A Igreja que Permanece
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Introdução
Introdução
Apocalipse 2.8–11 (NVI)
8 “Ao anjo da igreja em Esmirna escreva:
“Estas são as palavras daquele que é o Primeiro e o Último, que morreu e tornou a viver. 9 Conheço as suas aflições e a sua pobreza; mas você é rico! Conheço a blasfêmia dos que se dizem judeus mas não são, sendo antes sinagoga de Satanás. 10 Não tenha medo do que você está prestes a sofrer. O Diabo lançará alguns de vocês na prisão para prová-los, e vocês sofrerão perseguição durante dez dias. Seja fiel até a morte, e eu lhe darei a coroa da vida.
11 “Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas. O vencedor de modo algum sofrerá a segunda morte.
O que nos faz desistir de algo? As dificuldades, outras opções ou o sofrimento. No caso da igreja, pensando no tema, “a igreja que permanece", podemos enumerar também essas mesmas questões que podem nos fazer desistir. As dificuldades, muitas igrejas simplesmente fecharam as portas durante a pandemia. Trabalho com plantadores de igrejas há oito anos e já vi muitos plantadores desistirem, e consequentemente suas igrejas pararem de existir por conta de dificuldades.
Outras opções… Esse também, assim como em nossos projetos pessoais, muitas igrejas não permanecem por esse mesmo motivo. Mas como assim, existe opção melhor do que a igreja? Neste caso, igrejas que não permanecem mesmo continuando a existir. Cedem ao pragmatismo ao invés da fidelidade, a aceitação do mundo ao invés da glória de Deus e da pureza da igreja…
Há também o sofrimento como elemento desafiador para a igreja, e não só a igreja. Quantas vezes o sofrimento nos paralisa e nos leva a abortar um projeto? Como a igreja vem sendo perseguida ao longo dos anos e de certa forma este é um dos grandes inimigos. Por isso, eu gostaria de
Estamos em uma época onde a igreja é desafiada a permanecer fiel em meio a uma cultura que constantemente pressiona a conformidade com seus valores, as dificuldades e o sofrimento. Essa pressão se manifesta de muitas maneiras — seja através de perseguições explícitas ou das tentações sutis de se comprometer com o mundo.
Hoje, vamos nos voltar para a igreja de Esmirna, mencionada em Apocalipse 2:8-11, e aprender com seu exemplo. A igreja de Esmirna foi elogiada por sua perseverança, mesmo em meio à perseguição e sofrimento, mostrando que estar centrado em Jesus é o caminho para permanecer fiel e manter uma devoção genuína dentro da comunidade cristã.
Contextualizando as Sete Cartas
Contextualizando as Sete Cartas
As sete cartas às igrejas da Ásia Menor, mencionadas em Apocalipse 2 e 3, servem como mensagens atemporais para a igreja de Cristo em todas as épocas. Embora essas cartas fossem dirigidas a igrejas específicas em um tempo e lugar, elas revelam ameaças que continuam sendo relevantes para nós hoje. O número sete na Bíblia simboliza plenitude, e essas cartas trazem lições universais para a igreja em qualquer contexto. Hoje, vamos focar na carta à igreja de Esmirna, uma igreja que, apesar de ser pequena e perseguida, permaneceu fiel, mostrando que é possível viver uma devoção genuína a Cristo e uns aos outros, mesmo diante de adversidades.
Esmirna era a cidade mais bela da Ásia Menor. Era considerada a coroa do continente. Esmirna era um próspero centro portuário, de bela natureza. Inclsive havia lá uma montanha circular chamada Pagos, que era contornada pela Rua do Ouro, e nesta rua haviam prédios públicos e templos pagãos, que davam uma aparência de coroa, de onde vinha seu apelido.
Séculos antes, Alexandre, o Grande, determinou que Esmirna fosse a cidade modelo da Grécia. Por isso, Esmirna se tornou uma espécie de capital cultural, ostentava uma grande biblioteca, além do maior teatro da Ásia. Esmirna só perdia para a cidade de Éfeso no que diz respeito a economia que vinha principalmente da atividade portuária em ambas as cidades. Sob o ponto de vista econômico dos dias de hoje, Éfeso era como São Paulo e Esmirna como o Rio de Janeiro. Esmirna também possuia uma forte relação com o império Roamano e uma fidelidade incondicional a Cesar, a ponto do imperador ser uma esécie de deus, um ídolo para o povo. Havia ali uma estária de mármore do imperador e quem se recuzasse a jurar anualmente fidelidade ao imperador era executado. Além disso, deuses como Cibele, Apolo, Aclépio, Afrodite e Zeus eram cultuados em Esmirna, sendo a cidade um berço também do paganismo.
Esmirna era uma bela e próspera cidade, porém não era fácil ser cristão ali. O nome da cidade significa myrh - fragância usada para fabricar perfume. Quando esmagada, a casca da myrh exalava o seu perfume.
Mas, a carta a Esmirna tem uma particularidade em relação as outras cartas, ela não possuia nenhuma crítica. O texto de Apocalipse 2 e 3 escrito por João, são revelações do próprio Cristo que é o Senhor da igreja. Não há nenhuma repreensão, nenhuma censura a nenhum membro, embora não haja igreja perfeita aos olhos de Cristo, diante de de quem todas as coisas estão expostas e descobertas, Esmirna não apresenta nenhuma falha gritante. Mas o que nós podemos aprender com essa igreja que no momento de ser repreendida, só ouve favor e aprovação de Cristo?
I. Centrados em Jesus: A Base para Permanecer
I. Centrados em Jesus: A Base para Permanecer
João começa a carta identificando o verdadeiro remetente, Jesus Cristo. Jesus se apresenta à igreja de Esmirna como "aquele que morreu e voltou a viver" (Apocalipse 2:8). Ele inicia essa carta lembrando aos cristãos que Ele é a fonte de vida e ressurreição, e que é em Cristo que encontramos a força para permanecer. Ele é o primeiro e o último, declarando a Sua eternidade, que nada pode limitá-lo. A natureza eterna de Jesus é declarada afim de encorajar a igreja de Esmirna a permanecer mesmo em meio ao sofrimento.
Jesus também se apresenta como aquele que morreu e reviveu. Jesus transpões a Eternidade. Como Deus eterno ele invadiu o tempo e a história no ventre de uma virgem e tornou-se verdadeiro homem. Sendo homem, tomou a forma de servo e viveu a vida sem pecado, mas foi acusado como criminoso, cruscificado entre dois ladrões, mas obediente até amorte e ressucitou triunfante.
A vitória de Jesus sobre a morte é também a nossa vitória. Esse deve ser o grande encorajamento para a igreja permanecer diante do sofrimento. Esmirna também sofria injustiças de Roma. E à semelhança de Cristo, mantinham-se obedientes e fiéis até a morte.
Aplicação para a Igreja Hoje: Assim como a igreja de Esmirna enfrentou perseguição e pobreza, as igrejas hoje também enfrentam desafios que podem minar a fé. No entanto, permanecer firmes depende de mantermos nossos olhos fixos em Cristo, aquele que venceu a morte. Quando estamos centrados em Jesus, somos capacitados a suportar as dificuldades e a encarar o sofrimento com esperança. Em meio às lutas, lembremo-nos que de que Jesus já existia antes do tempo. O que aqui sofremos é insignificante se comparado à glória eterna que nos aguarda.
Jesus também ressalta que, apesar das circunstâncias terrenas da igreja, ela é espiritualmente rica (Apocalipse 2:9). Isso nos lembra que nossa força como igreja não está em nossos recursos materiais, mas em nossa identidade em Cristo.
II. Fidelidade em Comunidade: A Devoção que Sustenta
II. Fidelidade em Comunidade: A Devoção que Sustenta
A carta à Esmirna mostra uma igreja que, mesmo sob perseguição, permaneceu unida em fé e devoção. A comunidade cristã local foi um refúgio e uma fonte de encorajamento. Essa devoção comunitária era possível porque eles estavam centrados em Cristo e entendiam que a vida em comunhão é essencial para perseverar. Tanto que aquela igreja não recebeu repreensão, mas encorajamento, era apenas o que ela precisava. Jesus diz à igreja de Esmirna que conhecia as obras deles. Ao declarar, “Eu conheço a sua tribulação", Jesus está dizendo”: “-Eu sei exatamente o que você está passando. Eu já passei por isso. Sei como vocês se sentem. Sei como é ser maltratado, cuspido, açoitado, escarnecido e até morrer de forma injusta. E por saber o que vocês estão sofrendo, eu valorizo a lealdade de vocês".
