Como obter a salvação?
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5 Ora, Moisés escreveu que o homem que praticar a justiça decorrente da lei viverá por ela. 6 Mas a justiça decorrente da fé assim diz:
Não perguntes em teu coração: Quem subirá ao céu?,
isto é, para trazer do alto a Cristo; 7 ou:
Quem descerá ao abismo?,
isto é, para levantar Cristo dentre os mortos. 8 Porém que se diz?
A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração;
isto é, a palavra da fé que pregamos. 9 Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. 10 Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação. 11 Porquanto a Escritura diz:
Todo aquele que nele crê não será confundido.
12 Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam. 13 Porque:
Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.
O que devo fazer para ser salvo? Essa é a pergunta mais importante de nossas vidas. E ela merece uma resposta bem refletida. Você não quer dedicar uma vida inteira à religião e depois descobrir que gastou tanto tempo indo para a direção errada. Se entendemos realmente o problema do pecado e almejamos a vida eterna, a nossa religião não pode ser simplesmente baseada num simples chute. Que é o que muita gente faz. Escolhe um caminho simplesmente porque foi o que aprendeu de seus pais, ou porque considerou atraente por alguma razão. Mas se eu almejo a vida eterna, preciso ter certeza de que aquele caminho realmente leva à salvação.
No capítulo 9 de Romanos, vimos que a salvação alcançou os gentios, e que muitos judeus ficaram de fora. E vimos que isso resulta da soberania de Deus, sim, mas também da má escolha dos judeus em seguirem uma religião de obras. Eles confiaram em seu legalismo, e nisso fracassaram.
E nós já vimos que os judeus eram extremamente religiosos, zelosos, sinceros, esforçados. Ninguém poderia acusá-los de desleixo. Mesmo assim, não alcançaram a salvação.
Meus irmãos, talvez a reação de um leitor original dessa carta seja a seguinte: “se eles ficaram de fora, o que será de mim?”. Pois se aqueles que buscavam mais que ninguém não alcançaram, como posso pois obter a salvação dos pecados? É sobre isso que quero refletir com você hoje. Como obter a salvação?
Esforço e sinceridade na religião não podem salvar (v. 5-8)
Esforço e sinceridade na religião não podem salvar (v. 5-8)
Antes de nos dizer como obtemos a salvação, Paulo enfatiza novamente como não a podemos obter. É impossível obter salvação por meio das obras da lei (v. 5-8). Esforço e sinceridade não salvam ninguém.
Paulo começa fazendo uma citação do Antigo Testamento (v. 5). Ele cita Lv 18.5, quando diz:
5 Ora, Moisés escreveu que o homem que praticar a justiça decorrente da lei viverá por ela.
Paulo encontra nessa passagem a perfeita definição do que é o legalismo: a tentativa de se obter vida por meio do cumprimento da lei. E, de fato, tal esforço até poderia resultar em algo, não fosse o pecado ter entrado no mundo.
Quer obter vida eterna, sem Cristo? Cumpra a lei. De todo o coração, alma e força. Tanto em palavras quanto em pensamentos e ações. Seja perfeito, desde o momento de seu nascimento até o seu último suspiro. Faça isso e viverá.
Você consegue? É impossível a nós. Tornou-se impossível porque o pecado entrou no mundo. Adão pecou, e por isso já nascemos pecadores, pois herdamos sua culpa e corrupção. Nascemos com uma tendência irremediável para a rebelião, e a morte se espalhou por toda a humanidade como resultado.
Por causa da maldita herança de Adão, o veredito é sempre o mesmo. Culpado. É impossível obter vida por meio da justiça da lei. Ainda que façamos coisas grandiosas, nada anulará a dívida eterna de pecado que temos para com Deus. Em suma: é impossível para nós obter justiça por meio da lei.
Mas e quanto a “justiça decorrente da fé”? Isto é, a justificação que vem pela fé, pela qual somos considerados justos mediante a fé, não por obras? O que ela diz? Paulo agora estabelece um contraste entre a tentativa de se salvar pela lei e a justificação por meio da fé (v. 6-7).
