Mais que pardais
A moralidade cristã • Sermon • Submitted • Presented
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· 37 viewsEntender o valor da vida humana e as implicações sociais disto.
Notes
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Objetivo Geral: Apontar para o valor da Lei, enquanto santificadora do crente.
Objetivo específico: Entender o valor da vida humana e as implicações sociais disto.
Palavra-chave: Implicações
Introdução
Introdução
Ex 20.13 Não matarás.
Há alguns anos, o compositor Armando Filho escreveu uma música que ainda hoje é cantada em muitas igrejas. Com o intuito de animar os cristãos mais desanimados, ele diz: “Você tem valor, o Espírito Santo se move em você”.
A letra da música é um pouco confusa teologicamente. Lendo a letra antes de chegar no refrão, o autor parece dizer que a habitação do Espírito Santo no crente é MAIOR PROVA do valor do ser humano. Já no refrão, parece que a habitação do Espírito Santo É AQUILO QUE DÁ valor ao ser humano.
Compreendemos a intensão do autor e concordamos plenamente que a vida humana tem valor (um valor elevadíssimo, por sinal), mas seja qual for a explicação da música, parece que este autor errou o alvo, uma vez que o valor do ser humano não está condicionado de forma alguma à habitação do Espírito, como nos mostra claramente o sexto mandamento.
Veremos a seguir que, mais que limitar a violência, o sexto mandamento implica em uma profunda mudança no meu relacionamento com o próximo.
Implicações do sexto mandamento em meu relacionamento com o próximo
Prelúdio: Proibição de quê?
Prelúdio: Proibição de quê?
13Não matarás.
Primeiramente, é importante entender o que o mandamento está proibindo. A palavra utilizada aqui e traduzida como “matarás” é Tretzach (תִּֿרְצָֽח). Ela é usada na Bíblia com vários significados, como “fazer em pedaços”, “assassinar” ou, num sentido penal, “executar” (pena de morte).
Então, somente pela tradução da palavra não se pode chegar a uma conclusão correta sobre o tipo de proibição que o sexto mandamento nos dá. Nesses casos, chegaremos facilmente à conclusão correta se olharmos tanto o contexto imediato em que foi escrito este texto, como olharmos o contexto geral das Escrituras.
Vejamos o capítulo 21.12-17:
Ex 21.12-17 12Quem ferir a outro, de modo que este morra, também será morto. 13Porém, se não lhe armou ciladas, mas Deus lhe permitiu caísse em suas mãos, então, te designarei um lugar para onde ele fugirá. 14Se alguém vier maliciosamente contra o próximo, matando-o à traição, tirá-lo-ás até mesmo do meu altar, para que morra. 15Quem ferir seu pai ou sua mãe será morto. 16O que raptar alguém e o vender, ou for achado na sua mão, será morto. 17Quem amaldiçoar seu pai ou sua mãe será morto.
Aqui existem pelo menos duas situações em que o “não matarás” do capítulo anterior não se enquadra, por mandamento do próprio Deus:
1) Ações do governo civil, onde pessoas são executadas por cometerem certos pecados/crimes. Isto não tem a ver com ações pessoais de vingança;
2) Ações em legítima defesa, onde pessoas acabam matando um agressor, apenas para defender a si ou a outros.
Fica claro por estes textos que o capítulo anterior não pode se referir a qualquer tipo de morte, mas ao homicídio, ou seja, provocar a morte de alguém por motivo egoísta, seja a própria morte, quanto a de terceiros.
Com essas informações em mente, veremos as implicações do sexto mandamento para nosso relacionamento com o próximo.
1ª Implicação: Pessoas valem mais que meus sentimentos
1ª Implicação: Pessoas valem mais que meus sentimentos
Mt 5.21-24 21Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e: Quem matar estará sujeito a julgamento. 22Eu, porém, vos digo que todo aquele que sem motivo se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo. 23Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, 24deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta.
Lutero, comentando o sermão do monte, chama-o de Moisíssimo Moisés, mas se ele vivesse em nosso tempo, ele provavelmente diria que o sermão do monte é Moisés ao quadrado. Isto porque, segundo o reformador, Jesus não tornou a Lei mais suave para os homens, mas expôs como a Lei do Senhor, reflexo da Santidade de Deus, é mais profunda e rígida do que alguns diziam.
Enquanto algumas pessoas descansavam no fato de que nunca haviam matado alguém fisicamente e, por isso, achavam-se cumpridores da Lei, Jesus expos que as intenções do coração também podem nos tornar assassinos.
