Verdadeiramente Escravos ou Livres?

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Verdadeiramente Escravos ou Livres?
João 8.31–36 (NAA)
31 Então Jesus disse aos judeus que haviam crido nele:
— Se vocês permanecerem na minha palavra, são verdadeiramente meus discípulos, 32 conhecerão a verdade, e a verdade os libertará.
33 Eles responderam:
— Somos descendência de Abraão e jamais fomos escravos de ninguém. Como você pode dizer que seremos livres?
34 Jesus respondeu:
— Em verdade, em verdade lhes digo que todo o que comete pecado é escravo do pecado. 35 O escravo não fica sempre na casa; o filho, sim, fica para sempre. 36 Se, pois, o Filho os libertar, vocês serão verdadeiramente livres.

Introdução

Ilustração
"Os cristãos acreditam possuir a verdade absoluta na qual todo mundo precisa acreditar, senão...", disse Keith, jovem artista morador do Brooklyn. "Essa postura ameaça a liberdade de todos."
"Isso mesmo", concordou Chloe, outra jovem artista. "Uma abordagem do tipo 'verdade tamanho único’ é restritiva demais. Os cristãos que conheço não parecem livres para pensar por si próprios. Acho que todo indivíduo precisa estabelecer qual é a sua verdade."
Esses são dois comentários que introduzem o capítulo 3 do livro “Fé na Era do Ceticismo” do autor Tim Keller. Nesse livro ele se propõe a defender a fé cristã contra os ataques mais comuns que nós sofremos. Neste capítulo, intitulado “O cristianismo é uma camisa de força”, ele se preocupa em se opor a afirmações de que ser crente é ser aprisionado e não ser livre para tomar suas decisões e decidir o que pensar.
Você concorda com essas afirmações? Talvez não nesse momento da sua vida, mas esse já foi o seu modo de pensar?
Comecei um discipulado uma vez com um jovem amigo, que no terceiro encontro me disse: “cara, isso não é pra mim. Não posso deixar que um livro me diga como viver”. Tive uma professora no ensino médio que dizia brincando “a água benta quando bateu na cabeça de vocês tirou toda capacidade criativa e de raciocínio”.
Para essas pessoas, os cristãos não são livres. Nós somos como robôs e precisamos seguir cegamente um conjunto de regras, se não iremos para o inferno. Tim Keller cita uma ativista social em seu livro que diz que o cristianismo é um: “nivelador da raça humana, destruidor da vontade humana de ousar e agir […] uma cerca de ferro, uma camisa de força que não permite que o homem se expanda e cresça”. Para essas pessoas, e o mundo de forma geral, “‘liberdade’ significa a inexistência de um propósito supremo para o qual fomos criados. Se ele existisse, seríamos obrigados a adotá-lo e cumpri-lo, o que seria equivalente a uma limitação. A genuína liberdade é a liberdade de criar seu próprio sentido e propósito”. Para o mundo, cada um tem o direito de ter a sua própria verdade, e a partir daí, o direito de livremente traçar a sua vida como ele deseja.
Olhando para esses comentários e também para o texto lido hoje, é possível dizer que tanto Jesus como o mundo, estabelecem uma relação entre liberdade e verdade. Para ambos, se eles podem concordar em um ponto, é que a forma como eu enxergo a verdade, está intimamente ligado com a forma como eu enxergo a liberdade. Se para o mundo então, a relação é “a minha liberdade é desenvolver a minha verdade”, como pra Cristo essas duas coisas caminham juntas?

vs. 31-32

Jesus começa confrontando a veracidade da fé dos judeus. Esses Judeus com quem Jesus fala, são o povo comum. O texto é obviamente uma continuidade, e o verso 30 deste capítulo diz que “muitos creram nele”. Jesus então, está falando com a grande multidão de judeus que o seguiam, não necessariamente com os fariseus, mestres e escribas.
O nosso Senhor, ao ver que muitos estavam crendo, os convida a uma reflexão para saber se esta fé era mesmo genuína ou passageira e superficial. Ele então estabelece um parâmetro para que eles avaliem isto, e o parâmetro é: “se vocês permanecerem na minha Palavra”. O meio de termos certeza se cremos de fato em Jesus, é avaliarmos se permanecemos fiéis a Ele. Um comentarista afirma:
Permanecemos na palavra de Cristo quando a tornamos a regra da nossa vida. Em outras palavras, obediência é a mesma coisa que permanecer na palavra. É isso que nos torna verdadeiros discípulos de Jesus e nos leva ao conhecimento genuíno da verdade.
William Hendriksen
A fala de Jesus tinha o objetivo de levar aquelas pessoas a pensarem se elas de fato eram obedientes a Ele. Muitos o seguiam por causa de seus milagres e de sua fama. Mas Cristo os provoca a pensar se de fato eles eram fiéis a Ele. Ao dizer então em seguida que ao conhecer a verdade, esta os libertará, Jesus os chama a conhecê-lo mais profundamente. O intuito de Jesus é estabelecer um relacionamento verdadeiro, baseado na verdade, nEle mesmo. Não baseado em achismos, opiniões, situações, ou causas. Eu devo me relacionar com Jesus baseado unicamente em quem Ele é.
A partir daí então, Jesus traça o paralelo entre liberdade e verdade. Para Cristo, liberdade não é poder definir a minha verdade, mas sim, conhecer uma verdade superior a mim, conhecer A própria Verdade. Para que eu me veja livre, eu preciso então, saber o que é a verdade. Nas palavras de Agostinho:
Onde encontrei a verdade, aí encontrei o meu Deus, que é a própria Verdade, que desde o tempo que a aprendi não esqueci. E assim, desde o tempo em que te conheci, permaneces em minha memória; e eu te encontro lá sempre que eu te chamo à lembrança, e me deleito em ti.
Agostinho de Hipona