E o que Paulo nos mostra é que, enquanto a justificação pela fé torna a salvação acessível, a justificação por meio da lei torna a salvação impossível. E para mostrar isso, Paulo vai citar agora alguns versículos que provém lá de Deuteronômio 30. Paulo quer demonstrar novamente que a justificação pela fé não é algo inventado, mas já estava presente no Antigo Testamento.
Veja, em Deuteronômio nós temos Moisés expondo mais uma vez a lei de Deus. Mas ele faz isso num certo contexto. A lei é dada ao povo que foi liberto do Egito. Deus fez uma aliança com aquele povo. E a lei instrui o povo em como eles devem viver dentro dessa aliança já estabelecida com Deus. Perceba, Deus não primeiro exige o cumprimento da lei para depois libertar o povo do Egito. Pelo contrário, primeiro ele liberta, faz uma aliança, e só depois vem a lei para regular a maneira que aquele povo deve servir a Deus.
Muita gente vê uma dicotomia, uma oposição entre lei e graça. Mas quando entendemos o Antigo Testamento corretamente, vemos que a lei é graça. Isto é, a lei é uma provisão graciosa de Deus para o seu povo.
Isso nos ajuda a entender Dt 30.12-14. Lá, Deus está dizendo que esses estatutos que Deus trouxe ao povo lhes foram dados graciosamente. Deus se revelou. Deus falou por meio do seu profeta. Deus expôs a sua vontade.
Então ele dirá (Dt 30.12; Rm 10.6):
12 Não está nos céus, para dizeres: Quem subirá por nós aos céus, que no-lo traga e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos?
Ou seja, não precisou alguém subir ao céu para descobrir a vontade de Deus. Deus a trouxe até nós. As tábuas da lei foram entregues a Moisés pelo próprio Deus.
O Senhor também diz, por intermédio de Moisés:
13 Nem está além do mar, para dizeres: Quem passará por nós além do mar que no-lo traga e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos?
Ou seja, não precisa o povo descer ao abismo da morte, ou atravessar o mar, para descobrir o que Deus requer. Deus já revelou, graciosamente, a sua palavra ao povo seu.
Agora Paulo, nos versículos 6 e 7, usa esses textos para mostrar que desde o Antigo Testamento a salvação é acessível. Deus não exige que conquistemos pelo esforço o que ele já nos deu pela graça. Esse princípio já se encontra ali, em Deuteronômio.
Mas Paulo vai além. Ele aplica isso a Cristo. Veja o v. 6. Não precisa “subir ao céu”, porque Cristo já veio. Ele nos revelou a vontade do Pai e ele já a cumpriu perfeitamente. E veja o v. 7. Não precisa “descer ao abismo”, porque Cristo já morreu e ressuscitou, cumprindo toda a penalidade da lei. Enquanto o legalismo tenta conquistar a salvação por mérito, sem Cristo, o evangelho descansa no que Cristo já fez.
Então, se não devemos dizer que vamos subir aos céus nem que desceremos ao abismo, o que diremos? Agora Paulo cita Dt 30.14, quando diz:
14 Pois esta palavra está mui perto de ti, na tua boca e no teu coração, para a cumprires.
Deus revelou graciosamente ao seu povo a sua salvação. Não foi o povo que, pelo seu esforço, a alcançou; mas Deus, por sua misericórdia, que se revelou graciosamente. A salvação foi tornada acessível a Israel.
E assim como a aliança foi dada a Israel (Dt 30.11,14), graciosamente, a salvação é dada gratuitamente em Jesus. Não precisa tentar descobrir o que Deus quer, ele já revelou. E agora sabemos, uma vez que sua revelação está completa, que o que devemos fazer é crer em Jesus para sermos salvos.
Meus irmãos, se a salvação dependesse de um mínimo esforço nosso para obtê-la, estaríamos perdidos. Pois o padrão de Deus é muito superior ao nosso. E qualquer esforço nosso seria manchado de pecado. Então, que fique claro, ninguém pode ser salvo pelo seu próprio esforço. Por mais sincero e zeloso que seja, não será suficiente.
Há muitos que pensam que irão para o céu graças a seus esforços. Há muitos que pensam que para ser salvo, é preciso primeiro abandonar os pecados, primeiro mudar de vida, primeiro ajeitar as coisas.
