O QUE É A IRA? - Parte I – Pág. 17 - 23
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Desconfie da sua própria ira – Como matar um assassino silencioso
A ira não tem recebido a devida atenção. Frequentemente, os pecados sexuais chamam a nossa atenção; a ira nem tanto. Mas quando o apóstolo Paulo lista os pecados, ele identifica especialmente os desejos desenfreados que se expressam em sensualidade e ira, e a idolatria aparece como um traço em comum entre os dois.
Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias. (Gálatas 5.19-21)
Tendo em mente a seriedade da ira, aqui vão algumas diretrizes básicas que podem melhorar o nosso aprendizado sobre ela.
Todos nós ficamos pecaminosamente irados
Não há exceções. Hoje, na sua igreja, a ira é uma destruidora – separando amigos, rompendo laços conjugais, esmagando crianças. Ela pode tomar diferentes formas. Procure pela ira nas fúrias homicidas, mas também procure por ela na murmuração e na reclamação (Números 14.2,11) ou na indiferença e silêncio de alguém. Em alguns momentos, ela se desvia em vez de atacar, mas a ira está em todos nós.
Nós queremos paz, saúde, respeito, amor, autoridade, influência, segurança e muito mais. A ira pecaminosa aparece quando esses desejos e expectativas se tornam mais importantes para nós do que amar a Deus e o próximo (Tiago 4.1-2).
A ira nos cega
Nós subestimamos a frequência da nossa própria ira e o impacto dela sobre os outros. Outras pessoas subestimam o impacto de sua ira sobre nós. Nossa ira parece com “Eu estou certo”. Na verdade, ela diz: “Eu odeio você” e “Sou superior a você”. Quanto mais violenta é a nossa ira, mais confiante nos sentimos de que estamos certos. Consequentemente, pessoas iradas são as últimas a saber que estão pecaminosamente iradas. A ira também pode dizer, “Eu estou ferido e não quero ser ferido outra vez” ou “Estou com medo e me sinto impotente”, mas ainda assim permanece a atitude de controlar nosso mundo do nosso jeito e nos nossos termos.
Jesus irado?
Jesus nunca ficou irado ao ser testado, ridicularizado ou rejeitado. Ele, de fato, se irou. O incidente com os cambistas está entre as histórias mais conhecidas do Novo Testamento (João 2.13-17). Mas a sua ira não estava mesclada com egoísmo e motivações arrogantes como a nossa. A profunda paixão dele era pela glória do Pai.
Em outras palavras, a ira nem sempre é pecaminosa, mas devido às poucas vezes em que realmente tropeçamos em ira justa, faremos bem em não dar a nossa própria ira o benefício da dúvida.
O melhor texto sobre ir
Tiago 4.1-10 é uma passagem que se encaixa em quase tudo que precisamos saber sobre a nossa ira:
De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão dos prazeres que militam na vossa carne? Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada podeis obter; viveis a lutar e a fazer guerras. Nada tendes, porque não pedis; pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres. Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus. Ou supondes que em vão afirma a Escritura: É com ciúme que por nós anseia o Espírito, que ele fez habitar em nós? Antes, ele dá maior graça; pelo que diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós outros. Purificai as mãos, pecadores; e vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração. Afligi-vos, lamentai e chorai. Converta-se o vosso riso em pranto, e a vossa alegria, em tristeza. Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará.
Há passagens e histórias sobre ira por toda a Escritura, e nenhuma é completa em si mesma, mas Tiago nos oferece bastante informação. Nossos desejos, nossas guerras, nosso relacionamento com Deus e a influência de Satanás, estão todos reunidos para nós nas palavras de Tiago sobre a ira.
Ele não entra nos pormenores quanto à paciência de Deus e em como ele é rápido para perdoar; essas pérolas estão incluídas em sua observação a respeito do ciúme que Deus tem de nós e como o Senhor nos dá mais e mais graça. O que a passagem faz é abrir os nossos olhos cegos para vermos como a ira é contra outras pessoas e contra Deus. Todos nós nos beneficiaríamos dominando e sendo dominados por esses versículos.
Onde voltamos?