Jesus enfatizou que brigas mal resolvidas são tão sujeitas ao julgamento de Deus por homicídio quanto o próprio ato de matar, mas não se iluda, o ódio e a ira desmedida nos tornam assassinos, todavia todo mau sentimento pode nos levar a atos horríveis contra outras pessoas.
Sentimentos e comportamentos como lascívia, egoísmo, inveja, ganância, mágoa, entre outros, são poderosos motivadores de homicídios. Aliás, o primeiro assassinato da história, nasceu do sentimento de inveja de um irmão contra o outro 1Jo 3.12.
Vejamos dois textos bíblicos:
Ex 23.7 Da falsa acusação te afastarás; não matarás o inocente e o justo, porque não justificarei o ímpio.
1Rs 21.19 Falar-lhe-ás, dizendo: Assim diz o SENHOR: Mataste e, ainda por cima, tomaste a herança? Dir-lhe-ás mais: Assim diz o SENHOR: No lugar em que os cães lamberam o sangue de Nabote, cães lamberão o teu sangue, o teu mesmo.
O primeiro é um mandamento que se refere a provocar a morte de alguém através da mentira em tribunais, ou seja, usando “a mão de outro”.
O segundo é uma sentença de Deus contra Acabe que, por querer muito a propriedade de Nabote, não ligou para o fato de sua esposa Jezabel usar falsas testemunhas para que Nabote fosse morto “legalmente”. Veja que nem Jezabel, nem Acabe testemunharam contra Nabote. Ainda assim, os dois são os acusados pelo homicídio. O ódio de Jezabel e a ganância de Acabe são a causa primeira desse assassinato.
Por isso que “Não matarás” implica que PESSOAS VALEM MAIS QUE MEUS SENTIMENTOS.
Talvez você tenha boas razões para criticar alguém. Alguém pode ter te humilhado em público, abusado sexualmente, deixado na miséria, traído sua confiança, espalhado mentiras a seu respeito ou qualquer outra coisa que te deixou magoado ou irado contra essa pessoa.
Meu amigo, decida não deixar que os maus sentimentos te dominem. Como disse Tiago:
Tg 1.20 Porque a ira do homem não produz a justiça de Deus.
Especialmente aqueles que foram vítimas de alguma maldade são tentados a justificar seus sentimentos dizendo: “mas o que ele fez foi muito grave”.
Se esse é seu caso, Deus sabe que do mal que te fizeram e, cedo ou tarde, Ele fará justiça. Contudo não justifique seu pecado no pecado dos outros. Não seja um assassino. PESSOAS VALEM MAIS QUE SEUS SENTIMENTOS.
Além disso:
2ª Implicação: Pessoas valem mais que meu conforto
2ª Implicação: Pessoas valem mais que meu conforto
Dt 22.8 8Quando edificares uma casa nova, far-lhe-ás, no terraço, um parapeito, para que nela não ponhas culpa de sangue, se alguém de algum modo cair dela.
Existem alguns mandamentos na Palavra de Deus que demonstram que a extensão de não matarás vai muito além do que agir de forma a provocar a morte de alguém. O texto de Dt 22.8 mostra que nosso comportamento com relação à vida humana não se limita a não matar, mas criar condições para que a vida se mantenha. Aqui, então, temos uma preocupação de prevenir o mal ou de ativamente socorrer.
Nessa série sobre o Decálogo, eu já mencionei o fato de às vezes acharmos que o Cristianismo ou a Lei de Deus é um conjunto de coisas que somos proibidos de fazer, quando na verdade, o cristão é aquela pessoa que, após perdoada por Deus através do sacrifício de Jesus, é habilitada a fazer o bem no lugar do mal que estava acostumado.
Veremos agora os primeiros nove versículos de Dt 21:
Dt 21.1-9 1Quando na terra que te der o SENHOR, teu Deus, para possuí-la se achar alguém morto, caído no campo, sem que se saiba quem o matou, 2sairão os teus anciãos e os teus juízes e medirão a distância até às cidades que estiverem em redor do morto. 3Os anciãos da cidade mais próxima do morto tomarão uma novilha da manada, que não tenha trabalhado, nem puxado com o jugo, 4e a trarão a um vale de águas correntes, que não foi lavrado, nem semeado; e ali, naquele vale, desnucarão a novilha. 5Chegar-se-ão os sacerdotes, filhos de Levi, porque o SENHOR, teu Deus, os escolheu para o servirem, para abençoarem em nome do SENHOR e, por sua palavra, decidirem toda demanda e todo caso de violência. 6Todos os anciãos desta cidade, mais próximos do morto, lavarão as mãos sobre a novilha desnucada no vale 7e dirão: As nossas mãos não derramaram este sangue, e os nossos olhos o não viram derramar-se. 8Sê propício ao teu povo de Israel, que tu, ó SENHOR, resgataste, e não ponhas a culpa do sangue inocente no meio do teu povo de Israel. E a culpa daquele sangue lhe será perdoada. 9Assim, eliminarás a culpa do sangue inocente do meio de ti, pois farás o que é reto aos olhos do SENHOR.