Talvez você já tenha convidado alguém que pensa assim a ir para a igreja, e eles logo respondem: “Um dia eu vou, deixa eu primeiro ajeitar a minha vida”.
Isso provém de uma visão errada sobre a salvação. Deus não requer que você conserte a sua vida para então ir a Cristo. Ele quer que você vá a Cristo, e é ele quem consertará sua vida.
Também há crentes que até admitem que a salvação é pela fé, mas que é preciso se se esforçar para não perder a salvação. Muitas vezes por causa de uma leitura equivocada de Mt 11.12, pensam que o “reino deve ser tomado por esforço”. É uma leitura equivocada, porque ali Jesus estava falando daqueles que se opõem ao Reino de Deus e querem se apoderar dele. Não é sobre salvação, sobre se esforçar para conquistar algo.
E, novamente, se a sua salvação dependesse de você não pecar nunca mais, você já a teria perdido. Você peca todo dia. Certamente, você já pecou hoje. E muitas vezes pecamos e nem sequer percebemos, ou seja, há pecados ocultos que nem conseguimos confessar. Então se a salvação depender de você conseguir nomear todos os seus pecados e confessá-los, você também a teria perdido.
Não me entenda mal. O crente deve se esforçar para a santificação. E ele deve confessar os seus pecados. A santificação é o resultado da operação da graça em nós. Mas em nada disso pode se basear a nossa salvação, a justificação, pela qual somos aceitos por Deus. Porque sabe o resultado? Todas essas maneiras de tentar conquistar a salvação resultam em torná-la impossível.
O resultado é a insegurança. Muitos crentes não desfrutam da certeza de seu destino eterno porque ainda pensam que sua aceitação diante de Deus é baseada em seu mérito.
Então você pergunta: “você irá para o céu?”. E eles respondem: “não sei, vamos ver, estou me esforçando”.
E realizam obras e mais obras, se envolvem num ativismo, para tentar obter alguma certeza.
E se cansam, e se esgotam, e nunca se sentem seguros. Porque sempre falta algo.
Esse é o resultado do legalismo. É a morte da verdadeira religião.
Mas outro resultado possível é a falsa segurança. Tem muita gente que pensa que é salvo porque “nunca roubou, nunca matou e ajuda as pessoas aqui e acolá”.
Certa vez visitei uma senhora, uma bem idosa e descrente. E ela expressou esse tipo de ideia. Ela começou a falar das boas ações que realizou, das cestas básicas que distribuiu, e de como ajudou muita gente ao longo da vida.
E ela falava como se quisesse que eu concordasse que ela realmente era uma boa pessoa. Ela tinha a segurança de que iria para o céu baseada em suas boas ações.
Eu lembro que comecei a falar para ela do pecado de toda a humanidade, e de como qualquer ação é insuficiente. E ela começou até a ficar levemente irritada, repetindo em voz mas alta: “mas não, eu já ajudei muita gente, eu sempre procuro fazer o bem”.
Isso é falsa segurança. Pois no tribunal de Deus, tais ações não pesarão nada comparado ao pecado que herdamos e que praticamos contra Deus. Em suma, é insuficiente.
Confiar em Jesus é o único caminho para a salvação (v. 9-13)
Confiar em Jesus é o único caminho para a salvação (v. 9-13)
Mas se não é pela justiça da lei, então como posso ser salvo? A resposta é: confiando em Jesus. Esse é o único caminho para a salvação.
Paulo diz:
9 Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.
O que é necessário para ser salvo? Confessar Jesus como Senhor. Isso significa saber quem ele é e. Isso significa declarar publicamente a fé nele. E crer que Deus o ressuscitou, isto é, ter plena confiança que em sua obra consumada (v. 9). Ele morreu para nos salvara de nossos pecados, e sua ressurreição confirma que sua obra foi consumada e que nós ressuscitaremos também, como Paulo já disse no cap. 6.
Em outras palavras, qual o caminho para a salvação? É a fé em Jesus. É a plena confiança no salvador. Só isso? Sim, apenas isso. Mas não pense que ter fé em Jesus é como uma palavra mágica. Você diz “Jesus!” e é salvo.
Paulo diz:
10 Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação.
A fé começa no coração. O coração é o centro de onde procedem nossos pensamentos, vontades, emoções. E é lá que está arraigada nossa convicção de quem Cristo é e a nossa confiança nele.
