Salmo 41

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Salmo 41 ARA
Ao mestre de canto. Salmo de Davi 1 Bem-aventurado o que acode ao necessitado; o Senhor o livra no dia do mal. 2 O Senhor o protege, preserva-lhe a vida e o faz feliz na terra; não o entrega à discrição dos seus inimigos. 3 O Senhor o assiste no leito da enfermidade; na doença, tu lhe afofas a cama. 4 Disse eu: compadece-te de mim, Senhor; sara a minha alma, porque pequei contra ti. 5 Os meus inimigos falam mal de mim: Quando morrerá e lhe perecerá o nome? 6 Se algum deles me vem visitar, diz coisas vãs, amontoando no coração malícias; em saindo, é disso que fala. 7 De mim rosnam à uma todos os que me odeiam; engendram males contra mim, dizendo: 8 Peste maligna deu nele, e: Caiu de cama, já não há de levantar-se. 9 Até o meu amigo íntimo, em quem eu confiava, que comia do meu pão, levantou contra mim o calcanhar. 10 Tu, porém, Senhor, compadece-te de mim e levanta-me, para que eu lhes pague segundo merecem. 11 Com isto conheço que tu te agradas de mim: em não triunfar contra mim o meu inimigo. 12 Quanto a mim, tu me susténs na minha integridade e me pões à tua presença para sempre. 13 Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, da eternidade para a eternidade! Amém e amém!
Permita o Senhor que nos envolvamos na contemplação de usa sabedoria celestial com devoção real e crescente, para a sua glória e para a nossa edificação. Amém.
Exórdio
Não precisamos ir muito longe para nos depararmos com relatos e histórias de pessoas que estão passando por momentos de adversidade e angústia, com a sensação de que Deus se esqueceu de nós.
Talvez você possa pensar no iate que afundou segunda feira na costa da Sicília, por causa de um tornado raro na região. Talvez você pode pensar nas queimadas que estão devastando o Pantanal, onde de 1º de janeiro a 7 de julho de 2024, o Pantanal perdeu 762.875 hectares para o fogo. A área é equivalente a cinco vezes a cidade de São Paulo e representa 5,05% de todo o bioma. Onde a fumaça das queimadas tanto do Pantanal como da Amazônia já estão afetando os estados brasileiros, tamanha é a destruição.
Ou quem sabe com muito esforço você traga a memória as enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul, digo muito esforço, porque necessidade de se explorar tragédias e manter a sociedade entretida com a desgraça alheia é tanta, que nada mais é noticiado em relação a isso.
Você já passou por momentos de adversidade e angústia, sentindo-se oprimido e doente? O Salmo 41 é uma oração do justo nesses momentos, buscando a misericórdia de Deus e esperando por Sua proteção e cura.
Introdução
Estamos expondo o livro dos Salmos, o hinário judaico, composto por diversos cânticos e poesias feitas para louvar e glorificar o nome de Deus, é um livro rico em figuras de linguagem, cenários de Israel, demonstrações de corações quebrados e despedaçados, suplicando o socorro do Senhor, como também cantos de alegria e júbilo . Também é chamado como livro de orações da Igreja.
O livro está dividido em cinco seções principais, cada uma terminando com uma expressão de louvor: Salmos 1–41, Salmos 42–72, Salmos 73–89, Salmos 90–106, Salmos 107–150. É o livro com mais mencionado no Novo Testamento, com quase 80 citações e mais de 330 alusões.
Ao responder a pergunta de Marcelino sobre como abordar e compreender os Salmos, o grande bispo de Alexandria, Atanásio replica um conselho que ele mesmo havia recebido:
Meu filho, todos os livros das Escrituras, tanto os antigos quanto os novos, são inspirados por Deus e úteis para o ensino, como está escrito. Porém, para aqueles que realmente o estudam, o livro dos Salmos revela um tesouro especial. É claro que todos os livros da Bíblia possuem sua própria mensagem. Como você pode ver, cada um desses livros é um jardim que oferece um tipo específico de fruto. Em contraste, o livro dos Salmos é um jardim que, além do seu fruto particular, também produz todos os outros frutos.
O Salmo 41 encerra o primeiro dos cinco livros ou seções que compõem o todo desse livro. Escrito por Davi, contendo uma expressão profunda da dor, esperança e fé que ressoa com muitas pessoas em todo o mundo até hoje.