Vs. 33-34

Mas aqueles que ouviam Jesus não tinham conhecimento de qual era a verdadeira escravidão e o questionaram, e eles então se firmavam em sua descendência “somos descendentes de Abraão, jamais fomos escravos de ninguém”. A mentalidade daquelas pessoas, é de que elas eram um povo eleito e santo. Que em suas veias corria sangue separado por Deus, pelo simples fato de seu nascimento.
É aí que vemos que tanto a noção de liberdade como de escravidão das pessoas é totalmente deturpada. Elas não sabem o que é ser livres e também não sabem quando estão presas. Eles se seguram com todas as forças em uma noção de liberdade que não é a verdadeira.
O mundo hoje ainda é assim. Pessoas se firmam e se agarram em suas noções de liberdade e acabem se tornando escravos destas noções. Como estes que indagaram Jesus, as noções de liberdade são totalmente deturpadas.
Mas Cristo intervém e dá a eles o que realmente é a Escravidão. Enquanto para eles, escravidão é ser refém de um sistema ou de uma outra pessoa. Nos nossos dias, é ser cegamente submisso a um livro. No verso 34 ele afirma: “Em verdade, em verdade lhes digo que todo o que comete pecado é escravo do pecado.”. O seu maior inimigo não é um sistema. Não são outras pessoas. Você não é escravizado por ninguém mais além de você mesmo!
Aqui nós temos então qual é a verdadeira escravidão. O que tira a minha liberdade, é justamente ser escravo dos meus desejos. Nietzsche, filósofo alemão, aborda a ideia de que a liberdade pode ser uma forma de escravidão em várias de suas obras. Um conceito central é o de que a liberdade total pode levar ao sofrimento e à confusão, porque impõe uma responsabilidade enorme sobre o indivíduo para criar seus próprios valores e sentido de vida. Em um de seus livros “Genealogia da moral”, ele vai afirmar que “A liberdade é a grande mãe da todas as opressões”. Ou seja, até um filósofo consegue perceber que o conceito de liberdade moderno é muito deturpado. Cristo estabelece essa verdade ao dizer que nós somos escravos do nosso pecado.
Se insistimos em lutar por nossa liberdade, acabaremos por nos tornar escravos de nossas vontades. E seremos reféns de satisfazer nossa carne.

Vs. 35-36

E então aqui nos versos 35 e 36, Jesus vai estabelecer a verdadeira liberdade. Ele faz um comparativo entre um escravo e um filho e afirma que o escravo não permanece para sempre na casa, mas sim o filho. Observem o que Calvino comenta a respeito deste verso:
Ele adiciona uma comparação, extraída das leis e da lei política, no sentido em que um escravo, ainda que tenha poder por algum tempo, todavia não é o herdeiro da casa, do quê ele infere que não há liberdade perfeita e durável, senão que é obtida através do Filho.
João Calvino
Nós podemos passar nossa vida inteira nos enganando dizendo que somos livres, quando na verdade não passamos de escravos e não nos tornaremos herdeiros. E a conclusão é lógica “se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livre”! Jesus diz para não nos enganarmos com falsas liberdades que criamos para nós mesmos. Não podemos continuar nos enganando, enquanto não nos apegarmos a Cristo como o grande libertador de nossas almas, nós seremos eternamente escravos.
Portanto, não somos livres quando podemos fazer o que quisermos, mas sim quando queremos fazer e podemos fazer o que devemos.
William Hendriksen
Existe uma liberdade que é verdadeira. E para sermos verdadeiramente livres, temos que nos submeter ao verdadeiro libertador.
Ao dizermos que verdadeiramente serão livres, há uma ênfase na palavra verdadeiramente, pois temos que suprir o contraste com a tola persuasão por meio da qual os judeus se inflavam com orgulho, da mesma forma que a maior parte do mundo se imagina possuir um reino, enquanto vivem na mais miserável escravidão.
João Calvino

Falsa Escravidão x Falsa Liberdade

A verdadeira escravidão x A verdadeira libertação em Jesus

Conclusão

Agora podemos voltar ao verso 31 e 32 e entender que a verdadeira liberdade é ser servo de Jesus. Ser realmente livre é conhecer a Cristo e obedecer a Cristo.
Assim, pois, nossa liberdade é um benefício conferido por Cristo, porém a obtemos por meio da fé, em consequência do quê também Cristo nos regenera por meio de seu Espírito.
João Calvino

Aplicações

1- Se você crê em Jesus, permaneça nEle.
2- Conheça a Verdade do Evangelho para ser livre.
3- Não se engane com uma falsa noção de liberdade.
4- Creia no Filho, Creia em Jesus e seja livre do seu pecado.
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