Quando mudamos um comportamento, queremos saber no que estamos sendo transformados. Nós nos afastamos da ira que nós mesmos alimentamos. Nós nos voltamos para Cristo e vivemos sob sua autoridade. Mudamos de como consentimos em nossa ira porque estamos “certos” (e na verdade podemos ter evidências que se sustentariam em um tribunal) para humildade e amor. E essa mudança terá mais longevidade quando feita com lamentação e choro (Tiago 4.9).
Nós somos pessoas ocupadas, e não é fácil encontrar espaço para aquelas coisas que estão no coração de Deus, mas a nossa ira pecaminosa é uma harmonia temporária com os caminhos assassinos do diabo. Ela se opõe à unidade que está no coração do reino de Cristo.
Não devemos negligenciar esse pecado ou justificá-lo.
A ira é um problema universal, dominante em todas as culturas, experimentado por todas as gerações. Ninguém está isolado de sua presença ou imune ao seu veneno. Ela permeia cada pessoa e arruína nossos relacionamentos mais íntimos. A ira é um fio sempre presente no tecido de nossa humanidade caída.
Tristemente, isso é verdade mesmo em nossas igrejas e lares cristãos. O crente em Cristo não está isento a ira. Suas palavras e gestos a revelam. Ele luta com o remanescente interior da ira. O crente em Cristo luta contra a ira diariamente. I Pedro 2:11 e Efésios:31
(ESTUDO DE CASO: JOÃO E JÚLIA – VER LIVRO PÁG 17 E 18)
Você percebe a dinâmica? Pode identificar-se com ela? Júlia reage à explosões de João retraindo – se; João reage ao retraimento de Júlia explodindo. Eles alimentam um a ira do outro e, para expandir a metáfora, digerem-na de bom grado e respondem na mesma moeda.
Ambos recuam e lambem as feridas. Ambos se sentem justificados. Enquanto isso, seu abismo relacional se alarga, suas filhas inalam a fumaça secundária, e Deus é desonrado.
A ira é mais fácil de descrever do que de definir. Nem sempre podemos disseca-la, mas a identificamos quando a vemos nas vidas de outros ou a sentimos pulsar em nossas veias.
Afinal, o que é a ira? Embora a Bíblia não apresente uma definição formal, ela repetidamente retrata pessoas iradas. Usa uma variedade de termos que dão cor e sabor à nossa compreensão. As Escrituras descrevem graficamente as muitas formas de ira, advertem-nos contra a ira pecaminosa, e prescrevem maneiras sábias de arrancá-las pela raiz.
1.1. UMA DEFINIÇÃO FUNCIONAL DE “IRA” – Nossa ira é nossa resposta ativa e integral de juízo moral negativo contra um mal por nós percebido.
Esta definição incorpora várias ideias-chave.
1.1.1. Nossa ira é uma resposta ativa. É uma ação, uma atividade. Ira é algo que fazemos, não algo que temos. Não é uma coisa, um fluido ou uma força. A Bíblia retrata pessoas que praticam a ira, não quem tem ira.
1.1.2. Nossa ira é uma resposta ativa, pessoal e integral. Envolve todo nosso ser e põe em ação nossa pessoa como um todo. Precisamos resistir a certas distinções compartimentalizadas que emergem da psicologia popular e não das Escrituras. Boa parte da literatura popular rotula ira como uma simples “emoção”.
De outro lado, teóricos cognitivos enfatizam sistemas de crenças, e os behavioristas focalizam nas reações iradas. A palavra de Deus, naturalmente, reconhece e confronta os muitos aspectos emocionais, cognitivos, volitivos e comportamentais da ira.
Nas Escrituras a palavra ira comunica emoção, cobrindo todo o espectro da ira ardente e explosiva até a rejeição gélida. Mas, a ira sempre envolve crenças, motivações, percepções e desejos. Além disso, a Bíblia descreve a ira em termos comportamentais ricos e gráficos.
1.1.3. Nossa ira é uma resposta contra algo. Ela não surge num vácuo nem aparece espontaneamente. A ira reage contra alguma provocação. Tal provocação, naturalmente, não deve ser vista como uma causa. O âmago causal da ira se encontra no coração ativo. O fato é que o coração ativo está sempre respondendo às pessoas e aos eventos em nossa vida cotidiana.
