tais como Samuel, Jeremias e Ezequiel, eram também sacerdotes. Por causa disso, desempenhavam duas funções na sociedade israelita. Alguns sacerdotes levitas profetizavam enquanto entoavam louvoes a Deus e tocavam instrumentos musicais no templo (1Cr 25.1-5). Outros profetas, como Gade e Natã (que, às vezes,eram chamados videntes), não tinham um ofício regular no templo, mas entregavam a mensagem de Deus esporadicamente e atuavam como conselheiros morais e políticos para o rei Davi (2Sm 12.1-15;24.11;1Cr 21.9). Alguns poucos profetas, como Eliseu, realizavam milagres (2Rs 4), mas a maioria deles não tinha poderes sobrenaturais. Alguns adoravam juntos, como um grupo, nos dias de Samuel (1Sm 10.5). Os filhos dos profetas que estavam em Betel e Jericó na época de Eliseu viveram e estudaram juntos (2Rs 2.1-18). Quase todos os profetas posteriores que tiveram suas mensagens registradas trabalharam sozinhos e não fizeram referência a outros colegas de ministério de sua época.
Miriã foi a primeira mulher a desempenhar as funções de profetisae a cantar louvores a Deus (Ex 15.20). Débora foi profetisa e juíza em Israel (Jz 4.4), e Hulda foi a profetisa que serviu ao rei Josias e identificou o livro encontrado no templo como a Lei de Moisés (2Rs 22.14-20).
Esses exemplos demonstram que Deus usava pessoas de classe sociais diferentes para proclamar, em vários contextos, as suas mensagens. Essa diversidade era necessária para que a Palavra de Deus atingisse todas as camadas da sociedade. Entretanto, essas diferenças sociais geraram outros problemas, tornando difícil para algumas pessoas fazer diferença entre os profetas verdadeiros e os falsos profetas.
A UNIDADE ENTRE OS PROFETAS
A UNIDADE ENTRE OS PROFETAS
O fator determinante para a identificação de um profeta não era a sua função ou os seus antepassados, nem o fato de ter ele escrito um livro. O ponto principal era saber se Deus o enchera com o seu Espírito, e se o Senhor falava por seu intermédio.
O termo hebraico traduzido como profeta significa “porta-voz de Deus”, enquanto o vocábulo vidente refere-se às pessoas que tinham percepção da vontade de Deus. Embora os profetas de Baal e outros magos pagãos declarassem ser capazes de transmitir a vontade de seus deuses (Jr 23.13-22), eles falavam a partir da própria imaginação. Os verdadeiros profetas entregavam profecias que se cumpriam (Dt 18.20-22); eram conhecidos por seu caráter e sua aversão ao pecado (Mq 3.8); adoravam apenas o Deus de Israel (Dt 13.1-5) e eram inspirados pela presença do Espírito Santo em sua vida, que lhes enchia de coragem para declarar a mensagem de Deus (Mq 3.8).
A RECEPÇÃO DA MENSAGEM POR PARTE DOS PROFETAS
A RECEPÇÃO DA MENSAGEM POR PARTE DOS PROFETAS
Os profetas eram mensageiros de Deus, que entregavam palavras de julgamento e mensagens de incentivo e esperança. A maneira pela qual recebiam a direção divina sempre foi parcialmente oculta em mistério. Al-guns profetas afirmam terem sido conclamados ao ministério mediante uma visão de Deus, quando o Espírito passou a habitar em seu interior (Is 6; Ez 1-3), mas a maioria dos profetas nunca teve uma experiência espetacular de chamado.
O requisito essencial para um profeta era a presença do Espírito de Deus e o recebimento das palavras do Senhor. Por meio da ação do Espírito na mente e no coração do profeta, ele recebia mensagens e tinha visões ou sonhos. Então, adaptava a verdade divina recebida e a expressava nos termos da cultura de seus dias, proclamando-a ao povo. O conhecimento que os profetas tinham das Escrituras, seus hábitos culturais e seu estilo pessoal de discurso influenciavam a maneira como transmitiam a mensagem.Todavia, não a mudavam nem a adulteravam. Deus se revelava aos profetas de maneira tal que pudessem entender o que o Senhor queria lhes dizer.Assim eles podiam comunicar a verdade divina de forma que fizesse sentido para todos os israelitas.
A TRANSMISSÃO DA MENSAGEM PROFÉTICA
A TRANSMISSÃO DA MENSAGEM PROFÉTICA
Às vezes, os profetas transmitiam suas mensagens oralmente; mas,em outras ocasiões, encenavam-na de forma quase teatral, porque o povo de Israel, bastante obstinado, não prestava atenção no que eles diziam (Ez 4; 5).Em outras ocasiões, a mensagem original era inscrita imediatamente em uma placa de argila (Is 8.1; Hc 2.2). Geralmente, porém, só mais tarde as mensagens eram coletadas e registradas em pergaminho. O texto de Jeremias 36.2 indica que as mensagens pregadas pelo profeta, entre os anos 627 e 605 a.C., foram compiladas por Baruque só nessa última data. Muitos profetas preferiram registrar seus pronunciamentos em ordem cronológica,enquanto outros (Jeremias e Daniel) organizaram seu livro por tópicos.