O contexto histórico e literário do Salmo 41 é incerto. Mas é provável que Davi escreveu durante um período de sua vida em que ele estava passando por dificuldades pessoais e enfrentando a oposição de seus inimigos. Alguns estudiosos sugerem o período em que Absalão, filho de Davi, liderou uma rebelião contra seu pai e tentou usurpar o trono. Outra hipótese, é que Davi escreveu durante um período em que estava lidando com uma doença física ou enfermidade, sugerido pela referência à “enfermidade” no verso 3, ou mesmo pode ser uma metáfora para a dor e sofrimento emocional que Davi estava experimentando.
Independentemente do Sitz im Leben em que o Salmo 41 foi escrito, ele é um exemplo eloquente de como a poesia e a música eram usadas no Antigo Testamento para expressar emoções, sentimentos e pensamentos religiosos profundos. Pois este salmo é um testemunho da fé inabalável de Davi em Deus, mesmo diante de dificuldades e adversidades, e serve como uma fonte de inspiração e conforto para muitos crentes até os dias de hoje.
A mensagem principal do Salmo 41 é a importância da confiança em Deus em momentos de sofrimento e da necessidade de ter uma comunidade de fé solidária ao nosso redor. Desse modo, para guiar a nossa pregação hoje, proponho a seguinte Grande Ideia: Deus é a esperança e a cura para aqueles que enfrentam traição e doença, sustentando-os fielmente.
Então faço a seguinte indagação: Por que podemos confiar em Deus mesmo quando enfrentamos traição e doença? A resposta se divide em três razões principais pelas quais o Salmo 41 nos ensina a confiar em Deus durante tempos de traição e enfermidade.
O que nos leva ao primeiro ponto.
1 – Bênção para os que ajudam os necessitados
O primeiro versículo do Salmo 41 enfatiza a importância de ajudar os pobres e necessitados. O salmista sugere que aqueles que são generosos e compassivos com os menos favorecidos serão abençoados por Deus e protegidos em tempos de dificuldade.
Não é simplesmente feliz o homem que se preocupa ou considera o necessitado, a palavra hebraica aqui é maśkîl, explicitando que o cuidado deve ser feito com sabedoria em relação aos pobres.
O sofrimento e as angústias das pessoas boas e más neste mundo são um mistério da providência de Deus. Pobreza não é simplesmente no sentido material, mas no sentido de ainda não reconhece que o Deus pactual é o único Senhor, uma pobreza espiritual. Levando-o a considerar que, por haver maldade e sofrimento no mundo, Deus não exista, ou talvez ele não seja Todo-Poderoso pra impedir o mal.
Deus valoriza a bondade e a compaixão e que Ele recompensa tanto nesta vida quanto na vida futura. A importância a essa questão é tanta, que Jesus em seu Sermão do Monte, Mt 5.7, faz alusão a esse texto ao dizer que: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”.
Tratar e agir com misericórdia com os necessitados tinha uma importância tão grande para os judeus que em diversos textos como Lv 19.9-10, Dt 15.7-8, Pv 14.21 e Mq 6.8, dentre outros. Cuidar dos menos favorecidos era um mandamento vital para a prosperidade da nação de Israel como um todo.
Cuidar do aflito, ajudar aqueles que estão passando por dificuldades, independentemente de sua posição social ou econômica, garante o favor de Deus para a nossa vida.
Davi afirma explicitamente apresentando que o Deus pactual, o YHWH, irá garantir a proteção do misericordioso, não somente isso, ele será abençoado e não cairá na mão dos inimigos. É o próprio Senhor dos Exércitos, o Yahweh Sabaoth que está garantindo a sua proteção e segurança, é Ele quem te protege.
Davi afirma no verso 3 que, quando o misericordioso caiar no leito da enfermidade, é o Senhor, que assiste o enfermo no seu leito, que lhe afofa a cama. É que Deus protege e abençoa seus seguidores. Ele estará presente e cuidará deles durante todo o período de enfermidade, proporcionando-lhes conforto e apoio. O nosso Deus é um Deus amoroso e compassivo, que cuida de Seus de nós em todas as circunstâncias e em todos os momentos da vida.
Depois de entendermos que a compaixão pelos necessitados atrai as bênçãos e o favor de Deus, vamos agora considerar como essa misericórdia divina se manifesta em nossa vida, especialmente em tempos de sofrimento.
