(Êx 33:1-11) Uma Jornada sem Deus

MISERICÓRDIA QUE MACHUCA

Êxodo 33.1–3 “Disse o Senhor a Moisés: Vai, sobe daqui, tu e o povo que tiraste da terra do Egito, para a terra a respeito da qual jurei a Abraão, a Isaque e a Jacó, dizendo: à tua descendência a darei. Enviarei o Anjo adiante de ti; lançarei fora os cananeus, os amorreus, os heteus, os ferezeus, os heveus e os jebuseus. Sobe para uma terra que mana leite e mel; eu não subirei no meio de ti, porque és povo de dura cerviz, para que te não consuma eu no caminho.”

O Anjo. Não “Meu Anjo” ou o “Anjo do SENHOR”, mas “um anjo”. Antes o Anjo do Senhor já mencioado era o próprio Deus, a segunda pessoa da Trindade, Cristo. Agora, tudo indica que esse anjo que Deus diz que vai acompanhar o povo era uma criatura, pois logo após ele avisa que não vai com eles. Apesar disso, Deus ainda manda um anjo!

Não subirei. Deus avisa que não estará no meio deles, ou seja, não irá mais contruir o Tabernáculo no centro do acampamento (Êxodo 25.8 “E me farão um santuário, para que eu possa habitar no meio deles”). Essa seria a grande bênção, a maior de todas - Deus habitando no meio do povo. Não há nada mais desejável, mais esperado do que isso. Esse é âmago das promessas. Apesar disso, Deus ainda estaria ali por perto, ele estaria afastado, mas ainda enviaria um anjo, e ainda lançaria fora os inimigos. Veja, quantas bênçãos. Que coisa maravilhosa. Deus ainda traria bênçãos para o povo. Mas Deus não estaria no meio deles.

A ironia é que o povo queria um deus no meio deles, por isso fizeram um bezerro de ouro. Eles fizeram uma falsa representação de Deus, que era na verdade um substituto pra Deus. Agora Deus ameaça não estar mais no meio deles. Em vez de nos aproximarem de Deus, nossos ídolos nos afastam dele.

Lutero: “Tudo o que o homem ama, isso é o seu deus. Pois ele o carrega em seu coração; ele o leva consigo dia e noite; ele dorme e acorda com ele, seja ele o que for, riqueza ou seu eu, prazer ou reputação”.

Todo o propósito do Êxodo estava sendo desfeito por causa da idolotria. O propósito era que Deus habitasse no meio de seu povo.

Para que não consuma. Deus pretende se fastar para não destruir. Deus se retrai com sua presença, para não estender sua mão julgadora. É melhor que Deus se afaste temporariamente, para não se afastar definitivamente. Difícil compreender muitas vezes como Deus esconde o rosto num ato de misericórdia. Mas isso quer dizer que muitas vezes nosso pecado é tão violento e manifesto que se Deus se aproximar seríamos destruídos. Há igrejas que pedem pela presença de Deus, que simulam a presença de Deus, mas na realidade, se Deus estivesse ali, seriam consumidos por sua ira.

MH: “Ele fala como alguém que não sabe que romo tomar com eles. A justiça dizia: ‘Corte-os e consuma-os’. A misericórdia dizia: ‘Como te deixaria, ó Efraim?’.”

VERDADEIRO ARREPENDIMENTO

Êxodo 33.4–6 “Ouvindo o povo estas más notícias, pôs-se a prantear, e nenhum deles vestiu seus atavios. Porquanto o Senhor tinha dito a Moisés: Dize aos filhos de Israel: És povo de dura cerviz; se por um momento eu subir no meio de ti, te consumirei; tira, pois, de ti os atavios, para que eu saiba o que te hei de fazer. Então, os filhos de Israel tiraram de si os seus atavios desde o monte Horebe em diante.”

Tira…os atavios. Deus ordena que os israelitas tirem seus enfeites. Não havia razão para festa. Então Israel agora converte sua alegria em angústia. Talvez a retirada das jóias signifique também o abandono da idolatria. Em Gênesis, quando Jacó renova sua aliança em Betel, ele e sua família tiram suas jóias e enterram com os ídolos:

Gênesis 35.2–4 “Então, disse Jacó à sua família e a todos os que com ele estavam: Lançai fora os deuses estranhos que há no vosso meio, purificai-vos e mudai as vossas vestes; levantemo-nos e subamos a Betel. Farei ali um altar ao Deus que me respondeu no dia da minha angústia e me acompanhou no caminho por onde andei. Então, deram a Jacó todos os deuses estrangeiros que tinham em mãos e as argolas que lhes pendiam das orelhas; e Jacó os escondeu debaixo do carvalho que está junto a Siquém.”

Tiraram. A palavra literalmente significa “arrancaram”, mostrando uma disposiçao de consertar seu relacionamento com Deus. Isso era um sinal de arrependimento - se livrar daquilo que nos faz pecar. Não só isso, mas eles também não usaram mais as jóias (v.6) daquele dia em diante. Isso é outro sinal de arrependimento - se livrar do pecado uma vez por todas. É interessante obervar duas grandes foçar que operam sobre o homem aqui nesse episódia, e que estão profudnamente ligados à idolatria: o sexo (como vimos…) e agora as riquezas, o dinheiro (eles usaram suas jóias pra fabricar o bezerro). Sexo e dinheiro. É interessante como o uso do nosso, o interesse por dinheiro, revela o nosso estado espiritual. Como você tem usado o seu dinheiro, e o quanto o dinheiro preocupa você, domina você, determina a sua vida?! Mais tarde, Israel usaria suas jóias para contruir o Tabernáculo (Êxodo 35.22 “Vieram homens e mulheres, todos dispostos de coração; trouxeram fivelas, pendentes, anéis, braceletes, todos os objetos de ouro; todo homem fazia oferta de ouro ao Senhor”).

