A SABEDORIA CLAMA! (Aula 3)

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Revista: LIÇÕES DA SABEDORIA
Aula 1: Versos e Virtudes
Aula 2: Sabedoria de pai para filho
Aula 3: A sabedoria clama!
"Não clama, porventura, a Sabedoria, e o Entendimento não faz ouvir a sua voz?" Provérbios, 8:1 (ARA)
Uma primeira consideração a fazer é sobre a importância da literatura sapiencial. Para muitos, livros poéticos da Bíblia, possuem menos valor que outros. Ainda que não possamos tirar doutrina/dogma de livros como Provérbios e Salmos, estes são a Palavra de Deus e têm muito a nos ensinar.
A segunda consideração é sobre a divisão de Provérbios. Os títulos (ou sobrescritos) dividem o livro em sete coleções. O texto da lição, encontra-se na segunda coleção - prólogo e epílogo (1.8-9.18). a) Prólogo (1.8–8.36): O prólogo consiste de 12 poemas: 10 palestras colocadas na boca do pai e dirigidas ao “filho meu” (1.8–19; 2.1–22; 3.1–12, 13–35; 4.1–9, 10–19, 20–27; 5.1–23; 6.1–19; 6.20–35; 7.1–27) e dois interlúdios, discursos extensos pela sabedoria, uma personificação feminina da sabedoria de Salomão para os jovens ingênuos (1.20–33; 8.1–36). Tanto as palestras, quanto esses dois poemas extensos, começam tipicamente com uma introdução que indica a quem são destinados, os admoesta a ouvir a lição da palestra e substancia a admoestação com promessas motivadoras; b) Epílogo (9.1–18): O capítulo 9 também é atípico. Como os interlúdios, ele apresenta uma introdução relativamente longa ao discurso da sabedoria ao ingênuo (9.1–3). Diferente dos interlúdios, porém, seu discurso é um convite extremamente breve acrescido de motivações (9.4–6) e é equiparado pelo discurso rival da loucura (9.13–18); entre um discurso e outro, encontram-se instruções sobre a pedagogia.
O capítulo 8 de Provérbios traz uma tipologia de Cristo – Filho de Deus – como Sabedoria. Em geral, a tipologia bíblica são objetos, pessoas, eventos, características, registrados no Antigo Testamento, os quais Deus usou para apresentar características de Jesus Cristo. A Sabedoria não é apenas atributo de Deus, mas é uma pessoa divina que é a expressão viva da sabedoria, do poder e da justiça de Deus (Cristo) – geração eterna de Deus. A Sabedoria veio em carne até nós por Jesus – Ele é a expressão máxima da sabedoria divina. Ainda que o homem esteja caído pelo pecado, a Sabedoria tem prazer especial na criação e ainda se comunica conosco. A Sabedoria toca intimamente em cada ser humano – seja para adquirirem o tesouro valioso, quer seja para rejeitarem; quem rejeita, ganha morte, quem recebe, ganha vida.
O capítulo 9 de Provérbios traz “dois banquetes” ou "dois convites para banquetes" – o banquete da “mulher sabedoria” e o banquete da “mulher loucura”.
Feitas as considerações iniciais (e pessoais), falado um pouco sobre os capítulos e com base nessas duas figuras (personificações), sigamos para a revista.
Introdução
O ensino à uma criança, pode ser de maneira direta ou de forma lúdica, criando estereótipos heroicos que compilem bondade, justiça e misericórdia.
Esse recurso é chamado de “personificação” e, na literatura sapiencial bíblica, Salomão valeu-se muito para ensinar ao povo – principalmente os mais ingênuos, ignorantes, etc.
I. Personificação
Método milenar de ensino, sendo utilizado desde o Egito Antigo.
Consiste em atribuir personalidade a conceitos, isto é, trazer concretude/objetividade para conceitos subjetivos, no escopo de criar proximidade e afinidade entre as partes que estão aprendendo.
A personificação bíblica, além de ser didática para ensinar o povo, também tem um aspecto tipológico.
No texto que lemos, temos duas personificações: "mulher sabedoria" e "mulher loucura".
A Bíblia não é machista, é que as palavras “sabedoria” (חָכְמָ֥ה) e “loucura” ( כְּ֭סִילוּת) são femininas, por isso, o escritor utiliza-se do artifício da personificação, definindo o gênero.
II. A Mulher Sabedoria
Apresentada desde o início de Provérbios, a “mulher sabedoria” grita nas ruas da cidade, buscando alguém que ouça a sua voz. Uma demonstração cristalina que Deus é o maior interessado que estejamos em busca da sabedoria, porém, é necessário que dêmos ouvidos à ela.
A Sabedoria é uma mulher extraordinária - constrói/edifica a casa, abate os animais, convida a todos ao banquete e se deleita no banquete com os convidados. Uma curiosidade - no texto hebraico, todas as palavras dessa passagem possuem as terminações no feminino apontando para que é a sabedoria quem faz tudo ou é dona de tudo. Por isso, é extraordinária.