Para garantir que o povo de Israel compreenderia que estavam falando da parte de Deus, os profetas sempre começavam e terminavam suas mensagens com expressões como:“Assim diz o SENHOR”; “Disse-me o SENHOR"; “Um oráculo do SENHOR”, “O SENHOR Deus veio a mim e disse". Essas afirmações asseguravam ao público que o profeta não estava transmitindo suas próprias palavras, mas que lhes entregava as palavras de Deus. Essas declarações revelavam a autoridade que existia por trás das mensagens entregues pelos profetas e levavam os ouvintes a agir exatamente como eram instruídos. Os profetas Amós e Oseias transmitiram a Palavra de Deus para as tribos israelitas do norte; Jonas promulgou a mensagem de julgamento divino para a nação estrangeira da Assíria; Daniel testemunhou para os reis da Babilônia e da Pérsia. No entanto, a maioria dos profetas que registrou suas palavras pregou para o povo de Judá. Em quase todos os casos, a graça de Deus, profunda e imerecida, tornava-se evidente.O Senhor não apenas alertava as nações sobre o julgamento iminente, mas as concla-mava ao arrependimento para que pudessem escapar da ira divina. Atémesmo povos pagãos, inimigos de Israel, foram admoestados a se arre-pender de seus pecados.
A MENSAGEM DOS PROFETAS
A MENSAGEM DOS PROFETAS
Como os profetas viveram em diversos países e transmitiram suas mensagens ao longo de um período de centenas de anos, abordaram uma grande variedade de tópicos. A situação política, social e religiosa variava de uma para outra época. Portanto, as novas mensagens transmitidas eram sempre adequadas às necessidades de cada grupo que as receberia. Amós enfatizou a injustiça social em Israel, enquanto Oseias enfocou primei-ramente a ira de Deus pelo fato de Israel estar adorando Baal. Obadias condenou os edomitas por seu orgulho e pelos maus-tratos que dispensaram aos judeus quando destruíram a cidade de Jerusalém. Habacuque, por sua vez,questionou o porquê de o Senhor permitir que os ímpios prospe-rassem em Jerusalém, e por que Deus se valera dos pecaminosos babilônios para julgar uma nação mais justa do que a deles. Cada profeta era singular,mas todos tinham uma mensagem vinda de Deus para transmitir a um público específico.
Suas palavras continham uma compreensão comum da pessoa de Deus e de seu caráter. Os profetas sempre conclamavam o povo a adorar unicamente ao Deus de Israel. Vez após vez, condenavam o pecado e concitavam seus contemporâneos ao arrependimento. Suas mensagens fre-quentemente faziam com que os israelitas se lembrassem da graça de Deus para com eles quando de sua saída do Egito (Am 2.9-11; 3.1, 2;9.7),falavam do profundo amor demonstrado pelo Senhor ao fazer com eles uma aliança no monte Sinai (Jr 11.1-13) e faziam com que se lembrassem de que Deus exigia deles que adorassem só a ele, o único Deus (Jr 10.1-16).Se o povo reconhecesse seu pecado, se o confessasse e se afastasse dos maus caminhos, Deus os abençoaria (Jr 3,12-14; 4.1-4). Caso o povo não desse ouvidos à graça de Deus e às suas advertências, as maldições da aliança sobreviriam à nação (Dt 27; 28) e ela seria destruída.
Embora os profetas transmitissem muitas mensagens de julgamento e destruição, também previam um futuro de paz, justiça e bênção. Deus perdoaria seus pecados e daria um novo coração à humanidade (Ez 34.25-31) por intermédio da morte de seu servo (Is 53). Ele faria uma nova aliança (Jr 31.31-34). Seu espírito transformaria a todos de maneira poderosa (Jl 2.28, 29) e a terra produziria em abundância (Am 9.13-15).A semente justa de Davi, o rei de Israel, governará por meio de uma linhagem real, em Jerusalém (Is 9.1-7; Jr 23.5-7). Quando o Filho do Homem,vindo dos céus, receber a autoridade, as nações ímpias da terra serão julgadas e o domínio de Deus se estabelecerá definitivamente (Dn 7.9-14).Então,os povos virão a Jerusalém para ouvir o próprio Deus ensinar a sua Lei e não haverá mais guerras (Is 2.1-4). Um novo céu e uma nova terra passarão a existir (Is 65.17), e os mortos ressuscitarão(Is 25.8;Dn 12.1,2).
Servindo-se dessas mensagens, os profetas tentavam convencer o povo de Israel e de Judá a se afastar de seus caminhos egoístas e dedicar sua vida ao serviço de Deus. O povo pagão de Nínive reagiu favoravelmente àmensagem de Jonas, e a comunidade pós-exílica aceitou o desafio transmitido por Ageu e Zacarias para reconstruir o templo em Jerusalém.No entanto,muitos dos profetas não encontraram reação positiva por parte de seus ouvintes. Estes, então, não tinham desculpa, porque haviam ouvido a palavra da verdade, mas, por causa de sua condição depravada, recusaram-se a fazer a vontade de Deus.
A INTERPRETAÇÃO DAS PROFECIAS
A INTERPRETAÇÃO DAS PROFECIAS
Nos comentários bíblicos e nos livros teológicos é comum encontrar diferentes interpretações dos textos proféticos. Isso se deve ao fato de que o significado de alguns versículos não é muito claro. Algumas das dificuldades estão relacionadas à linguagem utilizada nos livros canônicos.A natureza poética de muitas profecias e a utilização de linguagem sim-bólica tornam difícil a interpretação. Outros problemas também surgem porque alguns leitores não têm conhecimento do ambiente histórico que envolve a mensagem de cada profeta. Por último, há diferenças de opiniāo porque as pessoas estudam os textos com base em suposições teológicas diferentes, principalmente aqueles que dizem respeito ao cumprimento escatológico de profecias sobre o Messias e sobre o estabelecimento do reino de Deus.
Necessitamos de princípios sadios de interpretação para nos preve-nir contra falsas doutrinas ou meras especulações. O principal objetivo no estudo das profecias é compreender o que Deus comunicou, utilizando-se de cada um de seus servos. Esse objetivo pode ser alcançado com uma pesquisa histórica e gramatical e com a interpretação do significado do texto. Estudos aprofundados exigem conhecimento da língua hebraica e da história de Israel. Felizmente, já se publicaram muitas boas traduções das Escrituras e inúmeros comentários, Bíblias de estudo e concordâncias. Estes recursos estão disponíveis para que os estudantes em geral possam ter uma compreensão mais clara das passagens consideradas mais difíceis.
Quando estudamos um livro profético,devemos começar fazendo,de uma só vez, sua leitura por inteiro. (Provavelmente, isso será impossível no caso dos livros mais extensos.) Uma leitura geral possibilitará a compreensão básica do escopo da obra e evitará as conclusões errôneas,baseadas num conhecimento apenas parcial. A partir dessa leitura, e com o auxílio de livros de estudo, é possível ter um entendimento do ambiente histórico. O profeta pregou em Israel ou em Judá? Que rei governava o país naquela época? (Essa informação geralmente consta dos primeiros versículos de cada livro.) Quais eram as condições políticas, sociais e religiosas que predominavam no período em questão?
Em seguida, devemos dividir o livro em tópicos, para fazer um resumo das mensagens do profeta. Que problemas ele abordou? O próximo passo será delinear o argumento do profeta, à medida que ele procura convencer o povo a aceitar a Palavra de Deus e agir de acordo com as instruções divinas.Como essas mensagens curtas se entrelaçam para compor o livro como um todo? Que mensagens estão relacionadas à situação do povo a quem o profeta pregou? Quais delas dizem respeito a fatos futuros?
A partir daí, cadapassagem deve ser estudada separadamente e com mais detalhes. Pode ser feita uma comparação dos assuntos difíceis relacionados à poesia ou ao simbolismo de um versículo,usando-se para isso duas versões diferentes. O significado de um vocábulo pode ser com-parado, com a ajuda de uma concordância bíblica ou com a elaboração de um estudo de palavras. Termos que simbolizam ideias estranhas à nossa cultura são os mais difíceis de ser compreendidos. A palavra pastor, por exemplo, simboliza um reinado (2Sm 5.2;Ez 34); a expressão vacas de Basa refere-se a mulheres samaritanas autoritárias e muito ricas (Am 4.1,2);montes cantantes significam júbilo (Is 44.23).
Algumas das passagens mais difíceis são aquelas que dizem respeito a fatos futuros. A profecia de Aías, para Jeroboão, em que o profeta rasgou seu manto em doze partes (1Rs 11.29-32), cumpriu-se literalmente pouco tempo depois, quando as doze tribos de Israel se dividiram em duas nações (1Rs 12.15-20). O profeta Aías sabia que aquilo aconteceria, mas não reve-lou detalhes a respeito da situação nem a data específica do seu cumprimento.De maneira semelhante, Isaías disse a Ezequias que Deus o livraria de Senaqueribe, o rei assírio (2Rs 19.20-34), mas não informou quando nem como isso se daria.
À semelhança desses exemplos, a maioria das profecias não traz todos os detalhes, revelando exatamente o que acontecerá quando Deus cumprir o que prometeu. Quem tem fé necessita saber o que Deus fará. Todavia, a fé envolve a confiança no Senhor, no tocante a fatos que nos são encobertos ou desconhecidos.
Com relação às profecias messiânicas, quem interpreta o texto precisa ser cuidadoso para não acrescentar o cumprimento neotestamentário à pas-sagem do Antigo Testamento. Embora o profeta Isaías soubesse que o Messias nasceria de uma virgem (Is 7.14), ele não sabia onde isso se daria ou como aconteceria. Deus revelou a Miqueias que o Messias nasceria em Belém (Mq 5.2), mas o profeta nunca disse nada a respeito do censo que levaria José e Maria de Nazaré até aquela cidade.