2 – O Lamento de Davi
Há uma mudança no cântico escrito por Davi, pois nesses três primeiros vezes ele exalta as qualidades e principalmente, dos benefícios de quem é misericordioso, em um sentido de, olha Deus, como ser misericordioso é vantajoso.
Davi está sofrendo, tanto espiritual quanto fisicamente, o pecado que cometeu corrói sua alma e o faz desfalecer, e clama: “Deus, sê misericordioso para comigo”. Não há quem possa me socorrer nesse momento de dificuldade, onde todos a minha volta se levantam contra mim, maquinam o mal e planejam a minha destruição.
O Salmista entende que necessita de uma intervenção divina em sua vida, e por isso ele precisa confessar que pecou. Deus não rejeita a oração. Rejeita sim, mas o que Ele não rejeita é um coração quebrantado e contrito, Sl 51.17, como também um coração que se humilha e confessa os seus pecados, 1 Jo 1.9.
Existe uma correlação direta entre o arrependimento e a benção divina, Davi entendia isso, mesmo que o texto mais claro sobre isso, 2 Cr 7.14, ainda não tivesse sido escrito como Palavra de Deus, mas ele reconhecia isso pela sua vivência na presença de Deus, como um filho que conhece o seu Pai e faz o que lhe agrada.
Nesses momentos de luta e dificuldade, muitos começam a reparar nas circunstâncias à sua volta, começam a ver os opositores se levantar, os invejosos e maledicentes falarem mal e proferir mentiras. Os inimigos estão a espreita, esperando que a morte se concretize para se alegrarem, não só contentes com a doença, eles precisam ver de perto a ruína, visitam o doente e lançam palavras inúteis em uma mente já fragilizada esperando que piore, e ao partirem, levam informações mentirosas para os outros.
Os grupos dos opositores estão se reunindo e comentando uns com os outros, a doença que está sobre Davi é para morte, do jeito que está doente, já está em seu leito de morte. Peste maligna, doença maldita, enfermidade sem cura. Não há mais esperança para a sua vida.
E o lamento de Davi termina aqui no verso 9 de forma profética: “Até o meu amigo íntimo, em quem eu confiava, que comia do meu pão, levantou contra mim o calcanhar”. Até tu Judas? Sim, esse é um Salmo Messiânico, são essas palavras que Jesus fala em Jo 13.18 para indicar o traidor, um amigo íntimo, que andou, viveu, comeu e dormiu junto, demonstrando que pessoas próximas podem também agir de forma errada.
Davi está falando de si mesmo, das suas dificuldades e enfrentamentos, mas ao fazer essa afirmação, ele estava representando, tipificando a pessoa de Cristo. O que começou em Davi, foi plenamente cumprido em Cristo, demonstrando que como crentes e servos de Deus, também passaremos pro lutas e aflições nessa terra. Não estamos imunes a desafios, oposições e doenças, sofremos como todos os humanos, mas temos a certeza que esse sofrimento é passageiro, pois a nossa vitória já foi conquista com Cristo na cruz.
Mas ainda não é o fim, Davi está clamando ao Senhor Todo-Poderoso e esse clamor, realizado com a confissão de pecados não ficaria sem uma resposta, sem um reconhecimento de que quem Deus é para Davi, e tudo que Ele fez. Nos levando assim ao nosso último ponto.
Embora a traição de amigos e o sofrimento físico possam nos abater, o Salmo 41 nos lembra que há uma resposta divina para esses desafios. Vamos ver como Davi encontrou consolo na certeza da proteção contínua de Deus.
3 – Clamor por Misericórdia e Confiança em Deus
Davi, o homem segundo o coração de Deus, clama a Deus por misericórdia e ajuda. Ele reconhece sua dependência do Senhor e pede para ser levantado, a fim de retribuir àqueles que o prejudicaram. Ele expressa a confiança na justiça divina e na capacidade de Deus de trazer restauração e recompensa aos seus servos.
Davi sabe que o SENHOR é misericordioso e compassivo; longânimo e assaz benigno, ele escreveu isso no Sl 103.8, talvez tenha escrito depois desses acontecimento, mas ele já tinha dentro do seu coração a convicção inabalável de que ele dependia inteiramente do Senhor. É esse entendimento que deve permear a vida do cristão, que dependemos exclusivamente de Deus, vivemos por e para Ele, para executarmos a sua vontade.