Veja que a vida humana é extremamente preciosa para Deus. Não matarás é um mandamento que implica que ninguém pode dizer “Eu não tenho nada a ver com isso”. O assassinato de alguém, quer por violência, quer por negligência, afeta não somente a vítima e seu assassino, mas toda a comunidade.
Por isso, os cristãos devem lutar contra o assassinato de crianças no útero. Por isso, cristãos devem denunciar as torturas e mortes na Coreia do Norte. Por isso, cristãos devem defender todo aquele que corre risco de morrer por alguma injustiça.
Mas também faz com que eu e você nos esforcemos pelo que pode prevenir o mal. Leis como as de trânsito (velocidade máxima, cinto, cadeirinha) são úteis e, na medida do possível devem ser respeitadas. Podem haver exceções, caso respeitar uma dessas leis exponha a pessoa a risco maior, mas, via de regra, busquemos nos prevenir do mal.
Como cristãos, por vezes teremos que escolher entre o nosso conforto financeiro ou ajudar alguém que precisa de alimento. Escolher entre chegar rápido num local de lazer ou dar segurança aqueles que estão no carro conosco. Escolher entre não ter problemas ou denunciar o mal.
Isso pode acabar com nosso conforto, mas PESSOAS VALEM MAIS QUE MEU CONFORTO Pv 14.31.
E, por fim:
3ª Implicação: Pessoas valem mais que o resto do Mundo
3ª Implicação: Pessoas valem mais que o resto do Mundo
Gn 9.5-6 5Certamente, requererei o vosso sangue, o sangue da vossa vida; de todo animal o requererei, como também da mão do homem, sim, da mão do próximo de cada um requererei a vida do homem. 6Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem se derramará o seu; porque Deus fez o homem segundo a sua imagem.
Este texto ocorre logo após o dilúvio. A maldade humana chegou a ponto tão grotesco após a queda do homem que o Senhor teve que resetar a humanidade através do dilúvio. Após isto, como forma de controlar a maldade humana, Deus institui a pena de morte àqueles que cometerem homicídio.
Sei que nem todos se sentem à vontade com esse tema, achando que isso é coisa da Lei e que a lei foi cancelada em Cristo. Já discutimos em outras ocasiões que a Lei não foi cancelada, mas cumprida. Todavia isso pouco importa para o assunto, pois este texto é anterior à Lei, nada tendo a ver com disputas teológicas sobre a validade da Lei ou não.
A pena de morte foi instituída pelo Senhor Deus não para a satisfação do ódio ou para a vingança de ninguém. Ela é uma benção dada por Deus pelo fato de ser uma forma de controlar os níveis de maldade no mundo. Mas porque Deus daria uma pena tão dura para o homicídio?
Na semana passada vimos que essa pena era a mesma para quem desonrasse seus pais. Naquele caso, isto se dava porque desonrar os pais é o mesmo que desonrar a Deus, porque os pais representam Deus em nosso relacionamento familiar.
O que acontece com o homicídio é muito semelhante. Sabemos através do livro do Gênesis que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus Gn 1.26-27. Então, tamanha profanação à imagem de Deus merece a punição mais severa e o texto de Gn 9 deixa claro que até animais que matam seres humanos devem ser mortos, o que mais tarde foi exemplificado por uma lei específica em Ex 21.28-32.
Meus irmãos, a verdade é que ser imagem e semelhança de Deus é aquilo que nos dá dignidade como ser humanos. Uma dignidade acima de qualquer outra coisa no mundo.
Muito me incomoda quando ouço cristãos darem mais dignidade a animais que a pessoas. Por causa dos pecados dos quais foram vítimas, alguns chegam afirmar que gostam mais de cachorros que de gente. Animais não são imagem e semelhança de Deus. Não profane a imagem do Senhor por causa das suas desconfianças e mágoas.
PESSOAS VALEM MUITO MAIS QUE O MUNDO, MUITO MAIS QUE SEUS BICHOS DE ESTIMAÇÃO. Se a vida de um inimigo seu dependesse da morte de seu animal preferido, o que você faria? Mt 6.26; 10.29-31; 12.12
Conclusão
Conclusão
Portanto: