A SEMENTE
Evangelho de Lucas • Sermon • Submitted • Presented
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Lucas 8.1-15
Os três primeiros versículos deste capítulo, pertencem apenas ao Evangelho de Lucas, ou seja, não estão registrados nos outros evangelistas. Lucas, por ser o mais criterioso e detalhista dos quatro escritores, aparentemente usa esse relato como um conectivo entre o perdão dos pecados da mulher pecadora e o fato de Jesus ter muitas discípulas, que o seguiam fielmente.
Pensando que Lucas é um escritor interessado em apresentar o Evangelho a um público geral, seu registro, revela o poder e o cuidado revelado no Evangelho de Jesus.
Grant Osborne diz: “Três aspectos fazem do presente trecho um depoimento suficiente em favor da excelência das fontes de Lucas: 1) Em favor de sua originalidade: os demais evangelistas não trazem nenhuma evidência semelhante. 2) Em favor de sua exatidão: quem teria inventado notícias tão singelas e positivas como essas, acerca dos nomes e da condição social das mulheres? 3) Em favor de sua pureza: o que estaria mais distante do anseio por milagres e da invenção de lendas do que essa descrição natural e prosaica do cuidado físico com o Senhor?”
O que podemos destacar nos três primeiros versículos deste texto? Primeiro, que o Evangelho do reino perdoa pecadores e pecadoras, alcança judeus e gregos, faz discípulos e discípulas fieis.
- Aquele que comissionou seus discípulos, e os enviou para pregarem o Evangelho a toda criatura (cf. Mc.16.15) andou com eles, de cidade em cidade, de aldeia em aldeia pregando e anunciando o Evangelho.
- Em terceiro lugar, e o que julgo ser mais importantes nestes três versículos iniciais, é o registro que Lucas faz destas mulheres, o que Jesus fez por elas, e o que elas se tornaram para Jesus.
- AUGUSTIN MARLORAT diz: As mulheres seguiam Jesus como símbolo de sua gratidão, pois haviam recebido benefícios tanto físicos quanto espirituais dele. Aprenderam sobre o Evangelho do reino de Deus e foram libertas de espíritos maus. (…)
- Essa comunhão pode até parecer pouco honrosa para Cristo, pois o que seria mais inapropriado do que o Filho de Deus viajar tanto acompanhado por mulheres com reputações pobres?
- Mas na verdade, isso nos mostra que essas falhas que carregamos arduamente antes de termos fé não impedem a glória de Cristo, e sim a aumentam (Eis aí uma importante lição).
- Ele não veio para encontrar a igreja que escolheu sem qualquer mancha, e sim para purificá-la com seu sangue e torná-la pura e justa. Então, depois de serem libertas dos espíritos malignos, a antiga condição miserável e vergonhosa dessas mulheres recebe a grande glória de Cristo ao declarar os sinais excelentes de seu poder e graça.
- A gratidão delas também é elogiada por Lucas por terem seguido aquele que as libertou e condenou a vergonha que caiu sobre elas no mundo. Sem dúvida, algumas pessoas apontaram para elas e a presença de Cristo as colocou em um palco público onde eram vistas, mas elas se recusaram a esconder sua vergonha, para que a graça de Cristo fosse conhecida por todos.
- O texto registra um milagre singular da bondade inexplicável de Cristo em Maria, pois ela havia sido possuída por sete demônios e era a moradia mais cruel de Satanás, e Jesus não só a tornou sua discípula, como a manteve em sua companhia. Essas mulheres, foram um poderoso instrumento de Deus, uma linda rosa do deserto, usadas para o benefício do Evangelho.
- Talvez isso nem passe pela nossa cabeça, mas se o Evangelho chegou a nós, essas mulheres foram instrumentos poderosos na mão do Senhor para que isso acontecesse. Maria Madalena, Joana, Suzana e muitas outras mulheres, que entregaram suas vidas e bens pela causa do santo Evangelho.
- O que você tem entregado?
Depois de tudo isso, podemos entrar na belíssima Parábola do Semeador.
Esta parábola está registrada nos três evangelhos sinóticos, ou seja, em Mateus, Marcos e Lucas. O texto é fidedigno em cada um, contudo, isso não significa que foram meramente replicados.
