Priorizando a Missão - At 1.15-26
Atos dos Apóstolos • Sermon • Submitted • Presented
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INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
Jesus deu uma ordem muito importante para os seus discípulos: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura” (Mc 16.15). Essa é a missão da Igreja!
No estudo anterior, vimos a importância de se buscar o batismo no Espírito Santo para sermos uma testemunha eficaz de Jesus (At 1.1-14) e cumprirmos a Sua missão.
Dando prosseguimento ao nosso estudo, hoje veremos que a missão da Igreja deve ocupar lugar de primazia em nossas vidas.
Essa verdade será estabelecida, primeiro, no discurso de Pedro (v. 15-22) e, por fim, na escolha de Matias como o substituto de Judas (v. 23-26).
Vejamos:
I - O DISCURSO DE PEDRO (V. 15-22)
I - O DISCURSO DE PEDRO (V. 15-22)
Como vimos no estudo anterior, os discípulos estavam recebendo uma ordem para esperar em Jerusalém pela promessa do Pai que os capacitariam a serem testemunhas eficazes do evangelho.
Enquanto dava esta ordem, Jesus foi elevado às alturas.
Os apóstolos ficaram observando a subida de Jesus atônitos, quando, de repente, dois anjos os repreenderam.
Então, os apóstolos vão para Jerusalém e perseveram em oração no cenáculo, onde, posteriormente, seriam batizados com o Espírito Santo.
Veremos, a seguir, alguns pontos importantes sobre o discurso de Pedro nessa grande assembleia.
a. A liderança de Pedro (v. 15)
Em primeiro lugar, observemos a liderança de Pedro.
O versículo 15 começa com as seguintes palavras: “E, naqueles dias”, para se referir aos 10 dias posteriores à subida de Jesus às alturas, Pedro se levantou “no meio dos discípulos”, o que indica que, desde cedo, Pedro tornou-se líder dos apóstolos.
Diz-nos o versículo 15: “ora a multidão junta era de quase cento e vinte pessoas”. Teria alguma importância este número? Provavelmente sim.
Segundo a tradição judaica, para o estabelecimento de uma sinagoga, era preciso o número mínimo de 120 pessoas. Como estava se estabelecendo a Igreja, Lucas achou por bem fazer essa ligação.
b. A tensão entre a soberania divina e a responsabilidade humana (v. 16-19)
O segundo ponto importante a ser observado no discurso de Pedro é a tensão entre a soberania divina e a responsabilidade humana, pois Pedro diz que convinha que tudo o que aconteceu a Judas Iscariotes deveria ocorrer como previa a Escritura.
Vamos, porém analisar isto aos poucos.
Depois de levantar-se e dirigir a reunião, Pedro inicia o seu discurso com o intuito de demonstrar aos presentes que para a continuação da proclamação do Evangelho havia a necessidade da substituição do apóstolo traidor.
Pedro dirigiu o seu discurso aos “Varões irmãos” (v. 16). Embora algumas versões omitam a palavra “varões”, no grego está escrito: “aner adelphos”, termos que significam irmãos do sexo masculino, o que demonstra que liderança de Igreja deve ser exercida por homens e não por mulheres, embora estas sejam igualmente valorosas.
Após se dirigir aos irmãos do sexo masculino, Pedro diz: “convinha que se cumprisse a Escritura que o Espírito Santo predisse pela boca de Davi, acerca de Judas, que foi o guia daqueles que prenderam a Jesus” (v. 16). Observamos aqui um fato interessante: Assim como Pedro estava sendo o presidente desta assembleia, Judas também assumiu papel de liderança, pois “foi o guia daqueles que prenderam a Jesus” (v. 16). Contudo, sua liderança se baseava em iniquidade.
De modo semelhante, há pessoas que querem liderar a todo o custo sem haverem sidos chamados. Há quem se desperte para abrir uma igreja sem direção alguma - querem apenas liderar, estão buscando o tão famigerado poder.
Esse Judas, explica Pedro, “foi contado conosco e alcançou sorte neste ministério” (v. 17). Isto significa apenas que Judas esteve entre os apóstolos e fez parte de tal ministério.
Na sequência do texto, temos uma aparente contradição bíblica entre o relato de Lucas e o relato de Mateus. Vejamos:
Lucas ao narrar o discurso de Pedro, informa que Judas “adquiriu um campo com o galardão da iniquidade” (v. 18), enquanto Mt 27.3-8 diz que foram os sacerdotes que compraram o tal campo.
Enquanto Lucas informa que Judas “precipitando-se, rebentou pelo meio, e todas as suas entranham se derramaram” (v. 18), Mt 27.3-8 informa que ele se enforcou.