Ainda mais problemáticas são as tentativas de se enquadrarem as passagens veterotestamentárias aos textos que falam da tribulação e do milê-nio,constantes no Novo Testamento. Como Deus nunca revelou aos profetas da Antiguidade a diferença entre o céu e o milênio (essa distinção só apare-ce no capítulo 20 de Apocalipse), é muito difícil saber se o texto profético faz referência a um período celestial, em que existirão um novo céu e uma nova terra, ou se trata do que o livro de Apocalipse chama de milênio.Como os detalhes desses acontecimentos são muito mais importantes do que a data em que ocorrerão, os crentes apenas precisam confiar que Deus cumprirá sua palavra. Jesus disse que nem nós nem os anjos precisamos saber as datas que o Senhor estabeleceu (At 1.7; Mt 24.36). No entanto, as Escrituras apresentam certa ordem cronológica para esses fatos. Um estudo compartivo detalhado das profecias demonstra que o sofrimento do Mes-sias se daria antes de sua glorificação (Is 53).Percebe-se haver um padrão semelhante nos fatos escatológicos.
Essas profecias são uma fonte de esperança para o futuro e uma advertência para que nos preparemos para o dia do Senhor. Elas nos esti-mulam a confiar no plano soberano de Deus para este mundo, apesar de todo o mal, da guerra, da perseguição e dos desastres naturais que se tornarão cada vez piores. As profecias veterotestamentárias oferecem informações básicas a respeito do que Deus fará. Todavia, para termos uma revelação mais completa e detalhada desses tópicos, devemos também ler as palavras de Jesus em Mateus 24, os ensinos de Paulo em 2Tessalonicenses 2 e as palavras de João no livro de Apocalipse. Embora muitas dessas “... palavras [estejam] encerradas e seladas até o tempo do fim. [...] Bem-aventurado[é]o que espera..." (Dn 12.9,12).
VALOR TEOLÓGICO DAS PROFECIAS
VALOR TEOLÓGICO DAS PROFECIAS
1.Deus revelou sua vontade aos profetas por intermédio do Espírito Santo.
2. Os profetas comunicaram a mensagem divina ofcialmente,usando para isso palavras cujo significado estava relacionado à realidade dos ouvintes.
3. Deus revelou gradualmente (e não de uma só vez) informações a respeito de fatos futuros.
4. Os atos futuros de Deus são garantidos, mas só ele conhece a data em que cada um acontecerá.
5. O reino de Deus será estabelecido na terra; portanto, os crentes têm esperança e aguardam o dia em que adorarão o Senhor diante de seu trono.
PERGUNTAS PARA RECAPITULAÇÃO
PERGUNTAS PARA RECAPITULAÇÃO
1.Quais são algumas vantagens e desvantagens de haver tanta diver-sidade entre os profetas? Como a diversidade existente entre os critāos hoje em dia contribui para transmitirmos a Palavra de Deus?
2.Qual era a compreensão básica dos profetas a respeito de: a) Deus; b)pecado; c) arrependimento; d) julgamento? Até que ponto a compreensão que eles tinham desses assuntos distingue-se da visão dos autores neotestamentários?
3. Faça uma lista de alguns motivos pelos quais as pessoas divergem umas das outras na interpretação das profecias. Escreva o seu próprio comen-tário sobre o texto de Isaías 4.2 e compare-o com o de outra pessoa.Vocês chegaram a conclusões diferentes? Se sua resposta for afirma-tiva,explique por quê.
4.Que livros você tem para ajudá-lo na busca do sentido histórico-gramatical de um versículo? Que outros livros podem fornecer mais informações?
5.Quais etapas você usa para estudar um livro da Bíblia? Quais des-sas etapas são as mais simples e quais são as mais complexas?
Aula 6 | Os primeiros profetas de Israel
Aula 6 | Os primeiros profetas de Israel
Pouco depois da morte de Salomão (931 a.C.,v.1Rs 11-12),o poderoso reino que Davi havia estabelecido se dividiu em dois:Israel (as dez tribos do norte) e Judá (as duas tribos do sul).Jeroboão I, o novo rei da nação donorte, estabeleceu seu próprio governo e exército, construiu um novo templo em Betel (próximo à fronteira meri-dional) e outro em Dã (perto do limite setentrional) e estabeleceu sacer-dotes que não pertenciam à tribo de Levi para liderar a adoração dos dois bezerros de ouro que havia naqueles templos. Supostamente, esses ídolos representavam o deus que os tirou da terra do Egito (1Rs 12.25-33). Em pouco tempo o povo confundiu os bezerros com o deus cananeu Baal,divin-dade da fertilidade e da chuva, que também era representado por um touro jovem. Deus levantou os profetas Elias e Eliseu para banir essa idolatria durante o reinado de Acabe e Jezabel (1Rs 16.29-18.46; 2Rs 1). No entanto, quando Amós e Oseias pregaram em Israel, o povo ainda estava envolvido com o baalismo. Por causa da pecaminosidade da nação do norte, Deus se irou contra ela e enviou os reis sírios Hazael e Ben-Hadade para derrotá-la (2Rs 13.2,3).Em meio a essa opressão, os israelitas clamaram a Deus por misericórdia.Como Jonas profetizou, o Senhor se compadeceu deles e enviou os assírios para derrotarem o reino da Síria (2Rs 13.4, 22, 23; 14.25).Com o inimigo vencido,Israel se tornou uma nação poderosa e muito próspera sob a liderança de Jeroboão II (793-753 a.C.). Amós, que profetizou durante esse período de prosperidade, percebeu que a riqueza do povo era a fonte de um falso sentimento de segurança (6.1-7) e condenou aqueles que acu-mulavam tesouros e oprimiam os pobres (Am 2.6-8; 3.10; 5.10-12).O ministério de Oseias continuou depois do reinado de Jeroboão, quando uma sequência de reis tiranos de menor expressão governou Israel (2Rs 15).A ineficiência deles permitiu que o poderoso rei assírio Tiglate-Pileser III fizesse de Israel sua colônia (2Rs 15.19, 29; 16.9). A nação do norte foi finalmente levada para o cativeiro na Assíria, em 722/721 a.C., alguns anos após Oseias ter profetizado esse fato.