Hendriksen, falando sobre a parábola está contida nos outros dois evangelhos, afirma: “O parágrafo que temos diante dos olhos nos mostra como opera a inspiração verbal, orgânica e plenária. De um lado, produz uma informação bela e compreensível, isenta de todo erro e em plena harmonia com seus paralelos em Mateus e em Marcos. Do outro, isso permite ao escritor humano usar seu próprio estilo, em harmonia com suas próprias condições mentais e espirituais, bem como com seu propósito”.
- O que há de especial no registro de Lucas?
- Em primeiro lugar, que Lucas não faz uma duplicata do texto, por exemplo:
“no versículo 4, Lucas omite o local onde essa parábola foi pronunciada (de um barco perto da praia, segundo Mateus e Marcos). No mesmo versículo, por “em [ou: por meio de] parábolas”, Lucas o substitui por “à guisa de parábola”. No versículo 5, Lucas é o único que omite a interjeição introdutória: Eis que (assim literalmente), e no final dessa sentença ele acrescenta: “sua semente”. Na linha seguinte desse mesmo versículo, Lucas é o único que cita o Mestre se dirigindo ao auditório, dizendo que a semente que caiu nas laterais do caminho “foi pisoteada”, e que as aves do céu (não simplesmente “as aves”) a comeram. No versículo 6, o médico amado descreve Jesus dizendo que a semente que caiu no pedregulho murchou por falta de umidade”, e no versículo 7 que os espinheiros aí mencionados medraram “concomitantemente com a semente”. Finalmente, no versículo 8, Lucas é o único que faz menção de produção “cem por cento”. Ele omite qualquer referência a produções menores. Não existe contradição: Lucas não cita o Mestre dizendo que toda a colheita daquela semente foi cem por cento! Como ocorre reiteradamente por todo esse Evangelho, o autor abrevia. (Hendriksen)
- Vamos ao texto da parábola que diz:
“4 Afluindo uma grande multidão e vindo ter com ele gente de todas as cidades, disse Jesus por parábola: 5 Eis que o semeador saiu a semear. E, ao semear, uma parte caiu à beira do caminho; foi pisada, e as aves do céu a comeram. 6 Outra caiu sobre a pedra; e, tendo crescido, secou por falta de umidade. 7 Outra caiu no meio dos espinhos; e estes, ao crescerem com ela, a sufocaram. 8 Outra, afinal, caiu em boa terra; cresceu e produziu a cento por um. Dizendo isto, clamou: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.”
Eu acredito que a primeira pergunta que devemos nos fazer é: Por que Jesus usou parábolas durante o seu ensino?
- A resposta negativa eu darei com o próprio texto mais adiante (v.9-10), já o aspecto positivo deste tipo de ensinamento é que, com essa metodologia de ensino Jesus visa que esse revestimento figurado incutiria a verdade de forma mais consistente nos ouvintes receptivos. Jesus está ensinando a verdade por meios de simbolismo, ou seja, por meio de símbolos.
- Há uma exigência da imaginação, um exercício de busca iluminação e compreensão.
- O método de Jesus é porta aberta para uns, e a mesma porta, fechada para outros. As parábolas tiveram a função de revelar os mistérios do reino de Deus. O mistério, é aquilo que o homem não pode conhecer à parta da revelação divina. Esse mesmo mistério, é revelado a uns e encoberto a outros.
- As parábolas, tanto revelam, como ocultam a verdade.
- Voltando-se para o texto, grande multidão aflui para Jesus, ávidos pela verdade. O texto de Mateus e Marcos, diz que Jesus está a Beira-Mar, quando ministra este ensinamento.
- Ele então diz: “Eis que o semeador saiu a semear.”. Essa parábola é comumente chamada de “A parábola do Semeador”, mas a semente, em vez do semeador, é central.
- Alguns atribuem centralidade a colheita, e se concentram no julgamento e nas recompensas. “Isso também é errado, pois o elemento chave é a resposta às verdades das sementes, e a colheita é o resultado dessa resposta” (Osborne).