Antes de tentar solucionar o problema, é preciso esclarecer que é possível narrar uma cena de duas maneiras diferentes e ambas serem verdadeiras. Veja um exemplo.
Imagine que o Brasil jogou contra a Argentina ontem à noite e ganhou de 4 a 0, com 3 gols de Neymar e você assistiu a vitória. No dia seguinte, você chega no trabalho e alguém lhe pergunta: como foi o jogo ontem? Você poderá responder: O Brasil venceu com 3 gols de Neymar, ou simplesmente poderá dizer que o Brasil venceu de 4 a 0. Todos os dois relatos são verdadeiros.
O que eu estou dizendo é que tanto Lucas, como Mateus, estão falando a verdade. Porém o enfoque de ambos são diferentes.
As aparentes discrepâncias podem ser resolvidas assim:
A compra do Campo de Sangue. Os sacerdotes compraram o campo com o dinheiro de Judas, o que faz de Judas um comprador indireto, ou por tabela.
A morte de Judas. Judas se enforcou e, algum tempo depois, a corda arrebentou fazendo com que ele caísse e se rebentasse pelo meio.
Seja qual for a solução, Pedro quer dar enfoque ao fato de que o que Judas comprou foi pago com “o galardão da sua iniquidade” (v. 18), isto é, com o salário do seu pecado de traição.
Há pessoas que não traem Jesus por 30 moedas de prata, mas o faz por uma mulher que não é sua ou um marido que não é o seu. Há quem viva do salário da sua mentira, conquistando poder ou fama.
Ao cair, os intestinos de Judas se rebentaram. Este é o significado de “rebentou pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram” (v. 18).
Tanto o feito terrível de Judas como o seu terrível fim “foi notório a todos os que habitam em Jerusalém” (v. 19).
O que Judas fez revelou o seu caráter e aquilo que já estava em seu coração. Afinal, ele era ladrão (Jo 12.6) e seria uma “boa opção” ganhar um dinheirinho a mais. Acontece, que aquilo que está no coração do homem, uma hora ou outra aparece. Nada há que fica oculto. Por esta razão, o pecado precisa ser cortado em nossa vida pela raiz. Era melhor Judas ter se arrependido enquanto havia tempo .
O campo que Judas adquiriu é chamado de “Campo de Sangue” (v. 19) e, como Lucas escreve para um não judeu chamado Teófilo, precisou esclarecer que este é o significado do termo aramaico “Aceldama” (v. 19).
Voltemos agora ao ponto central destes versículos (16 a 19) que revelam a tensão entre a soberania divina e a responsabilidade humana.
Nesses versículos (16-19), há uma palavra inquietante: “Convinha” (v. 16), que significa que era necessário algo. A seguir Pedro explica que era necessário que Judas fizesse o que fez e fosse lhe custado o que custou. Isso não faria de Deus um vilão?
Obviamente que não!
Deus criou o mundo perfeito, sem pecado algum, mas o homem é quem escolheu, deliberadamente, usar da sua liberdade para a desobediência. A partir daí, Deus não seria injusto se condenasse a todos nós ou fizesse de nós o que quisesse. Contudo, não é isso o que Deus faz, e não é assim que Ele age.
Quando está escrito que convinha que tal fato acontecesse é só uma forma de dizer que Deus já sabia o que iria acontecer e determinou que outro discípulo, conforme veremos adiante, tomasse o apostolado de Judas.
Logo, não significa que, para cumprir o seu propósito, Deus fez Judas pecar, pois o Senhor “a ninguém tenta” Tg 1.13, mas sim que a redenção viria (esse é o propósito de Deus). Como Deus antevê todas as coisas, Ele já sabia que haveria um traidor. Assim, Deus usa o mal de Judas para que o seu plano possa ser consumado.
A Bíblia nos ensina que nós, sendo maus, sabemos dar boas coisas aos nossos filhos, quem dirá Deus que é bom sabe dar o melhor. Confie no Senhor, Ele é bom!
c. A decisão de substituição de Judas e a qualificação para o ministério (v. 20 - 22)
Há um terceiro fato a ser destacado no discurso de Pedro - a decisão de substituição de Judas e a qualificação para o ministério.
Todo o discurso de Pedro se fundamenta na Palavra de Deus. Ele não pensou que seria melhor colocar outro no lugar de Judas, mas fundamentou-se na Bíblia Sagrada. Deste modo, Pedro cita o Salmo 69.25 : “Fique deserta a sua habitação, e não haja quem nela habite” (v. 20) e o Salmo 109.8 : “Tome outro o seu bispado” (v. 20). Estes salmos se referem a homens ímpios e Pedro enxergou aqui uma profecia acerca de Judas.
