Tome a sua capa
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Êxodo 22.25–27 (BS:NVT)
25 “Se você emprestar dinheiro a alguém do meu povo que esteja necessitado, não cobre juros visando lucro, como fazem os credores. 26 Se tomar a capa do seu próximo como garantia para um empréstimo, devolva-a antes do pôr do sol. 27 Talvez a capa seja a única coberta que ele tem para se aquecer. Como ele poderá dormir sem ela? Se não a devolver e se o seu próximo pedir socorro a mim, eu o ouvirei, pois sou misericordioso.
Neste contexto, temos Deus ensinando aquele povo que havia passado mais de 400 anos escravo no Egito a como ser gente novamente. A experiência que tinham tido, provavelmente, havia endurecido o coração deles. Aquelas pessoas se tornaram egoístas a ponto de lamentarem a chance de liberdade, uma vez que isso sacrificava o acesso a comida que tinham na condição de escravos na terra do Egito.
Contudo, Deus amou tanto aquele povo que ele próprio separou para si que decidiu reeducá-lo no sentido dele ser novamente humano. Humano sente. Humano compreende. Afinal, essa é uma característica que vem do próprio Deus, afinal, fomos criados à imagem e semelhança dele, como traz Gênesis 1.26-27.
Este capítulo é muito importante para evidenciar o aspecto da justiça de Deus, mas também da sua misericórdia. O capítulo 22 trata sobre direitos de propriedades. Talvez a gente leia Êxodo e passe direto porque pensa que isso é pouco interessante, afinal, a quem interessa bois e ovelhas roubados a não ser ao dono?
Entretanto, é importante analisar a conjuntura total do capítulo, afinal, estamos falando de um povo cuja experiência econômica girava ao redor da criação de animais e do cultivo de algumas culturas de produtos. O capítulo começa falando de animais, traz algumas orientações sobre propriedades, traz ali, no versículo 18: não deixe que a feiticeira viva e traz nos versículos 25 a 27 o que, para mim, é a síntese do cuidado de Deus, como já vimos.
A prática do empréstimo, como nós conhecemos hoje, desenvolveu-se a partir do período da idade média, com o avanço do sistema bancário. Neste período bíblico aqui e durante o período da Grécia Antiga, o empréstimo mais comum referia-se a sementes emprestadas ou animais, lembrando que este era o contexto de produção predominante da época. Contudo havia, claro, algum dinheiro envolvido.
O eventual dinheiro que era cedido a alguém nesta época, não deveria ter o caráter comercial, mas de caridade, uma vez que atendia a pessoas que passavam por grandes necessidades.
Deus diz, por meio de Moisés, se você emprestar a alguém, não aja como os credores. Os credores são inescrupulosos. Se pegar a manta da pessoa a quem emprestou o dinheiro, devolva ao final do dia para que a pessoa não passe frio. Pode ser que a capa seja a única peça que aquela peça tenha para se aquecer no frio da noite. Sem ela, como ela fará? Devolva porque se não devolver e a pessoa clamar por mim, eu farei justiça porque sou misericordioso.
Este texto é lindo porque mostra a bondade de Deus em algo tão simples. Podemos talvez achar que um pedaço de manta é algo sem importância, mas Deus se importa com as pessoas que sofreriam pela ausência desta manta.
Nos dias de hoje somos estimulados a buscar cada vez mais sucesso, mais dinheiro, mais posses. As pessoas só pensam em ganhar. Este é o cenário ideal para os picaretas, que armam os maiores golpes e fazem com que muitos caíam em ciladas gigantescas.
Nosso papel tem que ser diferente porque se não caíremos nos erros daqueles que amam permanecer na lama. Este ensino de Êxodo nos chama para um coração humilde e compassivo.
O outro passa por uma situação difícil? Não devo buscar vantagem com isso porque ele sofre. Devemos ser rápidos em ajudar, rápidos em perdoar.
Temos sido misericordiosos com os erros e com as falhas das pessoas que nos cercam? Em Mateus 18.21-35, Jesus fala sobre a importância do perdão, ao trazer a parábola do servo sem misericórdia.
Deus se importa com todas as pessoas, sobretudo com aquelas que nós achamos desprezíveis (ou menos importantes) e parece que nós temos resistência de aprender a partir deste exemplo. Somos rápidos em tirar a manta e nunca mais devolver.
Não devolvemos respeito, não devolvemos empatia, não devolvemos ética nas nossas relações humanas. Nos achamos superiores e, por isso, temos o direito de passar como tratores sobre os outros.
Só que a noite chega. Chega para aquele que está sem a manta hoje e chega para todo mundo. Amanhã, nós é que poderemos estar sem a manta.
Todos falham. Todos estão passíveis de cair. O apóstolo Paulo diz em 1Co 10.12
12 Portanto, se vocês pensam que estão de pé, cuidem para que não caiam.
Amanhã pode ser noite para mim. E eu desejarei profundamente que alguém aja com misericórdia sobre a minha vida. Que alguém me trate com respeito e dignidade, afinal, fomos criados de forma especial e singular pelo Senhor.
Só que hoje já é noite para muitas pessoas ao nosso redor. E como temos reagido a elas?
Acusando? Ignorando? Maltratando? Cobrando atitudes impossíveis?
Enquanto fazia esta mensagem, eu pensava nas vezes em que talvez eu tenha agido de forma imprudente, tendo sido um cobrador incrédulo para aquele que, na verdade, precisava da minha ajuda, não da minha bronca.
Devemos ser os primeiros a acreditarem na restauração das pessoas, na superação de algumas condições. Contudo, nem sempre fazemos isso. Deixamos as pessoas sofrendo enquanto dizemos às outras: olha, o fulano está fazendo coisa errada. Mas quem sou eu para julgar? Dizendo isso depois de já ter passado o problema do outro para quase todos os contatos do seu WhatsApp.
A misericórdia demonstrada no ajudar, no entregar a manta, deve ser vivida nos dias de hoje. O registro é de lá atrás, mas o princípio traz uma aplicação ainda para os dias de hoje.
Devemos ser diferentes do que é o comum e o aceito pela sociedade. As pessoas querem condenação, exclusão e cancelamento.
Nosso papel é dizer: tome a sua capa porque a noite se aproxima. Mas ela não é eterna.
Devemos vigiar para que nós não caíamos na noite e vivamos a incerteza desta situação. Para que não vivamos a falta de misericórdia que nós praticamos muitas vezes.
A música “Esperança” de Os Arrais é muito precisa neste aspecto. Ela fala sobre um homem que já viveu a plenitude, mas caiu por algum motivo. E hoje vive a dureza das consequências, mas ele consegue ver uma luz no fim do túnel e se lança na esperança de que o logo vem o dia e com ele, gritos de alegria.
Oração