Precisamos olhar para esta parábola dando a ela certa importância, pois somente ela é explicada em Lucas. Está é uma parábola crítica. Isso porque ela retrata o confronto dos ouvintes pelos “mistérios” ou segredos do reino que exigem resposta e compromisso. Esta parábola rege as outras.
- Esta parábola nos apresenta 4 (quatro) tipos de solo. Precisamos considerar, que Jesus tem em mente a geografia de sua região – “A Galileia era bem conhecida pela fertilidade de seu solo, e como resultado grande parte de sua terra havia sido comprada por senhorios ricos de terras como Egito, Babilônia ou Ásia Menor. Eles possuíam grandes propriedades e as dividiram em uma série de fazendas de arrendatários (Jesus usará esta figura nas parábolas do administrador astuto [16.1–13] e dos lavradores [20.9–19]).
- Estes fazendeiros teriam a responsabilidade de aumentar as colheitas e entregarem a metade para o proprietário.
- Seu método era jogar a semente no solo e depois arar o solo; às vezes o solo também era tratado antes da semeadura da semente. Então Jesus está perguntando: “Que tipo de solo você é?””
- “5parte caiu à beira do caminho; foi pisada, e as aves do céu a comeram”.
- A primeira terra, é terra de ninguém, é apenas caminho, trilha, não importa o que nele é jogado, na verdade, como o texto diz: “caiu à beira do caminho”.
- Aquilo que cai pelo caminho é pisado, e na maior parte do tempo, vira comida para os pássaros.
- “6Outra caiu sobre a pedra; e, tendo crescido, secou por falta de umidade”.
- Em segundo, outra parte da semente “caiu sobre a pedra”, também um lugar inapropriado para o crescimento e frutificação. Não tendo humidade, não há vida, ela é sufocada por este tipo de terreno.
- “7Outra caiu no meio dos espinhos; e estes, ao crescerem com ela, a sufocaram”.
- Em terceiro lugar, a parábola fala de semente que “caiu no meio dos espinhos”, embora pareça ter vida que se desenvolva neste terreno, ele não é apropriado para germinação e frutificação desta semente. Os espinhos, não diferente das pedras, tornam-se um empecilho para a semente.
“8Outra, afinal, caiu em boa terra; cresceu e produziu a cento por um”.
- Por fim, parte da semente caiu em boa terra, e quanto a está não há muito o que dizer, não há necessidade de explicar aquilo que está óbvio. Boa semente em boa terra “cresceu e produziu a cento por um”.
- Entre os quatro tipos de terreno, em apenas uma semente encontrou local, espaço, humidade e tudo mais que seja necessário para ela, a fim de que crescesse e produzisse grandemente.
- Que tipo de terreno, somos nós?
Vamos para explicação desta parábola!
v.9 – “E os seus discípulos o interrogaram, dizendo: Que parábola é esta?”
- A pergunta dos discípulos, o texto não define quem, apresenta uma certa confusão associada a uma preocupação sobre a relação com ele.
- Talvez eles tenham se perguntado: “Isso é sobre nós?” ou “que tipo de solo nós somos?” – É possível, como vemos em muitas outras ocasiões, que tivesse surgido burburinhos, sejam entre eles, ou dentro deles, quanto ao que Jesus queria dizer.
- A linguagem é familiar, a agricultura é parte fundamental daquela sociedade. A Galileia, como já dissemos, era uma terra fértil, esbanjava fartura em terra e mar.
- Sua resposta faz um apanhado dos solos ruins em uma única categoria para descrever aqueles que se opõem a ele e contrasta os líderes e as multidões não comprometidas com seus discípulos.
- Uma lição importante, extraída do texto, é que a palavra de Jesus encontra pessoas e as força a tomarem uma decisão, produzindo assim estes dois grupos.
v.10 – “Respondeu-lhes Jesus: A vós outros é dado conhecer os mistérios do reino de Deus; aos demais, fala-se por parábolas, para que, vendo, não vejam; e, ouvindo, não entendam.”
- Jesus não deixa a dúvida e a inquietação de seus discípulos sem resposta.
- Ele diz que “a vós outros” uma referência aos discípulos “é dado conhecer” – é o mesmo que dizer: Para vocês estou abrindo o conhecimento.