Líderes cristãos e toda a Igreja de Deus não pode basear-se em outra coisa senão na Palavra de Deus para tomar suas decisões. Não dá para dizer “Deus não se agrada de tal coisa” se tal coisa não está na Bíblia, ou “Não podemos agir assim”, ou “Temos que fazer isso”. É muito perigoso chamar de pecado aquilo que não gostamos só porque não gostamos.
Dando mais força ao argumento anterior, isto é, de que Deus colocou na liderança pessoas do sexo masculino, Pedro diz que “É necessário, pois, que, dos varões que conviveram conosco […] um deles se faça testemunha da sua ressurreição” (v. 21,22). A palavra grega para “varões” aí é, novamente, “aner”, que indica uma pessoa do sexo masculino.
Uma vez estabelecido pela Palavra de Deus que Judas deveria ser substituído. Pedro passa a incluir as credenciais apostólicas
Podemos destacar aqui 3 características do apóstolo:
Ter sido enviado para este fim. “Tome outro o seu bispado” (v. 20). Algumas versões dizem “seu encargo” e a palavra “apóstolo” significa “enviado”.
Ter convivido com Jesus. “varões que conviveram conosco todo o tempo em que o Senhor Jesus entrou e saiu dentre nós” (v. 21)
Ter testemunhado a sua ressurreição. “desde o batismo de João até ao dia em que dentre nós foi recebido em cima” (v. 22).
Como então podemos entender o apostolado de Paulo?
Para este fim, mostrarei como o apóstolo Paulo se encaixa nos critérios estabelecidos acima.
Antes, contudo, é preciso explicar que Paulo é a exceção e não a regra. Ele mesmo se considerou “como a um abortivo” (1Co 15.8).
Estabelecido esta premissa, passemos à análise do enquadramento de Paulo como apóstolo do Senhor.
Em primeiro lugar, ele foi comissionado diretamente por Cristo no caminho de Damasco (At 9).
Embora Paulo não tenha passado, de fato, tempo com Jesus, tendo andado com Ele desde o batismo de João até à sua ressurreição, ficou por 3 anos no deserto da Arábia, provavelmente recebendo revelações de Cristo (Gl 1.17,18). Além disso, teve seu apostolado confirmado pelos líderes de Jerusalém, a saber, Tiago e Pedro (Gl 1.18,19), como diante de toda a Igreja-Sede (At 9.26,27).
Paulo foi também testemunha da ressurreição de Cristo, pois o viu em sua conversão (At 9).
Assim, podemos perceber que tanto Paulo como os demais apóstolos estavam bem credenciados para o ministério.
Em nossos tempos, o “ter” tem sido mais importante que o “ser”. Alguns se denominam apóstolos sem, contudo, o serem. A razão disto são duas: ou [1] são ignorantes da Palavra de Deus; ou [2] querem trazer para si status e poder apostólico.
Os apóstolos tinham autoridade absoluta na Igreja. Eles eram inspirados por Deus para transmitir a Mensagem de Deus. Hoje a Sua mensagem é transmitida pela Bíblia Sagrada. Que ninguém tome para si a glória que pertence a Deus.
O discurso de Pedro deixou claro que a missão da Igreja deve ocupar lugar de primazia na vida do cristão. Vejamos, agora, esta verdade estabelecida na escolha de Matias.
II - A ESCOLHA DE MATIAS (V. 23-26)
II - A ESCOLHA DE MATIAS (V. 23-26)
Nos versículos seguintes, observamos as características para tomadas de decisão em uma Igreja.
a. Observar o reconhecimento da Igreja (v. 23)
A primeira característica que observamos é o reconhecimento da Igreja.
Após o discurso de Pedro, “apresentaram dois” (v. 23) discípulos que preenchiam os critérios estabelecidos. O verbo “apresentaram” não significa que eles é que deram um passo à frente, mas que foram indicados pelos 120 presentes.
Um deles era “José, chamado Barsabás, que tinha por sobrenome o Justo” (v. 23). Barsabás significa “filho de Sabas”; era um modo de esclarecer quem era este José, afinal era um nome comum. O termo traduzido por “sobrenome” significa “apelido”. Assim, poderíamos traduzir este trecho por “José, filho de Sabas, apelidado de o Justo”.
O outro candidato era “Matias” (v. 23). Embora Matias não apareça em outro lugar da Bíblia, o fato de ter sido contado entre os apóstolos certamente o tornou notável. Talvez, por isso, não é mencionado seu parentesco, apelido ou alguma outra indicação.