1.1.4. Nossa ira, em essência, envolve um juízo moral negativo que fazemos. Surge de nosso senso de justiça e funciona sob a dinâmica mais ampla da nossa capacidade de julgar.
Neste sentido poderíamos chamar a ira de uma “emoção moral”.
A ira protesta: “O que você fez foi errado!”
Pronuncia uma sentença: “Aquela ação é injusta!”.
Ela exige: “Isso tem de parar!”.
A ira faz objeções a males cometidos.
Nós chamamos esse juízo moral de “negativo” não porque seja sempre pecaminoso, mas porque ele se opõe ao mal percebido. Nossa ira nos posiciona contra aquilo que determinamos ser mau. Ela forma uma opinião mental negativa contra ações injustas. Ela determina que todos os ofensores devem mudar, ser punidos ou removidos.
A ira emite veredictos de pena capital contra os culpados. Não é à toa que Jesus ensinou que a ira é o equivalente moral do homicídio. Mateus 5:21-22
O apóstolo João repete essa verdade. I João3:15
Todavia, há outro sentido em que nossa ira é moral. Nós a praticamos perante a face de Deus, coram Deo, à vista Daquele que perscruta as profundezas de nosso ser. Seus olhos penetram e descortinam nossas crenças e motivações. E o Deus que vê certamente julga todos os aspectos da nossa ira. Provérbios 5:21; 15:3; 16:2; Jeremias 17:9,10; Hebreus 4:12,13
1.1.5. Nossa ira envolve um juízo contra um mal por nós percebido. Nosso juízo moral surge a partir de nossa percepção pessoal. Na ira percebemos que alguma ação, algum objeto, alguma situação ou pessoa é má ou injusta. João e Júlia vêm coisas um no outro que reprovam e às quais se opõem.
Nossas percepções, naturalmente, podem ser exatas ou inexatas. Podemos avaliar as ações de outras pessoas de maneira correta ou incorreta. Para complicar ainda mais as coisas, nossas reações às nossas percepções podem ser piedosas ou ímpias. Num evento qualquer, nossa ira surge a partir de nosso sistema de valores. Ele expressa nossas crenças e motivações.
Um teólogo resume a evidência bíblica para a ira como uma atividade judicial: “A ira humana é geralmente dirigida contra outras pessoas. A razão para a ira humana pode ser o fato de alguém ser tratado injustamente... que alguém perceba que outros são explorados..., ou alguma outra pessoa manifesta desobediência contra Deus ou falta de fé Nele.”
1.2. BENEFICIOS DA DEFINIÇÃO FUNCIONAL – ela nos permite eliminar algumas cortinas de fumaça comuns que poderiam ser apresentadas.
1.2.1. “Não estou irado”, protestamos desajeitadamente. “Estou apenas frustrado (ou irritado)”. Porém o que as duas palavras diferentes possam conotar torna-se irrelevante quando percebemos que ambas indicam reações a alguma injustiça ou deslealdade cometida.
1.2.2. Podemos discutir sobre as diferenças de nuance entre palavras como “ira” e “frustração”, mas a questão última é que estou reagindo ao que você fez de errado contra mim.
1.2.3. Nossa definição funcional de “ira” alinha -se com a descrição oferecida por vários pensadores sábios. Richard Baxter diz que a ira procede de dentro, do “coração”. Ela inclui uma resposta emocional negativa, “um desprazer passional”. A ira se opõe ao mal como o percebemos, “um mal percebido”.
Consideramos aquela pessoa ou situação má porque interfere com o que desejamos. Ela “nos contraria ou nos priva de algum bem desejado”. A ira acontece quando circunstâncias ou pessoas impedem nossos desejos.
1.2.4. Outro pastor contemporâneo oferece uma definição comparável: a ira é “um caloroso desprazer do coração ou da alma que se experimenta em resposta a algo que você percebe ser errado e que exige retribuição ou pagamento”.
Novamente a ira inclui uma experiência emocional de “intenso, caloroso desprazer”. Ela surge de uma percepção fundamental de que algo está errado, e provoca um desejo volitivo de retrucar.