JONAS
JONAS
A grande compaixão de Deus
O profeta Jonas foi incumbido de entregar mensagens proféticas a duas nações-Israel e Assíria. As Escrituras contam muito pouco a res-peito de suas profecias com relação a Israel e não registram suas palavras.A Bíblia nos mostra que Jonas foi um mensageiro de Deus no início do reinado de Jeroboão II, prometendo vitórias militares para Israel (2Rs 14.25).A profecia de Jonas se cumpriu durante o reino de Jeroboão, masos israelitas não continuaram a servir a Deus, uma vez que tinham sido libertos de seus inimigos.
O livro de Jonas descreve o ministério desse profeta entre os assírios,na cidade de Nínive, no início do reinado de Jeroboão II.
Esboço de Jonas
Esboço de Jonas
A compaixão de Deus por Jonas 1.1-2.10
- Jonas rejeita a comissão divina 1.1-16
- Jonas volta-se para Deus em busca de salvação 1.17-2.10
A compaixão de Deus por Nínive 3.1-4.11
- Nínive volta-se para Deus em busca de salvação 3.1-9
-Jonas rejeita a misericórdia de Deus sobre Nínive 3.10-4.11
O livro de Jonas é singular quando comparado com outros escritos proféticos da Bíblia, porque contém declarações breves da pregação de Jonas (3.4). O livro demonstra que os profetas eram pessoas comuns e imperfeitas.As vezes, tinham difculdade de lidar com a responsabilidade de revelar aos outros a repulsa de Deus pelo pecado. Jonas aprendeu, pela maneira mais difícil, que Deus não quer que alguém se perca. O Senhor deseja que todos conheçam a verdade e se arrependam(1Tm 2.4;2Pe 3.9).
A compaixão de Deus por Jonas
A compaixão de Deus por Jonas
Depois de ter sido convocado por Deus para ir até Nínive, a grande capital assíria, Jonas decidiu recusar o chamado de Deus para sua vida.Tolamente, o profeta pensou que poderia esconder-se de Deus (1.3), evi-tando os problemas de pregar em uma cidade pagã e violenta como Nínive,e garantir que o Senhor destruiria os assírios por ele ter deixado de adverti-los sobre o julgamento iminente que lhes sobreviria (4.2). Assim, depois que embarcou em um navio para Társis, Deus não rejeitou Jonas, mas o levou para um lugar onde ele, espontancamente, escolheu servir a Deus-Nínive. (3.3). Depois de assolada por uma tempestade, a tripulação lançou sortes. Jonas admitiu sua culpa e aceitou a punição da morte certa no mar.Mostrando compaixão, Deus acalmou o oceano para poupar os marinheiros pagãos (1.15) e enviou um grande peixe para engolir Jonas, evitando que ele se afogasse (1.17). Imediatamente, os marinheiros passaram a temer a Deus e o adoraram, enquanto Jonas orava, clamando pelo socorro divino, no ventre do peixe (2.1, 7). O profeta não desejava que Deus fosse compassivo com os ninivitas, porque estes não mereciam a sua compaixão. Todavia,reconheceu ter sido alvo da compaixão imerecida de Deus (2.9). Dessa maneira, obedeceu ao segundo chamado do Senhor (3.1).
A compaixão de Deus por Nínive
A compaixão de Deus por Nínive
Jonas proclamou corajosamente a mensagem de destruição nas ruas de Nínive (3.4).1 Para sua surpresa, o rei e o povo creram em Deus e se humilharam, pedindo perdão por suas atitudes violentas e buscando misericórdia (3.5-9).O Senhor, em seu soberano arbítrio, teve compaixão de Nínive e não a destruiu.
Por ironia, Jonas rejeitou a obra redentora deDeus em Nínive e irou-se contra ele (4.1, 2).2 Embora o profeta tenha demonstrado,egoisticamente, compaixão por uma planta que lhe dera sombra contra o calor do deserto fora da cidade de Nínive, ele não quis que Deus fosse misericordioso com o povo daquela cidade. Esse relato demonstra a profundidade do amor do Senhor e o perigo existente no amor imperfeito dos seres humanos para com os incrédulos.
VALOR TEOLÓGICO DE JONAS
VALOR TEOLÓGICO DE JONAS
1. O relato do livro de Jonas revela que Deus usa seus servos para levar adiante seu plano de proclamar a ira divina contra o pecado e contar a respeito de sua graça para com aqueles que se arrependem e se voltam para ele com fé.
2. Embora os mensageiros de Deus possam contrariar sua vontade, Deus não abandona os seus planos. Ele controla os fatos e, por meio deles,disciplina seus servos levando-os a obedecer-lhe.
3. Como ninguém pode se esconder de Deus, cada um de nós deve cumprir com fidelidade a vontade do Senhor e compartilhar a men-sagem que ele nos entrega.