- “Os mistério do reino de Deus” – Jesus está aquietando os seus discípulos, respondendo a eles, que: “a eles foi lhe aberto o conhecimento das maravilhas do reino de Deus”.
- Jesus diz que os “mistérios” estão sendo revelados, o que significa isso?
- A palavra mistério é muito interessante. Fora do Cristianismo, na esfera do paganismo, se referia ao ensino, rito ou cerimônia secreta que tem que ver com a religião, porém oculta das massas e só conhecida (ou praticada) por um grupo de iniciados.
- Na LXX (grega), na tradução de Daniel 2, a palavra aparece, ao menos, não menos de oito vezes (no singular nos vs. 18, 19, 27, 30 e 47b; no plural nos vs. 28, 29 e 47a). No texto de Daniel, se refere a um “segredo” que deve ser revelado, um enigma que deve ser interpretado.
- No livro de Apocalipse, onde aparece quatro vezes (1.20; 10.7; 17.5, 7), provavelmente seja melhor explicado como “o significado simbólico” do que requer explicação.
- O apóstolo Paulo, utiliza esta palavra cerca de 21 vezes nas epístolas de Paulo (Rm 11.25; 16.25; 1Co 2.1, 7; 4.1; 13.2; 14.2; 15.51; Ef 1.9; 3.3, 4, 9; 5.32; 6.19; Cl 1.26, 27; 2.2; 4.3; 2Ts 2.7; 1Tm 3.9, 16). É possível defini-lo como sendo uma pessoa ou verdade que permaneceria desconhecida se Deus não a houvera revelado.
- A mesma definição geral de “mistério” (μυστηριον), a saber, que consiste em um segredo divinamente revelado, se encaixa muito bem no contexto da presente passagem de Lucas 8.10 e seus paralelos (Mt 13.11; Mc 4.11), únicos exemplos em que a palavra é usada nos Evangelhos.
- Aqui o mistério é a poderosa manifestação do reinado (“reino”) de Deus no coração e na vida dos seres humanos; esse reinado, em conexão com a vinda de Cristo, foi acompanhado por obras poderosas, tanto na esfera física como na espiritual.
- Jesus declara que este mistério – que certamente era Deus quem fazia todas essas coisas, não Satanás – foi “dado”, isto é, “revelado de forma benevolente” àqueles que estavam com ele naquela ocasião; aliás, a todos os que o tinham aceitado pela fé verdadeira.
- Para os verdadeiros seguidores de Jesus, portanto, o fato de ele falar em parábolas não será prejudicial. Na verdade será benéfico, não só porque as histórias, etc., se fixarão na mente deles, mas porque o autor é seu Senhor, Salvador e Amigo, e com muito prazer lhes dará as explicações necessárias.
- O texto continua, com Jesus dizendo: “aos demais, fala-se por parábolas, para que, vendo, não vejam; e, ouvindo, não entendam”
- A vocês, estou dando a Graça de conhecer os mistérios do Reino de Deus. Já “aos demais”, não, falo em parábolas “para que, vendo, não vejam; e, ouvindo, não entendam.”
- O texto de Mateus 13, é ainda mais completo do que o de Lucas, lá o Senhor diz:
“Porque a vós outros é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas àqueles não lhes é isso concedido. 12 Pois ao que tem se lhe dará, e terá em abundância; mas, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. 13 Por isso, lhes falo por parábolas; porque, vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem, nem entendem. 14 De sorte que neles se cumpre a profecia de Isaías:
Ouvireis com os ouvidos e de nenhum modo entendereis; vereis com os olhos e de nenhum modo percebereis. 15 Porque o coração deste povo está endurecido, de mau grado ouviram com os ouvidos e fecharam os olhos; para não suceder que vejam com os olhos, ouçam com os ouvidos, entendam com o coração, se convertam e sejam por mim curados.
16 Bem-aventurados, porém, os vossos olhos, porque veem; e os vossos ouvidos, porque ouvem. 17 Pois em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes e não viram; e ouvir o que ouvis e não ouviram”
v.11 – “Este é o sentido da parábola: a semente é a palavra de Deus.”