Jesus ao reconhecer a perseguição da igreja de Esmirna, Ele está falando sobre a perseguição sob três dimensões: governamental, econômica, física, religiosa e até mesmo satânica.
Os crentes eram expostos à leis injustas e ceveras simplesmente por não prestar culto à Cesar, e mais além, por permanecer expressando a sua devoção unicamente ao Rei dos reis. Eles eram perseguidos por não cultuar a Cesar, mas também por conta da sua devocão à Deus. Logo, a perseverança na devoção comunitária, mesmo em meio a terrível perseguição, foi objeto do elogio do próprio Senhor Jesus.
Aplicação para a Igreja Hoje: A igreja que permanece é aquela que valoriza a devoção comunitária. Em um mundo onde o individualismo é exaltado, somos chamados a viver como uma família espiritual. A nossa comunhão em Cristo é o que nos sustenta nas adversidades. A comunidade cristã é o lugar onde exercemos o cuidado mútuo, o encorajamento e a restauração. Na mesma proporção que você reconhece Deus como seu Pai, você deve de fato reconhecer que o seu irmão é de fato seu irmão, e não apenas uma força de expressão para pessoas de uma mesma religião.
O exemplo de Esmirna nos mostra que, mesmo em meio à oposição, é possível cultivar uma vida comunitária vibrante. Nossa devoção a Jesus deve nos levar a uma devoção uns aos outros, onde somos fortalecidos pela fé compartilhada e pelo amor prático.
III. A Coragem para Permanecer Fiel até o Fim
III. A Coragem para Permanecer Fiel até o Fim
Jesus exorta a igreja a ser fiel até a morte e promete a coroa da vida (Apocalipse 2:10). Isso não é apenas um chamado à resistência individual, mas uma coragem coletiva, onde a igreja se apoia mutuamente para perseverar.
Os crentes de Esmirna sofriam perseguição econômica por serem crentes, eram proibídos de fazer transações comerciais e perdiam emprego. Em alguns momentos, permanecer pode lhe custar a prosperidade financeira também. E mais, no caso dos crentes de Esmirna, eles estvam sendo privados do básico em nome da sua identidade em Cristo.
Os teólogos da preosperidade responderiam: “Esmirna estava fora da vontade de Deus. Tudo o que tinha a fazer era decretar a bênção. Estavam vivendo indignamente. Deus os queria ricos".
Nesta lógica herética, os crentes de Esmirna deveriam ser repreendidos pela sua pobreza. Mas não foi isso que Jesus fez, foram elogiados, afinal de contas estavam pobres por fazer a vontade de Deus.
No verscículo 10 o Senhor fala de sofrimento, que era fruto da perseguição física, e fala de uma perseguição de 10 dias, indicando que o sofrimento tinha prazo para começar e acabar, que O Senhor tinha controle de tudo apesar do sofrimento, da perseguição. E o Senhor pede a eles que sejam fiéis.
Anos depois a cidade de Esmirna se torna conhecida por um testemunho real dessa ameaça alertada pelo Senhor. Um homem, um pastor, que era o bispo de Esmirna, chamado Policarpo. Policarpo foi um dos mártires da história da igreja. Ele seguiu o conselho do Senhor e foi fiel até a morte, ou seja, mesmo que lhe custasse a vida. Ele se recusou ascender incenso em adoração ao imperador e foi condenado a morte. Policarpo foi amarrado vivo em uma estaca e atearam fogo nele, só que a história registra que milagrosamente as chamas não tocam nele. Foi necessário uma lança para Policarpo ser morto. Você pode pensar que o milagre não foi suficiente, mas não foi isso, talvez apenas estava se cumprindo o que foi dito em apocalipse. No momento da sua morte, Policarpo disse:
“Por 86 anos, tenho servido a Cristo e Ele nunca me fez nada de errado. Como eu poderia blasfemar contra o Rei que me salvou? Prossigam com a vontade de vocês”.