4. Limitar a compaixão de Deus ao povo da aliança demonstra um conhecimento equivocado do amor divino e nos leva a interpretar erroneamente sua vontade para com os crentes.
Em Mateus 12.38-41, Jesus cita o livro de Jonas para transmitir o seu ensinamento. O Mestre comparou os três dias que o profeta passou no ventre dopeixe com o período que ele passaria no túmulo. Disse também que o povo arrependido de Nínive poderia condenar os fariseus que rejeitaram a mensagem de Jesus, pois esta era muito superior à que fora transmitidapor Jonas.
AMÓS
AMÓS
O intento de Deus em destruir Israel
Amós ganhava a vida plantando árvores frutíferas e supervisionando pastores3 no vilarejo de Tecoa, que ficava cerca de 10 km ao sul de Belém (1.1). Deus instruiu Amós para seguir até a nação de Israel e advertir o povo de que o Senhor não iria mais adiar o seu julgamento (7.8, 14, 5).Embora Amós não tenha sido treinado nas escolas proféticas de seus dias,demonstrou coragem ao enfrentar a condenação do sumo sacerdote no templo de Betel (7.10-17) e a incredulidade de seus ouvintes. Pelo fato de Deus lhe ter falado, Amós sabia de sua responsabilidade para transmitir aquela mensagem(3.8).
Ele proferiu a sua profecia dois anos antes de um grande terremoto (c. 760 a.C.). Uzias, rei de Judá, e Jeroboão II, rei de Israel,estavam no ápice de seu poderio militar na época, e a classe rica dominante controlava a nação praticando atos violentos e de opressão. O povo continuava a realizar as cerimônias religiosas no templo em Betel, mas seu coração estava longe de Deus (4.6-13). Amós anunciou o que não era possível imaginar:Deus destruiria o seu povo escolhido, a nação de Israel.
Esboço de Amós
Esboço de Amós
Oráculos de guerra contra as nações 1.1-2.16
- Oráculo contra seis nações estrangeiras 1.3-2.3
- Oráculos contra Judá e Israel 2.4-16
Confirmação do julgamento de Deus sobre Israel 3.1-6.14
- Motivos para o julgamento de Deus 3.1-4.13
- Lamentos por causa das falsas esperanças de Israel 5.1-6.14
Visões e exortações a respeito do fim de Israel 7.1-9.15
- Cinco visões da destruição divina 7.1-9.10
- A restauração divina após o julgamento 9.11-15
A destreza homilética de Amós fica demonstrada em seu patente repúdio àqueles que adquiriam riquezas por meio da opressão, na zombaria contra quem adorava a Deus de maneira insincera e em seus lamentos por aqueles que confiavam cegamente em falsas promessas. As ilustrações de que se valia são típicas de um homem do campo (2.13 - uma carroça carregada de grãos; 3.12 - um pastor resgatando uma ovelha de um leão;9.9-uma peneira para separar grãos), mas seu conhecimento de história (1.3-2.3) e seu sarcasmo ácido demonstram que ele era bem instruído com respeito ao que realmente acontecia no mundo.
Oráculos de guerra contra as nações
Oráculos de guerra contra as nações
Quando as tropas seguiam para a guerra, geralmente o rei consul-tava um profeta ou sacerdote para pedir a bênção de Deus e determinar se seriam bem-sucedidas (Jz 20.18, 26-28). Tradicionalmente, as profecias revelavam que o Senhor destruiria seus inimigos e concederia vitória ao povo.Isso instilava confiança nos soldados para que lutassem. Nos capítulos 1 e 2, a profecia de Amós segue esse mesmo padrão (possivelmente transmitido antes de uma grande batalha). Ele descreve atos terríveis contra a humanidade (matar mulheres grávidas- 1.13) que caracterizavam as nações vizinhas a Israel e lhes assegura que Deus destruirá essas nações por causa de seus pecados (1.3-2.3). Todavia, em vez de concluir sua profecia com notícias de salvação para Israel, Amós surpreendeu seus ouvintes anunciando que os atos de seus compatriotas eram piores do que os das outras nações e que eles seriam aniquilados também. Os ricos e poderosos de Israel estavam vendendo os pobres como escravos, para saldar pequenas dívidas, e abusando sexualmente de seus servos (2.6-8). Eles esqueceram que Deus odeia a opressão e que, muitos anos antes, os havia libertado da escravidão do Egito. (2.9, 10).Nenhum israelita deveria tornar-se escravo novamente.
Confirmação do julgamento de Deus sobre Israel
Confirmação do julgamento de Deus sobre Israel
A maioria dos israelitas rejeitou a profecia de Amós. Eles eram o povo escolhido de Deus; haviam sido redimidos do Egito; Deus os amava (3.1,2). No entanto, Amós afirmou que o privilégio da eleição trazia consigo a responsabilidade de serem fiéis a Deus e de obedecer a ele. Isso não acarretava automaticamente a bênção do Senhor. É bastante lógico:se um leão ruge, significa que está atacando sua presa; se uma nação peca,será julgada por Deus (3.3-7). A mensagem divina entregue por inter-médio de Amós era o rugir do Senhor; e ele estava prestes a atacar Israel,sua presa (3.8).