- Jesus não dá uma resposta complexa ou mais específica aos discípulos, ele é direto na explicação da parábola, a centralidade é a mensagem, ou neste caso, a semente.
- Um aspecto interessante desta parábola, é que a semente e o semeador são os mesmos.
v.12 – “A que caiu à beira do caminho são os que a ouviram; vem, a seguir, o diabo e arrebata-lhes do coração a palavra, para não suceder que, crendo, sejam salvos.”
- Um coração duro é onde a semente é roubada pelo diabo para que o ouvinte não creia nem seja salvo (Lc 8.12). Antonio Vieira diz que: todas as criaturas do mundo se armaram contra esta sementeira.
- Todas as criaturas quantas há no mundo se reduzem a quatro gêneros: criaturas racionais como os homens; criaturas sensitivas como os animais; criaturas vegetativas como os espinhos; e criaturas insensíveis como as pedras.
- E não há mais. Faltou alguma dessas que se não armassem contra a semeadura? Nenhuma! A natureza insensível a perseguiu nas pedras; a vegetativa nos espinhos; a sensitiva nas aves; a racional nos homens.
- As pedras secaram-na; os espinhos afogaram-na; as aves comeram-na; os homens pisaram-na.
- A semeadura atrai imediatamente Satanás. O ouvinte tipo “à beira do caminho” ouve, mas Satanás arrebata a semente do seu coração. Satanás é um opositor da evangelização. Onde o semeador sai a semear, ele sai a roubar a semente. A evangelização é não apenas um campo de semeadura, mas também um campo de batalha espiritual. O diabo cega o entendimento dos incrédulos (2Co 4.4). Como parte do seu ataque cósmico contra Deus, Satanás e seus agentes buscam ativamente destruir a palavra de Deus no coração daqueles que a ouvem, antes mesmo que ela comece a crescer. Sem dúvida, ele também está ativo nos lugares pedregosos e nos espinheiros, combatendo a frutificação da Palavra.
v.13 – “A que caiu sobre a pedra são os que, ouvindo a palavra, a recebem com alegria; estes não têm raiz, creem apenas por algum tempo e, na hora da provação, se desviam”.
- Eu acredito que podemos aprender, ao menos, três lições deste versículo:
1. Um coração superficial tem uma resposta imediata, mas irrefletida, à palavra de Deus
2. Um coração superficial não tem profundidade nem perseverança
3. Um coração superficial não avalia os custos do discipulado
- Este é o solo rochoso. Nele a semente cresce, mas, por falta de umidade, seca. Este solo retrata o coração superficial, que se define por três marcas.
Um coração superficial tem uma resposta imediata, mas irrefletida, à palavra de Deus. Tanto Marcos como Mateus usam, por duas vezes, a palavra “logo” com o sentido de “imediatamente”. Essas pessoas agem “no calor do momento”. Elas imediatamente aceitam a Palavra, e o fazem até mesmo com alegria. Então, imediatamente se escandalizam. Sua decisão é baseada na emoção, e não na reflexão. São os ouvintes emotivos, entusiastas “fogos de palha”; sentem alegria, mas esta é passageira. John Mackay chama esse ouvinte de homem leviano porque ele abraça com alegria o que não entende, apenas pela novidade da ideia, ou para agradar ao que a anunciou.12
O terreno pedroso representa as pessoas que vivem e reagem superficialmente. Elas mostram uma promessa inicial que não se confirma. Tanto sua resposta quanto seu abandono são rápidos.
A emoção é um elemento importantíssimo na vida cristã, mas só ela não basta. Ela precisa proceder de um profundo entendimento da verdade e de uma sólida experiência cristã.
Um coração superficial não tem profundidade nem perseverança. Esse ouvinte não tem raiz em si mesmo. Sua fé é temporária. Na verdade sua resposta ao evangelho foi apenas externa. Não houve novo nascimento nem transformação de vida. Houve adesão, mas não conversão; entusiasmo, mas não convicção.
Esse ouvinte parece estar em vantagem em relação às demais pessoas. Sua resposta é imediata, e seu crescimento inicial é algo espantoso. Mas ele não tem profundidade, nem umidade, nem resistência ao calor do sol. A vida que o sol traz gera nele morte.