Essa mulher extraordinária convida pessoalmente o fraco e espiritualmente descuidado para se arrepender e voltar ao rumo de sua vida, ou seja, para dar ouvidos à Sabedoria.
Willem VanGemeren diz que a mulher sabedoria “aparece no papel de profetisa, discursando e exortando os homens a receberem seu conselho e alertando sobre a condenação que recairá sobre aqueles que a rejeitarem”.
A "mulher sabedoria" fala no imperativo "andai pelo caminho do entendimento", ou seja, há a necessidade de arrependimento (retorno de rota), uma continuidade e uma progressão ao longo da estrada.
Não confundam a “mulher sabedoria” como a personificação de uma esposa ou um tipo de mulher crente. Ela é a personificação feminina para que ouçamos a sabedoria que vem de Deus e sigamos suas orientações.
Sua personificação apresenta bênçãos aqueles que dão ouvidos, basta olharmos os versos de 12 a 21, do versículo 8. A “mulher sabedoria” convida o jovem ingênuo para seu banquete e, caso ele seja sábio, poderá se assentar à mesa com a Sabedoria - obtendo o temor do Senhor. O temor do Senhor é o princípio da Sabedoria, quando Deus se revela a nós, damos ouvidos à sabedoria e nos deparamos com Ele, transcendemos o mundo natural e nos prostramos diante de um Ser tão puro e santo.
III. A Mulher Loucura
Apresentada somente na perícope final do capítulo 9, a “mulher loucura” é a personificação oposta à “mulher sabedoria”.
Em vez de construir uma casa, preparar uma refeição suntuosa e enviar servas em preparação para o seu banquete, a prostituta personificada assenta-se pomposamente num trono elevado à entrada da sua casa.
Com essa postura pretensiosa, a "mulher loucura" seduz o ingênuo com propostas lascivas (sexuais).
Ambas convidam o jovem ingênuo para seus banquetes, porém o banquete dessa segunda são prazeres carnais ilícitos que levam ao caminho de morte.
A “mulher loucura” apresenta caminho de morte como se fosse prazeroso.
Ela é displicente, leva a vida do jeito que quer, gosta de emoções, vive intensamente. O que ela oferece é deleitável ao nosso paladar, mas intragável diante da Sabedoria.
Você consegue fazer uma conexão com nosso cotidiano?
Somos expostos a caminhos tortuosos e impiedosos diariamente, para nos satisfazermos de forma temporária, intensa e imediata.
Por trás da cena de prazer sensual se encontra uma cena de morte. O erro fundamental em nós, que muitas vezes atendemos ao convite da "mulher loucura", é não se importar com as consequências dos atos. Mas todos os atos estarão diante do Grande Juiz.
Por isso, Salomão reafirma que o caminho da “mulher loucura” é de perdição, morte e afasta-nos de Deus.
De um lado, a “mulher sabedoria” nos leva a Deus e suas bênçãos; de outro lado, a “mulher loucura” nos leva à morte e à perdição.
IV. Cristo e a Sabedoria
A tipologia de Cristo, na sabedoria do Deus Pai, fica demonstrada quando olhamos para a perícope dos versos 22-36, que destacam a eternidade da sabedoria. Jesus é a expressão exata do ser de Deus, se a sabedoria é inerente ao ser de Deus, está também em Cristo.
A revista nos traz alguns aspectos que a “mulher sabedoria” se relacionam com Jesus, vejamos.
a) Sabedoria para interpretar: a “mulher sabedoria” é uma tipologia e serviu para apontar pro Cristo, então, não serão equivalentes, pois Jesus será maior. Então, a personificação da sabedoria nos demonstra que devemos aceitas a sabedoria divina, pois é anterior à criação;
b) Similaridades entre Cristo e a sabedoria: existiam com Deus antes de todas as coisas, tiveram papel na criação, desceram do céu para habitar com a humanidade e foram rejeitados pelo povo, ensinam a sabedoria celestial, chamam aqueles que ouvem de “filhos” e conduzem aqueles que ouvem à vida – e aqueles que não ouvem à morte;
c) Superioridade de Cristo sobre a sabedoria: Jesus é superior à sabedoria, pois é a encarnação do próprio Deus. A sabedoria é um atributo divino, inerente ao ser de Deus. E em Jesus residem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. A sabedoria está contida nele e não o contrário. O que a sabedoria não pode fazer, Jesus pode. Quem que sabedoria, pode encontrar em Cristo, mas encontrarão muito mais que apenas sabedoria.
Conclusão
A personificação é um recurso de fácil acesso para entendermos alguns princípios difíceis.
A “mulher sabedoria” e a “mulher loucura” são a personificação de uma vida com Deus e de uma vida sem Deus.
Se você deseja caminhar com Deus, deve ouvir atentamente a voz da sabedoria e desprezar as investidas da “mulher loucura”.
E somente em Cristo encontramos sabedoria completa e Salvação.
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