Qual era o pecado de Israel? Atos de violênca, desconhecimento da diferença entre o certo e o errado (3.9, 10), opressão dos pobres (4.1)e a prática de culto hipócrita no templo (4.4, 5). Apesar da punição divina,eles nunca se voltaram para Deus em arrependimento genuíno (4.4-11);portanto, deviam se preparar para sofrer a ira do Senhor (4.12).
Amós viu o julgamento futuro e lamentou a destruição da nação (5.1-3,16,17). Se eles pelo menos buscassem a Deus e fossem justos em seus relacionamentos uns com os outros, viveriam (5.4, 14, 15). Como Deus odiava a adoração que eles lhe prestavam (5.21), que incluía o culto a deuses assírios (5.26)4, o dia do Senhor seria um dia de trevas e não de salvação (5.18-20). Amós lamentou o falso senso de segurança que as riquezas traziam para os ricos (6.1-7). Todos eles morreriam.
Visões e exortações a respeito do fim de Israel
Visões e exortações a respeito do fim de Israel
Amós teve cinco visões que ilustram a destruição que sobreviria a Israel. Nas duas primeiras, o profeta clamou a Deus pedindo que tivesse misericórdia da nação (7.1-6). De maneira surpreendente, o Senhor se mostrou compassivo e adiou o julgamento, embora os israelitas não se hou-vessem arrependido. Nas últimas três visões (7.7-9; 8.1-3; 9.1-4),Deus revela que não pouparia mais Israel. Ele destruiria o templo em Betel e poria fim ao reinado de Jeroboão II. Ninguém poderia escapar a esse julga-mento. Embora alguns pensassem que a punição divina não os alcançaria (9.10), Amós revelou que todos os pecadores em Israel morreriam.
Amazias, o sacerdote do templo de Betel, acusou Amós de traição e mandou que ele voltasse para sua casa em Judá e vivesse de suas profecias ali (7.10-13). Amós recusou-se a seguir o conselho de Amazias, porque Deus o enviara para transmitir sua palavra em Israel (7.14-16).
O livro termina com uma mensagem a respeito da restauração da nação em uma época muito posterior a esse julgamento(9.11-15).As promessas de Deus hão de se cumprir. O reino de Davi será restaurado.A terra voltará a ser incrivelmente frutífera e repleta de judeus e gentios que invocam o nome de Deus.
VALOR TEOLÓGICO DE AMÓS
VALOR TEOLÓGICO DE AMÓS
1. Todos os povos, judeus e gentios, terão de prestar contas por seus pecados. Deus odeia a violência e a opressão dos fracos.
2. Privilégios trazem responsabilidades. O povo de Deus será julgado,se menosprezar sua graça e deixar de segui-lo.
3. Se não nos voltamos para Deus e não buscamos sua face, nossa adoração se torna um mero ritual, um ato de hipocrisia; e isso Deus odeia.
4. Riquezas e poder trazem um falso senso de segurança e levam as pessoas a achar que não precisam confiar em Deus.Uma falsa confiança nas promessas divinas pode nos dar uma impressão errada de segurança espiritual e nos levar a achar que não precisamos nos arrepender.
5. Quando Deus fala, seus servos não podem permanecer em silêncio.Devemos fazer as advertências sobre o julgamento divino, mesmo quando sofremos oposição.
Em Atos 15.16-18, Tiago cita a promessa de restauração transmitida por Amós em 9.11-15, para lembrar aos membros judeus da igreja primitiva que Deus desejava que os gentios fizessem parte do corpo de Cristo. Isso possibilitou as viagens missionárias de Paulo entre as nações gentias.
OSEIAS
OSEIAS
Ausência do conhecimento de Deus,
ausência de amor, ausência de verdade
O ministério de Oseias (755-725 a.C.) teve início pouco depois do período em que Amós profetizou e se estendeu até próximo da época em que Israel foi levado cativo pelos assírios, em 722/21 a.C.Oseias nasceu em Israel e casou-se com Gômer antes do término do próspero reinado de Jeroboão II (1.1-4). Nos anos que se seguiram, ele presenciou anarquia,guerras, dificuldades econômicas (5.8, 9; 8.1) e altos impostos criados pelos assírios (2Rs 15.19, 29). Embora seu ministério tenha terminado antes da queda de Israel, suas profecias advertiram o povo a respeito da iminente destruição da nação.
Esboço de Oseias
Esboço de Oseias
Adultério em Israel e na família de Oseias 1.1-3.5
Uma "ação judicial" contra Israel por adultério 4.1-14.9
Ausência do conhecimento de Deus 4.1-6.6
Ausência de um amor genuíno por Deus 6.7-11.11
Ausência de verdade em Israel 11.12-14.9
Oseias usa o relacionamento conjugal como uma analogia para des-crever o relacionamento amoroso entre Deus e o povo da aliança. Essa ana-logia revela a tristeza do Senhor diante da infidelidade de Israel em sua aliança com ele. Depois de descrever o fracasso de seu próprio casamento (1-3), Oseias fala a respeito do argumento de divórcio que Deus apresenta contra Israel. Essa “ação judicial” contém uma série de: a) acusações, b)anúncios de punição e c) mensagens de esperança. As duas primeiras são partes comuns de uma ação judicial de divórcio, mas a insistência de Deus em oferecer esperança ao seu povo, ao final de cada sessão, demonstra o grande amor que o Senhor tem por seu povo pecador.