Para a minha fé ser verdadeira eu devo saber quem é Jesus. Devo crer no Jesus verdadeiro. No mundo talvez haja muitas pessoas chamadas “Jesus”, mas somente o Jesus das Escrituras salva. Devo saber quem ele é, como revelado na Bíblia. Ele é o filho de Deus. Ele é o Salvador, e pela sua morte somos salvos.
E a fé verdadeira é aquela que confia em Jesus. Ela se apoia somente nele para a salvação, sabendo que ele fará o que prometeu fazer. É mais que apenas saber. Porque até os demônios sabem quem é Jesus. Fé é confiar nele para a salvação.
Assim como uma criança confia em seu pai quando segura sua mão para atravessar a rua, confiamos que Jesus nos levará seguros para o outro lado.
Mas a fé também engloba confissão. Devemos professar Cristo com a boca. Isso significa que nós tornamos pública a nossa fé em Cristo, e a partir daí vivemos de um modo coerente com essa profissão e compromisso.
Alguém poderia pensar: se a salvação é pela fé, então eu posso crer sozinho, em casa, sem ter de ir na igreja, ninguém precisa saber, e assim serei salvo. É o famoso crente "agente secreto”.
Não é assim que funciona. A fé começa no coração, mas ela se manifesta numa profissão pública e numa vida que resulta do compromisso que temos com Deus. Crer e confessar são dois aspectos da fé. Cremos com o coração, confessamos com a boca. E o resultado é justiça e fé. Somos justificados, a justiça de Cristo é atribuída a nós, e somos salvos da ira de Deus.
E qual o resultado disso? Segurança. Veja como Paulo garante essa segurança em suas afirmações. Se você crê e confessa, ele diz, “será salvo” (v. 9). Quem crê e confessa obtém “justiça e salvação” (v. 10). E agora, no v. 11, ele cita Is 28.16 ao dizer que “quem nele crê não será confundido”.
Lá em Isaías, o contexto era a acusação de Deus contra seu povo, Jerusalém. E ele diz que colocará uma pedra em Sião, em quem crer nela “não foge”. Isto é, quando vier o juízo, diante do tribunal de Deus, aqueles que creem nessa pedra não terão razão para temer. Enquanto o legalista vive inseguro de nunca ter feito o suficiente, aquele que crê em Jesus vive seguro, porque Cristo já cumpriu toda a justiça necessária para a salvação.
E o outro resultado da justificação pela fé é que ela torna a salvação acessível a todos, sem distinção (v. 12-13). Um judeu religioso, naquele tempo, se orgulhava de ter aprendido a lei desde a sua infância. Ele conhecia todos os detalhes e jusrisprudências de todas as leis, bem como as interpretações da tradição rabínica. Um grego não tinha o mesmo treinamento.
Então, se fosse pela lei, talvez o judeu pudesse alegar alguma vantagem. Mas é pela fé. Judeus e gregos são salvos da mesma maneira. O Senhor é “rico” para com todos os que o invocam, isto é, ele é gracioso, generoso, a quem recorre a ele.
E desde o Antigo Testamento, sempre foi assim. Paulo já demonstrara isso. Ele já nos mostrou em Romanos 4 que Abraão foi salvo pela fé. Mas agora ele cita Jl 2.32:
13 Porque:
Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.
Não há dois modos de salvação. Os judeus que criam na promessa sobre Jesus foram salvos. Deus salva judeus e gentios do mesmo modo: mediante a fé em Jesus Cristo.
Parece bom demais para ser verdade. Talvez você pense assim: “mas pastor, isso torna as coisas fáceis demais”. Bem, pense assim, se fosse pela justiça da lei, não seria difícil. Seria impossível. A salvação seria inacessível a todos e seríamos todos condenados.
Ou talvez você diga: “Mas eu não tenho de fazer nada?”. Nada além de crer, e até mesmo a fé é dom de Deus. Não resta espaço algum para a autojustiça. Isso mata o nosso orgulho e qualquer senso de merecimento.
E é bom demais. E é verdade. Não importa sua história, origem ou passado. Creia em Jesus e será salvo. Que Deus nos abençoe.