Esse ouvinte construiu sua vida cristã numa base falsa. Ele não construiu sua fé em Cristo, mas nas vantagens imediatas que lhe foram oferecidas. Não havia umidade, raiz ou suporte para crescimento e frutificação.
Hoje vemos muitas pessoas pregando saúde, prosperidade e sucesso. As pessoas abraçam imediatamente esse evangelho do lucro, das vantagens imediatas, mas elas não perseverarão, porque não têm raiz, não têm umidade, não suportam o sol, não permanecerão na congregação dos justos. Elas se escandalizarão e se desviarão. Muitas das pessoas que gritaram Hosanas quando Jesus entrou em Jerusalém gritaram crucifica-o na mesma semana. O apóstolo João diz que esses que se desviam não são dos nossos (1Jo 2.19); os salvos, porém, perseverarão (Jo 10.27,28).
Um coração superficial não avalia os custos do discipulado. Esse ouvinte abraça não o evangelho, mas outro evangelho, o evangelho da conveniência. Ele crê não em Cristo, mas num outro Cristo. Quando, porém, chegam as lutas e as provas, ele se desvia escandalizado porque não havia calculado o custo de seguir a Cristo.
Esses ouvintes se desviaram porque não entenderam que o verdadeiro discipulado implica autonegação, sacrifício, serviço e sofrimento. Eles ignoraram o fato de que o caminho da cruz é o que nos leva para “casa”.
Esse ouvinte tem prazer em ouvir sermões nos quais a verdade é exposta. Ele fala com alegria e entusiasmo acerca da doçura do evangelho e da felicidade de ouvi-lo. Ele pode chorar em resposta ao apelo da pregação e falar com intensidade acerca de seus sentimentos. Mas infelizmente não há estabilidade em sua religião. Não há uma obra real do Espírito Santo em seu coração. Seu amor por Deus é como a névoa que cedo passa (Os 6.4). Na verdade, esse ouvinte ainda está totalmente enganado. Não há real obra de conversão. Mesmo com todos seus sentimentos, alegrias, esperanças e desejos, ele está realmente no caminho da destruição.
Em terceiro lugar, o coração ocupado (8.7,14). Esta é a semente que caiu no espinheiro. Os espinhos cresceram junto com a semente, que acabou sufocada por eles. Este é um solo disputado e concorrido. Está ocupado com os espinheiros, por isso a semente não pode frutificar. Destacamos cinco características de um coração ocupado.
v.14 – “A que caiu entre espinhos são os que ouviram e, no decorrer dos dias, foram sufocados com os cuidados, riquezas e deleites da vida; os seus frutos não chegam a amadurecer.”
- Um coração ocupado é sufocado pelos deleites da vida
- Marcos diz que a semente caiu entre os espinhos (Mc 4.7), e Lucas diz que os espinhos cresceram com a semente (8.7). Esses espinhos representam ervas daninhas espinhosas. Não havia arado que conseguisse arrancar suas raízes de até 30 centímetros de profundidade. Em alguns lugares, esses espinheiros formavam uma cerca viva fechada, no meio da qual alguns pés de cereal até conseguiam crescer, mas ficavam medíocres e não carregavam a espiga.
Essa semente disputou espaço com outras plantas. Ela não recebeu primazia; ao contrário, os espinhos concorreram com ela e a sufocaram (8.7,14). Os espinhos cresceram, mas a Palavra foi sufocada. Esse coração é um campo de batalha disputado. O espírito do mundo o inunda como uma enxurrada e sufoca a semente da Palavra. Uma multiplicidade de interesses toma o lugar de Deus. É a pessoa que não tem tempo para Deus. Há outras coisas mais urgentes que fascinam sua alma. Esse ouvinte não tem uma ordem de prioridade correta, pois são muitas as coisas que tratam de tirar Cristo do lugar principal.