Mateus 6.21 “porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração.”

Essa reação de Israel nos ensina que Israel de fato percebeu que todas as bênçãos, ser protegido e guiado por um anjo, ter os inimigos derrotados e ganhar uma terra que mana leite e mel - tudo isso não valia à pena se Deus não estivesse com eles. Nada vale à pena se Deus não está conosco. Assim, devemos amar mais o doador das bênçãos do que suas bênçãos. De tal modo que podemos ter o Senhor, sem qualquer benefício vida, mas não podemos nos contentar com os presentes vida sem o Senhor. Veja onde chegamos, irmãos… As igrejas se concentram nas bênçãos de Deus, e não no Deus das bênçãos. Povo materialista, povo avarento, que usam Deus. Mas Ele não está ali!

Deus é tudo! Conhecer a Deus é o que precisamos, e as outras coisas nos são acrescentadas, conforme a vontade e a misericórdia do Senhor.

J. I. Packer: “Para quê fomos criados? Para conhecermos a Deus. Qual deve ser o objetivo da nossa vida? Conhecer a Deus. Qual é a “vida eterna” que Jesus dá? O conhecimento de Deus. [...] Qual é a melhor coisa na vida, aquela que traz mais alegria, mais deleite e satisfação do que qualquer outra coisa? O conhecimento de Deus.”

A RECONCILIAÇÃO ALMEJADA

Êxodo 33.7–11 “Ora, Moisés costumava tomar a tenda e armá-la para si, fora, bem longe do arraial; e lhe chamava a tenda da congregação. Todo aquele que buscava ao Senhor saía à tenda da congregação, que estava fora do arraial. Quando Moisés saía para a tenda, fora, todo o povo se erguia, cada um em pé à porta da sua tenda, e olhavam pelas costas, até entrar ele na tenda. Uma vez dentro Moisés da tenda, descia a coluna de nuvem e punha-se à porta da tenda; e o Senhor falava com Moisés. Todo o povo via a coluna de nuvem que se detinha à porta da tenda; todo o povo se levantava, e cada um, à porta da sua tenda, adorava ao Senhor. Falava o Senhor a Moisés face a face, como qualquer fala a seu amigo; então, voltava Moisés para o arraial, porém o moço Josué, seu servidor, filho de Num, não se apartava da tenda.”

Tenda da Congregação. Essa tenda não era o Tabernáculo, apesar de o Tabernáculo ser chamado algumas vezes de tenda da congregação (27.21; 40.2). O Tabernáculo ainda não havia sido construído.

Ryken: “A Bíblia enfatiza que ela ficava “fora do arraial”. Precisava estar longe, pois os israelitas ainda estavam sob o julgamento divino. Seu acampamento ainda era um lugar de pecado, e Deus havia dito que não residiria ali. Assim, pelo menos por ora, se os israelitas quisessem se encontrar com Deus, eles precisavam sair do acampamento. Estavam separados de Deus por seu pecado.”

Face a Face. “Boca a Boca”. Moisés foi o primeiro e o maior dos profetas. Sua intimidade com Deus foi incomparável. Ele se encontrava com Deus em particular, em uma tenda, e falava com ele ali como com um amigo. Mais ou menos como acontecia no jardim do éden. Mas esse nível de intimidade era na verdade o que Deus queria e pretendia pra todo seu povo. Deus quer ser amigo do homem. Ele quer ter intimidade com o ser humano. E em Cristo Jesus, nós podemos ter esse grande e maior dos privilégios. Não precisamos ficar à distância, podemos nos aproximar de Deus em Cristo. Não precisamos nem mesmo de um profeta ou de um sacerdote, Deus mesmo é o nosso Sumo Sacerdote e o nosso Profeta. Em Cristo temos acesso imediato a Deus. Hoje a tenda da congragação está dentro de nós. Nós mesmos somos chamados de templo do Espírito Santo.

Foi isso que John Winthrop, um dos pais fundadores dos Estados Unidos, experimentou quando se converteu. Winthrop escreveu: “Agora, eu estava familiarizado com o Senhor Jesus Cristo. [...] Se eu atravessasse o mar, ele viria comigo, quando eu retornasse, ele voltaria para casa comigo. Eu conversava com ele no caminho e ele se deitava comigo e, normalmente, eu acordava com ele: e tão doce era seu amor por mim que nada desejava no céu ou na terra além dele.”

Quando você se levanta de manha e vai ler a Bíblia e orar a Deus… que grande privilégio você tem. Foi pra isso que Cristo morreu, pra tornar isso possível, pra conquistar isso pra você, crente. Ele conquisto a amizade por nós.

João 15.13–15 “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos. Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer.”

Isso ficará ainda mais intenso, porque Jesus voltará uma segunda vez, e nós o veremos, não apenas pelos olhos da fé...

1Coríntios 13.12 “Porque, agora, vemos como em espelho, obscuramente; então, veremos face a face. Agora, conheço em parte; então, conhecerei como também sou conhecido.”