As chamas não tocarem em Policarpo talvez fosse apenas Deus dizendo que estava com ele apesar da morte, que Policarpo foi fiel até a morte, ou apesar da morte. Nossa mente é limitada e valorizamos mais a primeira morte do que a segunda. O problema não é a perseguição em si, mas a forma como nós entendemos o sofrimento. A forma como nós entendemos o sofrimento vai nos levar a fazer a seguinte pergunta: Vale a pena ser fiel?
Mas a recomendação de Jesus é: Seja fiel até a morte!
Aplicação para a Igreja Hoje: Em nossa jornada, também seremos chamados a demonstrar coragem para permanecer fiéis. Mas essa coragem não é fruto de nossa própria força; ela nasce da fé em Cristo e da confiança de que Ele está no controle, mesmo em meio ao sofrimento. E essa coragem é nutrida na comunidade, onde juntos aprendemos a confiar e a encorajar uns aos outros a permanecer firmes.
O sofrimento, conforme Jesus diz, tem um tempo determinado (Apocalipse 2:10). Isso nos dá esperança de que a dor e os desafios são temporários, enquanto a vida eterna é a verdadeira recompensa que nos espera.
A promessa
11 “Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas. O vencedor de modo algum sofrerá a segunda morte.
A igreja que permanece, é a vencedora, não é a que talvez arranque aplausos aos olhos do mundo a partir de um sucesso numérico ou midiático, mas aqueles que não passarão pela segunda morte. A igreja que permanece é aquela que nunca vai experimentar a segunda morte. Como dizem, se nascemos apenas uma vez morreremos duas vezes, mas se nascemos duas vezes, morreremos apenas uma.
Conclusão
Conclusão
A igreja de Esmirna nos oferece um poderoso exemplo de uma comunidade centrada em Jesus que permaneceu fiel, mesmo em meio à perseguição. A verdadeira riqueza da igreja não está em seus recursos materiais ou em sua posição no mundo, mas em sua devoção a Cristo em sua vida comunitária e sua vida em missão.
A igreja que permanece é também aquela que compreende seu papel missionário e se envolve ativamente na plantação de novas igrejas, por exemplo como vemos na relação entre as igrejas de Jerusalém e Antioquia. Enquanto a igreja de Jerusalém enfrentou desafios que limitaram sua continuidade, a igreja de Antioquia prosperou porque estava profundamente comprometida com o envio de missionários e a expansão do Evangelho, particularmente entre os gentios. A vitalidade de uma igreja não está apenas em sua capacidade de preservar suas tradições ou sobreviver às circunstâncias, mas em seu engajamento contínuo com a missão de Deus, reproduzindo-se por meio da plantação de novas igrejas e disseminando o Evangelho de maneira que alcance novas culturas e contextos. Assim, uma igreja que permanece é uma igreja que olha para fora, estendendo o Reino de Deus ao formar novas igrejas.
As vezes gastamos tempo e energia demais naquilo que é transitório e que vai trazer aprovação dos homens. Passamos a nos importar demais com as penúltimas coisas (aquelas que estão limitadas a sepultura), ao invés de nos preocupar com as últimas. Depositamos sentido para a vida através da felicidade que é frágil, que não resiste a prova do sofrimento que é inevitável.
Então, a igreja que permanece é uma igreja corajosa, e uma coragem que não é fruto da nossa auto confiança, mas na confiança de quem Deus é.
Chamado à Ação: Hoje, somos desafiados a ser uma igreja que permanece firme em Cristo e que, por causa dessa firmeza, vive uma devoção comunitária profunda. Como estamos nos fortalecendo em nossa fé para enfrentar os desafios à nossa volta? Estamos vivendo uma comunhão que nos sustenta e encoraja a seguir em frente?
Que possamos ser uma igreja que, assim como Esmirna, permanece fiel até o fim, confiando que Jesus está no controle e que, em nossa fidelidade, experimentaremos a coroa da vida.
Oração: Que o Senhor nos dê a coragem para permanecermos fiéis e a graça para cultivar uma devoção comunitária que glorifique a Cristo é fortaleça Sua igreja para vivermos em missão.