Um coração ocupado é sufocado pela concorrência dos cuidados do mundo (8.14). Esse ouvinte chegou a ouvir a Palavra, mas os cuidados do mundo prevaleceram. O mundo falou mais alto que o evangelho. As glórias do mundo tornaram-se mais fascinantes que as promessas da graça. A concupiscência dos olhos, a concupiscência da carne e a soberba da vida tomaram o lugar de Deus na vida desse ouvinte. Ele pode ser chamado de um crente mundano. Ele quer servir a dois senhores. Ele quer agradar a Deus e ser amigo do mundo. Ele quer atravessar o oceano da vida com um pé na canoa do mundo e outro dentro da igreja.
Um coração ocupado é sufocado pela concorrência da fascinação da riqueza (8.14). Esse ouvinte dá mais valor à terra que ao céu, mais importância aos bens materiais do que à graça de Deus. O dinheiro é o seu deus. A fascinação da riqueza fala mais alto que a voz de Deus. O esforço para conseguir uma posição social, por meio de posses e segurança material traz ansiedade tal que sufoca as aspirações por Deus.
Um coração ocupado é sufocado pelos deleites da vida (8.14). Esse ouvinte é amante dos prazeres mais do que amigo de Deus. Ele é amigo do mundo, ama o mundo e conforma-se com o mundo. Os prazeres efêmeros do pecado toldam em seu coração as alegrias perenes da vida cristã.
Um coração ocupado não produz frutos maduros (8.14). Nesse coração, a semente nasce, mas não encontra espaço para crescer. Ela chega até a crescer, mas não produz frutos que chegam à maturidade. Esse coração assemelha-se à igreja de Sardes. Tem nome de que vive, mas está morto!
v.15 – “A que caiu na boa terra são os que, tendo ouvido de bom e reto coração, retêm a palavra; estes frutificam com perseverança”.
- Um coração frutífero ouve e retém a Palavra
- Esta é a semente que caiu na boa terra e produziu a cento por um. Retrata aquele que, de bom e reto coração, retém a palavra e frutifica com perseverança. Há dois fatos importantes que destacamos a seguir.
- Um coração frutífero ouve e retém a Palavra (8.15). Lucas diz que essas pessoas ouvem com bom e reto coração e retêm a Palavra. Elas não apenas ouvem, mas ouvem com o coração aberto, disposto, com o firme propósito de obedecer. Colocam em prática a mensagem e por isso frutificam. Não diz que acolhem com alegria, mas acolhem e frutificam.
Essa parábola nos ensina a fazer três coisas: ouvir, receber e praticar. Nesses dias tão agitados, poucos são os que param a fim de ouvir a Palavra. Mais escasso são aqueles que meditam no que ouvem. Só os que ouvem e meditam podem colocar em prática a Palavra e dar frutos.
Essas pessoas são aquelas que verdadeiramente se arrependem do pecado, depositam sua confiança em Cristo, nascem de novo e vivem em santificação e honra. Elas aborrecem e renunciam o pecado. Amam a Cristo e servem-no com fidelidade.
Warren Wiersbe diz que cada um dos três corações infrutíferos é influenciado por um diferente inimigo: no coração endurecido, Satanás mesmo rouba a semente; no coração superficial, os enganos da carne através do falso sentimento religioso impedem a semente de crescer; no coração ocupado, as coisas do mundo impedem a semente de frutificar. Esses são os três grandes inimigos do cristão: o diabo, a carne e o mundo (Ef 2.1–3).
Um coração frutífero produz fruto com perseverança (8.15). O que distingue esse campo dos demais é que nele a semente não apenas nasce e cresce, mas o fruto vinga e cresce. Lucas diz que ele frutifica com perseverança. Jesus está descrevendo aqui o verdadeiro crente, porque fruto, ou seja, uma vida transformada, é a evidência da salvação (2Co 5.17; Gl 5.19–23). A marca do verdadeiro crente é que ele produz fruto. A árvore é conhecida pelo seu fruto. Uma árvore boa produz fruto bom. Estar sem fruto é estar no caminho que leva ao inferno.
A marca dessa pessoa não é apenas fruto por algum tempo, mas perseverança na frutificação. Há uma constância na sua vida cristã. Ela não se desvia por causa das perseguições do mundo nem fica fascinada pelos prazeres do mundo e deleites da vida. Sua riqueza está no céu, e não na terra; seu prazer está em Deus, e não nos deleites da vida.
SDG.