Mas o final do verso 10, Davi escreve de uma forma que parece contradizer toda a humildade que ele estava expressando, ele pede que Deus o restaure para se vingar dos homens maus. Não é questionável?
Devemos entender que além de homem, Davi também é rei, e foi incumbido por Deus para governar e julgar o povo de Israel. Quando alguém se levantava contra a autoridade estabelecida, se levantava contra a autoridade do próprio Deus. Sendo o rei, estava autorizado, em virtude de sua autoridade real, a executar a vingança divina contra os homens maus. Mas e quanto a nós? O Senhor Deus nos lembra em Dt 32.35: “A mim me pertence a vingança, a retribuição, a seu tempo, quando resvalar o seu pé. Ele é o nosso juiz, Ele proporcionará a vingança contra os ímpios, a nós cabe confiar no Senhor.
O salmista declara sua convicção de que Deus o favorece e o protege. Ele reconhece que o seu inimigo não prevalecerá sobre ele, evidenciando a confiança na intervenção divina. Essa afirmação revela a certeza do cuidado e a fidelidade de Deus são maiores do que qualquer adversidade que possa enfrentar. E ele tem a convicção de que o Senhor o levantará e o sustentará para que ele estenda o auxílio divino por todo o Reino.
Davi compreendia o porque ele era o rei de Israel, o motivo dele ainda não ter sido morto, e mesmo aflito ele tinha condições para suportar e continuar, porque era o Senhor que o sustentava, era o próprio Deus Pactual que o havia tirado da malhada, por detrás das ovelhas e o tinha feito ser o homem mais importante do reino. Era Deus, nunca foi por ele próprio. E estar na presença desse Deus era o que fazia de Davi o que ele era. O homem segundo o coração de Deus.
E ele encerra esse salmo, bem como essa primeira seção, com essa Doxologia, confirmando e reiterando as ações de graças dadas até aqui, demonstrando conhecer a relação pactual que Deus tem com Israel, da onde provia o livramento, tanto de Davi quando do povo, finalizando com um duplo amém como uma confirmação e um selo de sua reverência.
4 – Conclusão
Este salmo é um testemunho poderoso da fé inabalável de Davi em Deus, mesmo diante de adversidades como doença, traição e oposição. Ele revela que a compaixão pelos necessitados não apenas atrai o favor divino, mas também exemplifica o caráter de um verdadeiro seguidor de Deus. Davi, em meio ao seu sofrimento, clama por misericórdia, reconhecendo tanto a sua própria fragilidade quanto a soberania e justiça de Deus.
Além de refletir as lutas pessoais de Davi, aponta profeticamente para Cristo, o verdadeiro Rei que, assim como Davi, enfrentou traição e sofrimento, mas triunfou pela fé e pela obediência ao Pai. Davi nos ensina a confiar em Deus em todas as circunstâncias, lembrando-nos de que Ele é fiel para nos sustentar e nos proteger, independentemente das provações que enfrentamos.
5 – Aplicações
1 – Como seguidores de Cristo, somos chamados a agir com misericórdia para com os necessitados ao nosso redor. Isso significa não apenas oferecer ajuda material, mas também ser um apoio espiritual e emocional para aqueles que sofrem. Pergunte-se: Como posso estender a compaixão de Deus tem por mim a outras pessoas? Talvez seja visitando alguém doente, apoiando financeiramente uma causa justa, ou simplesmente oferecendo uma palavra de encorajamento a quem está desanimado.
2 – Quando enfrentamos traições ou calúnias, nossa tendência natural pode ser retribuir com ressentimento ou buscar vingança. No entanto, o Salmo 41 nos ensina a levar nossa dor a Deus, confessando nossos pecados e confiando em Sua justiça. Que em momentos de angústia, possamos orar e lembrar de que Deus vê sua situação e Ele é o justo juiz que nunca abandona aqueles que confiam nele.
3 – A fé de Davi em Deus, mesmo em meio à doença e à traição, serve como um exemplo para nós. Devemos clamar a Deus por misericórdia e confiar plenamente em Sua provisão e proteção. Quando enfrentar desafios, lembre-se de que, assim como Deus sustentou Davi, Ele também sustentará você. Cultive uma vida de oração constante, buscando em Deus a força e a direção para cada situação.
Oremos.
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