Adultério em Israel e na família de Oseias
Adultério em Israel e na família de Oseias
Deus queria ensinar a Oseias e aos israelitas a respeito da seriedade dos pecados da nação e da profundidade de seu amor pelo povo da aliança.Assim, o Senhor ordena que Oseias se case com uma prostituta. Essa união simbolizava o relacionamento de Deus com os israelitas pecadores (1.2). Depois de algum tempo, Gômer foi infiel a Oseias (o terceiro filho provavelmente não era dele; compare 1.3 e 1.6), da mesma forma que Israel havia traído a Deus. Levantaram-se acusações de adultério contra Gômer (2.1, 5) e Israel foi acusado de adultério por adorar Baal, o Deus cananeu da fertilidade (2.8-13).
Apesar desse terrível pecado, Oseias tornou a amar Gômer e Deus fez o mesmo com Israel (3.1). Por causa do amor divino, aqueles que não eram seu povo um dia se tornariam seu povo (1.9; 2.23), e o reino divino seria estabelecido por meio de um descendente de Davi (3.5). Por essa experiência, Oseias conseguiu compreender a natureza de oferecer um amor imerecido e começou a perceber como Deus se sentia quando os israelitas eram infiéis à aliança que tinham com ele.
Uma ação judicial contra Israel por adultério
Uma ação judicial contra Israel por adultério
Deus fez três acusações contra Israel: não havia conhecimento de Deus entre eles; não havia amor genuíno e duradouro; e não havia verdade.O motivo de o povo não ter conhecimento de Deus era o fato de os sacerdotes terem se esquecido da Palavra do Senhor (4.6; 5.4) e desprezado suas instru-ções (4.10). O povo se embebedava e praticava sexo com prostitutas nos templos de Baal (4.11-14). Como consequência, Deus julgaria os sacerdo-tes (5.1,2) e traria guerra para a nação (5.8, 14). Ao final dessa parte, Deus faz a surpreendente oferta de que curaria o seu povo, se ele o buscasse e desejasse conhecê-lo(5.15-6.3).
A segunda acusação era a de que o povo havia transgredido a aliança que Deus havia feito com eles, cometido assassinato (6.7-9), entronizado reis ímpios (7.5-7; 8.3), feito alianças políticas com nações pagãs (7.8,11;8.8-10) e adorado bezerros de ouro (8.5, 6). Cada uma das acusações demonstra que Israel não tinha um amor genuíno e duradouro por Deus.Embora o Senhor a amasse e a houvesse lbertado do Egito, a nação rejeitou o seu amor (11.1-4). Deus precisava discipliná-la, mas, por causa de seu profundo amor, não desistiria dela. Um dia, o povo ouvria a sua voz e voltaria para ele (11.8-11).
A terceira acusação era que a nação estava repleta de engano e de mentiras; à semelhança de Jacó, um dos patriarcas de Israel, não havia verdade no meio do povo (11.12-12.4). A adoração a Baal era um engano,porque não existe outro Deus senão o Senhor (13.1-4). Embora a nação estivesse prestes a ser destruída, Oseias pediu que o povo se voltasse para Deus a fim de receber perdão e ser curado (14.1-4).
VALOR TEOLÓGICO DE OSEIAS
VALOR TEOLÓGICO DE OSEIAS
1. O pecado não é algo sem importância para Deus; consiste na traição de um compromisso amoroso, uma relação promíscua com algo que não é Deus.
2. Apesar do horrível caráter do pecado, o amor de Deus é ainda mais profundo. Ele perdoará e curará aqueles que o buscarem e o amarem.
3. Deus pode usar as circunstâncias difíceis da vida para nos fortalecer de maneira que ele seja glorificado servindo-se de nossas fraquezas.
4. O verdadeiro conhecimento de Deus e de sua Palavra, um amor profundo e genuíno por ele e a verdade são os fatores fundamentais para termos um relacionamento pessoal com o Senhor.
De maneira semelhante ao livro de Oseias, o Novo Testamento usa a ilustração de um relacionamento conjugal para descrever nossa aliança com Deus (Ef 5.22-33). Paulo e Pedro citam Oseias 1.10 e 2.23 para de-monstrar que a graça divina em redimir os gentios era o cumprimento do plano de Deus para fazer com que aqueles que não eram seu povo passas-sem a ser seu povo (Rm 9.25, 26; 1Pe 2.10). Jesus citou Oseias 6.6 para explicar que Deus busca um amor sincero e duradouro, em vez de sacri-fícios (Mt 9.13; 12.7).
PERGUNTAS PARA RECAPITULAÇÃO
PERGUNTAS PARA RECAPITULAÇÃO
1.Como a soberania de Deus e o livre arbítrio humano atuaram juntos na história de Jonas?
2.O que havia de errado com a compreensão de Jonas a respeito de Deus?
3. O que o texto de Amós 1 fala a respeito de os pagãos terem de prestar contas ao Senhor?
4. O que Deus condena no texto de Amós: as riquezas ou o mau uso que fazemos delas?
5.O que Oseias aprendeu a respeito de Deus, por meio do seu casamento?