Embora a Bíblia diga “se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja” (1Tm 3.1), ministério é para chamados. Ninguém deve se apresentar ou se fazer ministro do evangelho, mas sim chamado por Deus e reconhecido pela Igreja.
Outrossim, é importante que o líder saiba ouvir a Igreja. É verdade que não é uma tarefa fácil, mas no sacerdócio universal de todos os crentes, não podemos ditar as regras. Deus também fala com a Igreja e esta confirma a voz de Deus.
b. A oração antes da decisão (v. 24-25)
A segunda característica para que seja tomada uma decisão na Igreja é o lugar da oração, à sua primazia.
Os 120 discípulos não se reuniram e fizeram o que lhes pareciam correto, antes estavam “orando” (v. 24).
Certa vez perguntaram para A. W. Tozer o que era mais importante, a oração ou a Palavra na vida do cristão. Este respondeu: o que é mais importante para um pássaro, a asa esquerda ou a direita?
A oração deve ocupar a centralidade na vida da Igreja. Nossas decisões precisam estar regadas de oração.
O conteúdo da oração dos discípulos foi simples. Eles pediram que o “Senhor” (v. 24), que era “conhecedor do coração de todos” (v. 24) revelasse-lhes quem era o “escolhido para [… o] ministério e apostolado” (v. 24,25).
Deus ainda fala. Às vezes nós é que estamos com os ouvidos tapados. Falamos com Deus através da oração, mas Deus fala conosco de muitas formas
Assim, os discípulos oraram pedindo a revelação divina, afinal “Judas se desviou, para ir para o seu próprio lugar” (v. 25). É possível que trate-se do inferno ou esteja apenas falando que o lugar de Judas não era com os 12.
c. A decisão final vem de Deus (v. 26)
A última característica a ser observada na tomada de decisões na Igreja é o entendimento de que a decisão final vem de Deus.
Podemos traçar metas e estabelecer planos, mas a resposta final vem e deve vir do Senhor.
Depois de fazer uma oração a Deus, os discípulos esperaram a resposta divina. O texto diz: “E lançando-lhes sortes, caiu a sorte sobre Matias” (v. 26).
Lançar sortes era um costume antigo. Era um meio de resolver questões difíceis.
É bom que se diga que não era apenas um meio entre o povo de Deus. Vejamos que os marinheiros lançaram sortes para saber o que estava causando aquela grande tempestade em auto-mar, quando a sorte caiu sobre Jonas (Jn 1.7). Além disso, os soldados romanos também lançaram sortes para saber com quem ficariam as vestes de Jesus (Mt 27.35).
O povo de Deus também usou deste meio para obter a resposta divina. Assim, foram repartidas as terras israelitas (Js 13) e também neste texto.
Ressalte-se, porém, que a decisão não vinha através da sorte, mas de Deus que, soberanamente, manifestava o Seu querer neste instrumento.
Você pode se perguntar se isto é válido em nossos dias. A resposta é não! A Igreja faz como aprendeu com os apóstolos e, depois da descida do Espírito Santo, nunca mais usou-se sortes como meio de estabelecer a vontade de Deus, pois esta já está estabelecida em sua Palavra.
Logo após o lançamento das sortes, a vontade soberana de Deus foi estabelecida e Matias, “por voto comum, foi contado com os onze apóstolos” (v. 16), o que significa que Matias foi contado entre os Onze.
Deus é soberano em suas decisões, Ele sabe o melhor para a sua Igreja. Embora devamos orar e a Igreja deve reconhecer o chamado dos seus líderes, Deus é soberano em suas escolhas. Costumo dizer que Deus enxerga além da curva.
Quando estamos dirigindo não podemos fazer ultrapassagens em uma curva. O motivo é claro, não sabemos o que vem depois da curva, nossa visão é limitada. Contudo, Deus vê além da curva. Deus sabe o agora e o depois e Ele tem o melhor para os seus. Confie!
CONCLUSÃO
CONCLUSÃO
A missão tem que ser a prioridade da Igreja. O discurso de Pedro demonstrou isso, pois através da Palavra de Deus enxergou a necessidade de complementar o colégio apostólico para o cumprimento do Ide. Além disso, a escolha de Matias também nos fez enxergar essa verdade. A Igreja orou e confiou na resposta divina. Deus atendeu o clamor do Seu povo.
A obra de Deus precisa avançar e vai avançar por meio da Igreja. Que priorizemos o Seu Reino e obedeçamos a Sua missão!